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sexta-feira, 29 de abril de 2016

José Nêumanne: O carcará e o ratinho



Renan proseia com adversários na guerra de petralhas e petistas para garantir a própria impunidade e tirar proveito político
O sobrenome Calheiros tornou-se notório no noticiário policial dos telejornais no começo dos anos 1980, mercê do conflito sanguinário iniciado com a morte de Henrique Omena, cabo violento da truculenta PM alagoana. O prenome Renan, em homenagem ao grande historiador francês das origens do cristianismo, ganhou mais notoriedade ainda depois que os tiroteios cessaram, talvez, quem sabe, por escassez de vivos a tocaiar.

Tudo isso se passou à sombra do alagoano nascido no Rio de Janeiro Fernando Affonso Collor de Mello, quando este, dito “Carcará Sanguinolento”, foi eleito presidente da República no fim daquele mesmo decênio. Tendo o já então ex-chefe sido deposto, contudo, o antigo faz-tudo estava fora do bando, servindo a outras bandas da política pelas mãos de Zé de Ribamar, dito Sarney, maestro da velha UDN, da Arena da ditadura e do PMDB da resistência. E lá foi Renan ser ministro da Justiça do tucano Fernando Henrique Cardoso e presidente do Senado pelo PMDB, na base de apoio de Lula e Dilma Rousseff, aos quais serviu com astúcia, eficiência e sucesso. Teve de renunciar à presidência do Senado, ao protagonizar escândalo em que foi acusado de receber propina de empreiteira para sustentar uma filha e a mãe dela numa relação fora do casamento.
 
Mas ele voltou por cima e neste momento preside o julgamento do impeachment da quase ex-presidente Dilma, posando de varão de Plutarco, mesmo assentado em nove processos sob a égide do procurador-geral da República, Rodrigo Janot cuja recondução ao cargo foi providenciada por ele no Senado – e do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é pouco, mas até agora não lhe causou grande mossa. Afinal, Dilma, alvo do rumoroso processo, ainda hoje trata como inimigo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do mesmo partido de Renan e como ele egresso da base governista. Ainda que a Casa tenha decidido por acachapante votação mandar o processo direto para o colo do solícito anjo da guarda das pretensões de permanência da madama chefona.

Faz tempo que o rebento dos Calheiros, acusados de terem mandado matar o advogado e político Tobias Granja, está a merecer o título de Carcará Sanguinolento. Pois viu o ex-patrão reduzir-se a insignificante ratinho domesticado. De posse da paróquia de São Gregório, por ter consagrado no Congresso a prática de perder mais tempo discutindo prazos do que se inteirando de acusações e provas, fazendo-o vassalo do calendário gregoriano, tornou-se o grande Inquisidor. Em suas mãos repousa o poder de acender a fogueira para incinerar o desastrado desgoverno dilmolulopetiista. Foi assim que o pai do atual governador de Alagoas, chamado de Renan Filho como convém numa oligarquia nordestina, e eleito sob a sombra paterna e em pleno gozo da herança de abundância da água fresca até no sertão, tornou-se o negociador-mor da República. “O diálogo”, diz ele, “fortalece a democracia”. Renan não é definitivamente um fofo?

Em vez de se ater a fatos e a autos, Sua Excelência passeia pelo Eixo Monumental de Brasília a se reunir com gregos e baianos para produzir o consenso da paz dos cemitérios, em que se enterram empregos e negócios, também denominador comum do qual ele espera tirar proveito político. Principalmente uma anistia por serviços prestados em todos os delitos dos quais é acusado. Renan não privilegiou lado algum: conversou com a presidente prestes a ser processada, com o vice-presidente pronto para ser empossado e com o colega do clã de São João del Rey, na Minas histórica, que ora preside o tucanato emplumado. 

E essa empalhada empulhação com cara de conciliação nacional na hora da crise e do pugilato teria de começar por um colega de prontuários. O tribuno que chefia a Mesa do Congresso Nacional trocou afagos públicos com Luiz Inácio Lula da Silva. Este é apontado em nota oficial da força-tarefa da popular e impiedosa Operação Lava Jato como um dos “principais beneficiários” da roubalheira que levou a Petrobras à lona e o Brasil às cordas. Foi o encontro do profeta da fome com o faquir da vontade de comer. Ambos, não por acaso, desejam o mesmo fim inglório para a república de Curitiba, chefiada pelo juiz que virou herói no império capitalista pelas páginas do semanário cujo nome significa o tempo todo: Time.

Da conversa de investigados pela polícia e pela Justiça escapoliram cochichos inconfidentes, como a de que Lula flertou com o desvio da Constituição representado pela antecipação de eleições. Mas foi lá mesmo para se alistar como voluntário na empreitada pacificadora de nosso moderno Bernardo de Vasconcelos no interregno entre Primeiro e Segundo Impérios, além de herdeiro de Tancredo Neves, fundador da Nova República, no enterro da ditadura militar. Pouco importa, se no dia anterior àquele em que o ex-líder sindical fumou com ele o cachimbo da paz, o ex-presidente tinha chamado os deputados federais de quadrilheiros que formaram um pelotão de fuzilamento para estraçalhar a tiros de fuzil a Constituição da República. 

Ensurdecido pelas balas cruzadas entre Omenas e Calheiros ou pela guerra sem quartel de coxinhas contra petralhas, o julgador-mor do destino da Nação no crítico momento presente só tem ouvidos para o bem. Só por isso não percebeu que o interlocutor e sua afilhada, objeto principal do julgamento que comanda, há muito abandonaram tolas veleidades da madureza na defesa da velha e boa democracia burguesa, sob cujo governo o Estado Democrático de Direito se mantém hígido, embora enxovalhado em nossa velha Pindorama de guerra.  

O xará do grande biógrafo de Saulo de Tarso já garantiu que vai antecipar a presença do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, seu parceiro no sindicato dos solícitos dos poderosos que estão sendo destronados, para garantir segurança jurídica à decisão a ser tomada pelos 81 senadores. O pior de tudo é que não dá sequer para desconfiar se esta é uma boa providência ou apenas um jeito de o filho de Murici, onde aprendeu muito bem a não deixar que os outros saibam de si, entregar o trapézio a um partner que desperta tanta credibilidade quanto ele próprio. E vai em frente o espetáculo mambembe em que a plateia é atraída pelo cuspe do ator global Zé de Abreu e pela abundância muscular dos glúteos e do silicone que segura as glândulas mamárias da Miss Bumbum da EsplanadaE Rainha da Xepa do desgoverno que desmancha no ar podre sem nunca ter sido sólido antes.

Publicado no blog de José Nêumanne

Como Dilma se prepara para deixar o poder



E o Aero-Lula? O poderoso e confortável avião presidencial, comprado para servir ao primeiro operário a se tornar inquilino do Palácio do Planalto, continuará servindo a Dilma depois que ela se afastar do cargo de servidora pública número um do país por decisão do Senado? Ou o avião só servirá doravante a Temer, o vice-presidente no exercício da presidência da República até que o Senado julgue Dilma em definitivo? Além do Palácio da Alvorada, onde além de morar passará a despachar, Dilma terá direito de desfrutar também da Granja do Torto, outro endereço residencial do presidente em Brasília?

E a quantos assessores ela terá direito? Seu salário, já se sabe, será reduzido à metade. E no Palácio do Planalto ela não poderá mais pôr os pés, a não ser se convidada por Temer. Não haverá convite. Certa de que o Senado, até meados de maio próximo, aceitará julgá-la por crime de responsabilidade, Dilma coleciona dúvidas e prepara desde já a sua mudança.

Começou a transferir do Planalto para o Alvorada caixas e mais caixas de documentos. E pergunta a quem julga bem informado sobre direitos e deveres de uma presidente afastada, mas ainda assim presidente. Alterna momentos de silêncio com momentos de irritação. 

Alimenta a esperança que seus principais auxiliares não compartilham: a de que acabaráquem sabe?absolvida pelo Senado até o fim do ano e devolvida ao poder.
É por isso que já tomou uma série de decisões. Por exemplo: dificultar a transição do seu atual governo para o governo em formação do vice. Nada de facilitar a vida de Temer, pelo contrário. As informações que ele precisa para começar a governar lhe serão negadas. 

Ora, pois... Ele que assuma e que mande os novos ministros correrem atrás delas. Dilma não chama Temer de conspirador? Não lhe atribui parte da culpa por sua queda? E então...

Nada de deixar projetos importantes para que Temer possa aproveitá-los. Os projetos de fato importantes serão anunciados por ela no restinho de tempo que lhe sobra como presidente em exercício. Projetos apenas esboçados, principalmente os que poderiam fazer a felicidade dos chamados movimentos sociais, toda a pressa com eles! A digital de Dilma deve marcá-los, para desprazer do conspirador.

E ela faz questão de empunhar a tocha das Olimpíadas em cerimônia prevista para acontecer no dia 10 de maio. Deverá ser a última do seu período de cinco anos e quase seis meses como presidente da República do Brasil.

Fonte: Blog do Noblat


Ao comemorar 25 anos, o Mercosul mostra a quem serve



No dia 25 de abril, a presidência pro tempore do MERCOSUL, na pessoa do chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa, realizou um evento no prédio da instituição para comemorar os 25 anos do Tratado de Assunção que estruturaria a criação do bloco inicialmente formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Estiveram presentes os chanceleres e vice-chanceleres dos países membros, além dos deputados que compõem o Parlasul - Parlamento do MERCOSUL -, incluindo a Venezuela que foi adicionada ao bloco ilegalmente, quando da suspensão do Paraguai em 2012.

Por abrigar a presidência pro tempore e estar comemorando uma data importante o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, também participou. Na ocasião foi lançado um selo comemorativo dos 25 anos mas o clima não foi nada festivo, tendo ocorrido um bate-boca entre os deputados brasileiros e o presidente do Parlasul, deputado e ex-chanceler argentino o kirchnerista Jorge Taiana, que publicou no domingo anterior no site oficial do Parlasul uma nota onde afirma que o Brasil passa por uma “situação escandalosa”.

 Disse Taiana: “Isto é um golpe parlamentar, é uma utilização forçada da lei do impeachment”, acrescentando que “setores conservadores, de direita, do mundo financeiro e da mídia teriam como objetivo central impedir que o ex-presidente Lula voltasse à Presidência do Brasil em 2018”.

Quando os parlamentares brasileiros chegaram ao local do evento, um auditório com capacidade para 400 pessoas, descobriram que lhes foram reservados os assentos da última fila, atrás mesmo de pessoas de escalão inferior aos parlamentares. Então, o deputado Arthur Oliveira Maia do PSDB-BA, foi até a frente do auditório e sem usar microfone disse que aquilo era uma retaliação de Taiana, após escrever uma “nota irresponsável” sobre a situação do Brasil, e todos decidiram se retirar, menos, evidentemente, o ex-BBB CUSPIDOR  (PSOL), Benedita da Silva (PT), Ságuas Moraes (PT) e o ex-deputado pelo PT-PR e atual “alto representante-geral do MERCOSUL”, Doutor Rosinha.

Ao ouvir o anúncio, o presidente Tabaré Vázquez que estava sentado na primeira fila, decidiu apoiá-los e foi sentar-se junto a eles mas de nada adiantou, pois os parlamentares brasileiros se retiraram assim mesmo. Depois, pelo Twitter, o deputado psolista e ex-BBB classificou de “arrogante e indecorosa” a atitude daqueles que se retiraram. Enquanto isso, os deputados venezuelanos opositores gritavam palavras de ordem e levantavam cartazes onde se lia “Liberdade para os presos-políticos venezuelanos”, “Na Venezuela não há alimentos nem remédios” e “Não ao fechamento da Assembléia Nacional”.

Não se falou em detalhes da situação política do Brasil  mas, de forma generalizada, Nin Novoa disse que “a situação institucional brasileira merece particular e especial atenção” e que “a justiça, a legalidade e a legitimidade devem estar acima de posicionamentos políticos”.

Doutor Rosinha defendeu com unhas e dentes a aproximação do MERCOSUL com a Rússia, alegando para tal que o Brasil faz parte do BRICS e que essa relação é “extremamente importante para construir novas relações comerciais, para construir outro modelo de economia mundial e para criar multi-polaridade”.

Mas a cereja do bolo, entretanto, ficou por conta da Srª Rousseff, quando declarou desde Nova York que pretendia invocar a Cláusula Democrática do MERCOSUL, tal e como ela fez no Paraguai em 2012, por causa da deposição legal e constitucional do ex-presidente Fernando Lugo. Se a cláusula for aceita, o Brasil ficará suspenso da organização mas será necessário o aval de todos os países-membros. Até agora, a Venezuela foi o único país a se mostrar favorável à medida. 

Isso demonstra que dona Rousseff não está, como nunca esteve, preocupada com seu país, que seria o único prejudicado, mas em punir aqueles que são favoráveis à sua deposição. Tal como no caso de Lugo, que foi tramado secretamente por ela com o ex-presidente José Mujica do Uruguai, a portas fechadas no Palácio do Planalto, o que está em jogo não é a democracia, o respeito à Constituição ou às leis do Brasil, mas salvar o poder adquirido pelo Foro de São Paulo ao longo desses 26 anos. Aqui como lá, as instituições democráticas não passam de nomes vazios que são usados para enganar o povo e conseguir votos, pois só têm significado e importância se eles continuarem comandando.

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