Na terça, entra em julgamento a chapa acusada de abuso de poder na campanha presidencial de 2014
Publicado na coluna de Carlos Brickmann
Um político que está no poder faz tanto
tempo sabe das coisas. E foi o senador Romero Jucá (PMDB-Roraima) que
deu o nome à festa: suruba. É suruba, mas também pode chamar de
troca-troca. Todos com todos, todos amigos. Afinal, as turmas de Dilma e
Temer são as mesmas.
Na terça, entra em julgamento a
chapa Dilma-Temer, por abuso de poder na campanha presidencial. Dilma e
Temer são adversários. Mas, se a Justiça cassar a chapa, é ruim para
Dilma (impedida de sair para o Senado em 2018); para Temer, que perde o
mandato; para o PSDB, que fez a denúncia, porque Aécio depende dos dois
para salvar-se das delações. Uma mão lava a outra, as duas lavam a cara
e cada uma pega o que pode.
A Comissão de Ética da Presidência
livrou o petista Aloízio Mercadante da acusação de tentar impedir a
delação de Delcídio do Amaral.
Rede e PSOL pediram a cassação de Aécio. O PT não assinou o pedido.
Temer e Lula, delatados por Joesley do
JBS, defendem-se da mesma maneira, desacreditando a investigação e
acusando o delator. Para Lula, a Lava Jato “é uma palhaçada” e Joesley é
“canalha” e “bandido”. Temer chama Joesley de “o menino, o grampeador”.
E, sobre uma possível delação de seu amigo Rocha Loures, diz que só crê
numa hipótese: “Nunca posso prever se ele tiver um problema maior, e as
pessoas disserem para ele: ‘olha, você terá as vantagens tais e tais se
disser isso e aquilo’”.
Jogo duro
Ambos dizem, com palavras diferentes,
que a delação ganharia valor (e os benefícios da de Joesley e seu irmão
Wesley seriam prova disso) se fossem eles os delatados. Sem as acusações
contra eles, teriam tantos benefícios?
Fala a defesa
O respeitado advogado José Roberto
Batocchio, que defende Lula e Dirceu, vem há tempos criticando (muito
antes da Lava Jato) o instituto da delação premiada. Batocchio sustenta a
tese de que a delação premiada abre caminho para a “delação a la carte”:
o acusado não precisa contar a verdade inteira, mas apenas a parte que
interessa à acusação, para obter os benefícios oferecidos – como a
liberdade, apesar dos crimes cometidos
Voto…
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral
deve ser apertada, para um lado ou outro. PT e Temer jogam juntos –
primeiro, na possibilidade de um dos ministros pedir vistas do processo
por 30 dias, o que, graças às peculiaridades do sistema jurídico
nacional, fará com que o julgamento demore tanto que o mandato de Temer
já esteja encerrado, ou se encerrando (e, ao mesmo tempo, que a possível
candidatura de Dilma ao Senado, pelo Rio Grande do Sul, já esteja
consolidada). E 30 dias são apenas o começo: frequentemente algum
ministro demora mais tempo com o processo em suas mãos – prazo que pode
ultrapassar um ano.
…a voto
Se nenhum ministro pedir vistas, há um
pedido do PT que pode mexer na votação: o pedido para que as delações da
Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura sejam
retirados do processo, que deve limitar-se à denúncia formulada pelo
PSDB no final de 2014. Esta é uma questão que os ministros devem decidir
antes de iniciar o julgamento. Se a tese for aceita, o relator Herman
Benjamin terá de retirar de seu voto tudo o que se refira à delação –
que deve ser a parte mais contundente. Dilma é a mais beneficiada,
porque a delação dos marqueteiros não atinge Temer. Mas a da Odebrecht
atinge. De qualquer forma, para Temer é boa qualquer solução que adie e
tumultue o processo, o que o beneficiará indiretamente.
Chegando junto
E se o Tribunal Superior Eleitoral
decidir cassar a chapa Dilma-Temer, levando a novas eleições (indiretas)
para a Presidência? Existe um grupo de trabalho cuidando disso na
Câmara Federal: Orlando Silva, do PCdoB, que foi ministro de Lula,
Andrés Sanchez, do PT, ex-presidente do Corinthians, e Vicente Cândido,
do PT, representam a esquerda na negociação com Rodrigo Maia, presidente
da Câmara, do DEM fluminense. O objetivo é colocar Maia na Presidência
da República, tendo Aldo Rebelo, do PCdoB, ex-ministro de Lula, como
vice. DEM, PT e PCdoB – hoje, tudo a ver. [Maia presidente e o genial Aldo Recebo na vice, só uma medida fica garantida: na primeira viagem internacional de Maia, Aldo assume e seu primeiro e único ato - para ele o mais importante da vida - é determinar o desligamento de todos os sistemas de informática do Governo Federal e sua imediata substituição por máquinas de datilografia.
Motivo: Aldo sempre foi contra a informática e quando ministro defendeu o retorno das máquinas de escrever - nada de máquinas eletrônicas, preferência para as manuais, no máximo elétrica, tipo IBM, Olivetti, Facit, anos 70 - para todo o serviço público com a geração imediata de no mínimo 5.000.000 de empregos diretos.
Volta a antiga e já esquecida profissão de DATILÓGRAFA.]
Diretas, mas não já
O PT faz campanha pela convocação de
eleições diretas, caso Temer seja afastado? Faz, no grande palco
público, e desfaz no mundo real. Fora a negociação com o DEM, fora a
luta para adiar o voto do TSE que poderia derrubar Temer, há uma atitude
simbólica de grande efeito: mudou as normas internas do partido,
trocando a eleição direta por indireta para presidente da sigla. Isso
leva ao comando do PT a senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, que foi
ministra de Dilma e é investigada, com autorização do Supremo, por
desvio de recursos da Petrobras. [aliás, a eleição de Dilma coloca o PT na liderança da fila para ser o primeiro partido político a ter, simultaneamente, dois cargos de direção ocupados por presidiários: tesoureiro - esse o PT é recordista, já teve três presos e atualmente tem um, o Vaccari, devidamente enjaulado; e, presidente: Gleisi Hoffmann é ré em ação que tramita no STF, sem chances de não ser condenada, e será encarcerada.e se condenada será encarcerada.]