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domingo, 28 de agosto de 2022

Sinatra, os grandes estoques e a bolha furada - Alon Feuerwerker

Análise Política

A palavra “polarização” incorporou entre nós o atributo da ubiquidade. É a descrição de tudo, a explicação para tudo. Faz algum sentido, pois a disputa eleitoral aparece monopolizada não apenas por um presidente e um ex, mas por dois líderes de massa. Duas circunstâncias originais nas eleições brasileiras desde a retomada do voto direto presidencial em 1989.

Talvez a polarização explique a notável estabilidade dos números, que aguardam agora os possíveis efeitos das entrevistas e debates, mas principalmente dos programas e inserções no rádio e na TV. Uma consequência da estabilidade é jornalistas e analistas encararem a dura tarefa de ocupar espaços e desenvolver análises a partir de oscilações dentro das margens de erro. Não está fácil para ninguém.

Mas foi dada a largada das grandes entrevistas e debates, e do horário eleitoral, e na nova etapa do jogo a atenção volta-se ansiosa para os impactos nas pesquisas, efeito que possivelmente demore um tantinho, à espera da natural decantação dos efeitos da propaganda oficial das campanhas e da maior exposição dos contendores.

Sobre este último ponto, escrevi há poucos dias em Boxe sem programa”.

Uma curiosidade é se a renovada exposição permitirá à dita terceira via ganhar massa crítica para criar um fato novo. [Tem terceira via? com aquela senhora  que facilmente se desestabiliza, uma descompensada? já que o 'coronel' paulista, um mentiroso - mente até sobre o estado no qual nasceu - é uma Marina Silva e um Alckmin = perdedores natos.]  Até agora não aconteceu. Ciro Gomes (PDT) continua estacionado em seu público fiel, na esperança de, pelo menos, não sofrer um ataque especulativo fatal na véspera do primeiro turno. A pressão vinda da esquerda com o argumento de não dar sopa para o azar será (está sendo) grande.

Simone Tebet (MDB) fez uma boa entrevista no Jornal Nacional da TV Globo, mas ainda precisa mostrar musculatura eleitoral para animar os cerca de 10% do eleitorado que não admitem votar nem em Luiz Inácio Lula da Silva nem em Jair Messias Bolsonaro. A terceira via continua repetindo a saga das sempre anunciadas e nunca concretizadas visitas de Frank Sinatra ao Brasil.

Mas um dia Sinatra acabou vindo

Um paradoxo da eleição: ela está dominada pela polarização, mas a chave para a vitória de um ou outro candidato depende de alguns grandes estoques de voto nos quais a disputa não está polarizada. São as mulheres, os pobres e o Nordeste. Nos três contingentes, Lula está muito à frente de Bolsonaro. [será??? vamos aguardar a única pesquisa que não falha = abertura das urnas e  contagem dos votos.]

Para fechar a atual diferença contra Lula, Bolsonaro não precisa virar o jogo nesses estoques, basta reduzir a diferença. Cada redução aí impacta com boa força no quadro geral. E é razoável supor que onde a diferença entre os dois é muito grande há mais facilidade para produzir movimentações eleitorais relevantes.

Desta semana em diante as pesquisas começarão a mostrar o efeito da maior exposição dos candidatos e do início da campanha eleitoral oficial.

Nas eleições recentes, os incumbentes e situacionistas em busca de fazer o sucessor cresceram no período, pela possibilidade de furar a bolha da cobertura negativa (ou crítica, conforme o gosto do freguês) de imprensa. [com raras exceções, a imprensa com suas narrativas mente aumentando as pesquisas que já não possuem credibilidade.] Vale acompanhar para saber se Bolsonaro vai repetir o roteiro.

Se conseguir, a eleição vai apertar.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


domingo, 27 de março de 2022

Os partidos vão contar? - Alon Feuerwerker

Análise Política

A caminho do fechamento da janela de trocas partidárias, quem mais vem se beneficiando na migração de deputados são as legendas que devem dar sustentação a Jair Bolsonaro na corrida para a reeleição: o partido dele, PL, mais o Progressistas e o Republicanos. Normal. Governos sempre têm capacidade de atrair políticos, e a isso se soma o fato de o presidente ter chegado competitivo a esta etapa do processo.

Candidatos à reeleição no Parlamento beneficiam-se da proximidade com o governo, mesmo que a recente anabolização das emendas dos congressistas ao Orçamento Geral da União tenha injetado boa dose de autonomia na vida de deputados e senadores. 
O Estado no Brasil tem ubiquidade, e influir nas decisões do poder sempre ajuda a alavancar trajetórias políticas e a dar-lhes sustentação no tempo.

Mas qual será o peso real das estruturas partidárias na eleição presidencial? Em tese, relativo. É bem mais provável que o eleitor escolha um parlamentar por este apoiar o candidato a presidente do que decidir votar em alguém para o Planalto porque o deputado ou o prefeito pediram ou mandaram. O voto é secreto. A escolha do candidato a presidente é a esfera de decisão política em que o eleitor costuma exercitar sua independência em maior grau.

Mas estruturas partidárias importam. Mesmo em 2018, quando Jair Bolsonaro se elegeu por uma microlegenda, por todo o país os partidos e políticos do campo que vai do centro à direita, pegando inclusive franjas à esquerda, conectaram-se na composição do hoje presidente. Não houve alianças formais, mas realizaram-se alianças políticas na vida real. Que costumam pesar bem mais na hora do vamos ver.

E há agora em 2022 a particularidade de um presidente candidato à reeleição não ter como colar no papel de outsider. 
Precisará de tempo de televisão e rádio para defender seu governo. 
Claro que as redes sociais são um campo decisivo da luta, mas não se deve subestimar o efeito do rádio e da televisão.

Depois da facada de 6 de setembro, Jair Bolsonaro teve 15 dias de exposição positiva quase 24 horas no ar. É um erro achar que a televisão e o rádio não tiveram influência na eleição de 2018.

Pelas contas de hoje, e sabendo que o tempo de televisão e rádio é calculado segundo o tamanho das bancadas eleitas para a Câmara em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro já garantiram cerca de 20% cada um. Se os muitos nomes do espaço intermediário se juntassem, também garantiriam uma fatia considerável do bolo. Mas até o momento não há sinais. Convém, entretanto, esperar, a eleição está longe ainda.

*

 E por falar em centro, está realmente em curso uma articulação ampla para tentar que todos renunciem em favor de um só. O nome do momento é Eduardo Leite. Mas até Luiz Henrique Mandetta pode voltar a ter algum papel. A operação não é fácil, mas tampouco impossível. A decisão, a acontecer, ficaria a cargo dos presidentes dos partidos envolvidos. O que contornaria eventuais resistências em uma ou outra legenda.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político