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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Uma vez, o Flamengo - Fernando Gabeira

Blog do Gabeira

Congresso deveria seguir o Flamengo 

Raramente escrevo sobre esporte. Lembro-me de ter escrito um artigo comparando o Flamengo e o Brasil.  Dizia na época que ambos eram meio caóticos e não cumpriam a promessa de grandeza, apesar de todo o potencial.  Pois bem, o Flamengo deu a volta por cima. O ensinamento dessa virada não deveria, creio eu, limitar-se a um aprendizado apenas no futebol. O Flamengo começou por ajustar suas finanças, o que lhe deu condições de montar uma infra melhor e investir em grandes nomes.

A chegada do técnico Jorge Jesus foi resultado dessa capacidade de investir. Sua filosofia de trabalho acabou dando um sentido maior a todo o esforço. O futebol brasileiro parecia entediante perto do europeu, jogado com intensidade do princípio ao fim da partida. Jesus quer que o time siga atacando até o final, independentemente de estar vencendo com folga. Não era essa a atitude frequente. De um modo geral, os times faziam um, dois gols e tentavam administrar o resultado, ganhando tempo. Com isso, o espetáculo acabava antes do fim regulamentar.

Imagine se um espírito de trabalhar com eficácia todo o tempo fosse transportado para a máquina do governo. Nada se parece mais com o futebol brasileiro do que a burocracia. Muitas jogadas laterais, falta de objetividade, o tempo sentido como a algo a se matar e não uma oportunidade de fazer cada vez melhor. Outro aspecto da filosofia de trabalho de Jesus é impulsionar os limites, algo que existe também no esporte de ponta. Havia um tabu segundo o qual um time que joga na quarta descansa no domingo, ou vice-versa, dando lugar aos reservas.  Por que não jogar duas partidas por semana, com as técnicas de recuperação que existem? Todos temiam o fracasso do Flamengo pela exaustão. E os jogadores seguiram correndo até o final de todas as partidas.

Imagine essa ideia transportada para um Congresso com gana de trabalhar todo o tempo, sem grandes hiatos entre um e outro projeto relevante. O potencial do Flamengo estava na sua grande torcida. Na medida em que o time parecia jogar com seriedade, os espectadores aumentaram. O investimento foi alto, mas o retorno maior ainda da torcida.  Se ampliamos a ideia para um país, vamos compreender um pouco por que os estádios da política andam vazios. O investimento bem aplicado chega na ponta e a resposta das pessoas impulsiona mais ainda.

No caso do derramamento de óleo na costa do Nordeste, esse potencial é visível. Enquanto o governo acusa o Greenpeace, [atualizando: greenpixe ou green piche] centenas de voluntários enchem as praias retirando o óleo, inclusive sem equipamento adequado.  Certos bons jogadores do Flamengo, no passado, não eram escalados sob o argumento de que ocupavam o mesmo espaço no campo. Jesus trouxe a ideia do movimento e flexibilidade e com ela a chance de usar o melhor elenco possível.

Um pequeno preconceito tático impedia a busca do melhor elenco. Se olhamos para a política então os preconceitos se multiplicam. Há centenas de argumentos para impedir que os melhores atuem em conjunto em busca do melhor resultado. Desde a guerra dos egos ao sectarismo ideológico, tudo conspira contra a escalação de um time dos sonhos para buscar uma sucessão de vitórias.  Não sou ingênuo a ponto de supor que um país seja simples como um jogo de futebol. Para começar o esporte tem regras definidas, o campo da política é mais fluido, as próprias regras estão em constante debate.

Mas não é de todo impossível encontrar países, em certos momentos históricos, onde há um grande esforço no sentido de avançar, romper obstáculos.
De qualquer forma, Flamengo e Brasil eram para mim promessas não cumpridas. Ficou faltando o Brasil. Não se sabe ainda quando vai parar de jogar para o lado, perder seus preconceitos, unir talentos, enfim deixar de apenas ser um sonho para o futuro. Imersos no torpor dos trópicos, às vezes precisamos de gente de fora para enxergar o óbvio e, realmente, começar a jogar.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista
 

Artigo publicado no jornal O Globo em 28/10/2019

 

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Flamengo de Jesus recupera o prazer de desfrutar o futebol no Brasil - UOL

Rodrigo Mattos

Ao se assistir ao Flamengo no estádio, é perceptível que não há nada de aleatório no time. Os movimentos e posicionamentos fazem sentido, as jogadas são executadas como se ensaiadas fossem, os jogadores sabem todos o que têm de fazer e são hoje melhores do que eram há dois, três meses. O futebol é intenso, empolgante, vertiginoso. É o efeito do técnico Jorge Jesus.  Essa é a explicação pragmática que se atém ao que faz uma equipe de futebol funcionar (ou não). Há outra análise pertinente a partir daí que é: o que esta equipe representa na história recente do futebol brasileiro e se deixará um legado.

Conversei sobre isso com o colega PVC
, uma das nossas melhores cabeças para o assunto, em um Maracanã em êxtase. Ele me lembrou o Santos de Neymar como um time tão móvel no ataque quanto esse do Flamengo. Eu lembrei do Cruzeiro de 2013/2014 como um time tão dominante no Brasileiro, e também uma máquina ofensiva.  Bem, esse Flamengo é melhor do que aquele Cruzeiro, por ter jogadores mais dotados tecnicamente e por jogar com ousadia quase o tempo inteiro. E aquele Santos tinha um craque que o Flamengo não tem em Neymar, mas não tinha o nível igual em todas as outras posições, nem a exuberância na movimentação ofensiva.
 
[falando em Neymar, fica dificil não prolongar o assunto sobre os méritos do preferido do ainda treinador Tite.
Quais méritos?
- 100 partidas pela Seleção - fácil de alcançar quando é sempre escalado pelo técnico, mesmo quando está totalmente sem condições técnicas de jogo; 
- nunca foi Campeão do Mundo, Copa do Mundo FIFA;
- nunca foi eleito melhor jogador do mundo - títulos que sobram em Messi e Cristiano Ronaldo;
- tem fama de cai-cai e é ousado - se considera merecedor dos privilégios que recebe no timinho brasileiro.]

Difícil colocar marcas de tempo, anos, década. Mas a verdade é que não víamos um time que nos desse prazer como esse Flamengo há um longo período. E por que? Não nos faltam, nem faltavam, talentos. Mas estamos estagnados, incapazes de repetir o futebol belo de um passado distante porque já não cabia em um esporte que se modernizou e igualmente incapazes de reproduzir a nova beleza que se criou lá fora. Estamos como artistas decadentes olhando um concerto de um novo talento da calçada.

E então um português veio nos mostrar - e antes um argentino no Santos com um elenco inferior, diga-se – que podemos voltar a sentir prazer no futebol. Que futebol não é saber sofrer é saber desfrutar.  Veja o jogo diante do Galo. Havia ali uma linha de cinco defensores atrás, outra de mais quatro à frente e um atacante. Em dado momento, o Atlético-MG meteu 11 na área. Justo se assim lhe apetece.O Flamengo trabalhava a bola, nenhum chuveirinho daqueles de qualquer jeito. O passe da ponta era para o canto da área, a triangulação pela lateral, até achar o espaço preciso, como quem desenha ângulos com jogadores nos lugares de esquadros e compassos.

Esse mecanismo era em favor desse talento individual que tanto produzimos e vendemos para fora. Vitinho acha um drible e um chute, um garoto de 17 anos mata o jogo, e Arão ganha todas as bolas com a facilidade de quem joga com crianças porque está sempre no lugar certo.  Ao final, Jesus observou que seu trabalho só criará raízes no futebol brasileiro se for vencedor. É fato, aqui só se acredita na vitória. Mas já não se pode negar que o português nos trouxe de volta algo que havíamos perdido, esse prazer de ver uma graça no futebol, algo que nos enche os olhos para além do pragmatismo de vencer.
 
Rodrigo Mattos - Blog no UOL

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Time de Jesus respeita DNA do Flamengo ao buscar gol até o final - Rodrigo Mattos

Blog do Rodrigo Mattos - UOL


Com a goleada sobre o Goiás, o Flamengo tornou-se o melhor ataque do Brasileiro com 21 gols, dois a mais do que o Palmeiras. É a maior marca ofensiva do time rubro-negro nesta etapa do campeonato nos últimos dez anos. O técnico Jorge Jesus deixou claro que sua filosofia é se expor aos riscos pelo ataque. 
Foi em outra arrancada em 2008 que o Flamengo tinha ataque superior ao atual em 10 rodadas. Na ocasião, obteve 22 gols na campanha em que se destacava como líder, e depois degringolou. No ano passado, sob comando de Barbieri, o time era o primeiro da tabela na 10a rodada, mas com 18 gols.

É apenas a segunda partida do Flamengo sob o comando de Jesus. Mas ele já traçou um time que vai respeitar o DNA ofensivo rubro-negro, especialmente no Maracanã. Após o jogo, afirmou: "Nos expomos ao risco pela minha forma de olhar o jogo, o fácil é defender com muitos. Difícil é defender com poucos, mas devemos nos expor aos riscos."  Como já ensaiara no jogo diante do Athletico-PR, Jesus colocou sua linha de defesa bem avançada para reduzir o campo e obter a retomada de bola na frente. De positivo, a pressão ofensiva resultou no primeiro gol em que o passe forçado da defesa do Goiás parou em Araão que armou o contra-ataque que acabou no gol de Arrascaeta. De negativo, a linha ainda não está bem treinada e portanto deu espaços nas costas das laterais.

O que se viu de diferente no Flamengo no Maracanã em relação à Arena da Baixada foi a movimentação ofensiva com a bola. Seja na retomada de bola pela marcação pressão, seja como o time rodando a bola, o Flamengo soube achar os espaços na defesa nas triangulações.  A presença dos três meias Diego, Everton e Arrascaeta foi essencial, pois Diego soube fazer uma função que se assemelha a segundo volante. Já tinham jogado juntos em determinadas passagens com Abel Braga, mas em geral com dois volantes por trás. Em sua posição ideal, na esquerda, com aproximações, Arrascaeta apresentou sua melhor versão no time carioca.

Com a escalação desse domingo, podiam servir e tabelar com dois atacantes. Era impressionante como havia jogadores do Flamengo na área para concluir a gol, foram quase 20 finalizações certas. E foi assim até o final mesmo com a goleada definida no primeiro tempo. O desenho rubro-negro deve variar já que Jesus prevê rodar jogadores – trocou quatro de sua estreia diante do Athletico-PR. A única certeza é de que o time não vai abrir mão de atacar de forma intensa: vai perder ou ganhar desse jeito.


UOL - Blog do Rodrigo Mattos