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domingo, 10 de setembro de 2017

Os furacões Joesley, Geddel e Palocci

Talvez agora o Brasil tenha chance de sair recuperado da degradação moral épica 

Nossos furacões atingiram em cheio o “apparatchik” dos Três Poderes e têm potencial para soterrar algumas candidaturas em 2018. O áudio vulgar do autodelator Joesley Batista, ao som de cubos de gelo no uísque. O bunker de R$ 51 milhões em oito malas e seis caixas, todas supostamente do peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, que exigiram duas caminhonetes para transportar e sete máquinas para contar. O bombástico depoimento à Lava Jato de Antonio Palocci, um dos principais ideólogos do PT, contra o companheiro-mor, Lula.

Talvez agora o Brasil comece a ficar interessante e tenha chance de sair recuperado das ruínas, num esforço de reconstrução moral. A degradação é épica. Temos a oportunidade, com tudo às vistas, as entranhas escancaradas, mortos e feridos, de refazer uma nação em que não sejamos ludibriados por PT, PMDB, PSDB e outros menos cotados.  O empresário Joesley, do frigorífico JBS, do grupo J&F, deve ser preso, com a imunidade cassada, ao perder os benefícios da delação. E deverá perder qualquer respeito que a mulher, Ticiana Villas Boas, ainda tivesse pelo “comedor de velhinhas a serviço”.

As falas de Joesley o denigrem não só pela corrupção, mas pela ignorância e prepotência. Não dá para aceitar a desculpa de que só teve uma “conversa de bêbado” com o executivo Ricardo Saud. Bêbados podem ser inofensivos, ele não. “Nós vamos ser a tampa do caixão.” “Eles são espertão”, disse, referindo-se ao Ministério Público. “Ô Ricardo, nós somos a joia da coroa deles [dos procuradores].” “Nós vai ser quem vai dar o último tiro.” Esse foi o cara recebido por Temer fora do expediente e da agenda. “Nós vai ser quem vai bater o prego [do caixão].”

Joesley só não sabia que o caixão era dele. E, talvez, do ex-procurador Marcello Miller, agora acusado por Janot de “conduta criminosa” caso tenha ajudado Joesley antes de se exonerar do Ministério Público. Joesley disse: “Nós dois tem que operar o Marcello direitinho para chegar no Janot e pá, tã, tã, tã”. Miller agiu mal. É imoral um procurador da Lava Jato pedir exoneração e, cinco dias depois, ir para o escritório que negociou a leniência para um réu. Janot diz que não tem “coragem”, mas “medo de errar”. Errou. Por afobação, sei lá. Para não sair flechado da Procuradoria igual a São Sebastião, Janot precisa ser firme. O importante é preservar as provas da delação contra Temer, o presidente que tenta escapar de uma segunda denúncia. [as 'provas' - são meras ilações que só podem ser consideradas provas se utilizado um critério de classificação extremamente elástico - serão anuladas, exceto se o STF rasgar a Lei das ORCRIM e o Código de Processo Penal.]

Geddel, ex-ministro de Temer e de Lula, com as digitais já identificadas nas cédulas, voltou a ser preso pela Polícia Federal, para não tentar fugir do país. Estava em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, porque a Bahia “não dispõe desse equipamento”.  A cena mais notável da novela “A força do corromper” foi o bunker milionário em Salvador, que seria destinado a “guardar os pertences do falecido pai de Geddel”. O currículo de Geddel é impressionante. Ele não é só amigo de Temer. Ex-deputado federal eleito cinco vezes pelo PMDB da Bahia, ministro da Integração de Lula, vice-presidente da Caixa Econômica Federal no governo Dilma e ministro de Governo de Temer. Foi assim que Geddel amealhou sua fortuna.

Pensando bem, uma fortuna modesta diante dos valores acordados entre a JBS de Joesley e o homem de confiança de Temer, Rodrigo Rocha Loures, flagrado com uma mala de R$ 500 mil saindo de uma pizzaria. O acordo era pagar meio milhão a Loures semanalmente por 25 anos, num total de R$ 652 milhões. Temer comemora o que, exatamente? Vai esquecer sua conversa com Joesley?

Palocci, ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, está preso há quase um ano na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Antes de ser beneficiado com uma delação premiada, terá de apresentar provas concretas, além do relatório sereno e meticuloso sobre os R$ 300 milhões e “as propinas frequentes” que a Odebrecht dava a Lula e ao PT, incluindo a campanha de Dilma.  Dirigentes petistas acham que o depoimento de Palocci pode ser “pá de cal” para os projetos de Lula em 2018.  [irônico é que tudo que foi contado pelos marginais Joesley e Saud e que acusa Michel Temer, tem para muitos, incluindo o arqueiro-geral da República,  FÉ PÚBLICA;

já uma delação do Palocci, voltada contra o sentenciado Lula, tem que ser fundamentada em provas concretas.] Outros chamaram Palocci de “canalha”. Em abril, Lula dizia no Twitter: “Não tenho preocupação com nenhuma delação. Palocci é meu companheiro há 30 anos, é um dos homens mais inteligentes desse país”. Agora, Lula diz que Palocci não tem “compromisso com a verdade”.

Confesso sentir náusea ao escutar a podridão de nossos políticos e empresários. Mas, ao contrário da presidente do STF, Cármen Lúcia, que desejou a todos um “ótimo fim de semana”, sem “novidades maiores no país”, eu desejo mais e mais novidades. Das ruínas expostas, pode nascer um país sem bandidos no comando. É a única esperança que nos resta.

>> Mais colunas de Ruth de Aquino

Fonte: Revista Época

 

sábado, 20 de agosto de 2016

Criminosos em campanha contra Sergio Moro

O juiz federal é um símbolo do que a maioria dos brasileiros espera da Justiça, e, ao mesmo tempo, inimigo principal dos incriminados

Os petistas e agregados, apavorados com o fim de seu reinado no Palácio do Planalto, bem como na máquina pública, agridem a Moro nas manifestações pró-Dilma e pró-Lula, em curiosa troca de raciocínio

Um juiz de Maringá virou, por seu trabalho e seriedade, uma figura emblemática da potencialidade e da necessidade de Justiça neste país.
Por ter colocado empresários, criminosos de “colarinho branco”, e políticos, independentemente de seu escalão – inclusive ex-ministros – na prisão, elencando dúzias em crimes de corrupção, formação de quadrilhas etc., Sergio Moro é um símbolo do que a maioria dos brasileiros espera da Justiça, e, ao mesmo tempo, inimigo principal dos incriminados.

Enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros, além de políticos parceiros, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandovski, como alguns membros desta Corte, tentam desmerecer as ações de Moro e a própria Justiça, também petistas e assemelhados esperneiam dentro e fora do Congresso Nacional com as atitudes saneadoras contra a corrupção.

Foi patético,
no último dia 4, em sessão da Câmara Federal, com a presença de Sergio Moro, os petistas atacarem o juiz paranaense, como se ele, com a Operação Lava Jato, fosse a causa da derrocada do corrompido e corroído partido.  Entre outros, o deputado w. d.  (PT-RJ), um dos principais defensores de Dilma, criticou sugestões enviadas pelo Ministério Público à Câmara, que, segundo ele, “partem de um princípio de que o Brasil não tem ordenamento jurídico capaz de enfrentar a corrupção”, emendando: “Sou do tempo em que juiz só falava nos autos do processo, não se pronunciava sobre os casos. Sou de um tempo antigo, de respeito estrito à Constituição”. Seria de provocar risos, se não provocasse náusea.
Por sua vez, o presidente do STF manteve-se em absoluto silêncio quando Lula e seus advogados foram à Organização das Nações Unidas para tentar desmoralizar o Judiciário brasileiro, pedindo intervenção do Conselho de Direitos Humanos da ONU por “perseguições de órgãos da Justiça e Ministério Público do Brasil, e por imparcialidade...”. A ação é um soco na cara da Justiça brasileira e deveria indignar a todos que prezam o Poder Judiciário e as instituições.

Lewandowski, além de se manifestar sobre esta atitude desrespeitosa, deveria se preocupar com a morosidade do STF, que, segundo o jornal Valor, leva, em média, 945 dias para julgar uma ação contra parlamentares e ministros. Já a operação Lava Jato comandada pelo juiz Sergio Moro e pelo procurador Deltan Dallagnol obteve 989 mandatos executados, 1.291 procedimentos instaurados e 106 condenações criminais.

Ao mesmo tempo, Calheiros, que já teve seu nome citado inúmeras vezes nas investigações da Lava Jato e com mais de uma dezena de processos no STF, tenta impor uma lei para desacreditar e tirar o poder da Polícia Federal e do Ministério Público, em intenção no mínimo condenável.  O projeto prevê punição a servidores públicos e membros do Judiciário e MP, caso sejam feitas prisões fora das hipóteses legais, e escutas que atinjam pessoas investigadas. Moro, em recente entrevista, mais uma vez foi claro, ao comentar que “vê, no projeto, risco de punir juiz por interpretar a lei”!

Os petistas e agregados, apavorados com o fim de seu reinado no Palácio do Planalto, bem como na máquina pública, agridem a Moro nas manifestações pró-Dilma e pró-Lula, em curiosa troca de raciocínio, como se os bandidos fossem heróis e o herói devesse ser condenado por praticar justiça.  Enfim, enquanto um grupo de políticos, parlamentares e inclusive juízes, além de meliantes de alto quilate, tentam desmoralizar e desautorizar as atitudes do juiz Sérgio Moro, cabe aos brasileiros e, especialmente a nós, paranaenses, defendê-las quando, interpretando as leis, colaboram concretamente para promover a Justiça e limpar o país de corruptos e ladrões que emporcalham a nação brasileira. Desses, estamos cheios.


Fonte: Gazeta do Povo - Cláudio Slaviero é empresário, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro “A vergonha nossa de cada dia”