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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Tensão na fronteira

O gesto de Nicolás Maduro de impedir a entrada de ajuda humanitária na Venezuela é capaz de mudar a direção dos ventos que sopram na caserna


O povo venezuelano agoniza premido pela perversidade da ditadura de Nicolás Maduro. Os cidadãos afortunados o bastante para sobreviver à violência dificilmente escapam da fome. Os mais pobres, que compõem a maior parte da população, perderam entre 20% e 30% do peso corporal nos últimos dois anos. A maioria dos supermercados está desabastecida, mas ainda que houvesse produtos nas prateleiras não há renda que resista a uma inflação de 1.000.000% ao ano. Faltam medicamentos, água e outros insumos básicos para viver com dignidade na Venezuela.

Diante deste quadro, o mínimo esperado de Maduro seria a autorização para a entrada de ajuda humanitária internacional, permitida até em zonas conflagradas. Mas esperar uma nesga de moralidade de Maduro exigiria boas doses de otimismo e boa vontade. A entrada de ajuda foi negada. Na quinta-feira passada, o ditador ordenou o fechamento do espaço aéreo da Venezuela e das fronteiras terrestres do país com o Brasil e a Colômbia, além da fronteira marítima com a ilha de Curaçao, no mar do Caribe.

A decisão foi uma resposta à ação coordenada entre grupos de oposição ao regime liderados por Juan Guaidó, que há um mês se autoproclamou presidente constitucional da Venezuela, tendo sido reconhecido internacionalmente , os Estados Unidos e os países que fazem parte do Grupo de Lima, incluindo o Brasil, para envio de comida, água e outros itens ao país vizinho. O plano prevê que hoje sejam entregues carregamentos de ajuda a grupos de voluntários venezuelanos estacionados nas fronteiras do país com o Brasil e a Colômbia. Esses voluntários, arregimentados pela oposição liderada por Guaidó, são responsáveis por abastecer os caminhões e distribuir os insumos à população no território venezuelano.

A despeito do fechamento da fronteira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o plano para envio de ajuda à Venezuela está confirmado. Ontem, um avião da Força Aérea Brasileira chegou a Boa Vista (RR) com um carregamento de 19 lotes de arroz, 14 de açúcar, dezenas de sacos de leite em pó e caixas com diversos tipos de medicamentos para ser entregue na cidade de Pacaraima. Tropas e veículos blindados do Exército venezuelano estão na cidade de Santa Elena de Uairén, a 12 km da fronteira do país com o Brasil. Ao menos dois venezuelanos que tentaram cruzar a fronteira para o Brasil foram atingidos por tiros disparados por membros da Guarda Nacional Bolivariana no lado venezuelano. No mais grave incidente desde a escalada da tensão fronteiriça, as tropas leais a Nicolás Maduro atiraram contra um grupo de civis que tentavam manter aberta uma passagem em Gran Sabana, na fronteira com o Brasil. Um casal foi morto.

As autoridades brasileiras têm mantido a serenidade para lidar com a grave situação na fronteira com a Venezuela. O vice-presidente Hamilton Mourão disse que brasileiros não cruzarão a fronteira com a Venezuela e que um conflito armado com o país vizinho só ocorreria se o Brasil fosse atacado”. “Mas Maduro não é louco a esse ponto”, complementou Mourão, que na próxima segunda-feira participará da reunião de emergência do Grupo de Lima na Colômbia.  O momento pede temperança. Vale destacar ainda a disposição do governo brasileiro em manter o plano de envio de ajuda humanitária ao sofrido povo venezuelano.

Não se pode esquecer, no entanto, que o país vizinho detém o controle sobre o fornecimento de energia para Roraima. De uma hora para outra, Nicolás Maduro pode ordenar seu corte, afetando a vida de milhares de brasileiros. Resta saber como o Brasil reagiria a um ato hostil como esse.  Nicolás Maduro se sustenta no poder tão somente pelo apoio que ainda recebe da cúpula das Forças Armadas. Cada vez mais isolado e reconhecido como responsável direto pela miséria do povo, seu destino depende diretamente dos humores dos militares e de sua capacidade de compra de apoio. Impedir a entrada de ajuda humanitária é um gesto capaz de mudar a direção dos ventos que sopram na caserna.


Revista VEJA

domingo, 18 de novembro de 2018

Plano de resgate de facção muda rotina em Presidente Venceslau, em São Paulo

Município, que abriga duas penitenciárias, recebe mais de 200 policiais, drones de vigilância e veículos blindados 

O servidor público Marcos Antonio Pereira, de 39 anos, mora num típico bairro de cidade do interior paulista. Moradores conversam no portão no fim da tarde, crianças jogam bola na rua, há poucos carros e nenhum trânsito. No começo de outubro, policiais com armamento pesado tomaram os arredores.  Um caminhão do Batalhão de Choque — o chamado Guardião, versão paulista do carioca Caveirão, trazido de Israel e que suporta tiros de fuzil — se posicionou na entrada. A casa de Pereira fica a cerca de um quilômetro da Penitenciária 2, em Presidente Venceslau, onde estão presas as lideranças mais perigosas da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

— Virou o assunto. Ninguém sabia direito o que estava acontecendo — lembra Pereira. 

Dias depois, ele tomou conhecimento, pelas redes sociais, da existência de um suposto plano de resgate dos líderes da facção. Na ressaca de uma eleição marcada pelas fake news, relatos fantasiosos começaram a pipocar no WhatsApp. Um deles alertava sobre a possibilidade de explosões em agências bancárias, postos de combustível e na Santa Casa. O pânico foi generalizado. Sua mulher, professora de catequese, chegou para dar aula e não havia nenhuma criança.  Com quase 40 mil habitantes, Presidente Venceslau é uma cidadezinha um tanto peculiar. Além de abrigar duas penitenciárias, é vizinha de uma terceira, a de Presidente Bernardes, onde fica a chamada tranca-dura, para onde vão os presos quando estão no “castigo”. 

Apesar da familiaridade com o tema da segurança pública, a atual invasão das tropas é inédita. Mais de 200 homens fardados chegaram para reforçar a segurança. Por determinação judicial, o aeroporto, que só comporta pequenas aeronaves particulares, foi fechado. Canhões de luz varrem o céu à noite, à procura de drones da facção. Sem nenhuma explicação oficial do governo de São Paulo, a população ficou perdida.O deputado federal major Olímpio, natural de Presidente Venceslau, agora eleito ao Senado pelo mesmo PSL de Jair Bolsonaro, divulgou que o resgate envolveria a contratação de forças paramilitares iranianas, nigerianas e ex-combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) — o plano, segundo autoridades ouvidas pelo GLOBO, mencionava apenas africanos. 

Clima de apreensão
O clima de apreensão existe, mas os moradores não se deixaram abalar. Ao cair da tarde, a população continua com suas caminhadas habituais numa pista que leva até os arredores das penitenciárias. Alguns se reúnem para tomar tereré, uma bebida gelada feita de erva-mate, e jovens enchem as calçadas em torno da mais nova modinha do interior: o narguilé, um cachimbo oriental. 

Em um dia andando pela cidade, a reportagem cruzou cinco vezes com o Choque, uma com a Rota, duas com a cavalaria, além de incontáveis encontros com as polícias militar e ambiental. A situação atípica impôs ali uma espécie de pacto de silêncio. Nenhuma autoridade aceita falar publicamente.  Parte dos policiais forasteiros está insatisfeita. Quando o governo de São Paulo os despachou para Presidente Venceslau, seus superiores imaginavam que seria uma situação emergencial, de cerca de duas semanas. Os mais de 200 homens estão em alojamentos provisórios. Um PM que participa da operação relata que um local adequado para menos de 20 homens abriga 50. Na última terça-feira, havia um corre-corre para conseguir ventiladores e beliches. 

Autor de plano
O homem por trás do plano de resgate que abalou Presidente Venceslau é Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o maior fornecedor de armas e drogas para a facção, segundo a polícia brasileira. Sob condição de anonimato, a informação foi confirmada ao GLOBO por integrantes dos serviços de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Ministério Público (MP) e Polícia Militar (PM). 

Amigo de infância de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe da facção, Fuminho, hoje foragido na Bolívia, não é integrante da facção, mas há décadas se tornou um dos principais aliados da organização criminosa. O plano de resgate fez ressurgir a discussão sobre a transferência dos chefes da organização criminosa para presídios federais. É quase unanimidade entre policiais e promotores a ideia de que isolar a cúpula da facção em penitenciárias federais, distantes de São Paulo, quebraria sua cadeia de comando e ajudaria a enfraquecê-lo. 

Representantes do Ministério Público se encontraram com o governador Márcio França (PSB) para tratar do assunto na última segunda-feira. A reunião terminou sem consenso.
Segundo um dos presentes no encontro, França diz que o governo de São Paulo tem os presídios mais seguros do Brasil. Nos bastidores, a preocupação é outra: o risco de uma retaliação por parte da facção criminosa. 

O Globo
 



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Policial fura bloqueio do Exército no RJ, troca tiros com militares e morre

O Policial Militar estava em trajes civis e em um carro particular e abriu fogo contra os militares por volta de 5h da manhã

Um policial militar (PM) morreu ao trocar tiros com militares que participam, nesta quarta-feira (14/11), de uma operação integrada na Baixada Fluminense. Segundo o Comando Conjunto, que coordena a operação, o policial tentou furar dois bloqueios da operação, formado por militares das Forças Armadas.

O PM estava em trajes civis e em um carro particular e abriu fogo contra os militares por volta de 5h da manhã. Ao ser baleado, o policial perdeu o controle do carro e se chocou com outro veículo, cujo motorista já havia sido ferido na perna durante a troca de tiros. De acordo com o Comando Conjunto, esse civil foi encaminhado ao Hospital da Posse. 
Militares encontraram no carro do PM morto uma pistola com registro da corporação e acionaram a perícia. A operação integrada realizada em Belfort Roxo abrange 18 comunidades. Os policiais e militares fazem revistas, verificam denúncias, buscam remover barricadas e cumprir mandados de prisão. São empregados veículos blindados e aeronaves.