Rodrigo
Janot denunciará presidente da Câmara por corrupção, ampliando seu isolamento
político
Na
opinião de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO,
a imagem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sairá arranhada
desse processo assim como sua posição de líder no Congresso. Cunha, no entanto, não deve regredir nem
baixar o tom em suas aparições. Renúncia não será uma opção no horizonte. A aposta dos especialistas é que o atual
presidente da Câmara fará exatamente o oposto: reagirá ferozmente, detonando novas pautas-bomba e criticando ainda
mais o governo Dilma. — Ser
denunciado será uma mácula enorme na imagem de Cunha. Ele vai ter que se
defender, e essa é a pior coisa que pode acontecer a um político — diz
Eugênio Giglio, professor da ESPM Rio. — A
pressão para que ele renuncie à presidência da Câmara será muito grande, mas é
bastante improvável que ele adote essa saída. Pelo contrário, acho que sua
ruptura com o governo será total.
— Cunha não vai renunciar de
jeito nenhum —
acredita David Fleischer, professor do Instituto de Ciência Política da UnB. — Ele vai continuar comandando a Câmara com
mais raiva e mais vigor. A dose de ódio dele com o governo deve aumentar.
Podemos esperar mais pautas-bomba.
No
Planalto, a expectativa é que Cunha coloque de pé uma “agenda de vingança” contra Dilma.
Apesar das dificuldades neste primeiro momento, a aposta do Planalto é
que, a médio prazo, a denúncia será boa para o governo. Ministros próximos à
presidente acreditam que, com as acusações, a tendência é que o presidente da
Câmara se enfraqueça politicamente. - É imprevisível quanto tempo ele aguenta.
Muitos deputados vão permanecer ao seu lado, mas a Casa sofrerá um desgaste por
ter um réu como presidente. Isso passa a contaminar os parlamentares —
avaliou um auxiliar palaciano.
Para o
cientista político e coordenador do Grupo de Investigação Eleitoral da Uni-Rio,
Felipe Borba, a notícia da denúncia é “muito
boa” para o governo. — Ela enfraquece
seu principal opositor e pode até levá-lo a deixar a Mesa da Câmara — afirmou. — É bem provável que Cunha se transforme no
alvo das manifestações pró-governo que estão agendadas para acontecer hoje, por
exemplo. Isso divide o foco das atenções. [esse tal
Felipe falou bobagem; as manifestações de hoje, somadas todas, não reuniram nem 20.000 militantes
petralhas.]
A reação do PMDB ante a denúncia
da Procuradoria Geral da República ainda é uma incógnita aos olhos dos
cientistas políticos. Há quem
diga que o partido colocará o presidente da Câmara "para escanteio", repetindo o que fez com Renan Calheiros
em 2007. Há quem diga que Cunha é
peça-chave da sigla e que não chegou à cadeira que ocupa sozinho.
Para
todos, no entanto, a tramitação dessa denúncia no Supremo Tribunal Federal é
fundamental para o reequilíbrio das forças em Brasília. — O desenlace destas denúncias é essencial para que o sistema político
volte a ganhar prumo — diz Fernando Limogi, professor do Departamento de
Ciência Política da USP. — As relações
entre o governo e sua base nunca estiveram azeitadas no segundo mandato da
presidente Dilma. Cunha não é o único fator que desestabiliza esta relação. Mas
tem grande peso.
No PMDB, o clima é de cautela. — Qualquer cidadão pode ser alvo de inquérito, pode ser
denunciado e tem a presunção de inocência. O presidente da Câmara não está nem
acima nem abaixo disso — afirmou o líder do PMDB, deputado
Leonardo Picciani (RJ), aliado de Cunha.
Um
integrante da cúpula partidária disse que, desde que ele foi citado na
Lava-Jato e, posteriormente, rompeu com o governo, peemedebistas impuseram um
distanciamento. A tendência é que, em um primeiro momento, o PMDB se solidarize
e dê tempo para ele se defender, mas busque deixar claro que os eventuais erros
foram cometidos por Cunha, não pelo conjunto do partido. — Ninguém quer se contaminar. Deputados próximos se afastaram
gradativamente, temendo ser atingidos. Vão esperar para ver as reações de
Cunha, do governo e da oposição para definir que caminho seguir — disse um
peemedebista da cúpula do partido.
A
cúpula do PT também estava cautelosa. Dirigentes petistas afirmavam que ainda é preciso saber se o
STF vai acolher a denúncia.
Fonte: O Globo