No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo
Estava feliz naquela noite de primavera, quinta-feira 7 de outubro de
2010. Há apenas quatro dias garantira a reeleição ao governo estadual no
primeiro turno, com 66,08% votos. Agora seguia no voo 455 da Air France
para descanso em Paris, com escala em Londres.
“Mr. Santos", era o nome que registrara no livro de hóspedes do hotel. Ele gostava de disfarces. Vivia uma rotina de clandestinidade. Tinha outro codinome, que restringia às conversas por um telefone (21-9972-33315) na privacidade do Palácio Laranjeiras: Nelma. No catálogo telefônico, Nelma de Sá Saraça. Santos e Nelma, na vida real, eram Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, que hoje completa 54 anos numa cela no presídio de Bangu, onde a temperatura de verão oscila acima de 40 graus.
Tinha metade desse tempo de vida quando emergiu das urnas como deputado, nos anos 90. Terminou o terceiro mandato com pelo menos US$ 2 milhões (ou R$ 6,8 milhões) em contas secretas no exterior, conforme descritos nos inquéritos e processos em andamento na Justiça Federal. Por cada ano na Alerj, recebeu em média US$ 166 mil de origem suspeita.
Multiplicara sua riqueza 21 vezes no espaço de 84 meses. O movimento nas contas encobertas em bancos estrangeiros saltou de US$ 7 milhões para US$ 152 milhões (R$ 517 milhões). Como governador, coletou US$ 18,1 milhões, em média, a cada ano no palácio — 138% acima do patamar que alcançara quando era senador, e 10.803% mais que a arrecadação na Assembleia. No país do real, Cabral foi um meio-bilionário por um tempo. Voltou à realidade em Bangu-8.
Fonte: José Casado, jornalista - O Globo
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