Julianna Sofia
Pacotaço e reforma administrativa podem colar em Bolsonaro pecha de demonizador do funcionalismo
A reforma da Previdência de Jair Bolsonaro, prevista para entrar em
vigor na próxima semana, não levou apenas dez meses para ser aprovada e
promulgada. Foram 35 meses de ruminação legislativa sobre mudanças nas
aposentadorias desde que Michel Temer enviou ao Congresso proposta de
emenda constitucional em dezembro de 2016 -- cinco meses depois, o caso
JBS abortava o plano reformista.
O pacotaço de Paulo Guedes (Economia), com medidas drásticas e profundas
para redimensionar o Estado brasileiro, enxugando gastos, cortando
benefícios e extinguindo municípios, precisará de tempo no decantador. A
docilidade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em comprar o kit
completo não ilude. "A proposta é ambiciosa, mas a gente precisa estar empenhado nela. (...)
Estou à disposição para ajudar e continuar falando com todos os atores
para mostrar que isso aqui [pacote] é a favor do brasileiro mais
simples", disse Maia à Folha.
Maia não engoliu o bode na sala da extinção das cidades sem capacidade
financeira, enxertado no pacote sem debate prévio. O deputado também não
gosta da PEC emergencial do Palácio do Planalto, pois já há uma outra
na Câmara de potência fiscal cinco vezes maior. Ele também diverge da
equipe econômica ao defender prioridade no debate da reforma tributária. O pacote, por sua envergadura, não pode prescindir de amplo apoio
político para recrutamento dos votos necessários para sua aprovação.
A autorização para corte de jornada e salário de servidores, suspensão
de promoções e proibição de reajustes salariais proposta na PEC da
emergência fiscal é goma para colar em Bolsonaro pecha de demonizador do
funcionalismo. Não à toa, o presidente fala em aparar arestas e evitar
equívocos ao comentar o adiamento no envio da próxima reforma, a
administrativa --com mais iniciativas impopulares para servidores.
Não à toa, o próprio Maia já fala em aprovação de boa parte das medidas econômicas só depois do Carnaval.