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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Alessandro Vieira quer ser candidato à presidência - Malu Gaspar

O Globo
 
O senador Alessandro Vieira, de Sergipe, decidiu se juntar ao grupo de políticos que buscam um lugar no bonde da terceira via. Ele acaba de submeter a sua pré-candidatura à presidência da República à executiva do Cidadania. A decisão foi comunicada ontem ao partido, que vai se reunir depois de 7 de setembro para discutir o assunto. Vieira, de 46 anos, está no primeiro mandato e é um dos mais atuantes membros da CPI da Covid. [até ontem um ilustre desconhecido; conseguiu se eleger senador, foi para a Covidão e começou a pensar em voos mais altos.
Concluiu que antes precisava se tornar conhecido, atrair holofotes e não resistiu à tentação que domina todos que buscam sair do ostracismo = atacar o presidente Bolsonaro - por mais absurda que seja a frase, o comentário, desde que seja contra o capitão, ganha destaque na mídia.
Claro que sua candidatura depende muito do seu partido - só que a pobreza dos quadros do 'cidadania' ajuda os sonhos do senador, tem algumas chances de ser aprovado.
Cabe perguntar: será que o senador tem gás para se manter flutuando  até março 2022 - a covidão já está com um pé na cova, logo se encerra e alguém lembrará do político sergipano quando começar a campanha eleitoral de 2022 ??? 
Afinal, seu principal feito, talvez o único, foi participar da desmoralizada e já agonizante CPI Covid-19.]

Segundo Vieira, a ideia é entrar o quanto antes na corrida. "A gente tem que começar logo esse debate e não permanecer omisso, esperando que surjam alternativas. Não sou representado pela permanência de Bolsonaro no poder ou pelo retorno de Lula, e sei que milhões de brasileiros têm o mesmo sentimento." Vieira afirmou que pretende aproveitar o espaço para um nome alternativo demonstrado nas pesquisas eleitorais para defender uma plataforma anticorrupção e pelo aumento do valor e do alcance da renda mínima. "São duas bandeiras que estão abandonadas e que continuam sendo problemas do Brasil, mas não são temas de campanha."

O Cidadania, antigo PPS, é presidido pelo ex-deputado Roberto Freire, que trabalhou até o início do ano para atrair o apresentador de TV  Luciano Huck para a legenda. Mas o apresentador desistiu da candidatura e o partido, que em 2018 apoiou Geraldo Alckmin e no segundo turno não apoiou ninguém oficialmente, ficou sem opção para 2022.

Hoje Freire é um dos líderes empenhados em encontrar um nome de consenso para essa terceira via. Por isso, vê com cautela a iniciativa de Vieira. "Ainda é momento de surgir nomes, mas precisamos ter muito presente que não se pode imaginar que devemos ter muitos candidatos para se contrapor a Lula e Bolsonaro. Não podemos querer lançar candidato só para cumprir tabela", afirmou Freire. 

Só no Senado, hoje, fala-se em outros dois possíveis pré-candidatos à presidência: Rodrigo Pacheco (DEM), presidente da Casa, e Simone Tebet (MDB). Até abril de 2022, quando se encerra o prazo para a definição de candidaturas, o cenário ainda vai mudar muito.

Eleições 2022: O delicado xadrez de Lula com os militares

O Cidadania tem 9 deputados, três senadores e um governador de estado. Está presente em todos os estados, mas é um partido relativamente pequeno. Sua verba para as eleições em 2020 foi de R$ 35,8 milhões, menos de 2% do total do fundo eleitoral. O PT, que levou a maior fatia, teve R$ 201 milhões. O PSL, em segundo, teve R$ 199 milhões.

Malu Gaspar, colunista - O Globo


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Eis os culpados

Imagine uma empresa ou uma família que estão gastando mais do que arrecadam e, pior, encontram-se numa dinâmica em que as despesas sobem todos os anos acima das receitas. Imagine ainda que uma das despesas represente 60% do total gasto. Segue-se que: 1) a empresa ou a família precisam fazer um ajuste; 2) esse ajuste deve incluir aumento de receita e corte de despesas; 3) o corte deve incidir mais fortemente na despesa maior, certo?

Pois é essa a situação dos governos estaduais. No ano passado, gastaram R$ 542,5 bilhões (despesa primária, não-financeira). Desse total, a parcela maior (60%) foi para o pessoal. Como o nome diz, trata-se aqui de todos os pagamentos a pessoas, incluindo funcionários ativos e inativos, civis e militares, do Executivo, Legislativo e Judiciário. Aqui tem de salários a benefícios, de aposentadorias a todos os tipos de auxilio, de horas normais e extras a gratificações. 

Esse gasto com pessoal aumentou quase 40% de 2012 a 15, conforme estudo da Secretaria do Tesouro Nacional. A Receita Líquida dos Estados cresceu bem menos, na casa dos 26%. A inflação ficou por aí e a economia cresceu quase nada. Só no ano passado, quando a crise econômica já era evidente e as receitas de impostos estavam em queda, essa despesa de pessoal subiu mais de 13% em relação a 2014.

Não tem como dar certo. O Rio de Janeiro é o exemplo limite do que pode acontecer, mas quase todos os Estados caminham para o mesmo buraco. Logo, o ajuste não é nem necessário. É fatal. Será feito por bem ou por mal. Como seria por bem?  Deveria partir de dois consensos. Primeiro, que o ajuste tem que começar o mais rapidamente possível. Segundo, todo mundo terá que pagar a conta, inclusive o pessoal. Reparem: se a maior despesa é com o pessoal, não tem como fazer o ajuste sem reduzir essa despesa.

Servidores na ativa e aposentados dizem que não têm culpa do descalabro e que, por isso, não devem pagar nada. [é fato que os servidores não têm culpa do descalabro mas é exatamente em cima do já minguado salário da maioria dos servidores públicos que o filhote do 'cabralzinho' - ex-governador e atualmente presidiário, o 'cabralzinho' - resolve aplicar um confisco de 30%.
A imprensa destaca os supersalários, incluindo aposentadorias de R$75.000,00, mas, não esclarece que são exceções - que devem ser combatidas - e ao não esclarecer deixa a impressão que mega aposentadorias são a regra e não raras exceções.] Deixemos esse argumento de lado por um momento e vamos especular: então, de quem é a culpa?

Todas as contratações, reajustes de salários e concessão de benefícios passam pelo Executivo estadual e pelas assembleias legislativas. Logo, já temos aí dois grupos de culpados. No primeiro,  governadores, ex-governadores e suas turmas na administração. No segundo, os deputados estaduais. [sobre os dois grupos de culpados é que deve cair o confisco e outras medidas e são eles que desfrutam de salários e aposentadorias que suportam confisco.]  
Além disso, essas despesas passam também pelos tribunais de contas, que, aliás, têm promovido interpretações marotas para enquadrar determinados gastos. O mais comum é tirar certos pagamentos a inativos e assim reduzir artificialmente o tamanho da folha. Logo, o terceiro grupo de culpados está nos tribunais de contas. [quando tais despesas são submetidas ao crivo dos tribunais de contas já foram realizadas, já se tornaram direitos adquiridos, para os super marajás, que aliás Collor tentou combater mas não logrou êxito.]
 
O quarto está no Judiciário. Por todo o país, juízes torturam leis para reinterpretar, por exemplo, o conceito de teto. Assim, o teto nacional do funcionalismo é de R$ 33 mil, mas isso, interpretam, só se refere ao vencimento básico. Auxílios alimentação, educação, "pé na cova", auxílio lanche, diferente de alimentação, não contam para o teto, assim perfurado várias vezes. [é sem lógica incluir no teto  nacional do funcionalismo valores advindos, por exemplo do chamado 'pé na cova'.
Que é o 'pé na cova' é o famoso ABONO PERMANÊNCIA, que consta da Constituição (por óbvio se a Constituição Federal estabelece um teto para a remuneração do funcionalismo pode também estabelecer exceções, entre outras o ABONO PERMANÊNCIA que consiste em conceder ao funcionário público,  que reúna todas as condições para se aposentar e não o faz, permanecendo no batente, isenção da contribuição para a Previdência.
Em outras palavras, o servidor deixa de pagar 11% à Previdência, permanece no batente e com isto os cofres públicos passam a ter um funcionário experiente pagando apenas 11% do que custaria contratar um novo - o funcionário que se aposentasse continuaria recebendo sua remuneração e o contratado para substituí-lo iria ganhar em torno de 90% do valor pago ao aposentado.
O Judiciário erra feio quando paga auxílio-moradia a juízes sem comprovação de que o valor pago foi realmente destinado ao pagamento de aluguel para o magistrado - tem outras benesses que os magistrados recebem e que representam verdadeiros absurdos, entre elas a de ser punido com aposentadoria compulsória = cometeu o crime, é aposentado recebendo o salário.]
 
Vai daí, que o ajuste no pessoal deveria começar pelos salários mais altos, com o corte nas chamadas vantagens pessoais. Dizem, por exemplo, que um senador ganha R$ 27 mil mensais. Falso. Começa que são 15 salários ano. Tem casa, ou apartamento funcional ou mais R$ 3.800 por mês. Tem carro com motorista. Tem gasolina e passagem de avião. Correspondência e telefone na faixa. Vai somando....

Vale igualzinho para deputados.   Mas mesmo atacando nessas despesas claramente ilegítimas, ainda que legais, a conta não fecha. Será preciso procurar um quinto grupo de culpados, o pessoal. Não cada pessoa em particular - e sabemos quantas ganham mal no serviço público. Estas, aliás, já estão pagando a conta faz algum tempo. Ganham mal porque outros ganham muitíssimo bem. Há aí uma forte desigualdade. Mas as associações, os sindicatos de funcionários, com amplo apoio de suas bases, estão o tempo forçando reajustes e benefícios. E agora, recusam qualquer tipo de ajuste. Claro que é direito do trabalhador buscar melhorias, mas é preciso ter um mínimo de bom senso.

Estava quase escrevendo um mínimo de patriotismo, de noção de serviço público, mas reconheço que é demais pedir isso no momento em que a Lava Jato escancara o modo como políticos trataram essa coisa pública. Mas o bom senso vale. Por uma questão de interesse próprio. Invadir assembleia não cria dinheiro. Não seria mais sensato se as lideranças dos funcionários se reunissem com os outros e principais culpados para buscar uma solução, um corte bem distribuído?

Os números estão aí:  os Estados estão quebrados ou quase. Ou se faz um ajuste por bem ou será feito por mal. Aliás, já está sendo feito: atrasos de salários e interrupção de serviços essenciais à população.  Aliás, podemos incluir aqui o sexto grupo de culpados, os eleitores que escolheram mal tantas e repetidas vezes. Mas nem precisava: o público é o que sempre paga a maior conta.   


Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - http://www.sardenberg.com.br/