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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Supremo deboche - Augusto Nunes

Revista Oeste

O drama vivido por milhares de brasileiros é tratado como piada pelo comando do Poder Judiciário

 

 Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado/Carlos Alves Moura/STF

Tão previsível quanto a mudança das estações, a troca de guarda no Supremo Tribunal Federal é menos empolgante que festa de batizado na sacristia da igrejinha
A tradição determina que os dois primeiros da fila de 11 ministros, formada pelo critério da antiguidade, sejam alojados a cada dois anos nos cargos de presidente e vice-presidente. 
Sempre pelo placar de 10 a 1: as boas maneiras ordenam que os previamente escolhidos votem nos que irão substituí-los na mudança seguinte. 
Ao divulgar o resultado, portanto, o presidente em fim de mandato está dispensado de identificar os homenageados com o voto solitário. Não precisa, certo?
 
Precisa, sim, decidiu Rosa Weber neste 9 de agosto, na primeira etapa da cerimônia do adeus que se encerrará com a aposentadoria em setembro. O roteiro começou a desandar quando Rosa Weber cismou de enxergar na cerimônia protocolar uma eleição de verdade, só que sem urna eletrônica e com cédulas de papel.  
Foi assim que o que seria uma sessão ligeiramente mais solene acabou transformada numa bizarra mistura de hora do recreio num antigo curso de madureza com happy hour da turma da quarta série 30 anos depois da formatura.

  Todos estavam felizes na quarta-feira mais que perfeita. Barroso transpirava alegria por assumir o comando da tropa que derrotou o bolsonarismo na frente suprema

(...)

Ainda sorria quando ouviu o comentário do também risonho Gilmar Mendes: — Vai colocar esse pessoal num inquérito…

Mero palpite? Sugestão explícita? Outra declaração de guerra? Nada disso, parecia informar a expressão “esse pessoal”, usada pelo decano para referir-se aos dez ministros que haviam imposto a Moraes o primeiro revés em mais de quatro anos de confrontos. O comentário seria remetido ao baú dos chistes e pilhérias em juridiquês se a réplica do artilheiro do Timão da Toga não tivesse escancarado o espetáculo do deboche:

— É que a eleição não foi no TSE…

Moraes ouvira claramente o elogio da desfaçatez, avisou a rapidez da resposta.

(.....)
Só o golpe de 8 de janeiro resultou em mais seis inquéritos secretos, sucessivos recordes na modalidade captura em massa, centenas de prisões sem julgamento, milhares de oitivas sem pé nem cabeça, uma infinidade de castigos arbitrários e a eternização da insegurança jurídica. “Tem muita gente pra prendê, muita multa pra aplicá”, não param de ouvir os botões da toga. 
 
Sobrancelhas e pestanas se cumprimentaram quando a garganta de Barroso qualificou de “luminosa” a passagem da introvertida gaúcha pela Presidência do STF. Ele vai suceder Rosa, mas nem tentará substituí-la. É tarefa impossível, conformou-se, alheio aos dicionários que teimam em garantir que sucessor é a mesma coisa que substituto.

Hoje o Supremo escancarou o DEBOCHE e o DESPREZO com que os ministros tratam a cidadania brasileira. Gilmar Mendes fez uma pergunta jocosa a Alexandre de Moraes ao questioná-lo se iria incluir os colegas “no inquérito” por ter perdido a eleição para vice-presidente do STF. Moraes… pic.twitter.com/EQUT2iJQn3— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) August 9, 2023

Moraes estava feliz desde o começo da manhã, quando soube da prisão preventiva de Silvinei Vasques, ex-comandante da Polícia Rodoviária Federal, acusado de ter dificultado a movimentação de eleitores lulistas no dia da votação em segundo turno. 
A distribuição de mais um lote de tornozeleiras eletrônicas e castigos adicionais foi promovida pela operação Constituição Cidadã. 
Era esse o adjetivo colado pelo deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, ao conjunto de normas aprovado em 1987 e agora em frangalhos. A marcha da insensatez segue seu curso. Já não há limites para o deboche perverso.  
Nem haverá salvação para os desprovidos de compaixão.
 


Leia também “A danação de Dino”

 Coluna Augusto Nunes, Revista Oeste

 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Rojão para a presidente boliviana: “blanquita” contra “índios” - Mundialista - VEJA

 Por Vilma Gryzinski

As tensões étnicas, difíceis de entender para quem é de fora, são componente explosivo para governo interino que caiu no colo de uma senadora desconhecida

Quem é branco, quem é mestiço e quem é indígena na Bolívia?
No Brasil, com o adicional do grande ramo africano, as fronteiras são mais fluídas e as proporções mais distribuídas. .
Mas não é difícil colocar a presidente interina boliviana, Jeanine Áñez, na nossa paisagem humana.

De traços evidentemente miscigenados, ela é uma mulher bonita de 52 anos com todos os acessórios de aprimoramento estético que se pode “comprar na clínica”, como brincam tantas adeptas que podem bancar os custos. Lentes perfeitamente alinhados, cabelos  longos e aloirados, sobrancelhas impossivelmente arqueadas, entre outros atributos. 
Fora a maquiagem extensa,  incluindo cílios postiços no meio de uma crise que deixaria muita gente sem tempo nem cabeça sequer para se olhar no espelho.
Jennifer Lopez poderia interpretá-la, numa versão aumentada da realidade.
Na Bolívia, a presidente que assumiu no vácuo deixado pelo dominó de renúncias, terminando em Evo Morales, é uma “blanquita”. 
E isso é uma das muitas encrencas que caíram no colo de Jeanine Áñez , senadora por Beni, o estado amazônico que faz fronteira com a Rondônia.

 


Até então, era conhecida por defender causas como o combate à violência contra a mulher. É também uma católica tradicional, não daquelas que dão crucifixo com foice e martelo para o papa como fez Evo com um deslumbrado Francisco. Levar uma Bíblia para prestar seu  juramento presidencial, para um mandato precário mesmo em sua interinidade, foi considerado praticamente um ato fascista pela esquerda.
Catolicismo aceitável e até desejável, desse ponto de vista ideológico, é o que venera a Pachamama, como fez o argentino Francisco.
As tensões entre religião tal como era ensinada pela Igreja e os ritos indígenas, passando por todo o sincretismo intermediário, também indicam a oposição entre “blancos” e “índios”.

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CAUDILHOS BÁRBAROS
El Chino”, como era chamado o engenheiro agrícola descendente de japoneses, explorou bem ressentimentos dos “cobrizos andinos” contra a elite branca. Tradução: o escritor que depois ganharia o Nobel de Literatura.
Até há não muitos anos, parecia um axioma que o racismo era uma tara perigosa, que deveria ser combatida sem contemplações, porque as ideias de raças puras, ou de raças superiores e inferiores, haviam mostrado com o nazismo as apocalíptica consequência que esses estereótipos ideológicos podiam provocar”, escreveu Vargas Llosa.
“Mas, de um tempo para cá, graças a personagens como o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e a família Humala no Peru, o racismo ganhou de novo protagonismo e respeitabilidade, e fomentado e abençoado por um setor irresponsável da esquerda, se transformou num valor, num fator que serve para determinar a bondade e a maldade das pessoas, ou seja, sua correção ou incorreção política.”

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Empenhado em “salvar Paris”, cuja fama de centro mundial da elegância conhecia, embora não conseguisse localizar a Franca num mapa, inclusive porque não sabia ler, chamou um general para comandar uma tropa que pretendia enviar para ajudar os franceses.  O general argumentou que seria impossível atravessar o Atlântico e ouviu: “Não seja burro, pegaremos um atalho”.

No começo de seu surreal governo, foi chamado para uma conversa no Palácio Quemado com um ex-presidente, Manuel Izidoro Belzú, que havia voltado para a Bolívia à frente de um movimento de resistência e retomado o controle de parte do país.  Uma multidão favorável a Belzú começou a se juntar em frente ao palácio. Lá dento, Melgarejo já havia rapidamente despachado o rival para o além. 
Diz a lenda que quando a multidão começou a dar vivas a Belzú, Melgarado levou o corpo ainda quente até o balcão do palácio e provocou: “Belzú está morto. Quem vive agora?”
“Viva Melgarejo”, respondeu o populacho.

Diz a lenda também que Melgarejo entregou o Acre ao Brasil, seduzido por um cavalo branco que ganhou do embaixador brasileiro.
É fake news histórica. Foi José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco, o futuro patrono do Itamaraty, que negociou o acordo, precipitado pelos brasileiros que ocupavam o território amazônico e se rebelavam contra a autoridade boliviana.
O cavalo foi um presente dado depois do acordo, que envolveu pequenas concessões territoriais e pagamentos em dinheiro mais altos.




A perda do Acre para o Brasil e, principalmente, a do corredor territorial que dava uma saída ao Pacífico através do Chile ainda são traumas nacionais. Folcloricamente, para quem está de fora, mas como uma questão de honra nacional para quem está dentro, a Bolívia mantém uma Marinha e um comandante da Marinha, embora não tenha mar.
A AMANTE DO PRESIDENTE
Com sua história de golpismo crônico e de horrenda escravização dos aimaras, uma “tradição” que começou com o império inca e foi ressuscitada pelos colonizadores espanhóis, quando o apelo das montanhas de prata foi maior que os princípios morais e religiosos, a Bolívia tem complicadores diferentes dos brasileiros.

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