O IBGE aponta um crescimento no número de
desempregados em quase dois milhões de pessoas no ano passado, a face econômica
e social do imbróglio político
Enquanto
Brasília ferve — com a homologação e divulgação da denúncia de Delcídio
Amaral, com as incertezas sobre o futuro imediato de Lula, entre muitos
outros assuntos —, transcorre, em todo o país, a tragédia do
desemprego, vivida de maneira crescente por milhares de famílias.
No mundo
político e do poder, procura-se estimar a capacidade de resistência da
presidente Dilma, sondam-se os próximos lances do
processo de impeachment, que pode voltar a tramitar hoje, a depender de
decisões do STF. Já no Brasil do cidadão comum, angustia
milhões de desempregados como continuar a pagar as contas com o dinheiro
limitado do FGTS e ou a partir do esgotamento do seguro. Um drama que
não era vivenciado no Brasil, nessas dimensões, desde o início da década
de 90, com o sequestro da poupança decretado pelo presidente Collor.
Os dados
apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do
IBGE, indicam que, no último trimestre do ano passado,
a taxa de desemprego chegou a 8,5%, contra 6,5% no mesmo período de 2014.
Pelas médias anuais, o contingente de desocupados passou de 6,7 milhões de
pessoas em 2014 para 8,6 milhões no ano passado, quase dois milhões de
desempregados a mais.
A
Pesquisa Mensal de Empregos, também do IBGE, mais restrita, por abranger apenas
as seis maiores regiões metropolitanas — a Pnad monitora o mercado de
trabalho em 3.500 cidades espalhadas pelo país —,
detecta o crescimento da participação dessas capitais e seu entorno (Rio,
São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre) no total de
desempregados. Em janeiro de 2015, a parcela de
12,7% dos desocupados estava nessas seis regiões metropolitanas. Em janeiro último, 14,9%.
Cresce
também, à medida que persiste a recessão, a dificuldade para se encontrar novo
emprego. Hoje,
20% dos que buscam ocupação esperam mais de um ano para voltar ao mercado
de trabalho formal. No início de 2014, eram 14,7% dos desempregados.
Para
piorar, as perspectivas não são boas. O Índice de Atividade Econômica, do Banco
Central, o IBC-Br, fechou janeiro com uma retração de 0,6%, confirmando
a persistência do mergulho da economia. Vai-se confirmando que o Brasil
completará em 2016 dois anos em recessão, com queda na renda e demais mazelas
características deste quadro.
A
deterioração da economia e do quadro político ocorre no mesmo universo. Os sinais de
desestabilização do governo Dilma, os cuidados do PT e do Planalto com um
Lula sob investigação são questões turbinadas por uma crise econômica construída a partir do
segundo governo Lula e consolidada no primeiro mandato de Dilma. O desemprego,
o drama social e o rebuliço brasiliense são capítulos da mesma história.
Fonte: Editorial - O Globo
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