O Globo
Palestinos no Oriente Médio não são cidadãos dos países onde vivem, o que acaba os privando de uma série de direitos
Meu pai, filho de libaneses, nasceu no Brasil e é brasileiro.
Meus
filhos nasceram nos EUA com pais brasileiros e são americanos. Afinal,
tanto os EUA como o Brasil seguem a vertente de jus solis para concessão
da nacionalidade. Isto é, se você nasceu nesses países, automaticamente
terá a nacionalidade.
Ao mesmo tempo, filhos de americanos e
brasileiros nascidos no exterior mantêm o direito à cidadania.
Por este
motivo, meus filhos têm também a cidadania brasileira mesmo sendo de
Nova York.
Seria a aplicação do jus sanguinis, ou direito por sangue à
nacionalidade.
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Algumas nações, no entanto, aplicam apenas o jus sanguinis na quase
totalidade dos casos, ignorando o jus solis. É o que ocorre no Líbano.
Eu, que sou neto de libaneses, tenho o direito à cidadania libanesa
mesmo sendo de São Paulo.
Uma pessoa de origem palestina da minha idade
nascida em Beirute não tem o direito a ser cidadão libanês, a não ser em
raros casos.
O que se aplica a mim também vale para milhões de
brasileiros que são descendentes de libaneses, independentemente da
religião. No meu caso, até estive várias vezes no Líbano.
Mas alguns
descendentes no Brasil jamais pisaram em Beirute e ainda assim têm mais
direitos do que um refugiado palestino que nasceu e cresceu em Sídon,
Trípoli ou na capital libanesa.
Isso porque seus antepassados nasceram
do outro lado de uma fronteira artificial criada por franceses e
britânicos após o colapso do Império Otomano. Como o avô deles era de
Haifa e não de Zahle, não são aceitos como cidadãos do Líbano.
Estas pessoas de origem palestina ficam restringidas a viver em campos
de refugiados e enfrentam restrições para trabalhar em uma série de
profissões.
O argumento libanês para não conceder cidadania a esses
palestinos nascidos no Líbano é de que, primeiro, isso afetaria a
balança sectária libanesa, na qual o poder se divide entre cristãos de
diversas denominações, xiitas, sunitas e drusos.
Em segundo lugar,
porque, na visão libanesa, essa é uma questão a ser resolvida entre Israel e Autoridade Nacional Palestina, pois esses refugiados têm origem no que hoje é território israelense.
Guga Chacra, colunista - O Globo