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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Porteiro sob pressão para que recue - VEJA - Ricardo Noblat

A pesada mão do Estado


E assim cumpriu-se a vontade do presidente Jair Bolsonaro, que pressionou para isso o ministro Sérgio Moro, da Justiça, que por sua vez pressionou o Procurador-Geral da República Augusto Aras, que por fim acabou cedendo. Tão logo retorne das férias, a não ser que a pressa das autoridades seja tamanha que o obrigue a se apresentar logo, o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, na Zona Sul do Rio, será ouvido pela Polícia Federal sobre o que fez no dia 14 de março de 2018.

Naquele dia, ao final do expediente, o porteiro anotou no livro de ocorrências do condomínio que um cidadão de nome Élcio pedira para ir à casa do mais famoso morador do lugar – o deputado Jair Bolsonaro. E que a entrada fora autorizada por “seu Jair”. Marielle Franco (PSOL-RJ) ainda estava viva àquela altura. Só seria morta à noite, segundo apurou a Polícia Civil, pelo policial aposentado Ronnie Lessa, morador do mesmo condomínio de Bolsonaro, e por Élcio Queiroz, o motorista do carro de Lessa.

Em dois depoimentos à polícia, o porteiro limitou-se a contar o que se passara na tarde daquele dia. Não acusou ninguém. Muito menos tentou envolver Bolsonaro no crime. [envolver não envolveu, mas, depôs atribuindo ao "seu jair", a responsabilidade por autorizar Élcio Queiroz a ingressar no condomínio; 

pacifico que um  porteiro ao se referir a um deputado, usará  o 'doutor fulano' ou o 'seu fulano' - com isso atribuiu que o então deputado federal Jair Bolsonaro  autorizou o ingresso de Élcio - óbvio que o porteiro deve ter sido convencido por alguém muito inteligente a contar tal absurdo, e quem o convenceu, não levou em conta que o atual presidente da República  teria dezenas de provas irrefutáveis que estava em Brasília.
Foi uma mentira e por esta deve responder e se tal conduta produziu outros crimes deve responder por todos.
O que lhe resta é entregar seu mentor.] Á época, Bolsonaro sequer era candidato a presidente da República. Mas em breve quando se vir frente a frente com agentes federais, o porteiro será informado que responderá a inquérito por crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e obstrução de Justiça. E que poderá até ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional. 

O artigo 26 da lei prevê de um a quatro anos de prisão para quem caluniar ou difamar autoridades imputando-lhes crimes ou ofendendo sua reputação. E porteiro, empregado no condomínio há 13 anos, que julgava ter cumprido apenas sua obrigação… Um motorista, testemunha-chave para abertura do processo de impeachment do presidente Fernando Collor, nunca mais conseguiu emprego. O caseiro que testemunhou contra o ministro Antonio Palocci teve seu sigilo fiscal quebrado e quase deu-se mal.

Nem o motorista, nem o caseiro, recuaram do que disseram. Collor acabou cassado. Palocci perdeu o emprego de ministro da Fazenda, e, recentemente, foi preso por corrupção e virou delator. Não se exija do porteiro que siga o exemplo do motorista e do caseiro.
Quando quer, a mão do Estado é pesada.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA 


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Por que só José Dirceu? Por que Lula, não?


Quando o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, julgado, condenado e preso por envolvimento com o esquema do mensalão, perderá sua condição de bola da vez?

A Justiça quebrou o sigilo fiscal e bancário da JD Consultoria, empresa dele. E descobriu que ela recebeu R$ 4 milhões pagos por empreiteiras acusadas de roubalheira na Petrobras. As empreiteiras: Galvão Engenharia OAS e UTC. Executivos delas estão no cárcere da Polícia Federal, em Curitiba. Os pagamentos foram feitos entre 2009 e 2013. Dirceu deixou o governo em 2005.

O ex-ministro reconhece que recebeu o dinheiro. Alega que prestou consultoria às empresas. Ou se prova que ele mente ou de nada poderá ser acusado. Vejam o caso de Lula. Depois que deixou o governo no primeiro dia de janeiro de 2011, passou a prestar serviços às maiores empreiteiras brasileiras. Essas mesmas cujos executivos estão presos.

Ganha das empreiteiras por dois tipos de serviços: palestras que faz aqui e no exterior, e lobby. Ele se empenha junto a governos onde fez amizades para ajudar as empreiteiras a fecharem negócios. Alguma ilegalidade nisso? Nenhuma, aparentemente. Talvez haja aí um problema de aspecto moral. Lula se vale do cargo que exerceu para ficar rico. Presidente americano também age assim.

Por que não se quebra o sigilo fiscal da empresa de Lula que fornece notas fiscais a quem o contrata? Isso poderia ter alguma coisa a ver com a roubalheira na Petrobras?
Afinal, o que distingue as situações de José Dirceu e de Lula?

Fonte: Blog do Noblat - Ricardo Noblat