FRANCO-ATIRADOR - O capitão: o estilo “frita e demite” virou um padrão em seu governo (Sergio Lima/AFP)
E assim cumpriu-se
a vontade do presidente Jair Bolsonaro, que pressionou para isso o
ministro Sérgio Moro, da Justiça, que por sua vez pressionou o
Procurador-Geral da República Augusto Aras, que por fim acabou cedendo. Tão logo retorne das
férias, a não ser que a pressa das autoridades seja tamanha que o
obrigue a se apresentar logo, o porteiro do Condomínio Vivendas da
Barra, na Zona Sul do Rio, será ouvido pela Polícia Federal sobre o que
fez no dia 14 de março de 2018.
Naquele dia, ao final do
expediente, o porteiro anotou no livro de ocorrências do condomínio que
um cidadão de nome Élcio pedira para ir à casa do mais famoso morador do
lugar – o deputado Jair Bolsonaro. E que a entrada fora autorizada por
“seu Jair”. Marielle Franco (PSOL-RJ)
ainda estava viva àquela altura. Só seria morta à noite, segundo apurou
a Polícia Civil, pelo policial aposentado Ronnie Lessa, morador do
mesmo condomínio de Bolsonaro, e por Élcio Queiroz, o motorista do carro
de Lessa.
Em dois depoimentos à
polícia, o porteiro limitou-se a contar o que se passara na tarde
daquele dia. Não acusou ninguém. Muito menos tentou envolver Bolsonaro
no crime. [envolver não envolveu, mas, depôs atribuindo ao "seu jair", a responsabilidade por autorizar Élcio Queiroz a ingressar no condomínio;
pacifico que um porteiro ao se referir a um deputado, usará o 'doutor fulano' ou o 'seu fulano' - com isso atribuiu que o então deputado federal Jair Bolsonaro autorizou o ingresso de Élcio - óbvio que o porteiro deve ter sido convencido por alguém muito inteligente a contar tal absurdo, e quem o convenceu, não levou em conta que o atual presidente da República teria dezenas de provas irrefutáveis que estava em Brasília.
Foi uma mentira e por esta deve responder e se tal conduta produziu outros crimes deve responder por todos.
O que lhe resta é entregar seu mentor.] Á época, Bolsonaro sequer era candidato a presidente da
República. Mas em breve quando se
vir frente a frente com agentes federais, o porteiro será informado que
responderá a inquérito por crimes de falso testemunho, denunciação
caluniosa e obstrução de Justiça. E que poderá até ser enquadrado na Lei
de Segurança Nacional.
O artigo 26 da lei prevê
de um a quatro anos de prisão para quem caluniar ou difamar autoridades
imputando-lhes crimes ou ofendendo sua reputação. E porteiro, empregado
no condomínio há 13 anos, que julgava ter cumprido apenas sua obrigação… Um motorista,
testemunha-chave para abertura do processo de impeachment do presidente
Fernando Collor, nunca mais conseguiu emprego. O caseiro que testemunhou
contra o ministro Antonio Palocci teve seu sigilo fiscal quebrado e
quase deu-se mal.
Nem o motorista, nem o
caseiro, recuaram do que disseram. Collor acabou cassado. Palocci perdeu
o emprego de ministro da Fazenda, e, recentemente, foi preso por
corrupção e virou delator. Não se exija do porteiro que siga o exemplo
do motorista e do caseiro.
Quando quer, a mão do Estado é pesada.