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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Falta confiança - Carlos Alberto Sardenberg

Chefes de estado até podem tentar, mas não têm vida privada. Ou seja, não serve como justificativa, muito menos como desculpa, o presidente Bolsonaro dizer que transmitiu mensagens ofensivas ao Congresso e ao Supremo aos seus grupos privados de WhatsApp.

Também não adianta dizer que não havia referência explícita ao legislativo e ao judiciário na mensagem retransmitida. Todo mundo vê a atividade dos grupos ligados a Bolsonaro e a enorme quantidade de mensagens espalhadas com ataques, sim, e ofensas aos demais poderes da República. A reação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a do decano do STF, Celso de Mello, revelam não apenas preocupação, mas até mesmo uma certa surpresa. Será que é isso mesmo?

Ou seja, a única atitude cabível do presidente Bolsonaro seria desautorizar publicamente a campanha pela manifestação de 15 de novembro, claramente um ataque ao Congresso. Rodam por aí as mensagens que opõem militares aos “políticos do passado”. Não basta o presidente dizer, em privado, que não tem nada a ver com isso.  O objetivo só pode ser o de tumultuar. Se for para aprovar reformas, como se aprovou a da previdência, então o movimento deveria o contrário. Dizem os bolsonaristas que o Congresso só funciona na base do dinheiro e como o capitão não quer pagar, o que resta?

E está errado. Ou a reforma da previdência foi comprada ou imposta pelas ruas?
E outra: a reforma tributária, essencial para a retomada da economia, está mais adiantada no Congresso do que no Planalto.  E por fim: a inflação está baixinha, os juros são os menores da história do real, o crédito está voltando, o crédito da casa própria está abaixo dos 10% ao ano, Paulo Guedes dá shows nos mercados internacionais – e por que os investimentos e o consumo não decolam? [a economia lentamente está descolando do chão e se espera que em um futuro próximo decole;
temos que esperar a superação - este de imediato - do coronavírus, do boicote sistemático efetuado pelo Congresso e muitas vezes referendado pelo STF e outros entraves que tornam super pesado o avião da economia, impedindo que decole.
Uma vez livre do peso excessivo, tudo ajustado, a decolagem correrá e com sucesso.
Apesr de tudo, muito já foi feito desde janeiro 2019.]  

A resposta só pode ser uma: falta de confiança. No capitão e na turma dele.

Nas mãos dos médicos
É como se a bolsa brasileira estivesse atrasada. Enquanto os mercados desabavam na segunda e terça de carnaval, a gente aqui estava ou na farra ou no descanso. Ontem, foi o dia de tirar o atraso. Algumas das principais bolsas internacionais, Nasdaq e a de Londres, por exemplo, fechavam no positivo, mas sem zerar as fortes perdas dos primeiros dias da semana. Assim, a queda de 7% da Bovespa apenas equilibrou com as perdas globais.

“Apenas” – é claro, é modo de dizer. Para quem tem dinheiro lá, foi muito. E logo agora quando cada vez mais brasileiros investem em ações para tentar ganhar algo mais do que as modestíssimas taxas de juros. Paciência. É aprendizado, como sempre se diz. Bolsa é risco e, não raramente de um fator tão externo ao mundo econômico, como um vírus chinês. Claro, um fator externo que se torna risco econômico. Nos últimos dias, na medida em que o Covid-19 foi se espalhando pela Ásia e Europa, as companhias começaram a alertar para perdas futuras. Por exemplo: bares e restaurantes fecharam na China, e a Diageo perdeu vendas de uísque e cerveja. Uma queda estimada nos lucros em torno de 200 milhões de libras esterlinas.

A Apple já havia avisado que faltariam peças para montar os iPhones. Companhias aéreas mantiveram aviões nos pátios.  Em 2002, quando ocorreu a SARS, a China representava 4% do PIB mundial. Hoje, já passa dos 16% – quatro vezes mais, prejuízos muito maiores. Especialmente para o Brasil, que tem na China seu principal freguês. Também é verdade que nas epidemias anteriores, a economia mundial recuperou-se muito rapidamente. Consumo e produção voltaram rapidamente a níveis pré-crise.

A questão, portanto, é de tempo. Se médicos e cientistas encontrarem logo vacinas e/ou tratamentos mais eficazes, controlando a epidemia, as coisas podem se ajeitar com danos reduzidos. Mas quanto tempo? Por quanto tempo os bares ficarão fechados na China.  Além disso, ao mesmo tempo em que os chineses começam a controlar o problema – reduzindo o ritmo de transmissão da doença – outros países estão começando a batalha.
Resumo da ópera: máximo cuidado sanitário agora, coordenação global e torcer para que os cientistas resolvem o problema.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 27 de fevereiro de 2020

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

‘O político que multiplicava’

No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo

Estava feliz naquela noite de primavera, quinta-feira 7 de outubro de 2010. Há apenas quatro dias garantira a reeleição ao governo estadual no primeiro turno, com 66,08% votos. Agora seguia no voo 455 da Air France para descanso em Paris, com escala em Londres.

Escolheu um hotel no lado oeste da capital do Reino Unido, perto do Hyde Park, onde em 1855 Karl Marx subiu num caixote — para não pisar em solo inglês, conforme a tradição — , e discursou sobre a revolução proletária para uma plateia de ingleses reformistas.  Na suíte, telefonou ao Rio ordenando o envio de 20 mil libras esterlinas (cerca de R$ 80 mil hoje). O carioca Marcelo, um dos herdeiros da mesa de câmbio Hasson Chebar, passou numa agência do banco israelense Hapoalim, e levou o dinheiro ao governador reeleito. Na antessala, viu e cumprimentou a primeira-dama.

“Mr. Santos", era o nome que registrara no livro de hóspedes do hotel. Ele gostava de disfarces. Vivia uma rotina de clandestinidade. Tinha outro codinome, que restringia às conversas por um telefone (21-9972-33315) na privacidade do Palácio Laranjeiras: Nelma. No catálogo telefônico, Nelma de Sá Saraça.  Santos e Nelma, na vida real, eram Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, que hoje completa 54 anos numa cela no presídio de Bangu, onde a temperatura de verão oscila acima de 40 graus.

Tinha metade desse tempo de vida quando emergiu das urnas como deputado, nos anos 90. Terminou o terceiro mandato com pelo menos US$ 2 milhões (ou R$ 6,8 milhões) em contas secretas no exterior, conforme descritos nos inquéritos e processos em andamento na Justiça Federal. Por cada ano na Alerj, recebeu em média US$ 166 mil de origem suspeita.


Elegeu-se senador com 4,2 milhões de votos. No período em Brasília (2003 a 2006), seu patrimônio oculto fora do país subiu para US$ 7 milhões (R$ 23,8 milhões). Como senador passou a receber US$ 1,2 milhão por ano — aumento de 653% em relação ao tempo de deputado.  Disputou e ganhou o governo estadual. Eleito, permaneceu entre 1º de janeiro de 2007 a 3 de abril de 2014. Passou o cargo ao vice, Luiz Fernando Pezão, nove meses antes do fim do segundo mandato. Não precisaria mais usar o codinome Santos para desfrutar a fortuna que Nelma arrecadara na solidão do Laranjeiras, ao telefone com executivos das empresas de Eike Batista e de Marcelo Odebrecht, entre outras.

Multiplicara sua riqueza 21 vezes no espaço de 84 meses. O movimento nas contas encobertas em bancos estrangeiros saltou de US$ 7 milhões para US$ 152 milhões (R$ 517 milhões). Como governador, coletou US$ 18,1 milhões, em média, a cada ano no palácio — 138% acima do patamar que alcançara quando era senador, e 10.803% mais que a arrecadação na Assembleia. No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo. Voltou à realidade em Bangu-8.

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo