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quinta-feira, 7 de outubro de 2021

James Bond enfrenta seu pior inimigo - Revista Oeste

 Dagomir Marquezi

Depois de derrotar Dr. No, Blofeld, Scaramanga, Goldfinger e outros vilões, o agente 007 tenta sobreviver às patrulhas do politicamente correto 

 O maior e mais duradouro mito da cultura pop nasceu na manhã do dia 15 de janeiro de 1952. O jornalista (e ex-oficial de Inteligência da Marinha britânica) Ian Fleming, de 43 anos, observava tenso o oceano à sua frente. O dia de seu casamento com Anne Geraldine Charteris se aproximava. E ela estava grávida de seu primeiro filho.
 
Roger Moore, Sean Connery, Daniel Craig e Pierce Brosnan
            Roger Moore, Sean Connery, Daniel Craig e Pierce Brosnan

Do terraço de sua casa de verão na Jamaica (que ele batizou como GoldenEye), Fleming acendeu o primeiro dos 70 cigarros que fumava a cada dia. Desceu a escada para sua pequena praia particular, calçou os pés de pato, colocou a máscara e mergulhou nas águas quentes do Mar do Caribe. Na volta, ele encontrou a noiva no jardim. Anne pintava uma de suas aquarelas marinhas e percebeu a tensão no olhar do futuro marido. “Ian, você está uma pilha de nervos. Por que você não tenta se acalmar escrevendo alguma coisa?”

Fleming foi até sua escrivaninha num canto do quarto de dormir. Colocou uma folha de papel em sua máquina de escrever dourada. E decidiu parar de adiar seu velho plano de criar “a novela de espionagem para acabar com todas as novelas de espionagem”. Acendeu outro cigarro. A “qualquer coisa” que Anne pediu que escrevesse começou assim:

O cheiro, a fumaça e o suor de um cassino são nauseantes às três da madrugada. Nessa hora o desgaste produzido pelo alto jogo — uma mistura de ambição e tensão nervosa — se torna insuportável e os sentidos despertam e se revoltam contra isso. James Bond de repente percebeu que estava cansado.

Nascia Casino Royale, o romance que apresentava um espião ainda imaturo, mas já com a licença para matar número 007. Com essas frases, Ian Fleming daria início a uma saga que vai completar 70 anos em 2022. A cada ano fugiria do inverno britânico para o sol de GoldenEye, onde escreveria mais um livro da série.

Ian Fleming em sua escrivaninha de GoldenEye | Foto: Arquivo pessoal

A popularidade dos livros de James Bond foi crescendo aos poucos. Virou um fenômeno em 1961, quando o popularíssimo ex-presidente John Kennedy foi convidado pela revista Life para listar seus dez livros favoritos. Em nono lugar estava From Russia With Love (conhecido no Brasil como Moscou Contra 007). Com a ajuda do presidente americano, os livros de Ian Fleming viraram best-seller internacional. E o mito daria um novo grande salto de grandeza no ano seguinte, com o lançamento do primeiro filme da série — Dr. No (aqui, O Satânico Dr. No), com um jovem e pouco conhecido ator escocês chamado Sean Connery.

James Bond ficou tão grande que passou a viver três vidas paralelas: uma na literatura, outra nos quadrinhos e (a mais grandiosa) no cinema. Entre romances e coletâneas de contos, Fleming escreveu 14 livros até ser abatido por um enfarte em 1964. Nos anos 1980, o britânico John Gardner se tornou o novo autor oficial das aventuras de 007, e escreveu dois livros a mais que Fleming. Em 1997, foi substituído pelo americano Raymond Benson até 2002.

Gardner e Benson modernizaram o personagem e o adaptaram aos novos tempos. Mas não entusiasmaram. A partir de 2008, os detentores dos direitos de Bond passaram a entregar a autoria dos livros a alguns dos mais bem-sucedidos escritores dos EUA e do Reino Unido, um de cada vez. A maioria desses autores optou por retratar Bond no seu início de carreira. No último romance, Forever and a Day (de Anthony Horowitz), somos levados a imaginar um jovem James Bond antes mesmo de receber sua licença para matar. O próximo romance, também escrito por Horowitz e ainda sem título, já tem data de lançamento: maio de 2022.

A segunda vida de Bond aconteceu em tiras de quadrinhos, lançadas a partir de 1958. A versão original, desenhada por John McLusky, era bem convencional. Em 1966, McLusky foi substituído pelo chinês (refugiado na Austrália) Yaroslav Horak, que levou as tiras ao estado de arte, com seu estilo único, chapado e sem meios-tons.

A doutora Christmas Jones (Denise Richards) exibe seus trajes de cientista em The World Is Not Enough | Foto: Divulgação

Algumas cenas chegaram a ser francamente ofensivas. Como as duas nas quais atrizes têm seus braços torcidos em cenas de tortura explícita (em Dr. No e Octopussy). Ou quando Jill St. John passa Diamonds Are Forever praticamente inteiro num sumário biquíni branco sem muita razão dramática para isso. Ou ainda quando Bond (ainda Sean Connery) sutilmente se propõe a “curar” Pussy Galore (Honor Blackman) de seu lesbianismo em Goldfinger (1964). O Bond de Daniel Craig respeitou as mulheres que encontrou e até se casou. Simbolicamente pagou pelos pecados dos Bonds anteriores levando uma surra nos genitais logo em seu primeiro filme.

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Tensão na fronteira

O gesto de Nicolás Maduro de impedir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela é capaz de mudar a direção dos ventos que sopram na caserna


O povo venezuelano agoniza premido pela perversidade da ditadura de Nicolás Maduro. Os cidadãos afortunados o bastante para sobreviver à violência dificilmente escapam da fome. Os mais pobres, que compõem a maior parte da população, perderam entre 20% e 30% do peso corporal nos últimos dois anos. A maioria dos supermercados está desabastecida, mas ainda que houvesse produtos nas prateleiras não há renda que resista a uma inflação de 1.000.000% ao ano. Faltam medicamentos, água e outros insumos básicos para viver com dignidade na Venezuela.

Diante deste quadro, o mínimo esperado de Maduro seria a autorização para a entrada de ajuda humanitária internacional, permitida até em zonas conflagradas. Mas esperar uma nesga de moralidade de Maduro exigiria boas doses de otimismo e boa vontade. A entrada de ajuda foi negada. Na quinta-feira passada, o ditador ordenou o fechamento do espaço aéreo da Venezuela e das fronteiras terrestres do país com o Brasil e a Colômbia, além da fronteira marítima com a ilha de Curaçao, no mar do Caribe.

A decisão foi uma resposta à ação coordenada entre grupos de oposição ao regime liderados por Juan Guaidó, que há um mês se autoproclamou presidente constitucional da Venezuela, tendo sido reconhecido internacionalmente , os Estados Unidos e os países que fazem parte do Grupo de Lima, incluindo o Brasil, para envio de comida, água e outros itens ao país vizinho. O plano prevê que hoje sejam entregues carregamentos de ajuda a grupos de voluntários venezuelanos estacionados nas fronteiras do país com o Brasil e a Colômbia. Esses voluntários, arregimentados pela oposição liderada por Guaidó, são responsáveis por abastecer os caminhões e distribuir os insumos à população no território venezuelano.

A despeito do fechamento da fronteira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o plano para envio de ajuda à Venezuela está confirmado. Ontem, um avião da Força Aérea Brasileira chegou a Boa Vista (RR) com um carregamento de 19 lotes de arroz, 14 de açúcar, dezenas de sacos de leite em pó e caixas com diversos tipos de medicamentos para ser entregue na cidade de Pacaraima. Tropas e veículos blindados do Exército venezuelano estão na cidade de Santa Elena de Uairén, a 12 km da fronteira do país com o Brasil. Ao menos dois venezuelanos que tentaram cruzar a fronteira para o Brasil foram atingidos por tiros disparados por membros da Guarda Nacional Bolivariana no lado venezuelano. No mais grave incidente desde a escalada da tensão fronteiriça, as tropas leais a Nicolás Maduro atiraram contra um grupo de civis que tentavam manter aberta uma passagem em Gran Sabana, na fronteira com o Brasil. Um casal foi morto.

As autoridades brasileiras têm mantido a serenidade para lidar com a grave situação na fronteira com a Venezuela. O vice-presidente Hamilton Mourão disse que brasileiros não cruzarão a fronteira com a Venezuela e que um conflito armado com o país vizinho só ocorreria se o Brasil fosse atacado”. “Mas Maduro não é louco a esse ponto”, complementou Mourão, que na próxima segunda-feira participará da reunião de emergência do Grupo de Lima na Colômbia.  O momento pede temperança. Vale destacar ainda a disposição do governo brasileiro em manter o plano de envio de ajuda humanitária ao sofrido povo venezuelano.

Não se pode esquecer, no entanto, que o país vizinho detém o controle sobre o fornecimento de energia para Roraima. De uma hora para outra, Nicolás Maduro pode ordenar seu corte, afetando a vida de milhares de brasileiros. Resta saber como o Brasil reagiria a um ato hostil como esse.  Nicolás Maduro se sustenta no poder tão somente pelo apoio que ainda recebe da cúpula das Forças Armadas. Cada vez mais isolado e reconhecido como responsável direto pela miséria do povo, seu destino depende diretamente dos humores dos militares e de sua capacidade de compra de apoio. Impedir a entrada de ajuda humanitária é um gesto capaz de mudar a direção dos ventos que sopram na caserna.


Revista VEJA