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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Menos, Randolfe!

 

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ex-coordenador da campanha de Lula e autoproclamado procurador informal da República, agora quer despejar o presidente Jair Bolsonaro do Palácio do Alvorada. É isso mesmo. Nesta quarta-feira, 14, ao parabenizar o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo aniversario, ele fez uma série de postagens em sua conta no Twitter que dispensa legenda. Acompanhe. [senador se essa conduta aloprada de vossa Excelência é para se manter em evidência e tentar ser eleito vereador no Amapá  - ser reeleito senador é algo que não tem chance de ocorrer - está perdendo seu tempo. Até para puxar saco tem que ser competente.]

LEIA TAMBÉM: Emenda Mercadante é receita para o desastre’


Redação - Revista Oeste

sábado, 16 de junho de 2018

Portas cerradas

Diante da placa de folha de flandres sobre a armação de madeira me dei conta do fim. Estavam mortas as possibilidades de reabrir lembranças deliciosas


A placa com “Aluga-se” em letras garrafais encerrava uma história. O trânsito lento e o sinal fechado mais adiante facilitavam a leitura daquele anúncio incômodo dependurado no umbral. A papelaria de tantos anos fechara finalmente suas portas, depois de uma lenta agonia.  Não sobrara alternativa de mudança para um novo endereço. Os donos, um casal avançado na idade, estavam cansados e se diziam incapazes de enfrentar as modernizações exigidas pela competição do mercado. Aprenderam a jurar que agora preferiam destinar tempo integral aos filhos e netos, mas estava claro que os dois não sabiam o que fazer com aquela tristeza comovente instalada nos olhos. Pareciam atarantados na soleira do desconhecido imposto ou escolhido tinha cá minhas dúvidas , prestes a se iniciar.

Eu fora avisado algumas semanas antes, mas sempre via o ritual do desmonte andando a passos tão lentos que até consegui enxergar notas de esperança. Agora, estava claro que tudo não passou da tal “melhora da morte”, quando o doente parece haver recuperado milagrosamente suas forças, mas sai da vida em seguida. Diante daquela placa de folha de flandres sobre a armação de madeira me dei conta do fim. Estavam mortas as possibilidades de novas conversas, de reabrir lembranças deliciosas, do cafezinho fumegante em determinado momento da tarde segredo restrito a meia dúzia , que poderia vir acompanhado ora de biscoitos, ora de bolinhos, ora de bolachas, ora de tapiocas, ora de quase todos. Tudo agora ficaria finito numa espécie de arquivo morto da minha memória.

Retirou-se de cena o enorme balcão onde falávamos animados de grampeadores Carbex, inigualáveis em robustez e precisão nos tempos áureos, e daquele outro, enorme, batizado de Ricardão por analogias a poderio, eficiência e sexo. Das almofadas para carimbos, dos tinteiros e suas tintas perfilados ao lado de mata-borrões. Das esponjas embebidas em glicerina ou água, para umedecer dedos prestes a manusear páginas ou cédulas. Dos belíssimos frascos de vidro para armazenar cola, cujas tampinhas ofereciam o pincel providencial para espalhar seu conteúdo sem lambuzar tudo ao redor.

Dos pesos de vidro, transparentes ou cheios de adereços internos onde se podia mandar aplicar nomes e mensagens , que serviam para domar o espírito brincalhão do vento sobre os papéis. Dos mais diversos modelos de cadernetas. Dos lápis Hidrocor, grande novidade na época do lançamento. Das borrachas Mercur de duas cores, para apagar tinta (metade azul) e grafite (metade vermelha), cuja eficiência podia até arrancar literalmente os erros do papel e deixar buracos no lugar.

Dos suportes de baquelita para rolos de fita Durex, produto que ficou tão conhecido que a marca virou substantivo de fita adesiva no dicionário eu nunca consegui entender o mistério que mantinha a cola eficiente naquele pedaço que ficava esticado entre o rolo e a serra de metal para corte. Dos apontadores de lápis presos às mesas, cujo movimento da manivela criava cones perfeitos. Dos rotuladores Dymo, Sylvapen, Rotex, Motex, Astro para imprimir fitas de vinil autoadesivas, coloridas, suprassumo do capricho em qualquer uso, de trabalhos escolares a arquivos das empresas depois foram lançadas algumas eletrônicas, com teclado para digitação. Para minha surpresa, ainda existem no mercado alguns bem caros, embora a Dymo mantenha modelos mais em conta.

Na velha papelaria também ríamos da quase inutilidade atual do papel-carbono, que atingiu reluzente preço de relíquia para os insistentes usuários. Nos tempos de sucesso chegou ao ponto de neologismo para denominar cópia de qualquer coisa, até de um cantor que imitasse outro. Batizou, por isso mesmo, atração musical de programa de televisão. Papel-carbono que morreria de rir da ineficiência dos modernos papéis carbonados, capazes de reproduzir, apenas de forma anêmica, o que se escreve na página de cima.

Durante o período de agonia do lugar, me enchi de covardia e quase driblei a vontade de ir dar um abraço de despedida nos meus amigos de confraria, como se não falar a respeito evitasse o pior. Cabisbaixo de coragem, entrei na loja para meu último café. Veio regiamente acompanhado com bolo de laranja, tapioca e queijo, como se não houvesse amanhã.  O sinal de luz impaciente no retrovisor me resgatou da contemplação do fim, me fez ajudar a mover novamente o cortejo estressante do trânsito. Ficou para trás a placa agressiva, retirada poucos dias depois.   Apesar das obras de reforma anunciarem que há novo inquilino, não tive interesse em descobrir o que virá depois da poeira dos operários. Vai que nasce um vínculo que faz sofrer depois…

Heraldo Palmeira 

 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Concentração do sistema bancário provoca distorção nos juros

Os juros bancários no Brasil são um absurdo de várias dimensões. O BC reduziu a taxa básica da economia nos últimos meses, mas os bancos estão cobrando mais caro em algumas modalidades. Eles se comportam assim porque o sistema bancário brasileiro é fortemente concentrado em poucas instituições.

Apenas em maio, a taxa média para o crédito pessoal cresceu 3,4 pontos, para 132,6%, destaca a reportagem da “Folha de S. Paulo”. É mais do que se cobrava há um ano, quando a Selic ainda estava em 14,25%. Nesse período, o BC derrubou os juros básicos para 10,25%, mas o recuo não se refletiu em todas as linhas de crédito dos bancos.

O argumento das grandes instituições financeiras é que o risco e a inadimplência subiram. Parece um tiro no pé. Ao subir os juros, os bancos tentam tirar mais lucro elevando o próprio risco da operação. A pessoa com dificuldade de pagar o financiamento, ao contrário, deveria receber uma proposta de renegociação por parte do banco, com parcelas que caibam no bolso das famílias. Esse é o normal em qualquer setor em que haja competição.

O mercado de alugueis é um exemplo. Os contratos estão sendo negociados sem correção ou até mesmo com desconto, mostra matéria do GLOBO. Há o caso de uma oferta que estipula desconto do aluguel por três meses. Atualmente, os proprietários estão disputando o inquilino. A oferta e a demanda na economia funcionam assim, mas com os bancos aqui no Brasil não ocorre dessa forma.   

É o momento de renegociar. O número de inadimplentes aumentou de 49 milhões, antes da crise, para 60 milhões agora, de acordo com a Serasa Experian. A empresa explica que o movimento hoje é de pagamento das dívidas. O dinheiro que sobra é usado para quitar os débitos. As famílias têm se esforçado para reduzir a relação entre o total devido e a renda. 

Os bancos deveriam aproveitar. Falta a eles a visão estratégica. Preferem aproveitar para aumentar os lucros de curto prazo. A instituição poderia ter uma adimplência maior se ajustasse suas taxas à queda da Selic e ao momento da economia. A decisão de subir os juros, que parece proteger o banco no horizonte mais curto, pode ameaçá-lo no médio e longo prazos. O sistema bancário se comporta como um verdadeiro oligopólio no Brasil.

Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo