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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

TSE e a cartilha de palavras proibidas - Cristina Graeml

VOZES - Gazeta do Povo

Depois de censurar opinião, agora TSE quer limitar o vocabulário

TSE há muito deixou de ser a sigla para Tribunal Superior Eleitoral na cabeça dos brasileiros, porque a corte administrativa, que deveria cuidar só de eleições, arvorou-se o direito de ditar regras sobre o que pode ou não ser dito e como dizer.

Não bastasse a censura prévia, os temas proibidos, os questionamentos impossíveis de serem feitos sob ameaça de banimento de redes sociais, multa e, quiçá, prisão, agora o TSE achou por bem lançar uma cartilha de palavras e termos impróprios, que devem ser banidos do vocabulário.

A vontade é de mandar plantar batata, mas o melhor talvez seja mesmo lembrar aos excelentíssimos ministros que ainda há muitos pedidos de direito de resposta até hoje não analisados e um radiolão inteiro por investigar.

Isso sem falar nas "anomalias" que colocam as eleições de 2022 sob enorme suspeita para uma parcela considerável da população. Ou seja, tem serviço pra burro!  
Por que raios perdem tempo discutindo a linguagem?
Acredito que a maior parte dos brasileiros concorda que seria de melhor serventia se os ministros do TSE cuidassem do que lhes é devido e deixassem a língua portuguesa em paz.

TSE e a "novilíngua"
Depois de ler que o TSE, que tantas respostas deve ao povo brasileiro, andou promovendo encontro para discutir Democracia e Consciência Antirracista, e que daí saiu uma listinha de palavras proibidas, a sensação é mesmo a de estar dentro do clássico da literatura 1984.

A ficção, escrita há mais de sete décadas, parece ser a mola propulsora de ideias nas altas cortes de justiça brasileiras. Primeiro instituíram um "Ministério da Verdade" para determinar o que pode ou não ser dito. E ai de quem não obedecer. A censura corre solta, multas e prisões, idem.

A 2ª geração de desordem eleitoral vem disfarçada de cartilha para impor ao país uma nova língua ("novilíngua"), seguindo os passos do que está descrito no romance distópico do jornalista indiano naturalizado britânico, George Orwell.

Ao todo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) listou 40 palavras e expressões numa cartilha politicamente correta, cujo título é "Expressões racistas: por que evitá-las".

Segundo o órgão, o objetivo do manual é listar palavras e expressões a serem banidas do vocabulário brasileiro sob a justificativa de que os termos seriam ofensivos a pessoas negras. Aí entra de tudo, do verbo esclarecer ao bolo "nega maluca".

É um verdadeiro "samba do crioulo doido", um manual de "meia-tigela", feito "nas coxas", não sei se por "pretos de alma branca", brancos de alma preta, índios, amarelos, pardos, "mulatos", pouco importa.

No Segunda Opinião, esses burocratas do voto, que querem agora avançar sobre a linguagem, não passarão. Vamos esclarecer tudo para não deixar a comissão sei lá das quantas do TSE denegrir a língua portuguesa. Minha pátria é minha língua!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Lista negra - Feitores da linguagem: juízes “esclarecidos” denigrem a dignidade humana - Gazeta do Povo

Vozes - Paulo Polzonoff Jr

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Lista negra - ovelha negra

O fim de semana foi maravilhoso. Mas minha festa particular teve lá seus momentos de estranheza. Quando me surpreendi pensando na eliminação do Brasil na Copa, por exemplo. Faltavam só quatro minutos, poxa! Ou quando me vi gargalhando amarelo diante da Lista Negra (!) de Palavras e Expressões Racistas elaborada pelo totalitário TSEum tribunal que abandonou suas funções óbvias e restritas às eleições para se dedicar integralmente ao nada nobre trabalho de controlar a sociedade.

Nem as simpáticas ovelhinhas negras escapam da sanha “purificadora” dos militantes travestidos de juízes. Foto:

A risada tem mesmo essa função de apontar o ridículo diabólico da lista de palavras e expressões que, na opinião desses fariseus modernos, devem ser abolidas do vocabulário. Afinal, não há nada mais engraçado do que o homem seduzido pela própria “razão” a ponto de se achar capaz de controlar a linguagem em seus mínimos detalhes. A queda de Lúcifer tem, sim, seu quê de engraçado. Humor negro, digo.

Mas a verdade é que a listinha da corte mais stalinista deste Brasilzão de meu Deus não tem graça.  
Nem se agora, do nada, essa crônica fosse invadida pelo soldado Peçanha, lotado na Delegacia de Combate aos Crimes Vocabulares
“O quê?! Você disse ‘esclarecer’? Que samba do crioulo doido é este texto? Teje preso!”, diria ele nesta minha tentativa frustrada de fazer rir criando um personagem patético, cheio de ressentimentos históricos, cossofredor de dores ancestrais e ainda imaginário nas esquinas da vida. Mas muito real nos gabinetes desses juizecos de meia-tigela.
 
Não tem graça porque, ao contrário das iniciativas semelhantes que já foram motivo de escrutínio neste espaço, essa lista é um documento elaborado por uma tribunal. Por juízes.  
Por magistrados cuja responsabilidade, em tese, é a de mediar as relações humanas, numa esforço para manter algo remotamente semelhante à paz nesse mundo de conflitos incessantes. 
Na prática, porém, o que esses juízes fazem é fomentar o ódio entre as pessoas, o que só aumenta seu poder de coação e controle.

Uma imoralidade em si
E aqui vou usar um verbo apropriado, embora juridicamente incorreto, para descrever as intenções dos militantes de toga com essa nhaca de lista: escravizar. Só que, neste caso, o juiz-feitor afeta virtude ao chicotear no pelourinho um tipo de ser humano que ele vê como inferior e digno do açoite não por causa da cor da pele, e sim por causa das palavras e expressões que usa.

Na plateia deste espetáculo abjeto, talvez neguinho ria de nervoso, se perguntando: “Como chegamos a este ponto?”. Mas terá sido tarde demais. Porque ao redor dele não haverá ninguém para responder que chegamos até aqui assim: por interesses insondáveis, no remoto século XXI militantes travestidos de juízes não só fomentaram o ódio entre as pessoas como também foram soberbos a ponto de se acharem capazes de amenizar um tal de ressentimento histórico (uma imoralidade em si) proibindo palavras “racistas”. E quando disseram aos juízes-militantes que isso tudo tinha um quê de Torre de Babel, eles farfalharam suas togas, dando de ombros para a sabedoria milenar do bom senso.
 
Ao impor mais e mais restrições descabidas à linguagem, no afã de reconstruir uma cultura que nunca pediu para ser destruída, quanto mais reconstruída, juízes querem exercer o controle total sobre o homem comum. 
Querem manobrar não só suas ações, impedindo-os de cometerem “crimes”; 
querem manobrar seus pensamentos, impedindo-os de pensarem “errado”. E sabe o que é pior? 
O pior é que há muita gente que se submete voluntariamente à senzala do pensamento.
[a título de modesta colaboração linkamos para matéria em que mais normas poderão ser conhecidas; enfaticamente, recomendamos que evitem concluir qualquer coisa sobre o tema = visto que, CONCLUSÃO ERRADA se tornou crime grave. No máximo, pensem - pensamento silencioso, nada de pensar com seus botões.]
Como aqueles que fazem mesuras ao dono da casa grande substituindo o criado-mudo por alguma palavra mais esclarecida.  
Que não preparam nem mais uma deliciosa nega-maluca para a criançada
Que se recusam a sambar o simpático e divertido samba do crioulo doido da linguagem cotidiana. 
Que, no mercado negro dos vícios disfarçados de virtude, preferem a passividade do rebanho a bancar a ovelha negra. 
Que, desavergonhados da própria boçalidade, denigrem a dignidade humana ao anunciarem uma lista negra de palavras cujo objetivo é, repito quantas vezes for necessário, tornar o indivíduo cativo de suas vontades.

Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor. - Gazeta do Povo - VOZES

 


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

AVULSAS

Vamos relaxar - Depois se ver o que se faz com o presidente do PL - Valdemar Costa Neto, que sempre que teve oportunidade dava a dica para o ministro Moraes " faça o que Vossa Excelência quiser, eu concordo, apoio e não vou recorrer".

O LIBERTADOR VAI ENTRAR EM AÇÃO

 

É PRA GENTE SE MIJAR DE TANTO RIR !!!

 

Deputado Marcel Van Hattem pede CPI para investigar ministros do STF e do TSE

É ISSO MESMO!

UM FENÔMENO SUPREMAMENTE BANÂNICO

 [talvez seja fake, portanto, não nos responsabilizamos - as más línguas dizem que foi o próprio Xandão que redigiu a petição e passou para o Valdemar.]

O GAMO SALTITANTE

Chefe da equipe de holofotes do governo paralelo do PT, Randolfe Rodrigues retomou sua especialidade de fazer declarações irrelevantes.

Mas, apesar disso, garantir espaço nos veículos de comunicação.

* * *

Esse desmunhecado tá no lugar certinho: no bando luleiro.

Foi escolhido a dedo (êpa!)

Irresponsável e ridículo: é a cara do governo que vai fuder o país a partir de janeiro. [calma: uma coisa de cada vez - primeiro vamos esperar o infeliz ser diplomado para se partir para a espera da outra etapa.]

Adora aparecer na mídia desmunhecando e cagando tolôtes orais.

E ele só faz declarações saltitando no palco.

ALÉM DE QUADRILHA, O PT É TAMBÉM UM PARTIDO PORNOGRÁFICO

 

 ['os macaquinhos' será o evento cultural do Alexandre Frota estrear no novo cargo]

Lei Rouanet - os macaquinhos, dedos no ânus  = Confira

 


SAIRAM DAS REDAÇÕES E FORAM PRO VESTIÁRIO

SÓ AGORA A FOLHA VIU: XANDÃO VAI RASGÁ-LA TAMBÉM

 

ATUALIZE SEU VOCABULÁRIO

 

UMA MAGNÍFICA CONQUISTA DO GOVERNO BOLSONARO

 

 


HEBER – JABOATÃO DOS GUARARAPES-PE

Blockbuster:

Planet of the Donkeys

terça-feira, 9 de novembro de 2021

O RABO DOS MACACOS - Percival Puggina

De uns tempos para cá, a militância esquerdista brasileira parece haver encontrado o que fazer na afirmação de pautas ambientais e identitárias, ideologia de gênero, domínio do vocabulário e imposição do “politicamente correto”. A jornada se completa com algumas ações do tipo “Fora Bolsonaro” escrito assim, sem vírgula e sem ponto de exclamação. Mas aí já seria exigir demais.

Ao procurar votos por esses caminhos, estabelecendo a cizânia e, principalmente, restringido a liberdade de expressão, a esquerda acordou sua adormecida divergência natural. Aqui e ali, dispersos, os conservadores começaram a sentir cheiro de fumaça e passaram a reagir de modo inevitavelmente crescente, num mecanismo de autodefesa.

Lembro-me bem da primeira vez em que fui advertido de estar sendo politicamente incorreto. Eu criticara o incremento da gravidez na adolescência e seus efeitos, por vezes devastadores, sobre a vida de tantas jovens. Lá pelas tantas, denunciei a promiscuidade incentivada pela moderna produção “cultural”, especialmente por aquela produção voltada para a juventude. 
Meu interlocutor julgou-se no direito de me acusar de estar sendo politicamente incorreto ao desqualificar, com palavras e autoritarismo moralista, a “opção” das garotinhas. Minha resposta foi ainda mais incorreta e não caberia reproduzir aqui.

Por cancelar o debate sobre certos temas ditos sensíveis e dá-los por consensuais e irrecorríveismalgrado sejam insustentáveis numa interlocução esclarecida e bem intencionada – o “politicamente correto” deixa de ser civilizado e benéfico para ser uma velhacaria.

Impõe, assim, uma servidão mental e se vai, pouco a pouco, entregando as liberdades para o discernimento e a tutela daqueles que confiam mais no Estado e no partido do que em si mesmos e na sociedade. Parcela poderosa do Estado e muitos partidos querem exatamente isso.  

Breve não lembraremos mais o caso do jogador Maurício Souza, como não lembramos o caso do delegado que, manifestando-se sobre o estupro de uma menina de 11 anos pelo homem que vivia com a mãe, afirmou “haver crianças pagando muito caro pelo rodízio de padrastos em casa”. O autor da frase foi qualificado como machista e exonerado da função que ocupava na área de comunicação social de sua instituição.

Sempre que me deparo com esse tipo de abuso, essa estatização de conceitos, versões e narrativas como ação política, fico me perguntando se é para isso que nós, cidadãos, formamos partidos e instituímos poderes. Onde e quando esses poderes e partidos ocupam-se do Brasil real? 

Principalmente, quando vão entender quão politicamente incorreto é seu agir e o quanto são cúmplices, por omissão ou interesse próprio, em relação a tantos de nossos males? 
Existe algo politicamente mais incorreto do que políticos incorrigíveis?

* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

UM JORNALISMO QUE SE EXTRAVIOU - Percival Puggina

O sucesso das redes sociais e da mídia alternativa se deve, principalmente, ao fracasso ético dos grandes grupos de comunicação do país. Se lessem o que publicam, se assistissem aos próprios programas com olhos de ver e não com olhos de quem dispara contra um alvo, talvez conseguissem compreender o fenômeno a que dão causa.

Enterra a si mesmo em cova rasa, à vista de todos, um jornalismo que silencia perante prisão de jornalistas, constrangimento de veículos e  atos que reprimem a liberdade de opinião e expressão. Envolto em cortina de silêncio, tudo isso está acontecendo no país.

Nuvens escuras da incerteza cobrem os céus da pátria, grandes grupos de comunicação formam nosso mais ativo partido político e compõem bancada ao lado do STF. 
Menosprezam a liberdade de expressão de seus leitores, tanto quanto os ministros alardeiam como mérito sua permanente empreitada “contramajoritária”. Quem diverge é vilão e toda divergência é vilania.

Esgotam sobre os próprios leitores o vocabulário, os rótulos e os chavões que servem como carteira de identidade do grupo que foi varrido do poder em 2018. 

[e não voltará tão cedo. ... a roubalheira acabou, ainda que o maior de todos os ladrões tenha sido favorecido com a anulação de suas condenações, a pretexto de que foi denunciado na vara errada ... 
o motivo da anulação, impõe duas perguntas:
- e os que são alvos de um inquérito que começou da forma errada = a possível vítima é também o policial que investiga, o promotor que denuncia, o juiz que julga...
- Se ser denunciado na vara errada é motivo para ter condenação anulada, um inquérito que começou e segue errado  - tanto que o chamam de 'inquérito do fim do mundo' - que o motivo que impede que seja anulado? 
Não pode ser esquecido que as condenações anuladas foram vistas e revistas por mais de dez juízes, incluindo colegiados.]

Aliás, nada é tão parecido com um discurso da tropa de choque petista quanto o conteúdo de outrora expressivos meios de comunicação. Eu me criei lendo jornais com enorme tiragem e elevada credibilidade, cujo conteúdo era enriquecido por opiniões competentes e textos de brilhantes escritores. 
Hoje, fico entre o riso e a tristeza ao perceber a unânime atenção, o apoio e a fidedignidade que lhes merecem atores bufos da cena política, como os senadores ficha-suja que encabeçam a CPI da Covid e ameaçadores ministros que nem mutuamente se respeitam.
Hoje, fico entre o riso e a tristeza, repito, ao ver como veículos outrora altivos e independentes cortejam o cesarismo togado da Suprema Corte. E nisso persistem, mesmo quando ela dilacera a Constituição, mesmo quando faz “justiça” com as próprias mãos e mesmo que suas convicções durem tanto quanto sirva às estratégias. [uma das formas que utilizam para fazer "justiça" é interpretar a Constituição de forma a que possam, a pretexto de preservar a Carta Magna e democracia, usar meios constitucionais e democráticos para silenciar os que cometem dois "crimes":
a - pensar diferente dos que se consideram a 'nação', a 'democracia' e a 'constituição';
o "crime", tipificado em 'a' é considerado de lesa pátria e agravado quando quem o comete ousa apoiar o presidente da República = eleito com quase 60.000.000 de votos.]

Veem as praças coloridas com as bandeiras da pátria comum, ocupadas pacificamente por famílias, idosos, pais, filhos, jovens. Ouvem-nos cantar hinos cívicos e rezar pelo bem do país.

Esse bom povo brasileiro está ali, com seus apelos e seus cartazes, porque ainda preserva a crença de que a democracia tem ouvidos para ouvir.

Esse povo sabe que as instituições são “da democracia”, a ela devem servir, mas não são, em si mesmas, “a democracia”.

Por sua militância porém, veículos que eram oráculos de nossos pais a tudo retratam com as cores da irracionalidade, do desprezo e do ódio

Dão mais guarida ao fascismo dos antifas do que à civilizada manifestação dos conservadores!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 1 de março de 2021

O estranho caso de Alexandre de Moraes - Revista Oeste

Augusto Nunes

Muita gente desconfia que o professor e o ministro não são uma pessoa só 


 

Quem lê um livro de Alexandre de Moraes e ouve um improviso de Alexandre de Moraes desconfia que o professor de Direito Constitucional e o ministro do Supremo Tribunal Federal não são uma pessoa só. Muita gente continua acreditando na versão espalhada pelos estudantes da Faculdade do Largo de São Francisco: os Alexandres formam uma dupla de gêmeos separados ao nascer, que usam o mesmo nome só para confundir. As dúvidas fazem sentido. Os textos que Alexandre publica são gentis com o idioma tratado com ferocidade pelo Alexandre que fala (sem um papelório nas mãos). Os livros que assinou têm sido fonte de consulta para incontáveis advogados em gestaçãoOs improvisos são tão imprestáveis quanto as discurseiras de Lula.[a novela o "bem-amado" (famosa novela da TV Globo, exibida nos tempos em que as produções não eram levadas ao público sem um controle prévio do conteúdo, visando a preservação dos BONS COSTUMES, da FAMÍLIA, da MORAL e da ORDEM)  está sendo reapresentada, talvez nela o ministro aprenda alguma coisa sobre a importância dada pelo prefeito Odorico  a ter sempre as mãos, escrito, o improviso.]

A espécie a que pertence Alexandre de Moraes, convém ressalvar, não deve ser confundida com a tribo que tem no ex-presidente presidiário um pajé exemplar. Quando Lula agarra um microfone, a gramática se refugia na embaixada portuguesa, a concordância se asila em velhos dicionários, a regência verbal se esconde no sótão da escola abandonada, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina sem gelo, a razão pede a proteção da ONU para livrar-se de outra sessão de tortura, os plurais saem em desabalada carreira e a verdade se dirige à delegacia mais próxima para jurar que é mentira. O ministro Alexandre também guilhotina SS e RR, declama maluquices com a pose de quem está fazendo um pronunciamento à nação, muda de ideia conforme as circunstâncias e mente mais do que respira. Mas Lula é da turma que fugiu da escola e se orgulha da ignorância vitoriosa. Alexandre diplomou-se nas Arcadas e virou professor no Largo de São Francisco. Para seviciar o português, vale-se de um repertório maior que o vocabulário de 300 palavras decoradas pelo palanque ambulante.

O ministro do Supremo tampouco se enquadra na linhagem de Dilma Rousseff — até porque ninguém mais no mundo sabe falar o subdialeto que a ex-presidente inventou, muito menos suas ramificações. Há o dilmês rústico, o vulgar, o castiço e o erudito. Ela domina todas essas formas complicadíssimas de não dizer coisa com coisa. Numa recente live no Instagram, por exemplo, discorreu sobre o vírus chinês. 
Cientistas, governantes, negacionistas incuráveis, crédulos de nascença, vacinados e infectados continuam sem saber direito o que está acontecendo. 
 
Dilma, que nada sabe sobre tudo, entrou no assunto com a segurança de Ph.D. em pandemia. “Nós estamos enfrentando um vírus com a capacidade de transmissão muito… muito… solerte”, decolou a ex-presidente, que em seguida tentou traduzir o que acabara de dizer: “Ele é… é… é esperto. O vírus chega devagarzinho… fica… tem um tempo de incubação significativo e pode, portanto, surpreender”. Em seguida, prescreve a receita para combater o inimigo invisível: “Esse método é o isolamento social. E o isolamento social é horizontal”. E se antecipa à pergunta que perturba as cabeças na plateia: “Por que que é horizontal? Porque as famílias são horizontais. Você tem as famílias… tem várias gradações”.
Não há outra maneira de ganhar a guerra, insiste Dilma, que em seguida capricha no fecho glorioso: “Até que toda essa busca por uma vacina resulte em algo concreto, ou que se tenha um vácuo capaz de tratar essa doença, nós teríamos só essa forma de lidar com ela. Primeiro porque, caso contrário, todos os modelos matemáticos mostram que, se você não fizer nada, o nível de mortandade é algo estarrecedor, na faixa de 1 milhão de pessoas”Alguém aí entendeu? Ninguém? Não se preocupem. A moça no alto da tela que tenta traduzir a discurseira em linguagem de Libras também não está entendendo nada. 
E a própria Dilma certamente não entende o que diz. Alexandre de Moraes, é verdade, também estaciona em reticências sem rumo, tropeça em vírgulas bêbadas, escava fossos entre sujeito e predicadojunta  palavras que não conversam entre si e produz sopas de letras intragáveis. Mas seria injusto equipará-lo à singularíssima criadora do dilmês.
 
O clube que Alexandre frequenta abrange, por exemplo, os que nunca chegam a alguma cidade. Sempre chegam em. Também são sócios eméritos os que jamais entenderão a diferença entre onde e aonde, ou que os dois advérbios se referem a algum lugar, nunca a um espaço de tempo. “Estou falando da semana aonde me encontrei com o governador”, disse o candidato a ministro, mais de uma vez, na sabatina no Senado que chancelou sua indicação para a vaga aberta pela morte de Teori Zavascki
O escolhido por Michel Temer seria reprovado em qualquer prova oral para ingresso na magistratura. Os senadores validaram sorrindo a indicação, fingindo que haviam compreendido o falatório truncado por travessões que transformaram as falas do sabatinado numa enxurrada de frases que nunca chegavam ao fim.
 
Neste fevereiro, o carrasco de vogais e consoantes conseguiu que os dez ministros que completam o Timão da Toga aprovassem por unanimidade duas invencionices que produziu para consumar a prisão ilegal do deputado Daniel Silveira. Ao expedir um mandado de prisão em flagrante, e justificá-lo com o fantasiosa teoria de que a flagrância só se encerraria quando fosse banido da internet o vídeo promovido a prova do crime, o ministro criou o flagrante eterno. 
Ao decidir que há limites para o artigo da Constituição segundo o qual nada do que diz um congressista pode ser enquadrado como crime, concebeu a imunidade relativa. Deve ser prima da democracia relativa proclamada pelo general-presidente Ernesto Geisel nos anos 1970.
 
Pensando bem, o enigma dos Alexandres nada tem de misterioso para quem sabe como nascem certos livros. 
Para textos, basta contratar um ghost writer discreto e um revisor atento. Improvisos verbais não podem ser terceirizados. Existe um único Alexandre, o torturador do idioma. Só uns poucos jornalistas bem-humorados insistem na tese dos gêmeos univitelinos. Esses juram que, no momento da separação, o Alexandre que escreve levou também o cérebro do Alexandre que fala.

Augusto Nunes, jornalista - Revista Oeste

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

“Querides alunes" - Percival Puggina

Chamou-me a atenção a notícia de que o Colégio Franco-Brasileiro, tradicional educandário carioca, passava a adotar a linguagem de gênero neutro nas comunicações formais e informais. O motivo desse pega pra capar ideológico é dado pela conjugação do feminismo radical com o movimento LGBTQI et alii na sua guerra contra o macho da espécie.
Em nota pública dirigida à comunidade escolar, o colégio disse:

"Renovando diariamente nosso compromisso com a promoção do respeito à diversidade e da valorização das diferenças no ambiente escolar, tornamos público o suporte institucional à adoção de estratégias gramaticais de neutralização de gênero em nossos espaços formais e informais de aprendizagem".

Embora a nota da escola pareça extraída de uma assembleia de militantes, seu inteiro teor informa que ela não “configura a obrigatoriedade da adoção da estratégia” porque “a normatividade linguística de neutralização de gênero (...) ainda evidencia certa restrição a esses usos”. Ou seja, a boa gramática ainda não foi para o lixo seco. Mais adiante, afirma: “A substituição da expressão queridos alunos por querides alunes passa a incluir múltiplas identidades sob a marcação do gênero em “e””. E fica claro o objetivo a ser perseguido. Afinal, diz, “a marcação neutra de gênero compareceu a diversas categorias gramaticais no passado de nossa língua” e “o uso da língua reflete as mudanças pelas quais a sociedade passa”. Abusam da História..

Enquanto conto até 10 vou decidindo saltar a fase dos presumíveis adjetivos, inclusive alguns muito corretamente aplicáveis ao caso. Então, vamos aos fatos. Além do Congresso Nacional, quase todas as Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores do país decidiram excluir a ideologia de gênero de seus planos de Educação. À época em que o tema foi objeto de acaloradas discussões, eu afirmei que para os grupos feministas radicais e para os radicais do movimento gay aquela sucessão de democráticas derrotas legislativas estava longe de significar que o assunto se esgotava. Eles manteriam o objetivo que, em última análise, não pode dispensar a sala de aula. Não pode prescindir do domínio das mentes infantis.

É sobre isso que o Colégio Franco-Brasileiro confabula e é para proteger as crianças disso que nos mobilizamos nacional e localmente contra a introdução da ideologia de gênero nas escolas através dos planos de educação. Levar uma criança ou uma escola inteira a falar de modo incompreensível o vasto vocabulário do “dialeto” de gênero, em construção, exige penetrar no que lhe dá causa: o ideológico e perigoso território do gênero. E o que é pior, do gênero que, ou se escolheria nas circunstâncias do cotidiano, como a echarpe de cada noite, ou na construção do coletivo, por reconhecimento da tribo. 
O produto colhido por essa perversidade serão homens não masculinos, inadequados às mulheres que continuarem sendo femininas.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Miséria, como sempre - William Waack

O Estado de S.Paulo

É a pobreza de milhões de pessoas, agravada pela crise do vírus, que condiciona as agendas

O coronavírus colocou de novo no centro do nosso vocabulário uma palavra que a gente ouve há gerações e não consegue se livrar dela: miséria. O palavreado inócuo de sucessivos governos petistas alardeando exitosa “inclusão social” e “combate à pobreza” já havia sido desmentido pelos números antes mesmo da atual tripla crise política, econômica e de saúde pública – e Lula foi beneficiado por um ciclo de bonança internacional que não se repetirá por gerações.

No meio da pior crise de nossa memória o atual governo está demorando (assim como demorou para se adaptar ao jogo político) para entender que miséria é o fator que condicionará todos os cálculos políticos e estratégicos. Miséria é o que já jogou para o alto o caminho de ação no qual Paulo Guedes insistia ainda naquela semana de março na qual as medidas de emergência foram decretadas. A saber: o de que reformas estruturantes (Previdência, tributária, administrativa, de Estado, etc) produziriam dentro de um horizonte político conveniente, o de 2022, o “destravamento” da economia e consequente combate sustentável da miséria.

Ocorre que ela aumentou antes, e inverteu prioridades. A miséria está sendo agravada por uma crise que evidenciou de forma ainda mais brutal o grau de informalidade e vulnerabilidade de vastas camadas da nossa população, especialmente nas periferias das grandes capitais. Nesse contexto de pobreza gritante e crescente pode-se chamar o conjunto de parlamentares do que se quiser, menos de bobos, e a resposta que articularam até aqui (a de escancarar os cofres públicos) é o reconhecimento político da gravidade de uma situação social que ainda deve piorar antes de talvez melhorar, e não se sabe quando.

Em outras palavras, o dilema imposto ao governo pela miséria do País é como equilibrar o altíssimo custo político de parecer produzir ajuda insuficiente para milhões de necessitados versus o altíssimo custo fiscal de manter programas de renda básica. Diante da claque com que “dialoga” entrando ou saindo todo dia do Alvorada, Jair Bolsonaro já resumiu o problema para o qual ninguém tem solução. “Não tenho dinheiro para seguir nisso muito tempo”, afirmou.

Aproveitou também para repetir que a “culpa” é de governadores, do STF, de “terroristas” manifestantes, da imprensa ou, mais recentemente, da OMS, [convenhamos que a OMS com o recomenda e desrecomenda semeia, a exempto do STF, a INsegurança estratégica do combate à pandemia.] que estaria, por motivos políticos, interessada em “quebrar o Brasil” (desalojá-lo do poder, entende-se). Bolsonaro evidentemente aprecia os benefícios político-eleitorais trazidos por programas de distribuição de dinheiro, conforme demonstram as pesquisas. Porém, reconhece que não há mais espaço fiscal para criação de despesas obrigatórias (como prestação de benefícios desse tipo) – a não ser que se arrisque levar as contas públicas à insolvência.

Na busca desenfreada por uma resposta ao “que fazer” surgem as propostas lacradoras de internet, como a de reduzir salários nos três Poderes. É um poderoso símbolo, mas no mundo dos números ainda insuficiente para combater a miséria. Ou a de colocar na frente de qualquer outra reforma a do sistema tributário, que ajudasse, pela simplificação, a diminuir a informalidade – portanto, ampliando o alcance de benefícios sociais. Como é fartamente sabido, o grande obstáculo a qualquer reforma tributária é a ausência de lideranças políticas capazes de refazer o pacto federativo, fora descascar o abacaxi de equilibrar o jogo de interesses de múltiplos grupos econômicos e corporativistas.

Todos que lidam com história de campanhas políticas lembram da célebre frase de marqueteiros americanos quando tratavam de convencer um candidato à presidência (Bill Clinton) a manter o foco. “It’s the economy, stupid.” No Brasil a miséria impõe outra prioridade. “It’s the social, stupid.” É simplesmente não deixar pessoas morrerem de fome. E a gente achava que já tinha deixado isso para trás.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo