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sábado, 25 de fevereiro de 2023

Que filhos deixaremos para este mundo? - Raul Jafet


       A frase parece trocada, mas infelizmente é o retrato que vejo hoje, mundo afora, sobre os filhos que estamos deixando nos substituir, para viver e participar do mundo futuro já presente.

Jamais pensei que seria saudosista, afinal, procuro estar sempre atualizado, principalmente na tecnologia, um sonho que acompanho se tornar realidade a cada instante.

Recentemente uma frase que li, me inspirou a escrever esse artigo:

"Os filhos de hoje sabem o preço de tudo, mas o valor de nada!"

Cada vez mais afastados da religião, da família,  os valores éticos e morais que nos foram transmitidos durante gerações,  vão se perdendo a olhos vistos, substituídos pelo "importante é ser feliz, custe o que custar" . Os fins justificam os meios...pelo sucesso e poder, se abatem uns aos outros, se afundam em bebidas e outras drogas, vivem o hoje....o futuro, e a provisão estão longe de suas prioridades.

Os adolescentes, por sua habilidade na tecnologia, desprezam os pais - heróis em nosso tempo - considerando-os apenas provedores de seus Iphones, roupas, games, baladas...

Por isso, em pouco tempo, apareceram 54 tipos de gênero  - antes só o masculino e feminino - pela dificuldade em se situar em algum deles, e  vão nos obrigando - graças aos poderosos que estão por trás disso - a modificar a linguagem que aprendemos nos bancos escolares, para não ferir as suscetibilidades das frágeis e confusas cabecinhas, que após terem passado da adolescência e juventude, ainda não decidiram o que são e como se situam nesse mundo....

Durante o último período eleitoral brasileiro,  exacerbaram-se rancores entre pais e filhos...esses, incapazes de aceitar a experiência e vivência dos mais velhos, respondiam com desprezo e descaso às considerações dos familiares....ouvi de muitos pais, que seus filhos pareciam inimigos dentro de casa....

A competitividade, a luta por espaços cada vez mais reduzidos, a falta de estrutura familiar,  somados a fenômenos climáticos cada vez mais devastadores, os conflitos entre nações que continuam fazendo milhões de vítimas, experiências atômicas e biológicas, estranhas pandemias e suas ainda mais estranhas vacinas...uma decadência acentuada do mundo Ocidental,  propõe rapidamente, severas e trágicas modificações do mundo como o conhecemos.....cabe a reflexão de onde é que erramos, continuamos errando... como sucumbimos às irremediáveis mudanças e não demos os alicerces necessários, como nossos filhos irão enfrentar o que está porvir e de que forma transformarão o mundo? ????

Raul Jafet, autor do artigo, é engenheiro, jornalista e empresário.

 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Sem chance - Carlos Alberto Sardenberg

O mundo está ficando muito complexo para a limitadíssima capacidade de compreensão de Bolsonaro e sua turma. A disputa entre Estados Unidos e China vai muito além do comércio. Não é uma guerra fria do tipo EUA x URSS. É bem mais complicada porque as duas potências que lutam pela hegemonia – política, territorial, tecnológica e econômica – mantêm laços econômicos amplos e profundos.

A Apple faz quase todos os seus iPhones na China – e no momento em que todas as redes de celulares do mundo se preparam para o 5G tem aí uma gigante chinesa, a Huawei, muito avançada nessa tecnologia. Trump quer banir a Huawei do 5G global e já convenceu a Inglaterra de Boris Johnson a seguir por esse caminho
Johnson não apenas vetou novos contratos com a Huawei, como deu prazo para que os operadores de celulares no país eliminem os componentes da companhia chinesa que já utilizam. As concorrentes da Huawei – Ericsson e Nokia – adoraram, mas as operadoras de celulares reclamaram. Disseram que precisam de pelo menos dez anos para substituir as partes Huawei e que esse procedimento atrasaria de alguns anos a instalação da rede 5G.

A Alemanha está observando – não baniu a Huawei e não deu sinais de que pretende fazê-lo – e toda a União Europeia está à espera. Qual a alegação principal dos EUA? Segurança. Trump e muitos políticos dizem que, com a Huawei dominando o 5G, as informações do mundo todo estariam acessíveis ao governo chinês. Sendo uma ditadura, com respeito zero aos direitos humanos e às liberdades, há aí um bom argumento. Se o governo chinês controla e vigia seus cidadãos, por que não faria isso no mundo?
Há argumentos em sentido contrário. Os países têm como controlar o uso das redes celulares e apanhar eventuais abusos dos chineses. Mas esta é, por ora, uma discussão ainda abstrata.

O Brasil terá de decidir em breve pela tecnologia do 5G. Bolsonaro já disse que a escolha será técnica e política. Se for técnica – considerando preço, qualidade, velocidade de instalação – dá Huawei. Se for política, dá as europeias, mais atrasadas. Mas tem um sério agravante. A China é o principal cliente do Brasil. O maior destino de nossas exportações – agro, petróleo e minério de ferro – e a principal fonte de nossas importações. Há também um amplo leque de investimentos chineses no Brasil, de infraestrutura a financeiros.
Para Bolsonaro e seus seguidores, a coisa é simples: os chineses são comunistas e querem dominar o mundo; [alguém duvida? só que comércio é comércio e politica é política - tão sábia essa conclusão quanto a daquele petista: 'uma coisa é uma coisa ...' - e a diplomacia existe para fazer eventuais ajustes.] logo, estamos com os EUA. Acrescente aí um problema: o Brasil é o principal concorrente dos EUA na exportação de produtos agrícolas, inclusive e especialmente para o mercado chinês.

Mesmo uma diplomacia supercompetente teria dificuldades de se mover nesse ambiente. Imaginem com o Ernesto Araújo e Filipe Martins. Podemos complicar ainda mais, com a questão ambiental. Para os bolsonaristas, isso de aquecimento global e desmatamento da Amazônia é coisa de comunistas locais e ONGs estrangeiras, pontas de lanças de países que querem dominar as riquezas amazônicas. [exatamente exato e são os países devastadores - que devastaram suas florestas no passado, exploram  petróleo no Ártico, agridem o meio ambiente na Amazônia e querem dominar o território brasileiro a pretexto de preservar o meio ambiente.
Agem exatamente nos moldes de algumas supremas autoridades brasileiras que, a pretexto de preservar a democracia, violam direitos fundamentais de cidadãos brasileiros que pensam de forma diferente, direitos estes que são conferidos por uma Consituição que também quer preservar a democracia em nossa Pátria.] Só que o cuidado com o meio ambiente se tornou uma questão econômica e financeira. Países devastadores estarão fora do cenário. Temos um ministro do meio ambiente que acha tudo isso uma bobagem. O vice Mourão, presidente do Conselho da Amazônia tem um pouco mais de bom senso. Diz que, diante da pressão internacional, é preciso apresentar resultados concretos, ou seja, reduzir o desmatamento e provar isso.

Ao mesmo tempo, diz que é um problema de comunicação, que o governo brasileiro perdeu a narrativa. Errado. Não perdeu a narrativa, está perdendo florestas. E, finalmente, tem a pandemia, também incompreensível pelo bolsonarismo. Diante disso, a recuperação econômica até parece a parte mais fácil. Afinal, trata-se de voltar ao controle fiscal e abrir espaço para o investimento privado. Mas o governo Bolsonaro está pegando o gosto pelo gasto populista. Acrescente aí o Centrão, e também isso se complica. Mais o Queiroz e dona Márcia, o gabinete do ódio desvendado, as fake news e os atos antidemocráticos cercados por diversos inquéritos, e está claro: não tem a menor chance de dar certo.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


Coluna publicada em O Globo - Economia 16 de julho de 2020


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Falta confiança - Carlos Alberto Sardenberg

Chefes de estado até podem tentar, mas não têm vida privada. Ou seja, não serve como justificativa, muito menos como desculpa, o presidente Bolsonaro dizer que transmitiu mensagens ofensivas ao Congresso e ao Supremo aos seus grupos privados de WhatsApp.

Também não adianta dizer que não havia referência explícita ao legislativo e ao judiciário na mensagem retransmitida. Todo mundo vê a atividade dos grupos ligados a Bolsonaro e a enorme quantidade de mensagens espalhadas com ataques, sim, e ofensas aos demais poderes da República. A reação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a do decano do STF, Celso de Mello, revelam não apenas preocupação, mas até mesmo uma certa surpresa. Será que é isso mesmo?

Ou seja, a única atitude cabível do presidente Bolsonaro seria desautorizar publicamente a campanha pela manifestação de 15 de novembro, claramente um ataque ao Congresso. Rodam por aí as mensagens que opõem militares aos “políticos do passado”. Não basta o presidente dizer, em privado, que não tem nada a ver com isso.  O objetivo só pode ser o de tumultuar. Se for para aprovar reformas, como se aprovou a da previdência, então o movimento deveria o contrário. Dizem os bolsonaristas que o Congresso só funciona na base do dinheiro e como o capitão não quer pagar, o que resta?

E está errado. Ou a reforma da previdência foi comprada ou imposta pelas ruas?
E outra: a reforma tributária, essencial para a retomada da economia, está mais adiantada no Congresso do que no Planalto.  E por fim: a inflação está baixinha, os juros são os menores da história do real, o crédito está voltando, o crédito da casa própria está abaixo dos 10% ao ano, Paulo Guedes dá shows nos mercados internacionais – e por que os investimentos e o consumo não decolam? [a economia lentamente está descolando do chão e se espera que em um futuro próximo decole;
temos que esperar a superação - este de imediato - do coronavírus, do boicote sistemático efetuado pelo Congresso e muitas vezes referendado pelo STF e outros entraves que tornam super pesado o avião da economia, impedindo que decole.
Uma vez livre do peso excessivo, tudo ajustado, a decolagem correrá e com sucesso.
Apesr de tudo, muito já foi feito desde janeiro 2019.]  

A resposta só pode ser uma: falta de confiança. No capitão e na turma dele.

Nas mãos dos médicos
É como se a bolsa brasileira estivesse atrasada. Enquanto os mercados desabavam na segunda e terça de carnaval, a gente aqui estava ou na farra ou no descanso. Ontem, foi o dia de tirar o atraso. Algumas das principais bolsas internacionais, Nasdaq e a de Londres, por exemplo, fechavam no positivo, mas sem zerar as fortes perdas dos primeiros dias da semana. Assim, a queda de 7% da Bovespa apenas equilibrou com as perdas globais.

“Apenas” – é claro, é modo de dizer. Para quem tem dinheiro lá, foi muito. E logo agora quando cada vez mais brasileiros investem em ações para tentar ganhar algo mais do que as modestíssimas taxas de juros. Paciência. É aprendizado, como sempre se diz. Bolsa é risco e, não raramente de um fator tão externo ao mundo econômico, como um vírus chinês. Claro, um fator externo que se torna risco econômico. Nos últimos dias, na medida em que o Covid-19 foi se espalhando pela Ásia e Europa, as companhias começaram a alertar para perdas futuras. Por exemplo: bares e restaurantes fecharam na China, e a Diageo perdeu vendas de uísque e cerveja. Uma queda estimada nos lucros em torno de 200 milhões de libras esterlinas.

A Apple já havia avisado que faltariam peças para montar os iPhones. Companhias aéreas mantiveram aviões nos pátios.  Em 2002, quando ocorreu a SARS, a China representava 4% do PIB mundial. Hoje, já passa dos 16% – quatro vezes mais, prejuízos muito maiores. Especialmente para o Brasil, que tem na China seu principal freguês. Também é verdade que nas epidemias anteriores, a economia mundial recuperou-se muito rapidamente. Consumo e produção voltaram rapidamente a níveis pré-crise.

A questão, portanto, é de tempo. Se médicos e cientistas encontrarem logo vacinas e/ou tratamentos mais eficazes, controlando a epidemia, as coisas podem se ajeitar com danos reduzidos. Mas quanto tempo? Por quanto tempo os bares ficarão fechados na China.  Além disso, ao mesmo tempo em que os chineses começam a controlar o problema – reduzindo o ritmo de transmissão da doença – outros países estão começando a batalha.
Resumo da ópera: máximo cuidado sanitário agora, coordenação global e torcer para que os cientistas resolvem o problema.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 27 de fevereiro de 2020

domingo, 7 de agosto de 2016

A conta da Olimpíada ficará no Brasil

Daqui até o fim dos jogos, centenas de jovens subirão nos pódios, baixarão a cabeça e receberão as medalhas de ouro da Olimpíada do Rio. Serão momentos de sonho, felicidade e alegria. Da alegria dos jovens que sorriam para o mundo durante o desfile dos atletas na festa da abertura. Nada reduzirá a beleza dessas cenas. Para os brasileiros, ficarão os momentos de sonho e a conta. Alguém ainda fará o cálculo da fatura dos custos diretos e indiretos transferidos à Viúva. Chutando para cima, poderá chegar a R$ 500 milhões.

O Maracanã, joia da privataria do governo do Rio e da Odebrecht,
tornou-se um magnífico elefante branco, incomparável em noites de festa. A manutenção das instalações olímpicas custará R$ 59 milhões anuais num Estado cuja rede de saúde pública entrou em colapso. A máquina de marquetagem que prometeu Olimpíada sem dinheiro público voava nas asas dos jatinhos de Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, candidato ao pódio mundial. Era o tempo em que os governantes torravam o dinheiro achando que o pré-sal cobriria qualquer projeto.

Nos dias em que os problemas da Vila Olímpica dominaram o noticiário, foi frequente o argumento de que os críticos da festa carregavam o eterno "complexo de vira-lata".  Criação de Nelson Rodrigues, ele refletia "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo". Bola dentro, mas às vezes a questão é mais complicada. Há cães de raça, mas há também adoráveis vira-latas.

A sorte, essa trapaceira, fez com que o repórter José Maria Tomazela mostrasse uma nova dimensão da problemática canina. Ele expôs a ação de uma quadrilha de Sorocaba (SP) que mutilava e pintava filhotes de vira-latas, transformando-os em chihuahuas e pinschers. Vendiam chihuahuas por R$ 300.  Viu-se assim outro ângulo da questão: há gente que vende chihuahuas e entrega vira-latas maquiados a pessoas que resolveram acreditar neles.

JOGO SUJO
Domingo passado, o desembargador gaúcho José Antonio Hirt Preiss esclareceu que o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal não era de R$ 39,3 mil. Esse é valor estabelecido num projeto que "está aguardando no fim da fila". O valor correto seria de R$ 33,7 mil.

Na quarta-feira (3), o projeto foi aprovado pela Comissão de Justiça do Senado. Antes de chegar ao plenário, o texto deve passar pela Comissão de Assunto Econômicos.  O senador Ricardo Ferraço, crítico da iniciativa, não gostou da pressa: "Estou estarrecido com essa manobra. Quando fui avisado de que votariam, foi o tempo de eu chegar lá, mas já tinham votado. É um escárnio aprovar isso. O efeito cascata chegará a R$ 3 bilhões".

FOGOS PETISTAS
As divergências entre Dilma e comissários petistas refletem a crise de um partido que está pronto para explodir.

Será fácil para os comissários jogar Dilma ao mar (como vão jogar), mas isso não resolverá as diferenças mais fundas. A charanga irá unida até a eleição municipal. Daí em diante, cada um seguirá sua vocação. A banda ideológica, imunizada em relação à Lava Jato, ralará. Enquanto a fisiológica já começou a se aninhar nos partidos que bicavam o mensalão e as petrorroubalheiras.

TEMER IRÁ À CHINA ASSOMBRADO POR LOROTAS

Michel Temer pretende visitar a China na sua primeira viagem ao exterior. Será uma boa oportunidade para evitar os desastres e papagaiadas que acompanharam três visitas oficiais de caciques dos dois países.

Em 2004, o presidente Hu Jintao visitou Brasília e o Itamaraty contratou um intérprete terceirizado. Hu disse que a China pretendia aumentar o fluxo comercial (maoy) com a América Latina para US$ 100 bilhões. O moço traduziu anunciando um aumento dos investimentos (touzi). A bobagem foi notícia pelo mundo afora, e os chineses foram discretos ao corrigi-la.

Em 2011, Dilma Rousseff foi a Pequim e anunciou que a empresa Foxconn faria um retumbante investimento de US$ 12 bilhões para fabricar equipamentos e produtos da Apple no Brasil. Geraria 100 mil empregos, dos quais 20 mil seriam engenheiros. A megalomania foi prontamente desmentida pelo dono da empresa. Em 2015 haviam sido criados 3.000 empregos de baixa qualificação em Jundiaí, produzindo os iPhones que chegam ao consumidor com os preços mais caros do mundo. (Parte dessa anomalia está nos impostos nacionais.)

Em 2015, o primeiro-ministro Li Keqiang passou por Brasília, e o comissariado anunciou que ele traria um pacote de US$ 53 bilhões em investimentos. A joia dessa coroa seria a construção de uma ferrovia Transoceânica, ligando os litorais do Atlântico e do Pacífico da América do Sul. Era lorota.

Nenhuma dessas fantasias saiu da diplomacia ou da máquina de propaganda chinesas.



Fonte:  - Elio Gaspari, jornalista - O Globo