Míriam Leitão: Temer fica no cargo com custo muito elevado
ao país
Melhora
da economia não pode ser biombo para que não se investigue as acusações contra
o presidente [não existe biombo protegendo Temer; as investigações terão continuidade com força total - com toda a sanha de vingança dos dos golpistas derrotados agora, mas, ansiosos por vingança - a partir de 1º janeiro 2018.]
Quanto
custa ao país manter o presidente Michel Temer no cargo? A conta está ficando
imensa pela soma da paralisia decisória em questões-chave, o abandono das
reformas econômicas, os gastos aprovados, e as medidas que o governo têm
adotado para fazer a vontade dos grupos de interesse e assim vencer uma a uma as
denúncias que pesam contra ele.
[Quanto custará ao Brasil a saída de Temer e a nomeação de um sucessor para um mandato tampão?
Temer saindo, o Brasil entra em parafuso com queda livre e quanto custará recolocá-lo na posição que está hoje? posição que não é boa, mas, bem melhor do que com a saída de Temer.]
Os
avanços econômicos que o governo Temer conseguiu estão sendo desmanchados pela
crise política que ele mesmo criou. O governo está parado enquanto o presidente
se defende. Nos discursos dos seus partidários na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados um dos argumentos mais repetidos é que a
economia melhorou e que, por isso, o presidente deve ser mantido. O problema
com esse raciocínio é que a melhora da economia não pode ser biombo para que
não se investigue as acusações contra o presidente nas delações tanto de
Joesley Batista quanto de Lúcio Funaro.
No
esforço de se manter no cargo, Temer fortalece a coalizão dos investigados da
Lava-Jato, como se viu esta semana na manutenção do mandato do senador Aécio
Neves. Os que o defenderam usaram o argumento institucional, quando na verdade
tentavam proteger a si mesmos, como os senadores Romero Jucá, Jader Barbalho,
Renan Calheiros. Na articulação principal estava o governo Temer, que quer em
troca o apoio de todos os tucanos. Na primeira denúncia teve apenas metade da
bancada.
No começo
do seu governo, o presidente escolheu uma boa equipe econômica e bons gestores
para algumas das estatais como a Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e
BNDES, além do Banco Central. Com os acertos, a inflação despencou, os juros
foram derrubados em seis pontos percentuais, a bolsa se recuperou, o dólar e o
risco-país caíram. Lentamente, o ambiente recessivo foi cedendo, e o país já
coleciona dados de melhora dos últimos meses. O mês de agosto teve queda dos
índices de produção industrial, vendas de varejo, do setor de serviços e
IBC-Br, mas os economistas dizem que é apenas uma acomodação e não reversão da
tendência de melhora. Tanto que alguns números, quando comparados com 2016,
mostram aceleração. O IBC-Br, por exemplo, foi de 1,4% para 1,64%. Mas a perda
de que se fala é mais profunda do que um indicador apenas.
A maior
ameaça a esse processo de recuperação é o próprio governo do presidente Temer.
Neste momento em que a segunda denúncia está tramitando na Câmara, as decisões
necessárias para o ajuste fiscal, para a revisão da meta do Orçamento, estão
paradas em grande parte na Casa Civil. O temor é o de que qualquer medida
desagrade a algum possível apoiador do presidente.
Para
atender à grande bancada ruralista, o governo baixou essa portaria do
Ministério do Trabalho que é um monstrengo. Ela reconceitua o trabalho escravo,
reduz o poder dos fiscais, e dá ao ministro o arbítrio de divulgar a lista das
empresas autuadas. Isso significa um enorme retrocesso na luta contra esse
crime dentro da cadeia produtiva. Esta não é a primeira concessão feita à mesma
bancada, mas tem o efeito de agradar também à indústria da construção civil.
Outra concessão aos ruralistas foi o parcelamento, que pode se transformar em
perdão, de uma dívida de R$ 17 bilhões com a Previdência.
As
complicações nas quais o presidente se envolveu custaram também a reforma da
Previdência. Ela estava se encaminhando para ser votada quando foi divulgada a
conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista. Cinco meses depois,
ela não foi votada, como dificilmente será.
O custo
pago pelo país por essa desastrosa dupla eleita em 2014 é incalculável. A
recessão provocada pela cabeça de chapa, a ex-presidente Dilma Rousseff, custou
quase dez pontos percentuais de encolhimento do PIB per capita. Nas pequenas
melhoras conduzidas pelo seu vice e sucessor não estão a reversão do grave
quadro de déficit público. Ambos lutaram para permanecer no cargo usando os recursos
da Presidência. Dilma não conseguiu. Temer tem se mantido. Mesmo que fique até
o último dia deste mandato, ele continuará sem condições de levar adiante
qualquer projeto. Ainda faltam mais de 14 meses até o fim do período para o
qual foi eleita a chapa Dilma-Temer. E o país continua contando as perdas.
Fonte: Blog da Míriam Leitão - Alvaro Gribel, de São Paulo