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terça-feira, 22 de março de 2022

O clínico geral da humanidade - Revista Oeste

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock 
 
 O Siou da Faizer disse que será necessária a aplicação da quarta dose da vacina que ele produz e vende. Ele não disse isso a um vizinho ou a um amigo da família. O Siou da Faizer disse isso ao mundo.

E o que fez o mundo? Dobrou-se em respeitosa audição e jogou a “informação” nas manchetes. Se o Siou da Faizer falou, tá falado.

É um momento libertador. Chega de intermediários. Agora você entende por que é tão difícil encontrar no noticiário (ou em qualquer lugar) referências a todos os plenamente vacinados que se hospitalizaram ou morreram de covid (ver por exemplo UKHSA Vaccine Surveillance Report — óbitos em fevereiro na Inglaterra). Não é pra falar disso mesmo não. Seria uma indelicadeza com o Siou da Faizer, benfeitor de tanta gente. Então bico calado e vamos à quarta dose.

A vida ficou muito mais simples. Era uma burocracia danada esse negócio de depender de médicos — um pra cada problema. Felizmente isso acabou. Agora você já sabe o que fazer. Espirrou? Tossiu? Dor de cabeça? Dor de corno? Fica tranquilo. Espera a próxima declaração do Siou da Faizer e seus problemas acabaram.

O ser humano não é tão complexo assim. Se você tomar certinho todas as doses da vacina de covid que o Siou da Faizer te mandar tomar, suas chances de felicidade aumentam muito. Duvida? Então olha as manchetes à sua volta e veja a verdade suprema reluzindo como um letreiro de neon na sua cara: 
a vacina de covid é boa; a vacina de covid é ótima; 
a vacina de covid é segura; a vacina de covid é eficaz; 
a vacina de covid é a solução; a vacina de covid é o salto civilizatório; 
a vacina de covid corrige geneticamente a sua imunidade que era uma porcaria, como tudo que é selvagem e não recebeu ainda o upgrade do Bill Gates; 
enfim, a vacina de covid é uma coisa que… sei lá, nem tenho palavras. Fico até emocionado.

O Siou da Faizer tem imunidade judicial contra efeitos adversos da vacina que ele vende

Com esse grau de rigor científico você pode voltar a viver tranquilo, recuperando a fé na espécie humana que você havia perdido quando ainda não era uma pessoa triplamente vacinada, ou quadruplamente vacinada, distinguindo-se dos quadrúpedes que não entendem o que diz o Siou da Faizer. Quando você for quintuplamente vacinado vão te deixar até entrar numa palestra do Bill Gates sem máscara — para você assistir embevecido à profecia sobre a próxima pandemia, da qual você só vai escapar se estiver com o “esquema vacinal completo”.

O esquema vacinal é a coisa mais moderna que existe. Quem não está no esquema está morto. Não tem nem conta em rede social. Não tem facilidades, não tem carinho da burocracia bilionária, não tem nem direito a trabalhar — nos lugares (a maioria) em que o esquema foi implantado de maneira correta. Entre no esquema e seja feliz.

Saboreie a visão desses sujos do lado de fora mostrando o avanço das miocardites, das tromboses, dos AVCs, dos infartos ceifando vidas jovens e saudáveis logo após a vacina de covid — e é claro que você sabe que não tem nada a ver uma coisa com a outra, porque se as manchetes não disseram nada é porque o Siou da Faizer achou tudo normal. Ele tem imunidade judicial contra efeitos adversos da vacina que ele vende — e isso só pode ser sinal de que o produto é seguro.

Modernidade é simplicidade. Acabou aquela burocracia de consultar OMS, Sociedade de Infectologia, Ministério da Saúde, Anvisa, clínico geral, cardiologista, neurologista, pediatra e outros intermediários. Basta a mensagem do Siou da Faizer — o resto será repetição. Tenha sempre à mão o seu documento único de cidadão no esquema. E não se esqueça: se precisar de um médico, procure um empresário.

Leia também “Bomba e purpurina”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste  

 

domingo, 25 de abril de 2021

A Constituição e o Kama Sutra - Revista Oeste

Guilherme Fiuza, jornalista 

Um togado com vontade férrea pode até dizer que o roubo do pré-sal só pode ser julgado em vara submarina

Depois que o Supremo Tribunal Federal reabilitou politicamente Lula, condenado a mais de 20 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o mundo do crime ficou mais leve. 
Não pense que é fácil você passar anos da sua vida assaltando e depois não ter paz para desfrutar tudo que você conquistou com o suor alheio. O STF resolveu essa injustiça e agora muita gente que estava vivendo nessa insegurança jurídica — na dúvida se precisa ou não continuar fugindo da polícia — está resolvendo a sua vida também.

Depois que o Supremo Tribunal Federal reabilitou politicamente Lula, condenado a mais de 20 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o mundo do crime ficou mais leve. Não pense que é fácil você passar anos da sua vida assaltando e depois não ter paz para desfrutar tudo que você conquistou com o suor alheio. O STF resolveu essa injustiça e agora muita gente que estava vivendo nessa insegurança jurídica — na dúvida se precisa ou não continuar fugindo da polícia — está resolvendo a sua vida também.

O ex-ministro Guido Mantega já obteve um bom upgrade com a turma do Gilmar — que, conforme já assinalamos, é uma turma que não entra em briga para perder. Mantega não foi ministro do sítio de Lula, mas foi ministro da Fazenda de Lula, o que não é pouco. Tomar conta do dinheiro num governo que virou quadrilha dá trabalho. E ele ainda continuou por lá com Dilma, aquela que caiu por pedalar — ou seja, por transformar contabilidade fiscal em ficção científica. Imagina a trabalheira que esse pobre ministro não teve.

Gilmar foi compreensivo e passou uma borracha nisso tudo — ou ao menos em parte disso. O recurso usado foi aquele mesmo que consagrou Lula como o ladrão mais honesto do país:  
afirmar que a tramoia foi julgada pelo juiz errado. 
É uma tecnologia fantástica que economiza um trabalhão para ficar negando crimes flagrantes que todo mundo viu. Isso é muito desgastante — mas acabou. Nem é mais preciso falar de crime. Basta falar de “competência” — e “plim”, some a dor de cabeça.
A “competência” do juízo que condenou Lula já tinha sido confirmada até em tribunal superior. 
Mas isso não é nada diante da vontade de ajudar os homens de bens. 
E vamos combinar que a sociedade está meio aparvalhada mesmo com a normalização da pancada em quem anda na rua, a assimilação do toque de recolher ditatorial como gesto de “empatia” e a onda de tarados querendo transformar em cidadão de segunda classe quem não tomar agulhada com aquela poção mágica feita na velocidade de um hambúrguer. O que é uma doce hipnose jurídica diante disso tudo? Relaxa.
Alvo da Operação Pentiti da Lava Jato, Mantega foi iluminado pelo farol de Gilmar e sua turma, que enxergaram imediatamente problemas de “competência” na investigação do ex-ministro. E lá se foi outro processo para gavetas bem mais competentes. A tese é aquela: a vara de Curitiba só pode julgar delitos relativos à Petrobras. 
Como você e todo mundo sabe, a Petrobras era só o centro de um sistema de corrupção montado no Palácio do Planalto e executado em escala nacional (e internacional). 
Mas um togado com vontade férrea pode até dizer que o roubo do pré-sal só pode ser julgado em vara submarina. 
Eles descobriram que competência territorial é um poder extraterreno. [aliás, falando em competência extraterrena, dizem as más línguas (não endossamos nem desadoçamos) que já está com o ministro especializado no STF, em competência territorial e temporal,  projeto de decisão monocrática, alterando a competência terrena do STF passará a alcançar toda a Via Láctea. O que está complicando é que esse ajuste, que envolve ano-luz, complica muito. 
Um ano luz demora demais a passar e talvez quando a decisão chegar ao extremo da Via Láctea, o estremo já tenha mudado. É complicado, mas...]

O ex-ministro de Lula era investigado, entre outras coisas, por supostamente ordenhar os arquivos de contratos da Petrobras para preparar pedidos de propina aos fornecedores. O STF está certíssimo: fornecedor da Petrobras não tem nada a ver com Petrobras. Cada um na sua — e a propina na minha, que ninguém é de ferro.

Fica combinado assim: quem tiver sido pego com dinheiro roubado na cueca deve pedir imediatamente ao STF a averiguação de competência judicial. [vai dar rolo..... o Zé Guimarães, aquele petista que inaugurou o transporte de dólares na cueca, vai pedir ao STF averiguação e vai parar tudo. Afinal, o parlamentar perda total, integra a comissão da covid-19. 

O meliante que está sendo investigado na área de jurisdição do flagrante pode pedir a suspensão do processo porque o roubo foi em outra localidade. Questão de competência. 
Mas, se o roubo tiver ocorrido desgraçadamente na mesma localidade do flagrante, não é o caso de perder a esperança: o dinheiro estava na cueca, portanto a cueca é o local do crime. Se ela for importada, o juiz natural do processo não pode estar no Brasil.

Entendeu? A diferença da Constituição para o Kama Sutra está no intérprete. No moderno direito nacional, em se plantando tudo dá.

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste