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sexta-feira, 10 de maio de 2019

Generais sob ataque - O IMBECIL OLAVO DE CARVALHO

Da Virgínia, Olavo de Carvalho age como o imbecil, que ele mesmo consagrou em sua obra:  - desprovido de qualquer freio moral, o filósofo parte para uma briga pública contra os militares e atrapalha o País

Até quando o guru de Bolsonaro vai atacar a República com suas loucuras?

No livro “O imbecil coletivo”, escrito pelo filósofo Olavo de Carvalho há mais de 20 anos, ele acusa os intelectuais brasileiros de terem se corrompido pela “intoxicação ideológica” com a qual “imbecilizaram” seus leitores. Nos últimos dias, ao ultrapassar todos os limites do radicalismo e da insanidade na escalada de ataques sórdidos aos militares, o escritor e guru do governo Bolsonaro demonstra que o imbecil é outro. Ele mesmo. Engana-se quem pensa, no entanto, que o Eremita da Virgínia (EUA), onde reside e dispara seus tuítes desaforados, recheados de desrespeitos, chutes abaixo da linha da cintura e palavras de baixo calão, não age com método. Contraditório na essência, como quem veio para confundir, mas firme em seus propósitos, o ex-astrólogo comanda como um maestro distante, ao menos desde a campanha eleitoral, a ala ideológica do bolsonarismo. 

Com a ascensão de Jair Bolsonaro ao Planalto, seu séquito passou a ocupar postos estratégicos na Esplanada dos Ministérios, mas dois de seus apóstolos em especial justificam a astronômica influência que o ex-astrólogo exerce sobre o presidente da República: os filhos “02” e “03” do mandatário, Carlos e Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Por intermédio deles, numa espécie de atalho afetivo, Olavo ocupa a mente e o coração daquele que foi eleito para comandar os destinos do País por 57 milhões de pessoas, com forte apoio do Exército, mas que, ao que parece, resolveu se deixar governar pelo exército de um homem só – o próprio Olavo.

Foi aliado ao mais aguerrido dos rebentos do presidente, o proverbial Carluxo, que o guru radicado em Richmond superou, na semana passada, as fronteiras da própria petulância – como se as diatribes perpetradas por ele até então já não fossem o bastante. Imbuído de uma volúpia devastadora, Olavo agiu sofregamente na clara tentativa de desmoralizar o núcleo de generais da Esplanada — e, o pior, livre e solto, desprovido de qualquer freio moral. Num dos mais baixos ataques já presenciados na história recente da República, classificou o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, de “bosta engomada” e referiu-se ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas como um “doente preso em cadeira de rodas”, numa alusão à doença degenerativa sofrida pelo general, hoje assessor do GSI. O ideólogo do governo parte do pressuposto — e por isso se movimenta com método — de que a defesa das instituições desempenhada pelos militares os transforma num “inimigo” a ser eliminado no decorrer de um processo ou de uma “cruzada” – que o olavismo chama de “revolução cultural conservadora”. Ocorre que as consequências para o governo das, ao mesmo tempo, indigentes e desenfreadas agressões que visam a atingir o seu objetivo final são imprevisíveis. 

A crucificação de Cruz
Senão vejamos. Santos Cruz foi alçado a alvo preferencial nos últimos dias. Tudo começou com uma operação típica de criação de fake news para alvejá-lo: uma frase do ministro sobre o uso das redes sociais por grupos ideologicamente extremados foi tirada de contexto. Espalhou-se então que ele desejaria censurá-los. Não era verdade. Foi quando Olavo entrou em cena sentando o dedo no teclado contra o general: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controle a sua boca, seu merda”, disse Olavo por meio do twitter no domingo 5. “A internet ‘livre’ foi o que trouxe Bolsonaro até à Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!”, emendou Carlos Bolsonaro. Quando o general retrucou, Olavo desceu ainda mais baixo. “Santos Cruz, não me meça por você mesmo. Você, sem seu cargo e sua farda, é um nada. Eu, pelado e esmagado sob uma jamanta, sou ainda o autor de livros que serão lidos por muito tempo após a minha morte”.

Sob fogo cerrado, na noite de domingo, o próprio general foi tirar satisfação com o presidente. A conversa com Bolsonaro foi tensa e durou 1h30. Santos Cruz, conhecido por não medir as palavras, ameaçou deixar o governo. As ofensas ao colega de farda irritaram de tal maneira a caserna, que provocou uma reação em cadeia de comandantes de todas as armas. Indignado, um integrante militar admitiu em caráter reservado à ISTOÉ que, se não estivesse pensando no País, “pois somos o ponto de moderação disso tudo”, ele “já teria largado essa confusão e ido embora”. ISTOÉ apurou que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi outro que cogitou desertar caso os petardos não cessassem. A ira dos militares contra Olavo ficou explícita também em dois instantes distintos. O Clube Militar, entidade representativa das Forças Armadas, promoveu um ato de desagravo aos generais, afirmando que eles foram atingidos pela “incontinência verbal que, impune, prospera inexplicavelmente em distintas esferas de poder”. Se isso não fosse suficiente, o ex-comandante geral do Exército, general Eduardo Villas Bôas, também saiu em sua defesa. Nas redes sociais, Villas Bôas afirmou: “Mais uma vez o sr. Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas, demonstrando total falta de princípios básicos de educação. Verdadeiro Trotski de direita”. Foi nesse momento que Olavo o classificou de um doente preso a uma cadeira de rodas”. Não havia como se rebaixar ainda mais na escala da degradação moral.

ALTO COMANDO As Forças Armadas querem que Bolsonaro feche a boca do ideólogo-guru e filhos (Crédito:Twitter Gen. Villas Boas)

Em meio à nova crise desnecessária, entre inúmeras em menos de seis meses de governo, restaria saber de que lado da trincheira estaria o presidente da República. A decisão jamais deveria representar uma escolha de Sofia para Bolsonaro. Afinal, de um lado está quem hoje faz a diferença no governo — os militares. Do outro, a vanguarda do atraso. É Olavo quem está por trás da maioria das políticas equivocadas, para não dizer destrambelhadas, da atual gestão. Como, por exemplo, a doutrina da alienação do MECbaseada em cortes injustificáveis de recursos de universidades, no sufocamento do livre pensar e nos ataques às ciências humanas —, e a própria deletéria agenda internacional, levada a cabo pelo chanceler Ernesto Araújo, ancorada no fantasma do marxismo cultural, tese mais do que presente nas aulas online de Olavo. Para não falar também dos insultos cotidianos à diversidade, sustentados por uma ideologia carola que remonta há quase dois séculos. 


Infelizmente, porém, o presidente parece ter pego o bonde errado da história. Por mais que tente escamotear, não é difícil descobrir por quem o coração de Jair Bolsonaro bate mais forte e acelerado. As recentes atitudes do presidente consagram o olavismo como o cânone principal do governo. Por exemplo, o mandatário não moveu uma palha para defender seus auxiliares tratados piores do que esterco humano pelo filósofo. Ao contrário, em almoço com militares, quando muitos esperavam algum sinal de admoestação, Bolsonaro sugeriu que todos permanecessem em obsequioso silêncio. “Olavo é dono do seu nariz”, limitou-se a dizer. 
 O imbecil da Virginia, autoproclamado filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho
As razões do alinhamento quase que automático, pelo jeito, decorrem da gratidão do presidente pelo que considera uma primordial contribuição de Olavo na campanha eleitoral de 2018. Em mensagem postada no twitter na terça-feira 7, Bolsonaro atribuiu ao escritor o “trabalho contra a ideologia insana” dos governos anteriores. “Olavo tornou-se um ícone. Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse ao governo, sem o qual o PT teria retornado ao poder”. Assim, sem cargo ou estrelas no peito, o imbecil da Virgínia reina quase que soberano sobre todos os escalões do poder – e atrapalha o País. Até quando? 


Revista IstoÉ

 

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Transferir escolas públicas para a PM pode ser a solução para acabar de vez com a indisciplina, desrespeito aos símbolos da Pátria e outras mazelas



Escola ou quartel? Colégios transferidos para a PM têm vantagens artificiais, mas é preciso achar soluções democráticas para a indisciplina
A polêmica transferência de escolas públicas para a Polícia Militar está gerando reação intensa de educadores pelo país. A experiência começou em Goiás, e hoje ao menos 18 estados brasileiros têm colégios públicos administrado por PMs. Nesses locais, impera um rígido código militar. Jovens vestem fardas, são obrigados a bater continência para policiais armados, cantam o hino nacional perfilados e decoram gritos de guerra, tal qual num quartel. Também não podem usar brincos, cabelos longos, ficar de mãos dadas no pátio, e por aí vai.

O modelo que tanto causa arrepio na maioria dos educadores tem se espalhado pelo país com a justificativa de que conta com o apoio de muitos pais e, principalmente, devido aos bons indicadores de boa parte dessas escolas nas avaliações de aprendizagem do MEC. 
Esse resultado, porém, foi em grande medida conseguido graças a práticas excludentes. Em alguns desses colégios, governos permitiram que a PM fizesse seleção de alunos no ingresso, escolhendo apenas aqueles de melhores notas.  

É o mesmo que acontece ainda em muitas escolas federais, o que dá a elas uma vantagem injusta na comparação com as escolas públicas tradicionais. É comum nesses colégios da PM também a cobrança de uma taxa. Mesmo com o argumento de que os pais que não podem pagar não sofrem represálias, isso cria um constrangimento e exclui as crianças mais pobres, dando às escolas da PM outra vantagem artificial.

Outro fator que precisa ser levado em consideração é que o rígido código disciplinar acaba expulsando alunos que não se adequam à rotina de quartel. [o aluno é que tem que se adaptar as normas da escola, da sociedade. O contrário é bagunça, estímulo a criminalidade, a vadiagem.] Aqueles considerados problemáticos acabam expulsos para outras escolas públicas ou, pior, abandonam os estudos e engrossam o contingente de jovens fora da escola.

O colunista Helio Schwartsman, ao abordar essa questão em artigo na Folha de S. Paulo, levantou outro ponto pertinente. Quem aprecia esse modelo deve ser livre para escolher colégios assim. O problema é quando a oferta acontece nas redes estaduais ou municipais, especialmente quando uma escola é repassada para a polícia. Se o estado terceiriza um estabelecimento de ensino para a PM, pode então abrir espaço para o Exército, o MST, Igrejas ou outras instituições que também poderiam querer impor a alunos da rede pública seus valores e visões de mundo. [ATENÇÃO: não confundir PM, Exército, Igrejas com organizações criminosas – o MST é uma organização criminosa, um movimento sem registro legal, portanto, sem existência jurídica e que costumeiramente pratica ações criminosas. Ao comparar Forças Armadas, Forças Auxiliares e mesmo instituições sérias com a gang ‘mst = movimento social terrorista’ o colunista pisou na bola e deixou claro sua tendência a estimular a desordem, o desrespeito a valores tradicionais, incluindo familiares.]

Trata-se, como argumentou Schwartsman, de uma violação à ordem republicana. Além disso, acrescento o óbvio: gerir escolas nunca foi atribuição da polícia. [nas condições atuais, em que se tornou rotina alunos agredirem professores pelos motivos mais banais, as escolas notadamente as de primeiro grau  estão se tornando escolas de bandidos.
Não pode ser aceito é que para não violar a ordem republicana – excelente nos países civilizados, em que a criminalidade é a exceção, enquanto que no Brasil está se tornando a regra, a norma – se viole a ORDEM PÚBLICA.]

Há, porém, um fator que não pode ser desprezado, e que apareceu em quase todas as reportagens sobre essas escolas: a maioria dos pais ouvidos, e até mesmo os alunos, demonstram satisfação com a mudança. 

Em muitos desses estabelecimentos, há relatos de filas de espera por vagas. A razão mais citada para demonstrar apoio ao modelo policial é que ele trouxe disciplina a escolas onde, em muitos casos, relatos de violência e desrespeito entre alunos e professores eram constantes. Se a escolha se resume entre o caos completo e uma disciplina rígida, mesmo que autoritária, é compreensível que muitas famílias prefiram a segunda opção.

Para impedir o avanço de escolas em mãos da PM, é preciso capacitar e dar condições a diretores e professores para fazerem uso de instrumentos democráticos para combater a indisciplina. Há exemplos de sucesso, mesmo no Brasil. Mas eles precisam ser melhor estudados e disseminados, antes que mais governos cedam à tentação autoritária de transformar escolas em quartéis. [a democracia é excelente; mas, vez ou outra, não pode ser adotada de forma excessiva, por se tornar prejudicial.
Tudo em excesso, incluindo a democracia, não faz bem.]

Leia aqui um exemplo de diretor que reduziu a indisciplina sem autoritarismo. E veja aqui coluna oglobo.globo.com/sociedade/campeao-de-indisciplina-15474472 que cita estudos sobre o tema.

Por fim, sugiro a leitura desta reportagem de Renata Mariz feita para O Globo no ano passado - Polícia assume escola em área violenta de Manaus e impõe rotina militar - Alunos batem continência e são proibidos de usar celular; só este ano, cinco foram expulsos, mas Ideb melhorou -   onde há inclusive um vídeo que mostra a rotina de uma escola da PM em Manaus, e o relato de pais e alunos sobre a mudança. 


Fonte: Blog do Antonio Gois