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sábado, 16 de outubro de 2021

PENSAR, ATIVIDADE PERIGOSA - Percival Puggina

Pensar, opinar, escrever, falar, atributos inerentes à vida civilizada, se vão tornando atividades de risco, como escalar penhascos, fazer trilha em geleiras, descer cachoeiras, caçar cobras
Com estonteante rapidez, a sempre fugidia verdade foi sequestrada, estatizada, ganhou versões oficiais e foram cancelados os entendimentos divergentes. 
Criou-se um novo conceito de Ciência, em que algo que tenha recebido essa designação não pode ser discutido. Einstein era bem menos peremptório.
 
A título de exemplo, menciono a confiabilidade de urnas eletrônicas, engenhocas que não permitem a impressão e conferência do voto pelo eleitor. 
Ou, o que talvez seja mais grave, a presunção de que apontar evidentes desvios de conduta no STF e no Congresso Nacional é criar animosidade contra as instituições da democracia. 
A ser assim, há que se perguntar a razão pela qual apenas a instituição presidência da República está ao desabrigo dessas invejáveis prerrogativas. 
Que discurso fajuto é esse que serve apenas a dois dos três poderes de Estado?

Li na Gazeta do Povo de 25 do último mês de setembro: “No recém-lançado Programa de Combate à Desinformação (PCD), que será conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para combater conteúdos que, na visão do Tribunal, possam ser enquadrados como "desinformação e narrativas odiosas" direcionadas à Corte, o Supremo informou que uma das medidas será a aproximação do Comitê Gestor às agências de checagem. De acordo com a Resolução 742, que institui o PCD, esses veículos são responsáveis por “buscar solucionar o problema da desinformação e dos discursos de ódio”.

Há algum motivo para que tais agências, postas a serviço da cúpula do Poder Judiciário nacional, não ampliem o garrote já aplicado à liberdade de opinião? Elas nasceram desacreditadas por seu estrabismo ideológico e político, perfeitamente identificável na bênção concedida a “narrativas”, chavões e rótulos que não passam de lixo retórico esquerdista.

Muito do que vejo acontecer me traz à mente a famosa Comissão da Verdade, espécie de oráculo polifônico, a sete vozes, criado pela ex-presidente Dilma para carimbar uma “narrativa” sobre mocinhos e bandidos nos governos militares. Muito me bati contra aquela iniciativa que atribuía tal tarefa a um pequeno colegiado, como se repete agora a propósito de temas polêmicos do momento.

A prova cabal de seu facciosismo se evidencia no fato de jamais haverem exposto a absurda fake news que responsabiliza o presidente da República pela morte de 600 mil pessoas...  [a argúcia do ilustre articulista, traz o pensamento se este modesto escriba ao transcrever uma matéria sobre as 600 mil mortes atribuídas à Bolsonaro, por um equívoco,  digitasse em vez do nome Bolsonaro, o nome Barroso, Pacheco, Fux, com certeza seria preso e condenado a jamais ver a luz do sol - óbvio, sem julgamento ou sentença, apenas a título de prisão preventiva, por atentado à democracia, à Constituição ou ao 'estado democrático de direito'.
Mas, quando a fake news das 600 mil mortes é praticada pelo Calheiros, Aziz, Rodrigues, Humberto Costa (codinome drácula) ou pela mídia militante e atribui aquelas mortes do presidente Bolsonaro NADA OCORRE. A fake news assume o status de 'verdade dos fatos.] 
Para o STF, porém, estão credenciadas a uma parceria com o poder na nobre tarefa de rotular ciência, consagrar verdades e tornar sacrílego o ato de as contradizer.

Caramba! Este país cansa, mas amanhã é outro dia!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

UM JORNALISMO QUE SE EXTRAVIOU - Percival Puggina

O sucesso das redes sociais e da mídia alternativa se deve, principalmente, ao fracasso ético dos grandes grupos de comunicação do país. Se lessem o que publicam, se assistissem aos próprios programas com olhos de ver e não com olhos de quem dispara contra um alvo, talvez conseguissem compreender o fenômeno a que dão causa.

Enterra a si mesmo em cova rasa, à vista de todos, um jornalismo que silencia perante prisão de jornalistas, constrangimento de veículos e  atos que reprimem a liberdade de opinião e expressão. Envolto em cortina de silêncio, tudo isso está acontecendo no país.

Nuvens escuras da incerteza cobrem os céus da pátria, grandes grupos de comunicação formam nosso mais ativo partido político e compõem bancada ao lado do STF. 
Menosprezam a liberdade de expressão de seus leitores, tanto quanto os ministros alardeiam como mérito sua permanente empreitada “contramajoritária”. Quem diverge é vilão e toda divergência é vilania.

Esgotam sobre os próprios leitores o vocabulário, os rótulos e os chavões que servem como carteira de identidade do grupo que foi varrido do poder em 2018. 

[e não voltará tão cedo. ... a roubalheira acabou, ainda que o maior de todos os ladrões tenha sido favorecido com a anulação de suas condenações, a pretexto de que foi denunciado na vara errada ... 
o motivo da anulação, impõe duas perguntas:
- e os que são alvos de um inquérito que começou da forma errada = a possível vítima é também o policial que investiga, o promotor que denuncia, o juiz que julga...
- Se ser denunciado na vara errada é motivo para ter condenação anulada, um inquérito que começou e segue errado  - tanto que o chamam de 'inquérito do fim do mundo' - que o motivo que impede que seja anulado? 
Não pode ser esquecido que as condenações anuladas foram vistas e revistas por mais de dez juízes, incluindo colegiados.]

Aliás, nada é tão parecido com um discurso da tropa de choque petista quanto o conteúdo de outrora expressivos meios de comunicação. Eu me criei lendo jornais com enorme tiragem e elevada credibilidade, cujo conteúdo era enriquecido por opiniões competentes e textos de brilhantes escritores. 
Hoje, fico entre o riso e a tristeza ao perceber a unânime atenção, o apoio e a fidedignidade que lhes merecem atores bufos da cena política, como os senadores ficha-suja que encabeçam a CPI da Covid e ameaçadores ministros que nem mutuamente se respeitam.
Hoje, fico entre o riso e a tristeza, repito, ao ver como veículos outrora altivos e independentes cortejam o cesarismo togado da Suprema Corte. E nisso persistem, mesmo quando ela dilacera a Constituição, mesmo quando faz “justiça” com as próprias mãos e mesmo que suas convicções durem tanto quanto sirva às estratégias. [uma das formas que utilizam para fazer "justiça" é interpretar a Constituição de forma a que possam, a pretexto de preservar a Carta Magna e democracia, usar meios constitucionais e democráticos para silenciar os que cometem dois "crimes":
a - pensar diferente dos que se consideram a 'nação', a 'democracia' e a 'constituição';
o "crime", tipificado em 'a' é considerado de lesa pátria e agravado quando quem o comete ousa apoiar o presidente da República = eleito com quase 60.000.000 de votos.]

Veem as praças coloridas com as bandeiras da pátria comum, ocupadas pacificamente por famílias, idosos, pais, filhos, jovens. Ouvem-nos cantar hinos cívicos e rezar pelo bem do país.

Esse bom povo brasileiro está ali, com seus apelos e seus cartazes, porque ainda preserva a crença de que a democracia tem ouvidos para ouvir.

Esse povo sabe que as instituições são “da democracia”, a ela devem servir, mas não são, em si mesmas, “a democracia”.

Por sua militância porém, veículos que eram oráculos de nossos pais a tudo retratam com as cores da irracionalidade, do desprezo e do ódio

Dão mais guarida ao fascismo dos antifas do que à civilizada manifestação dos conservadores!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.