“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa”. Jô Soares.
A gente estava só esperando: o tema corrupção havia de
aparecer na campanha. Apareceu. Da pior maneira possível. Mais ou menos
assim: a sua turma rouba mais que a minha. Ou, claro, os meus roubos são
menores que os seus.
Corrupção não é apenas uma questão moral. Melhor dizendo: se
fosse apenas uma questão moral, já seria importante o suficiente para
merecer atenção e propostas dos candidatos. Não basta condenar a roubalheira, muito menos condenar a
roubalheira dos outros. É preciso apresentar propostas para restabelecer
no Brasil o sistema de combate à corrupção, desmontado meticulosamente
nos últimos anos por políticos e tribunais.
Em vez disso, Lula, por exemplo, prefere dizer que a Lava
Jato causou perdas enormes para a economia, com o fechamento de
empreiteiras e a destruição de empregos.
É o contrário. A Lava Jato, deixando provisoriamente de lado
a questão dos métodos, descobriu um sistema que corrompia a economia
brasileira.
As tais empreiteiras ganhavam obras não por competência, mas
pelas relações promíscuas com o governo.
Como tinham que somar a
propina aos lucros, as obras obviamente ficavam mais caras, nem por isso
melhores.
Ao contrário, muitas obras nem foram concluídas. Foram
projetadas e contratadas apenas para gerar caixa. Prática antiga.
Como
dizia Mario Henrique Simonsen, em muitos casos é mais barato pagar a
comissão e não fazer a obra.
A modernidade no caso da corrupção recente dos governos
petistas foi o tamanho da coisa e a eficiência na captação e
distribuição dos recursos aos aliados.
Tanto é tudo verdade que as condenações com origem na Lava
Jato foram, na maioria, anuladas por questões processuais inventadas
para cada caso.
Ex-réus se livraram da Justiça, mas ficou evidente que
houve grossa corrupção.
Resumo da ópera: o judiciário e o sistema político
brasileiros estão oferecendo ao país o pior exemplo possível.
Fica
estabelecido que há corrupção mas não há como punir.
Liberou geral.
Pior ainda, o eleitor parece que vai se acostumando a isso.
Lula argumenta que o mensalão não é nada comparado com o orçamento
secreto. Ou, o roubo deste lado é menor do que o de lá. [até nessa conclusão o estrupício petista erra: se deste lado, há roubo é menor do que do lado da quadrilha petista.(o se é sustentado pela ausência de provas, já as dos roubos petistas, um dos criminoso foi condenado em três instâncias, por nove juízes diferentes.] Bolsonaro, então, consegue fazer pior. Desdenha dos casos
de seu lado – qual o problema de comprar mais de 50 imóveis com
dinheiro vivo? Ou devolve a tese do roubo menor – o que é rachadinha
perto do petrolão? [para não fugir a regra dos inimigos de Bolsonaro, TENTAM acusar o capitão;
Só que mais uma vez a acusação não se sustenta por falta de provas. Não há lei que proíba a compra de imóveis em dinheiro vivo - cabe ao governo, dentro do prazo legal, investigar a origem do dinheiro e sendo ilícita, punir;
Alguns dos imóveis foram comprados há vários anos e Bolsonaro, então parlamentar do baixo clero não tinha, caso fosse corrupto, cacife para receber valores consideráveis como propina;
Gostem ou não, os recursos que os parentes do presidente utilizaram nas compras, talvez talvez com recursos ilegais, não estão vinculados ao presidente - o presidente só é responsável por seus atos ou dos filhos menores.
O empenho em acusar a família Bolsonaro é tamanho que um dos filhos do presidente, senador da República, comprou um imóvel com financiamento bancário, com prestações mensais cabendo dentro do orçamento do casal (formado por um homem e uma mulher, o homem com salário de senador e a mulher profissional liberal com rendimentos próprios) e tentaram por vários meses encontrar algo ilegal.
Não encontraram = FRACASSARAM = procurar o que não existe sempre resulta em fracassos.
Quanto as 'rachadinhas' desde antes do 'capitão do povo' ser eleito presidente que tentam encontrar provas e fracassam.
Por falar em 'rachadinha', as do gabinete do senador Alcolumbre não existiram? nada foi apurado?]
E ficamos assim: eleitores de Lula ou negam tudo ou admitem
que houve corrupção “quase normal” ou dizem que o tema precisa ser
debatido …. depois da eleição.
Eleitores de Bolsonaro, pior ainda: acreditam em tudo que se
diz de Lula e não acreditam em nada que se diz de Bolsonaro, sempre no
quesito roubalheira.[simples; mesmo com a simplicidade presente, seremos recorrentes: os eleitores de Bolsonaro encontram provas abundantes da roubalheira petista - provas que nove juízes, em três instâncias, também encontraram, tanto que condenaram o petista - já os eleitores de Bolsonaro não encontram provas, nem os acusadores apresentam.]
Pode ser que não haja mais tempo, mas existe aí uma porta de
entrada para Ciro e Simone. Quem sabe eleitores indecisos ou aqueles
que começam a duvidar dos candidatos mais fortes aceitem a tese segundo a
qual o combate à corrupção é inegociável.
Isso também colocaria pressão sobre o favorito, Lula. De
todo modo, mesmo sem isso, o candidato petista continua devendo uma
autocrítica e propostas bem concretas para a reconstrução de um sistema
legal que, primeiro, iniba a roubalheira e, depois, apanhe os culpados
quando a coisa acontece.
Para todos aqui, seria interessante dar uma olhada na
Itália. A Operação Mãos Limpas, primeira inspiração da Lava Jato,
desmontou a velha política, ligada ao crime organizado e à corrupção
generalizada. Partidos tradicionais desapareceram, mas não a vontade de
voltar às velhas práticas.
Para encurtar a história, a Operação foi cuidadosamente
desmontada e a Itália entrou numa sequência de instabilidade política,
ainda maior da que costumava acontecer. Não por acaso, entre os grandes
europeus, é o país de menor capacidade de crescimento [com PIB inferior ao do Brasil do 'capitão do povo'.] e … de maior
corrupção.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo