Chefes de estado até podem tentar, mas não têm vida privada. Ou seja,
não serve como justificativa, muito menos como desculpa, o presidente
Bolsonaro dizer que transmitiu mensagens ofensivas ao Congresso e ao
Supremo aos seus grupos privados de WhatsApp.
Também não adianta dizer que não havia referência explícita ao
legislativo e ao judiciário na mensagem retransmitida. Todo mundo vê a
atividade dos grupos ligados a Bolsonaro e a enorme quantidade de
mensagens espalhadas com ataques, sim, e ofensas aos demais poderes da
República. A reação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a do decano do
STF, Celso de Mello, revelam não apenas preocupação, mas até mesmo uma
certa surpresa. Será que é isso mesmo?
Ou seja, a única atitude cabível do presidente Bolsonaro seria
desautorizar publicamente a campanha pela manifestação de 15 de
novembro, claramente um ataque ao Congresso. Rodam por aí as mensagens
que opõem militares aos “políticos do passado”. Não basta o presidente
dizer, em privado, que não tem nada a ver com isso. O objetivo só pode ser o de tumultuar. Se for para aprovar reformas,
como se aprovou a da previdência, então o movimento deveria o contrário.
Dizem os bolsonaristas que o Congresso só funciona na base do dinheiro –
e como o capitão não quer pagar, o que resta?
E está errado. Ou a reforma da previdência foi comprada ou imposta pelas ruas?
E outra: a reforma tributária, essencial para a retomada da economia, está mais adiantada no Congresso do que no Planalto. E por fim: a inflação está baixinha, os juros são os menores da
história do real, o crédito está voltando, o crédito da casa própria
está abaixo dos 10% ao ano, Paulo Guedes dá shows nos mercados
internacionais – e por que os investimentos e o consumo não decolam? [a economia lentamente está descolando do chão e se espera que em um futuro próximo decole;
temos que esperar a superação - este de imediato - do coronavírus, do boicote sistemático efetuado pelo Congresso e muitas vezes referendado pelo STF e outros entraves que tornam super pesado o avião da economia, impedindo que decole.
Uma vez livre do peso excessivo, tudo ajustado, a decolagem correrá e com sucesso.
Apesr de tudo, muito já foi feito desde janeiro 2019.]
A resposta só pode ser uma: falta de confiança. No capitão e na turma dele.
Nas mãos dos médicos
É como se a bolsa brasileira estivesse atrasada. Enquanto os mercados
desabavam na segunda e terça de carnaval, a gente aqui estava ou na
farra ou no descanso. Ontem, foi o dia de tirar o atraso. Algumas das
principais bolsas internacionais, Nasdaq e a de Londres, por exemplo,
fechavam no positivo, mas sem zerar as fortes perdas dos primeiros dias
da semana. Assim, a queda de 7% da Bovespa apenas equilibrou com as
perdas globais.
“Apenas” – é claro, é modo de dizer. Para quem tem dinheiro lá, foi
muito. E logo agora quando cada vez mais brasileiros investem em ações
para tentar ganhar algo mais do que as modestíssimas taxas de juros. Paciência. É aprendizado, como sempre se diz. Bolsa é risco e, não
raramente de um fator tão externo ao mundo econômico, como um vírus
chinês. Claro, um fator externo que se torna risco econômico. Nos últimos dias, na medida em que o Covid-19 foi se espalhando pela
Ásia e Europa, as companhias começaram a alertar para perdas futuras.
Por exemplo: bares e restaurantes fecharam na China, e a Diageo perdeu
vendas de uísque e cerveja. Uma queda estimada nos lucros em torno de
200 milhões de libras esterlinas.
A Apple já havia avisado que faltariam peças para montar os iPhones. Companhias aéreas mantiveram aviões nos pátios. Em 2002, quando ocorreu a SARS, a China representava 4% do PIB
mundial. Hoje, já passa dos 16% – quatro vezes mais, prejuízos muito
maiores. Especialmente para o Brasil, que tem na China seu principal
freguês. Também é verdade que nas epidemias anteriores, a economia mundial
recuperou-se muito rapidamente. Consumo e produção voltaram rapidamente a
níveis pré-crise.
A questão, portanto, é de tempo. Se médicos e cientistas encontrarem
logo vacinas e/ou tratamentos mais eficazes, controlando a epidemia, as
coisas podem se ajeitar com danos reduzidos. Mas quanto tempo? Por
quanto tempo os bares ficarão fechados na China. Além disso, ao mesmo tempo em que os chineses começam a controlar o
problema – reduzindo o ritmo de transmissão da doença – outros países
estão começando a batalha.
Resumo da ópera: máximo cuidado sanitário agora, coordenação global e torcer para que os cientistas resolvem o problema.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 27 de fevereiro de 2020
Ou seja, a única atitude cabível do presidente Bolsonaro seria desautorizar publicamente a campanha pela manifestação de 15 de novembro, claramente um ataque ao Congresso. Rodam por aí as mensagens que opõem militares aos “políticos do passado”. Não basta o presidente dizer, em privado, que não tem nada a ver com isso. O objetivo só pode ser o de tumultuar. Se for para aprovar reformas, como se aprovou a da previdência, então o movimento deveria o contrário. Dizem os bolsonaristas que o Congresso só funciona na base do dinheiro – e como o capitão não quer pagar, o que resta?
E está errado. Ou a reforma da previdência foi comprada ou imposta pelas ruas?
E outra: a reforma tributária, essencial para a retomada da economia, está mais adiantada no Congresso do que no Planalto. E por fim: a inflação está baixinha, os juros são os menores da história do real, o crédito está voltando, o crédito da casa própria está abaixo dos 10% ao ano, Paulo Guedes dá shows nos mercados internacionais – e por que os investimentos e o consumo não decolam? [a economia lentamente está descolando do chão e se espera que em um futuro próximo decole;
temos que esperar a superação - este de imediato - do coronavírus, do boicote sistemático efetuado pelo Congresso e muitas vezes referendado pelo STF e outros entraves que tornam super pesado o avião da economia, impedindo que decole.
Uma vez livre do peso excessivo, tudo ajustado, a decolagem correrá e com sucesso.
Apesr de tudo, muito já foi feito desde janeiro 2019.]
A resposta só pode ser uma: falta de confiança. No capitão e na turma dele.
Nas mãos dos médicos
É como se a bolsa brasileira estivesse atrasada. Enquanto os mercados desabavam na segunda e terça de carnaval, a gente aqui estava ou na farra ou no descanso. Ontem, foi o dia de tirar o atraso. Algumas das principais bolsas internacionais, Nasdaq e a de Londres, por exemplo, fechavam no positivo, mas sem zerar as fortes perdas dos primeiros dias da semana. Assim, a queda de 7% da Bovespa apenas equilibrou com as perdas globais.
“Apenas” – é claro, é modo de dizer. Para quem tem dinheiro lá, foi muito. E logo agora quando cada vez mais brasileiros investem em ações para tentar ganhar algo mais do que as modestíssimas taxas de juros. Paciência. É aprendizado, como sempre se diz. Bolsa é risco e, não raramente de um fator tão externo ao mundo econômico, como um vírus chinês. Claro, um fator externo que se torna risco econômico. Nos últimos dias, na medida em que o Covid-19 foi se espalhando pela Ásia e Europa, as companhias começaram a alertar para perdas futuras. Por exemplo: bares e restaurantes fecharam na China, e a Diageo perdeu vendas de uísque e cerveja. Uma queda estimada nos lucros em torno de 200 milhões de libras esterlinas.
A Apple já havia avisado que faltariam peças para montar os iPhones. Companhias aéreas mantiveram aviões nos pátios. Em 2002, quando ocorreu a SARS, a China representava 4% do PIB mundial. Hoje, já passa dos 16% – quatro vezes mais, prejuízos muito maiores. Especialmente para o Brasil, que tem na China seu principal freguês. Também é verdade que nas epidemias anteriores, a economia mundial recuperou-se muito rapidamente. Consumo e produção voltaram rapidamente a níveis pré-crise.
A questão, portanto, é de tempo. Se médicos e cientistas encontrarem logo vacinas e/ou tratamentos mais eficazes, controlando a epidemia, as coisas podem se ajeitar com danos reduzidos. Mas quanto tempo? Por quanto tempo os bares ficarão fechados na China. Além disso, ao mesmo tempo em que os chineses começam a controlar o problema – reduzindo o ritmo de transmissão da doença – outros países estão começando a batalha.
Resumo da ópera: máximo cuidado sanitário agora, coordenação global e torcer para que os cientistas resolvem o problema.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 27 de fevereiro de 2020