Antes de ouvir Lula, Moro diz que prisão hoje é ‘boato’
No início do depoimento, juiz tenta desfazer boatos de desavença pessoal e risco de prisão
O juiz federal Sergio Moro, que conduz
os processos da Operação Lava-Jato em primeira instância, classificou
nesta quarta-feira como “boato” a informação de que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva poderia sair preso do depoimento que prestou hoje
em Curitiba. O magistrado, que vem sendo sucessivamente acusado por
petistas de direcionar o processo para impedir que o ex-presidente possa
se candidatar nas eleições de 2018, fez a ressalva logo no início da
oitiva.
“O senhor ex-presidente vai ser tratado
com o máximo respeito como qualquer acusado e igualmente pela condição
do cargo que o senhor ocupou no passado. O senhor ex-presidente pode
ficar absolutamente tranquilo quanto a isso”, disse Moro na tentativa de
retirar do depoimento a pecha de “embate histórico”. “Em que pesem
algumas alegações nesse sentido, da minha parte não tenho qualquer
desavença pessoal em relação ao ex-presidente. O que vai determinar o
resultado desse processo são as provas que vão ser colecionadas e a lei.
Vamos deixar claro: quem faz as acusações nesse processo é o Ministério
Público, e não o juiz. Estou aqui para ouvi-lo”, disse Moro.
Ao juiz, o ex-presidente Lula disse que
tinha “consciência” de que não sairia preso da audiência de Curitiba.
“São boatos que não têm qualquer fundamento. Para deixar o senhor
absolutamente tranquilo, lhe asseguro de pronto e expressamente que isso
não vai acontecer”, declarou o juiz.
Ainda antes de entrar nos
questionamentos sobre o caso tríplex, episódio em que o petista é
acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, Sergio Moro alertou que o
ex-presidente deveria estar preparado para “perguntas difíceis” no
processo. De pronto, foi rebatido pelo político: “Não tem pergunta
difícil, doutor. Para quem quer falar a verdade não tem pergunta
difícil”.
Lula foi ouvido na ação penal em que é acusado pelo
Ministério Público Federal dos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro por supostamente ter sido beneficiado com propinas de 3,7
milhões de reais da OAS no caso do tríplex do Guarujá (SP) e 1,3 milhão de reais no armazenamento de seu acervo presidencial.
Na denúncia contra Lula,
os investigadores sustentam que o dinheiro foi desviado de três
contratos da empreiteira com a Petrobras, na construção de duas
refinarias Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e Getúlio Vargas
(Repar), no Paraná. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, as
supostas vantagens indevidas ao ex-presidente são “oriundas do
caixa-geral de propinas da OAS com o PT”.