O sucesso das
redes sociais e da mídia alternativa se deve, principalmente, ao
fracasso ético dos grandes grupos de comunicação do país. Se lessem o
que publicam, se assistissem aos próprios programas com olhos de ver e
não com olhos de quem dispara contra um alvo, talvez conseguissem
compreender o fenômeno a que dão causa.
Enterra a si
mesmo em cova rasa, à vista de todos, um jornalismo que silencia perante
prisão de jornalistas, constrangimento de veículos e atos que reprimem
a liberdade de opinião e expressão. Envolto em cortina de silêncio,
tudo isso está acontecendo no país.
Nuvens
escuras da incerteza cobrem os céus da pátria, grandes grupos de
comunicação formam nosso mais ativo partido político e compõem bancada
ao lado do STF.
Menosprezam a liberdade de expressão de seus leitores,
tanto quanto os ministros alardeiam como mérito sua permanente
empreitada “contramajoritária”. Quem diverge é vilão e toda divergência é
vilania.
Esgotam
sobre os próprios leitores o vocabulário, os rótulos e os chavões que
servem como carteira de identidade do grupo que foi varrido do poder em
2018.
[e não voltará tão cedo. ... a roubalheira acabou, ainda que o maior de todos os ladrões tenha sido favorecido com a anulação de suas condenações, a pretexto de que foi denunciado na vara errada ...
o motivo da anulação, impõe duas perguntas:
- e os que são alvos de um inquérito que começou da forma errada = a possível vítima é também o policial que investiga, o promotor que denuncia, o juiz que julga... ?
- Se ser denunciado na vara errada é motivo para ter condenação anulada, um inquérito que começou e segue errado - tanto que o chamam de 'inquérito do fim do mundo' - que o motivo que impede que seja anulado?
Não pode ser esquecido que as condenações anuladas foram vistas e revistas por mais de dez juízes, incluindo colegiados.]
Aliás, nada
é tão parecido com um discurso da tropa de choque petista quanto o
conteúdo de outrora expressivos meios de comunicação. Eu me criei
lendo jornais com enorme tiragem e elevada credibilidade, cujo conteúdo
era enriquecido por opiniões competentes e textos de brilhantes
escritores.
Hoje, fico entre o riso e a tristeza ao perceber a unânime
atenção, o apoio e a fidedignidade que lhes merecem atores bufos da cena
política, como os senadores ficha-suja que encabeçam a CPI da Covid e
ameaçadores ministros que nem mutuamente se respeitam.
Hoje, fico
entre o riso e a tristeza, repito, ao ver como veículos outrora altivos e
independentes cortejam o cesarismo togado da Suprema Corte. E nisso
persistem, mesmo quando ela dilacera a Constituição, mesmo quando faz
“justiça” com as próprias mãos e mesmo que suas convicções durem tanto
quanto sirva às estratégias. [uma das formas que utilizam para fazer "justiça" é interpretar a Constituição de forma a que possam, a pretexto de preservar a Carta Magna e democracia, usar meios constitucionais e democráticos para silenciar os que cometem dois "crimes":
a - pensar diferente dos que se consideram a 'nação', a 'democracia' e a 'constituição';
o "crime", tipificado em 'a' é considerado de lesa pátria e agravado quando quem o comete ousa apoiar o presidente da República = eleito com quase 60.000.000 de votos.]
Veem as
praças coloridas com as bandeiras da pátria comum, ocupadas
pacificamente por famílias, idosos, pais, filhos, jovens. Ouvem-nos
cantar hinos cívicos e rezar pelo bem do país.
Esse
bom povo brasileiro está ali, com seus apelos e seus cartazes, porque
ainda preserva a crença de que a democracia tem ouvidos para ouvir.
Esse povo sabe que as instituições são “da democracia”, a ela devem servir, mas não são, em si mesmas, “a democracia”.
Por sua
militância porém, veículos que eram oráculos de nossos pais a tudo
retratam com as cores da irracionalidade, do desprezo e do ódio.
Dão
mais guarida ao fascismo dos antifas do que à civilizada manifestação
dos conservadores!
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.