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quinta-feira, 1 de junho de 2023

Como Alexandre de Moraes se tornou o homem mais poderoso do Brasil - Ideias

Gabriel de Arruda Castro


O ministro do STF Alexandre de Moraes veio ao mundo numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. O dia em que o AI-5 foi promulgado.

As manchetes dos jornais matutinos noticiavam com surpresa o fato de a Câmara dos Deputados ter rejeitado a autorização para que o Supremo Tribunal Federal processasse o deputado Márcio Moreira Alves. 
A maioria dos parlamentares se opôs à permissão, o que significa que o STF não poderia levar adiante as acusações contra o parlamentar.

A queda-de-braço tivera início três meses antes, depois que Moreira Alves fez declarações contundentes contra o regime militar. “Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia”, disse ele, que pedia um boicote aos militares e prosseguia: “Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.”

Sem a autorização ou “licença”, Moreira Alves não poderia ser responsabilizado. 
As repercussões políticas eram graves: por causa disso, o presidente Costa e Silva colocou as tropas do Exército de prontidão. "Votei pela licença na presunção de optar por um mal menor. A atitude da Câmara, porém, foi corajosa, porque a maioria dos deputados assumiu o risco conscientemente", elogiou o deputado Clóvis Stenzel ao jornal O Estado de S. Paulo.

No mesmo dia 13, o Executivo decidiria por uma das maiores violações dos direitos políticos praticada na história do país: o Ato Institucional número 5. Em nome da" ordem democrática" e com base "na liberdade" e no "respeito à dignidade humana", o presidente fechava o Congresso Nacional e suspendia direitos básicos, como o habeas corpus.

A coincidência de datas talvez seja insignificante. Mas, como jurista e professor de Direito, Moraes certamente estudou com detalhes os acontecimentos daquele 13 de dezembro
Talvez ela tenha percebido que parte das pessoas está disposta a aceitar muita coisa em nome da democracia e da liberdadeaté mesmo a dilapidação da democracia e da liberdade.

Jurista precoce, autor respeitado
O jurista Alexandre de Moraes não aceitaria que o político Alexandre de Moraes se tornasse o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Em sua tese de doutorado, defendida em 2000, ele escreveu que o presidente da República não deveria ter o poder de indicar para a Suprema Corte alguém que tenha ocupado cargo de confiança em sua gestão.  

Mas foi exatamente assim que Moraes chegou ao STF: alçado por Michel Temer de ministro da Justiça a integrante da corte. Sem escalas.

Esta é uma das muitas contradições na trajetória do ministro que, tendo sido aluno exemplar, promotor implacável e político hábil, em pouco tempo se tornou o protagonista do Supremo Tribunal Federal.  
De estudante de Direito a político a promotor de justiça a ministro do STF a (dizem alguns) “imperador absoluto” do Brasil, o paulistano Alexandre de Moraes já fez muito em seus 54 anos de vida.

Tanto que é fácil esquecer como, há apenas seis anos, ele era a esperança de um nome mais conservador para o STF, motivo pelo qual foi duramente atacado por figuras da esquerda. A vida pública de Moraes tem suas raízes na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,  a mais tradicional instituição de ensino superior brasileira. Alexandre de Moraes formou-se lá, na turma de 1990, e ainda hoje é tratado como o grande destaque da classe que também formou advogados e professores influentes.

Ele foi considerado um jurista precoce. Já em 1997, Moraes lançou a primeira edição de um livro que o tornaria conhecido entre alunos de graduação país afora: Direito Constitucional, hoje com mais de 30 edições, apresenta de forma objetiva os dispositivos constitucionais. Ele tinha apenas 29 anos quando a obra foi publicada.

Em 2000, Moraes obteve o título de doutor também pela USP, orientado pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari — tão conhecido por sua obra acadêmica respeitada quanto por sua militância a favor do Partido dos Trabalhadores.

A tese de doutorado recebeu o título de “Teoria geral do direito constitucional administrativo — perfil constitucional da administração pública.” Nela, o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal faz uma sugestão curiosa: ele propõe que figuras com vínculo com o governo não possam ser indicadas ao STF — como ele, então ministro da Justiça, acabaria sendo 17 anos depois. “É vedado para o cargo de Ministro do STF o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tenham exercido cargo de confiança no Poder Executivo [...] durante o mandato do Presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência da nossa Corte Constitucional”, escreveu Moraes, em suas recomendações.

O antigo Moraes também se opunha à usurpação de prerrogativas pelo Poder Judiciário. Em entrevista dada em 2008 ao site Conjur, ele afirmou que uma intervenção excessiva da Justiça sobre os outros poderes levaria a uma crise de legitimidade. “O Judiciário, por meio do Supremo Tribunal Federal, fica responsável por interpretar a Constituição. Pode extrapolar de vez em quando mas, se isso acontecer sempre, vai haver uma guerrilha institucional. Se o Judiciário começar a interferir muito nos outros dois Poderes, estes passam a não cumprir mais as decisões judiciais e o Judiciário perde sua legitimidade.”

O promotor do “frangogate”
Um ano depois de se formar, Moraes passou em primeiro lugar no concurso para promotor de Justiça do Estado de São Paulo. Olhando em retrospectiva, a escolha pelo Ministério Público em vez da advocacia ou a magistratura talvez fosse um indicativo do perfil de alguém que prefere acusar em vez de defender. Há quem diga que Direito Constitucional, ainda hoje muito usado em cursos de graduação, dá relativamente pouco espaço a opiniões divergentes; Moraes apresenta suas ideias com eloquência, mas sem se preocupar em contemplar visões alternativas.

Em 1996, Moraes se envolveu no primeiro caso de grande repercussão na carreira. Ele e outros promotores pediram à Justiça a cassação do mandato do então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, por improbidade administrativa. Quando o juiz negou o pedido, Moraes não fez questão de esconder sua contrariedade. “A decisão é absurda e foi totalmente equivocada. A rapidez com que o juiz despachou causa muita estranheza”, ele insinuou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Como promotor, Moraes aparecia nos jornais com frequência. Em 1999, por exemplo, ele abriu dois inquéritos contra fabricantes de cigarros. Um pedia o fim de propagandas que associassem o fumo a profissionais bem-sucedidos e a praticantes de esportes. O outro pedia uma indenização à Philip Morris e à Souza Cruz por não terem informado os clientes a respeito dos riscos oferecidos pelo cigarro.

Durante seu tempo na promotoria, ele também se envolveu em uma controvérsia. Em 1997, aos 29 anos de idade, Moraes convocou uma coletiva de imprensa para anunciar uma denúncia contra o prefeito Paulo Maluf. Moraes afirmou que a gestão do então prefeito havia comprado frangos superfaturados, e pior: de empresas ligadas a sua família.

O advogado Ênnio Bastos de Barros criticou Moraes: “Ele não guarda o necessário comedimento”, disse o defensor de Maluf. Na época, a insinuação era que Moraes teria agido politicamente para favorecer o PSDB ao lançar uma operação contra Paulo Maluf, possível adversário dos tucanos na disputa pelo governo estadual.

Maluf foi inicialmente condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 21,7 mil, além de ter os direitos políticos suspensos por cinco anos. Mas recorreu e saiu vitorioso "Há um grande abismo entre suspeitar de algo e perpetrar a condenação pretendida. Há a necessidade de provas mais robustas de fraude ou da existência de medidas tomadas sem a menor justificativa", afirmou o desembargador Nogueira Diefenthaler, ao dar razão a Maluf.

Embora o caso propriamente dito seja prosaico (especialmente quando se leva em conta as outras denúncias que surgiriam contra Maluf), o episódio alimentou  a suspeita, até hoje sem provas, de que Moraes estivesse tentando tirar Maluf da disputa pelo governo de São Paulo em 1998 — o que favoreceria o tucano Mário Covas.

O salto para a política pelas mãos de Alckmin
Moraes continuaria sendo promotor de Justiça até 2002, quando deixou o cargo para se tornar Secretário de Justiça do governo de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin. O time também tinha Gabriel Chalita na Educação, Eduardo Guardia na Fazenda e Cláudia Costin na Cultura. Entre 2004 e 2005, Moraes acumulou o cargo com o comando da Febem. A acusação contra Maluf continuava sendo o ponto de maior destaque na sua carreira até ali. “Promotor do Frangogate assume a Justiça em SP”, noticiou o Diário do Grande ABC quando o futuro ministro do STF tomou posse.

Advogado do PCC?
Fora de Prefeitura, Moraes decidiu advogar. Essa foi a sua ocupação principal entre julho de 2010 e dezembro de 2014. Entre julho de 2010 e dezembro de 2014, atuou como advogado. O escritório “Alexandre de Moraes Sociedade de Advogados” ocupava o nono andar de um prédio espelhado no bairro do Itaim Bibi, um dos mais caros da capital paulista.

Em abril de 2014, por exemplo, ele se reuniu com o então Secretário de Transportes da capital paulista, o petista Jilmar Tatto. Moraes também advogou para o PSDB e para Aécio Neves na campanha presidencial de 2014 e entregou um parecer jurídico encomendado pelo Conselho Federal de Farmácia por R$ 150.000.

Mas o caso mais controverso deste período envolve o PCC
(Primeiro Comando da Capital).

A rigor, ninguém é “advogado do PCC” porque o PCC não existe formalmente. Mas a organização criminosa opera em muitas frentes. Uma delas, o transporte alternativo. 

Pai bolsonarista
O ministro do STF é casado desde 1992 com a advogada Viviane Barci de Moraes. Formada na UNIP (tanto em Direito quanto em Propaganda e Marketing), ela comanda o escritório Barci de Moraes, que já atuou em 23 processos no Supremo Tribunal Federal — muitos deles depois que Alexandre já havia se tornado ministro.

O endereço e o CPF do escritório de Viviani Barci de Moraes são exatamente os mesmos daquele comandado pelo marido na década passada. Na verdade, o escritório também é o mesmo: somente o nome mudou. O ex-deputado Gabriel Chalita também advoga lá. O time inclui dois ex-colegas de Moraes na prefeitura paulistana: Mágino Alves e Olheno Ricardo Scucuglia.

Com Viviane, o ministro do STF teve três filhos: Giuliana, Alexandre e Gabriela. Todos seguiram carreira no Direito. Mas as ceias de Natal na família Moraes não devem ser das mais harmônicas.

O pai do ministro, Leon Lima de Moraes, é apoiador declarado de Jair Bolsonaro. Ao lado da madrasta do ministro do STF, Elizete Gomes Lima, Leon exibe suas preferências políticas no Facebook. A madrasta disse estar de “luto” no dia que Bolsonaro perdeu a reeleição. No ano passado, o casal se mudou para Toledo, nos Estados Unidos, onde vive uma filha de Elizete.

Leon é conterrâneo e contemporâneo de Michel Temer: ambos se criaram na cidade de Tietê (SP). Do pai, o ministro do STF herdou a torcida pelo Corinthians.

A chegada ao STF
Moraes sempre foi hábil em construir relacionamentos no poder. Ainda em 2002, quando lançou o livro “Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional”, ele convenceu o então ministro do STF Celso de Mello a assinar o prefácio da obra. Nele Mello afirma que o livro tem um “alto nível científico”. Moraes tinha 33 anos. Ainda em 2002, Moraes já estava sendo citado pelo mesmo Celso de Mello como integrante de um grupo de “eminentes autores.”

Na mesma época, Moraes também assinou um artigo na Folha de S. Paulo em que apresenta medidas do governo paulista a favor dos direitos humanos. O artigo tem trechos de difícil leitura, como este: “A previsão dos direitos humanos fundamentais direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana em seu sentido mais amplo, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar.”

(...) 

Ascensão rápida dentro do STF
No Supremo Tribunal Federal, o tempo de casa produz uma espécie de hierarquia: os ministros mais novos prestam deferência aos mais antigos.

Com Moraes, as coisas aconteceram de forma mais rápida. Ele tem duas características únicas em relação a seus colegas: a ampla experiência política e o histórico de procurador de Justiça. Moraes é o único integrante da corte a ter sido membro do Ministério Público.

A mudança do status do ministro novato aconteceu de forma mais marcante em abril de 2019, quando o novato recebeu uma missão do então presidente da corte, Dias Toffoli: investigar “ataques” e “ameaças” contra membros da corte.

O então presidente da corte — que, assim como Moraes, frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco — se baseou numa argumentação frágil: o artigo 43 do Regimento Interno do STF afirma que o presidente poderá instaurar inquérito (tarefa que normalmente cabe ao Ministério Público) se a infração penal ocorrer “na sede ou dependência do tribunal.” O dispositivo foi criado para tratar de casos internos, como atos de vandalismo dentro do prédio da corte. Mas, em uma canetada, Toffoli passou a considerar que qualquer “ataque” publicado na internet era equivalente a um pedrada nas vidraças do prédio do Supremo. “O objeto deste inquérito é a investigação de notícias fraudulentas (fake news), falsas comunicações de crimes, denunciações caluniosas, ameaças e demais infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros; bem como de seus familiares, quando houver relação com a dignidade dos Ministros”, escreveu Moraes, em seu primeiro despacho no inquérito.

(...)

Se Moraes cumprir o tempo que lhe resta para a aposentadoria compulsória, ficará no cargo até 13 de dezembro de 2043. Ele — e o AI-5 — completarão 75 anos naquele dia.

Correção
A primeira versão deste texto trazia a informação que o ex-ministro do STF Teori Zavascki morreu em um acidente de helicóptero. Ele morreu em um acidente de avião.
Corrigido em 29/05/2023 às 10:11

 MATÉRIA COMPLETA

 Gabriel de Arruda Castro, colunista - Gazeta do Povo - Ideias

 


segunda-feira, 8 de maio de 2023

Não se desafia o sistema impunemente - Rodrigo Constantino

Revista Oeste 

Se curvar diante dessa turma não é uma opção para quem preza a liberdade


O ex-presidente Jair Bolsonaro, após prestar depoimento à Polícia Federal (PF), sobre os ataques do dia 8 de janeiro em Brasília | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Eis o que sabemos com clareza hoje: quem quer que tente desafiar todo um sistema corrompido e poderoso será alvo de sua fúria e retaliação. Aconteceu nos Estados Unidos com Donald Trump, um outsider que pretendia “drenar o pântano” em Washington. Aconteceu com Jair Bolsonaro no Brasil, um deputado de baixo clero que acabou se tornando presidente, contra quase todas as expectativas — e esforço do próprio sistema.

Nos Estados Unidos, a demonstração de força do “deep state” foi imediata: desde o começo de seu governo, Trump enfrentou investigações do FBI com base em dossiês forjados pelos próprios opositores democratas, a imprensa bateu na tecla do conluio com os russos, o presidente sofreu impeachment na Câmara por conta de pura fumaça, e por aí vai. Não houve qualquer sossego, e a pressão da máquina para destruir o magnata excêntrico foi impressionante e sem precedentes. Donald Trump | Foto: Reprodução/Flickr

No Brasil vimos basicamente a história se repetir com Bolsonaro. A velha imprensa passou a demonizar o presidente de direita com os rótulos mais depreciativos existentes, reservados aos piores tiranos genocidas do mundo. Tudo era motivo para bater em Bolsonaro, espalhar a tese de ameaça fascista, unir esforços para retirá-lo do poder.

São muitos interesses obscuros dependentes do statu quo, de um Estado hipertrofiado e corrupto, com suas torneiras irrigando cofres de muitos companheiros. No setor bancário, uma cartelização conveniente; na indústria, o velho protecionismo comercial; as grandes empreiteiras necessitam da corrupção em obras públicas como as plantas precisam de água; sindicatos só pensam em mamar nas tetas estatais; artistas ficam de olho nos projetos aprovados pelo governo; funcionários públicos desejam manter privilégios; a velha imprensa adora as polpudas verbas de publicidade; etc.

Pensar que alguém vai declarar guerra a todo esse mecanismo podre e sair ileso é otimismo demasiado. Achar que vai conseguir isso “jogando nas quatro linhas da Constituição” o tempo todo, enquanto os adversários chutam a canela, socam abaixo da cintura e jogam sujo, aí já é uma perigosa ilusão mesmo. E, pelo visto, muito bolsonarista apostou nessa ilusão. O “mito” jogava xadrez 4D, cada passo era milimetricamente calculado, tudo estava sob controle, no momento certo — em 72 horas — haveria o xeque-mate!

“Mas a máfia nunca se dá por satisfeita com essa imagem de tirânica e cruel. Ela quer mais: ela quer o manto da legitimidade, ela quer a aparência de decência. Não basta perseguir críticos e concentrar todo o poder para sua pilhagem da coisa pública. É preciso ir além.
Parece que o desenrolar da novela não foi exatamente de acordo com o script. 
Bolsonaro chora em público ao ser alvo de uma operação da Polícia Federal por conta de um cartão de vacina da covid, seu ex-assessor foi preso pois o sistema claramente ansiava por seu telefone, o ex-ministro Anderson Torres segue preso sem crime, o deputado Daniel Silveira, que recebeu a graça presidencial, continua atrás das grades, e vários jornalistas independentes, que enxergavam as virtudes do governo e denunciavam os truques escancarados do sistema, foram censurados, tiveram contas bancárias congeladas e até passaportes cancelados — como no meu caso. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro | Foto: Agência Brasil

A ditadura avançou rápido demais, pois ministros supremos não enxergam quaisquer barreiras ao seu abuso de poder.  
O arbítrio compensa, já que há um cúmplice no comando do Congresso, e os militares devem estar mais preocupados com pintar algumas ruas pelo país. 
Foi tudo dominado, à exceção, talvez, da Câmara, onde ainda há alguma resistência heroica, como vimos na PL da Censura adiada e na derrubada do decreto que destruía o Marco do Saneamento.

Na velha imprensa, os militantes do sistema vibram com a operação policial a mando do ministro Alexandre, cujo inquérito ilegal é elástico ao infinito e consegue abarcar simplesmente tudo. 
Se ministro petista era pego com mais de R$ 50 milhões em malas no seu apartamento, o ajudante de ordens de Bolsonaro tinha US$ 35 mil — sendo que ele tem filhos no exterior. Mas teve “jornalista” que tratou essa quantia em espécie como mais que suspeita: como prova de crime!  
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e Alexandre de Moraes | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O esforço em igualar Bolsonaro a Lula no quesito ética é homérico. Na verdade, o intuito é colocar Bolsonaro como corrupto, e Lula como perseguido político. No país cujo sistema judiciário solta traficante e ainda devolve seu helicóptero, eis que a suspeita de adulteração num cartão de vacina de covid passa a ser “crime hediondo”.  
É tudo tão patético que foi arquitetado para isso mesmo: mostrar quem manda, não importa qualquer embasamento legal.

Já pulamos essa etapa do verniz de legalidade faz tempo. Bolsonaro foi condenado antes de qualquer crime. Agora é só encontrar alguma coisa qualquer ou, se for preciso, inventar. Já temos, afinal, presos políticos no país, sem qualquer crime cometido, já que não existe o “crime de opinião” previsto no Código Penal ou na Constituição. O sistema podre e carcomido exibe sua força em praça pública, tal como faz a máfia. Manda quem pode, obedece quem tem juízo e quer sobreviver.

Mas a máfia nunca se dá por satisfeita com essa imagem de tirânica e cruel. Ela quer mais: quer o manto da legitimidade, a aparência de decência. Não basta perseguir críticos e concentrar todo o poder para sua pilhagem da coisa pública. É preciso ir além: usar esse poder para humilhar e obrigar todos a reconhecerem em público, ainda que sob a mira de uma arma oculta, quão maravilhosa essa máfia é para a sociedade e para o mundo.

Ladrões comuns costumam se contentar com o fruto do roubo. Esse sistema mafioso é muito pior: quer nos escravizar e roubar, mas demanda que reconheçamos publicamente como são fantásticos na “defesa da democracia”. É aí que entra a ideologia esquerdista e as prostitutas midiáticas intelectuais prontas para defendê-la. Mexer com essa gente é mexer num vespeiro. Há consequências, como muitos de nós sabemos bem. Mas se curvar diante dessa turma não é uma opção para quem preza a liberdade, tem dignidade e não aceita sacrificar sua consciência. Bolsonaro, de volta ao Brasil (30/3/2023) | Foto: Natanael Alves/PL

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