A
preocupação nas hostes bolsonaristas com a pesquisa Datafolha de segunda
foi substituída nesta terça pela euforia.
Se, no levantamento que
aquele instituto fez, tabulou e divulgou na própria segunda, o candidato
Jair Bolsonaro (PSL) havia se movido pouco nas intenções de voto no
primeiro turno e até piorado seu desempenho no segundo em relação à
sondagem de três semanas atrás, os números do Ibope que vieram a público
na terça indicaram uma mudança expressiva no ânimo do eleitorado. De
saída, note-se uma diferença entre as duas pesquisas: os questionários
do Datafolha foram aplicados em um só dia; os do Ibope, em três: 8, 9 e
10. Em tese ao menos, o impacto com a notícia da facada era menor na
segunda, quando o Datafolha aplicou seus questionários, do que no sábado
e no domingo, quando o Ibope aplicou parte dos seus. Os dois
levantamentos têm margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.
Assim, pode-se dizer que não chegaram a números muito diferentes no
primeiro turno. Mas eles trazem diferenças significativas no segundo.
Mais: em relação aos dados divulgados pelo próprio Ibope em 5 de
setembro, um dia antes do ataque, há mudanças significativas.
Antes que
falemos dos números, um registro. As hostes bolsonaristas nas redes
sociais só não chamaram o Datafolha de santo. A pesquisa faria parte de
um grande complô mediático, em conluio com as esquerdas, para impedir a
eleição do “mito”. E, por óbvio, o Ibope, que já apanhou bastante da
turma também, trazia, desta feita, a verdade revelada. Não há nada de
novo em falar mal de pesquisas de que não se gosta e bem daquelas de que
se gosta. O que chama a atenção sempre no eleitorado fiel de Bolsonaro é
a violência retórica contra tudo aquilo que não é de seu gosto. Aos
números.
No Ibope,
Bolsonaro aparece com 26%. Teria ganhado quatro pontos em relação ao
levantamento divulgado no dia 5. No Datafolha, veio com 24%, com
acréscimo na comparação com 22 de agosto de dois pontos. Ambos os
institutos registram o quadruplo empate no segundo lugar, mas com
números distintos, ainda que dentro da margem de erro: no Datafolha,
Ciro Gomes (PDT) oscilou de 9% para 13%; Marina Silva (Rede) caiu de 16%
para 11%; Geraldo Alckmin oscilou de 9% para 10%, e Fernando Haddad
(PT) saltou de 4% para 9%. No Ibope, Marina vai de 12% para 9%; Ciro, de
12% para 11%; Alckmin mantém os 9%, e Haddad, de 6% para 8%.
Reitere-se: Datafolha e Ibope fazem o mesmo retrato do primeiro turno,
mas com diferença de tons. Bolsonaro aparece com mais nitidez no
levantamento desse segundo instituto; os adversários, com menos.
Os números
de segundo turno do Ibope é que animaram os partidários do capitão
reformado. Há uma mudança significativa em relação ao levantamento do
próprio instituto divulgado no dia 5. Registram o candidato do PSL em
empate técnico com seus principais oponentes. Bolsonaro perdia para Ciro
por 44% a 33%; no números desta segunda, por 40% a 37%; era derrotado
por Alckmin por 41% a 32%; agora 38% a 37%; os 43% a 33% em favor de
Marina Silva viraram empate em 38%; e a vantagem de apenas um ponto em
relação a Haddad, 37% a 36% seria agora de quatro pontos: 40% a 36%. Com
números colhidos na segunda, o Datafolha aponta Bolsonaro batido por
Ciro por 45% a 35%¨; por Alckmin por 43% a 34%; por Marina, por 43% a
37% e, numericamente, até por Haddad: 39% a 38%, em empate técnico.
Também no Ibope, Bolsonaro segue líder na taxa de rejeição, com 41% —
era de 44% no dia 5; no Datafolha, 43%. [alguns eleitores, entre os quais me incluo, tem curiosidade em saber como se vota em taxa de rejeição na urna eletrônica - a tal taxa está sendo mais importante do que o voto no candidato.
Óbvio que em alguns casos a rejeição realmente significa não votar no candidato que rejeita, mas, muitas vezes por falta de opção se escolhe o famoso MENOS PIOR, opção que torna inútil apurar a taxa de rejeição.]
Nesta
sexta, o Datafolha divulga os números de uma nova pesquisa, com os
questionários aplicados na quinta (13) e na própria sexta (14), oito
dias depois do ataque ao deputado e com duas semanas de horário
eleitoral no rádio e na televisão. Por quanto, como dizia o poeta, a
firmeza só está mesmo na inconstância.
Blog do Reinaldo Azevedo