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sábado, 16 de dezembro de 2023

Dino no STF não muda nada: corte é polícia para perseguir inimigos políticos - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo

 Não se pode imaginar o que um juiz foi ou o que um juiz será a partir da leitura da sua atitude como político”, disse Flávio Dino aos senadores na sabatina

O mais recente ministro a ser nomeado para o STF, Flávio Dino, disse que o “bolsonarismo” a maldição genérica criada pelo consórcio Lula-Supremo para fabricar ódio contra os adversários políticos que incomodam – é um dos piores crimes que se pode cometer hoje no Brasil.  
Dino já chamou o ex-presidente Bolsonaro, em público, de “serial killer”. Disse que ele é “o próprio demônio”.  
Em sua opinião, exposta ainda recentemente, o antecessor de Lula na Presidência “é pior que um traficante de drogas”.

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Tudo bem. É direito de opinião – que Dino quer suprimir para os inimigos políticos, mas ainda não conseguiu
O problema, insolúvel, é que Bolsonaro está sendo processado pelo STF. 
A militância do PT (a começar pela primeira-dama) exige a sua prisão. Flávio Dino vai ser um dos juízes. 
O mínimo que se pode exigir de um juiz, até juiz de futebol, é uma aparência de imparcialidade. 
Mas é preciso um esforço realmente sobrenatural para imaginar que o novo ministro possa ser imparcial nesse caso – e todos os outros que envolverem algo detectado como “bolsonarismo”.

Vai ser mais do mesmo – um fuzil adicional no pelotão de fuzilamento.

A questão não parece destinada a ter efeitos de ordem prática, porque Flávio Dino não vai fazer o Supremo ficar mais parcial do que já é
Vai ser apenas mais uma voz na gritaria dos linchadores que eliminaram o STF como a instância máxima da Justiça brasileira e puseram no seu lugar uma operação policial para perseguir os inimigos políticos.
 
Quem precisa de um Dino quando já tem um inquérito perpétuo como o do ministro Alexandre de Moraes
O STF deu a si próprio o direito de jogar qualquer tipo de crime, ou algo que acha ser crime. 
Está condenando pessoas a até 17 anos de cadeia por terem participado de um quebra-quebra em Brasília. 
Tudo pode ser tratado ali como “ato contra o Estado Democrático de Direito”.  
Reúne em seus despachos as três instâncias da Justiça. 
Como o tribunal que iria julgar Joseph K., em O Processo, nenhum “bolsonarista” é absolvido, nunca.
Não há o menor risco, para Lula e o seu governo, de que esse STF possa fazer justiça, agora ou nas próximas décadas.  
O Código Penal continua não valendo para os amigos, e os amigos dos amigos. 
A Constituição não vai ser aplicada nunca, se Lula, o PT e a esquerda nacional acharem que ela pode atrapalhar em alguma coisa. 
As leis que o Congresso aprova, e que o PT não aceita, continuarão a ser declaradas “inconstitucionais” pelo STF. 
Flávio Dino não vai mudar nada disso, é claro – ao contrário, foi recebido como um campeão da Ciência do Direito, das lutas populares e do combate ao “fascismo” por Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, os dois que realmente contam. 
Vai ser mais do mesmo – um fuzil adicional no pelotão de fuzilamento.
 
 
Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
 
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Bolsonaro está sendo julgado não pelo que fez, mas por ser quem é - Gazeta do Povo

Vozes - J.R. Guzzo

Bolsonaro


Partido de Bolsonaro criticou julgamento no TSE e diz que ação quer tirar o ex-presidente conservador de cena.| Foto: Isaac Fontana/EFE

Imagine-se, por não mais do que três minutos, o que estaria acontecendo se o réu a ser executado no julgamento do TSE, e transformado em pária “inelegível”, fosse o presidente Lula e não Jair Bolsonaro. Por que não? Lula foi condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove juízes diferentes.  
Bolsonaro não foi condenado por crime nenhum. 
Seria então muito razoável que Lula, e não o seu antecessor, fosse o homem que o TSE quer eliminar da política brasileira.

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É melhor nem pensar num cataclisma desses. 
Lula inelegível, por violação da Lei da Ficha Limpa? O mundo viria abaixo. 
Os signatários da Carta aos Brasileiros estariam em absoluta crise de nervos. A esquerda iria pedir a intervenção da ONU no Brasil. 
O MST iria colocar o seu “exército” nas ruas para derrubar a condenação
Nos cinco continentes, os militantes do “campo progressista”, o Greenpeace e os bilionários socialistas estariam horrorizados com o que chamariam de maior agressão já feita contra a democracia desde as disputas da Grécia Antiga. 
Mas o pelotão de fuzilamento foi montado para liquidar Bolsonaro; nesse caso, vale tudo. 
A esquerda e os liberais do “Brasil civilizado” dizem a condenação vai salvar a “democracia”. Fim da discussão.

    O pelotão de fuzilamento foi montado para liquidar Bolsonaro; nesse caso, vale tudo.

Não importa, nesse caso, o que a lei manda que se faça – se importasse alguma coisa, Bolsonaro não estaria respondendo a processo nenhum, pois não fez nada de ilegal. Mas, como dizem os próprios autores da ação contra o ex-presidente, “os fatos” não devem contar nesse caso, nem a “letra fria” da lei. 
A “salvação da democracia”, no seu entendimento, deve estar acima dos fatos e da lei – é um bem supremo, e para preservar essa preciosidade 140 milhões de eleitores brasileiros devem ser proibidos de votar em Bolsonaro
Essa gente não sabe votar, na visão do STF-TSE e da esquerda nacional; tem de ser protegida dos seus erros pela autoridade superior.
 
Bolsonaro criou, segundo os acusadores, “um clima antidemocrático” no Brasil. Quis dar um “golpe”; não deu, mas provavelmente iria dar, ou deixou a impressão que daria, ou bem que poderia ter dado
É esse o “arcabouço” amplo e geral das acusações feitas contra ele. 
Nada disso é crime, obviamente, nem aqui e nem em lugar nenhum do mundo. Mas o ex-presidente está sendo julgado não pelo que fez, mas por ser quem é.

Veja Também:

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Tudo serve, aí. Bolsonaro é culpado por criar “desconfiança” em relação às urnas eletrônicas – quando o próprio Congresso Nacional aprovou uma lei mandando substituir o sistema atual por um outro, em que os votos pudessem ser comprovados por escrito.
Que desconfiança maior do que essa poderia haver? 
Dizem que as “minutas do golpe” indicam sua participação em planos para eliminar o “Estado de Direito” um disparate tão óbvio que um ministro do próprio TSE achou a história toda sem pé e sem cabeça.

O ex-presidente é acusado, também, de ser “o responsável”, de um jeito ou de outro, pelos atos de violência em Brasília no dia 8 de janeiroembora estivesse a 3.500 quilômetros de distância do Brasil neste dia, e não haja nem um átomo de prova material de que tivesse alguma coisa a ver com o que aconteceu. 

Mais que tudo, ele perdeu a eleição – é acusado de influenciar a votação com “o uso indevido” do poder, mas perdeu. Que golpe é esse?

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 22 de maio de 2021

O dia em que Israel começou a morrer - O Globo

José Eduardo Agualusa

Vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gazagritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas 
 
[Qual a surpresa? são caças de última geração de um dos mais poderosos exércitos do mundo contra civis desarmados = misseis x estilingue.
Israel tem indiscutivelmente o direito de se defender de qualquer força militar que o ataque - mas se defender matando civis desarmados? , matando crianças e mulheres indefesas? derrubando prédios residenciais? Esse conceito de defesa é bem estranho?]

“Lançar uma bomba é mais uma confirmação do que uma refutação”, escreveu Jorge Luís Borges. “É como dar razão ao adversário, mas de um modo terrível”. A frase de Borges se instala na minha cabeça enquanto, na segurança do meu escritório, vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gaza gritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas.

Vivi num país em guerra civil, escutando justificações para atos injustificáveis. Os argumentos de quem comete esses crimes são sempre os mesmos: 1) ele começou primeiro. 2) ele fez pior. Eu, que durante todos esses anos de guerra civil nunca apoiei nem um lado nem outro — estive sempre do lado das crianças mortas —, passava horas me esforçando por mostrar o óbvio: 1) não interessa quem começou. 2) se, para combater um inimigo, você tiver de executar crimes idênticos, é porque já se transformou nele.

Dois inimigos podem não concordar em nada, mas estão de acordo no fundamental: em fazer a guerra. Ora, não há nada que aproxime tanto quanto a partilha da crueldade. É por isso que antigos combatentes gostam de se reencontrar e conviver, depois que a guerra termina. Estive — como jornalista — em alguns destes convívios. Ouvi muitos ex-militares recordando com saudade o tempo das lutas. Não raras vezes, tais convívios terminam por estender-se também aos antigos inimigos. No fim, acabam todos à mesma mesa, comendo e bebendo, recordando com alegria como se matavam uns aos outros.

Os pacifistas, esses sim, são o inimigo eterno dos beligerantes. Sem surpresa, quando uma guerra deflagra, aqueles que se opõe a ela costumam ser os primeiros a enfrentar o pelotão de fuzilamento. Para as partes em confronto, o pacifista é muito pior do que o inimigo, porque é inimigo da própria guerra.

Assim, estou consciente da pouca utilidade de argumentar contra uma guerra enquanto ela decorre. Não consigo, contudo, permanecer em silêncio diante daquilo que está ocorrendo na Faixa de Gaza. Primeiro, em razão da desigualdade de meios — que é, como quem diz, da desigualdade de mortos. Depois, porque quanto mais olho para Israel, nos dias de hoje, mais eu vejo a África do Sul do tempo do apartheid. Também os bôeresdescendentes de huguenotes holandeses e franceses expulsos da Europa — acreditavam na ideia de que Deus lhes oferecera o extremo sul da África como refúgio e terra santa.  
Armados dessa crença, expulsaram os povos nativos das suas terras, inventaram uma língua e um desígnio, alteraram a toponímia dos lugares, e criaram uma democracia onde só eles tinham direitos.  
O apartheid acabou caindo, e os descendentes desses bôeres estão agora expiando os pecados dos pais.

A 19 de julho de 2018, o Knesset aprovou uma lei consagrando Israel como uma “nação judaica”, e o hebreu como única língua oficial; isto, num país que tem 20% de cidadãos árabes. Foi nesse dia que Israel começou a morrer. Regimes assentes no ódio e em políticas de apartheid e exclusão dificilmente perduram. O ódio é fraca argamassa.

José Eduardo Agualusa, colunista - O Globo - Cultura

 

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O envelhecido discurso do PT contra a reforma

O tempo passou, e o chavão da ‘defesa do pobre’ foi desmascarado; daí os ataques pessoais ao ministro

As mais de seis horas da sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, sobre a reforma da Previdência, serviram para mostrar a falta que faz uma base parlamentar efetiva do governo para defender no Legislativo suas causas. Por isso, Paulo Guedes ficou exposto a um pelotão de fuzilamento de oposicionistas, PT e PSOL à frente, sem uma defesa à altura.  Mais importante que isso, porém, foi a demonstração dada por parlamentares da oposição de que seu discurso envelheceu. Continuam usando os mesmo chavões nos ataques ao que chamam de um projeto “contra o povo”, um repeteco do discurso do período do governo de FH (1994-2002), em que lulopetistas se opuseram também a mudanças necessárias na Previdência.

Depois, PT e aliados estiveram no Planalto por 13 anos, quando foram forçados a realizar algumas adaptações na Previdência, no caso, do funcionalismo público. Também se envolveram em pesadas falcatruas, junto a grandes empresas e bancos, que antes demonizavam. Empresários foram beneficiados com farto dinheiro público no BNDES subsidiado pelo contribuinte, e bancos jamais reclamaram das altas rentabilidades amealhadas no ciclo lulopetista de governos. É com espanto que se ouve agora, no primeiro embate em torno do projeto da reforma da Previdência, petistas e aparentados repetindo a discurseira de antes de 2003, de que a reforma é feita para os “banqueiros” e patrões em geral. É o que se chama de memória seletiva: nada aprendem, lembram-se apenas do que convém.

Parece que não existe a Lava-Jato, em cujos processos está relatado, com detalhes, como a cúpula do PT e de partidos aliados articulou, ao lado de grandes empresas de engenharia, um assalto bilionário à Petrobras e a outras empresas públicas. O ex-presidente Lula não está preso por acaso. O tempo passou, a crise da Previdência tornou-se mais grave, e o debate que transcorre há anos sobre o tema produziu, e continua a produzir, enorme quantidade de dados sobre a condenação à quebra financeira do sistema de seguridade. Lastreado no regime de repartição (a contribuição dos mais jovens ao INSS é que paga os benefícios aos mais velhos), o sistema tende de forma inexorável à falência, impulsionado pelo fenômeno demográfico do envelhecimento da população.

É impossível a oposição reunir argumentos substantivos contra a reforma. Resta, então, o discurso de chavões político-ideológicos. Sempre foi assim. Inaceitáveis são os termos com que o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) — filho do ex-ministro José Dirceu, mensaleiro condenado e preso por corrupção — se dirigiu ao ministro Paulo Guedes. Ferem o decoro nos debates no Legislativo, mas servem para comprovar a impossibilidade de a oposição ser convincente nos ataques à reforma.

Ficou sem resposta a afirmação de Guedes de que, enquanto se gastam R$ 700 bilhões em aposentadorias, destinam-se apenas R$ 70 bilhões para a educação. Descuida-se das novas gerações. Há muitos dados,também, para mostrar que o pobre já se aposenta ao 65 anos, a fim de receber um salário mínimo. Enquanto castas do funcionalismo — como as do Legislativo — ganham R$ 28 mil mensais, como disse o ministro. Este é o debate a ser travado com sindicatos de servidores que se tornaram braços petistas, por meio da CUT. As reações à reforma indicam quem está defendendo privilégios.


Editorial - O Globo
 

domingo, 28 de maio de 2017

Um país inviável

O único Brasil possível, para eles, é o Brasil que tem como única função colocar a máquina pública a serviço de seus bolsos

Publicado na edição impressa de VEJA


O presidente Michel Temer, no fim das contas, não conseguiu atravessar nem mesmo a miserável pinguela que tinha pela frente para usar a faixa presidencial até o último dia oficial de seu mandato. Era o seu sonho, ou seu único objetivo real ─ cumprir o curtíssimo prazo que a lei lhe deu para despachar no Palácio do Planalto. Chegou até mesmo a montar um bom ministério, e não só na área econômica. Estava começando, enfim, a anotar bons resultados. Mas não deu, e nem poderia dar. Temer assumiu a Presidência da República em situação de D.O.A., como dizem os relatórios hospitalares e policiais nos Estados Unidos ─ dead on arrival, ou morto na chegada. Chegou morto porque só sabe fazer política, agir e pensar para um Brasil em processo de extinção, onde presidentes da República recebem em palácio indivíduos à beira do xadrez, discutem com eles coisas que jamais deveriam ouvir e não chamam a polícia para levar ninguém preso. 

Desde a semana passada, com uma colossal denúncia criminal nas costas de Michel Temer, as datas oficiais da sua certidão de óbito como presidente deixaram de fazer diferença. Seu governo não existe mais. A atual oposição (até ontem governo) do PT-esquerda não existe mais; eles estão rindo, mas riem no próprio velório. Os políticos, como classe, não existem mais. Querem viver de um jeito inviável e manter de pé um país inviável. Acabaram por tornar-se incompreensíveis.

Na verdade, como já ficou claro há um bom tempo, não se poderia mesmo esperar algo diferente do que está acontecendo. É simples. O Brasil de hoje é governado como uma usina de reprocessar lixo. Entra lixo de um lado, sai lixo do outro. O que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, que é aberta nas eleições, e a porta de saída, quando se muda de governo, o produto fica com outra aparência, altera o nome, recebe nova embalagem ─ mas continua sendo lixo. Reprocessou-se o governo do ex-presidente Lula; deu no governo Dilma Rousseff; reprocessou-se o governo Dilma; deu no governo Michel Temer. Não houve, de 2003 para cá, troca no material processado pela usina. Não houve alternância de poder, e isso inclui o finado governo Temer. Continuou igual, nos três, a compostagem de políticos “do ramo”, empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades, fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES. É esse baixo mundo que governa o Brasil.

Michel Temer, na verdade, faz parte integral da herança que Lula deixou para os brasileiros. Tanto quanto Dilma Rousseff, é pura criação do ex-presidente ─ só chegou lá porque o PT o colocou na Vice-Presidência. Ou alguém acha que Temer foi incluído como vice na chapa petista contra a vontade de Lula? Ninguém votou nele, não se cansam de dizer desde que Temer assumiu o cargo, no impeachment de Dilma. Com certeza: quem fez a escolha foi Lula, ninguém mais. Foi dele o único voto que Temer teve ─ e o único de que precisava. É tudo parte, no fim das contas, da “política de alianças”.  

A respeito do assunto, ainda outro dia tivemos direito a uma aula de ciência política dada pelo próprio ex-­presidente da República, durante seu interrogatório pelo juiz Sérgio Moro. Lula explicou ao juiz, e a todos nós, que é impossível governar sem “aliados”. E o que isso tem a ver com a corrupção em massa durante seu governo? Tudo a ver, segundo o que deu para entender: você precisa dar cargos públicos aos partidos que apoiam o governo, e aí eles vão roubar tudo o que virem pela frente. No seu caso, o PMDB foi a principal aliança que fez ─ na verdade, o alicerce da coisa toda, uma obra-prima de “engenharia política” que seria depois completada com a aquisição do PP, do PR e de outras gangues partidárias.

Com o PMDB veio Michel Temer ─ mais Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney e família, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira, Geddel Vieira Lima, e daí para pior. Hoje são odiados nos discursos de Lula e do PT. Ontem eram os melhores amigos e, principalmente, sócios. A isso aí vieram juntar-se os empresários “nacionalistas” de Lula e Dilma: os Joesley e Wesley Batista, que ocupam agora o centro do palco, os Marcelo Odebrecht, os Eike Batista e tantos outros capitães de indústria que já foram, continuam sendo e em breve serão inquilinos do sistema penitenciário nacional. Juntos construíram a calamidade moral, econômica e administrativa que está aí. E com certeza vão tentar, de algum jeito, beneficiar-se da gosma constitucional hoje formada em torno do pós-Temer.

Essa gente toda, com Lula e o PT à frente e bilhões de reais atrás, nos deixou o seguinte país: um dos maiores empresários do Brasil, e também um dos mais investigados por crimes cometidos em suas empresas, entra na residência presidencial e, numa ação nos limites da bandidagem, grava pessoalmente uma conversa do pior nível com o presidente. Com isso, ao menos até agora, protege-se da cadeia, ganha uma soma não calculada de milhões e vira um herói da Rede Globo, no papel de “justiceiro”. O ex-presidente Lula oscila entre duas possibilidades: ir para o xadrez ou para o Palácio do Planalto. Sua sucessora é trazida, por denúncia de pessoas íntimas, para o centro do lodaçal. Seu adversário nas últimas eleições, Aécio Neves, recebe malas de dinheiro vivo desses Joesley e Wesley que atiram para todo lado. O governo do Brasil, e o conjunto da vida política, passou a depender inteiramente de delegados de polícia, procuradores públicos e juízes criminais. 

O voto popular nunca valeu tão pouco: o político eleito talvez esteja no próximo camburão da Polícia Federal. Os sucessores mais diretos de Temer podem estar em breve, eles próprios, a caminho do pelotão de fuzilamento; fazem parte da caçamba de detritos que há na política brasileira de hoje. Um país assim não pode funcionar ─ não o tempo inteiro, como tem sido nos últimos anos. Trata-se de uma realidade que está evidente há mais de três anos, quando a Operação Lava Jato passou a enterrar o Brasil Velho. Era um país que, enfim, começava a agonizar: pela primeira vez na história, seus donos tinham encontrado pela frente a aplicação da Justiça ─ ou, mais exatamente, o princípio de que a lei tem de valer por igual para todos. Não acreditaram, e tentam não acreditar até hoje, que aquilo tudo estava mesmo acontecendo. 

O único Brasil possível, para eles, é o Brasil que tem como única função colocar a máquina pública a serviço de seus bolsos. Gente como Lula, Odebrecht, Joesley, empresários campeões etc. simplesmente não entende a existência de pessoas como Sérgio Moro; eles têm certeza de que não há seres humanos que não possam ser comprados ou intimidados. O resultado está aí ─ um país que não consegue mais ser governado, porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem, nem controlar a Justiça e a Lava Jato, que a qualquer momento pode bater à sua porta.

 Por: J. R. Guzzo - Coluna do Augusto Nunes - VEJA


sexta-feira, 29 de abril de 2016

José Nêumanne: O carcará e o ratinho



Renan proseia com adversários na guerra de petralhas e petistas para garantir a própria impunidade e tirar proveito político
O sobrenome Calheiros tornou-se notório no noticiário policial dos telejornais no começo dos anos 1980, mercê do conflito sanguinário iniciado com a morte de Henrique Omena, cabo violento da truculenta PM alagoana. O prenome Renan, em homenagem ao grande historiador francês das origens do cristianismo, ganhou mais notoriedade ainda depois que os tiroteios cessaram, talvez, quem sabe, por escassez de vivos a tocaiar.

Tudo isso se passou à sombra do alagoano nascido no Rio de Janeiro Fernando Affonso Collor de Mello, quando este, dito “Carcará Sanguinolento”, foi eleito presidente da República no fim daquele mesmo decênio. Tendo o já então ex-chefe sido deposto, contudo, o antigo faz-tudo estava fora do bando, servindo a outras bandas da política pelas mãos de Zé de Ribamar, dito Sarney, maestro da velha UDN, da Arena da ditadura e do PMDB da resistência. E lá foi Renan ser ministro da Justiça do tucano Fernando Henrique Cardoso e presidente do Senado pelo PMDB, na base de apoio de Lula e Dilma Rousseff, aos quais serviu com astúcia, eficiência e sucesso. Teve de renunciar à presidência do Senado, ao protagonizar escândalo em que foi acusado de receber propina de empreiteira para sustentar uma filha e a mãe dela numa relação fora do casamento.
 
Mas ele voltou por cima e neste momento preside o julgamento do impeachment da quase ex-presidente Dilma, posando de varão de Plutarco, mesmo assentado em nove processos sob a égide do procurador-geral da República, Rodrigo Janot cuja recondução ao cargo foi providenciada por ele no Senado – e do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é pouco, mas até agora não lhe causou grande mossa. Afinal, Dilma, alvo do rumoroso processo, ainda hoje trata como inimigo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do mesmo partido de Renan e como ele egresso da base governista. Ainda que a Casa tenha decidido por acachapante votação mandar o processo direto para o colo do solícito anjo da guarda das pretensões de permanência da madama chefona.

Faz tempo que o rebento dos Calheiros, acusados de terem mandado matar o advogado e político Tobias Granja, está a merecer o título de Carcará Sanguinolento. Pois viu o ex-patrão reduzir-se a insignificante ratinho domesticado. De posse da paróquia de São Gregório, por ter consagrado no Congresso a prática de perder mais tempo discutindo prazos do que se inteirando de acusações e provas, fazendo-o vassalo do calendário gregoriano, tornou-se o grande Inquisidor. Em suas mãos repousa o poder de acender a fogueira para incinerar o desastrado desgoverno dilmolulopetiista. Foi assim que o pai do atual governador de Alagoas, chamado de Renan Filho como convém numa oligarquia nordestina, e eleito sob a sombra paterna e em pleno gozo da herança de abundância da água fresca até no sertão, tornou-se o negociador-mor da República. “O diálogo”, diz ele, “fortalece a democracia”. Renan não é definitivamente um fofo?

Em vez de se ater a fatos e a autos, Sua Excelência passeia pelo Eixo Monumental de Brasília a se reunir com gregos e baianos para produzir o consenso da paz dos cemitérios, em que se enterram empregos e negócios, também denominador comum do qual ele espera tirar proveito político. Principalmente uma anistia por serviços prestados em todos os delitos dos quais é acusado. Renan não privilegiou lado algum: conversou com a presidente prestes a ser processada, com o vice-presidente pronto para ser empossado e com o colega do clã de São João del Rey, na Minas histórica, que ora preside o tucanato emplumado. 

E essa empalhada empulhação com cara de conciliação nacional na hora da crise e do pugilato teria de começar por um colega de prontuários. O tribuno que chefia a Mesa do Congresso Nacional trocou afagos públicos com Luiz Inácio Lula da Silva. Este é apontado em nota oficial da força-tarefa da popular e impiedosa Operação Lava Jato como um dos “principais beneficiários” da roubalheira que levou a Petrobras à lona e o Brasil às cordas. Foi o encontro do profeta da fome com o faquir da vontade de comer. Ambos, não por acaso, desejam o mesmo fim inglório para a república de Curitiba, chefiada pelo juiz que virou herói no império capitalista pelas páginas do semanário cujo nome significa o tempo todo: Time.

Da conversa de investigados pela polícia e pela Justiça escapoliram cochichos inconfidentes, como a de que Lula flertou com o desvio da Constituição representado pela antecipação de eleições. Mas foi lá mesmo para se alistar como voluntário na empreitada pacificadora de nosso moderno Bernardo de Vasconcelos no interregno entre Primeiro e Segundo Impérios, além de herdeiro de Tancredo Neves, fundador da Nova República, no enterro da ditadura militar. Pouco importa, se no dia anterior àquele em que o ex-líder sindical fumou com ele o cachimbo da paz, o ex-presidente tinha chamado os deputados federais de quadrilheiros que formaram um pelotão de fuzilamento para estraçalhar a tiros de fuzil a Constituição da República. 

Ensurdecido pelas balas cruzadas entre Omenas e Calheiros ou pela guerra sem quartel de coxinhas contra petralhas, o julgador-mor do destino da Nação no crítico momento presente só tem ouvidos para o bem. Só por isso não percebeu que o interlocutor e sua afilhada, objeto principal do julgamento que comanda, há muito abandonaram tolas veleidades da madureza na defesa da velha e boa democracia burguesa, sob cujo governo o Estado Democrático de Direito se mantém hígido, embora enxovalhado em nossa velha Pindorama de guerra.  

O xará do grande biógrafo de Saulo de Tarso já garantiu que vai antecipar a presença do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, seu parceiro no sindicato dos solícitos dos poderosos que estão sendo destronados, para garantir segurança jurídica à decisão a ser tomada pelos 81 senadores. O pior de tudo é que não dá sequer para desconfiar se esta é uma boa providência ou apenas um jeito de o filho de Murici, onde aprendeu muito bem a não deixar que os outros saibam de si, entregar o trapézio a um partner que desperta tanta credibilidade quanto ele próprio. E vai em frente o espetáculo mambembe em que a plateia é atraída pelo cuspe do ator global Zé de Abreu e pela abundância muscular dos glúteos e do silicone que segura as glândulas mamárias da Miss Bumbum da EsplanadaE Rainha da Xepa do desgoverno que desmancha no ar podre sem nunca ter sido sólido antes.

Publicado no blog de José Nêumanne

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Brasileiro cantou e não quis usar venda antes de execução

Caixões de oito fuzilados foram levados para funerária em Jacarta; Rodrigo Gularte vai ser enterrado no Brasil

Pouco antes de amanhecer nesta quarta-feira na Indonésia, os corpos do brasileiro Rodrigo Gularte, 42, e de outros sete condenados por tráfico executados na tarde desta terça-feira foram trazidos da ilha Nusakambangan para Cilacap, em caixões brancos, alguns deles bordados. Angelita Muxfeldt, prima de Gularte e que está desde fevereiro na Indonésia, chorava muito enquanto era conduzida pelo padre Charlie Burrows, que abria caminho em meio à multidão. Segundo informações da agência AFP, uma pastora que acompanhou um dos presos em seus últimos momentos disse que os condenados se comportaram com “força e dignidade” até o fim.

O caixão de Gularte foi levado do porto de Cilacap para uma casa funerária em Jacarta, onde uma breve cerimônia foi realizada. Angelita, desolada, tocou o caixão do primo durante vários momentos. Ela cuidará dos trâmites para trazer o corpo ao Brasil. Nos minutos que antecederam à execução, os oito condenados recusaram ter os olhos vendados e optaram por encarar o pelotão de fuzilamento, de acordo com informações da AFP. Eles entoaram cânticos religiosos, como “Amazing Grace”, segundo uma testemunha da execução, até o pelotão começar a disparar nos presos atados em postes. Um grupo de pessoas que se reuniu na cidade portuária de Cilacap - que dá acesso à ilha de Nusakambangan - segurava velas acesas e também cantava “Amazing Grace”.

Angelita acompanhou os disparos da execução à distância, ao lado do encarregado de negócios do Brasil em Jacarta, Leonardo Carvalho Monteiro, maior autoridade brasileira na Indonésia. O fuzilamento ocorreu por volta de 0h25 (horário local, 14h25m em Brasília).
Segundo a BBC Brasil, durante o encontro final com parentes, Gularte deixou um recado para a família:"Daqui irei para o céu e ficarei na porta esperando por vocês", declarou o brasileiro, de acordo com o encarregado de negócios do Brasil em Jacarta.
 
O corpo de Rodrigo Gularte será trazido ao Brasil e enterrado em Curitiba. O pedido foi feito pelo próprio Gularte, em seus últimos dias na prisão. Ainda não há data prevista para o traslado do corpo da Indonésia para o Brasil. A mãe de Gularte, Clarisse, recebeu a notícia da morte do filho em seu apartamento, acompanhada de parentes. Desde que soube que o filho seria executado, Clarisse ficou com a saúde debilitada.

Além de Rodrigo Gularte foram executados dois australianos, quatro africanos e um indonésio. A filipina Mary Jane Veloso foi poupada pouco antes da execução. Logo que chegou ao porto de Cilacap, o corpo do indonésio Zainal Abidin foi enterrado em um cemitério próximo.


terça-feira, 28 de abril de 2015

Quem são os sete executados junto com Rodrigo Gularte na Indonésia



Governo confirmou que, além do brasileiro, sete estrangeiros e um indonésio condenados por tráfico de drogas foram mortos por um pelotão de fuzilamento
O governo da Indonésia confirmou que executou oito condenados à morte por tráfico de drogas, entre eles o brasileiro Rodrigo Gularte, na madrugada de quarta-feira (29) - horário local, tarde de terça-feira (28) em Brasília. "Concluímos as execuções", afirmou a procuradoria do país, de acordo com o Jakarta Post.

Além do brasileiro, quatro nigerianos, dois australianos e um indonésio foram mortos no complexo de prisões de Nusakambangan, em Cilacap, a 400 quilômetros da capital Jacarta, por um pelotão de fuzilamento. A Indonésia planejava executar nove condenados. No entanto, o governo decidiu adiar a execução da filipina Mary Jane Veloso. Segundo o jornal Jakarta Post, uma mulher se entregou às autoridades alegando ser a pessoa que aliciou Mary Jane nesta terça-feira, e por isso o governo decidiu adiar a execução da pena.

Saiba quem são os oito estrangeiros condenados:

Myuran Sukumaran, 34 anos
Myuran Sukumaran, de 34 anos, era um cidadão australiano que nasceu em Londres. Depois de deixar a universidade, se envolveu com drogas em Sydney, atraído pela perspectiva do dinheiro fácil. "Eu estava esperando para comprar um carro", disse, em entrevista recente, de acordo com o New York Times. Ele foi preso em um quarto de hotel em Kuta, na Indonésia, em 2005, com mais de 8,3 quilos de heroína que, segundo as investigações, seriam enviadas para a Austrália. Na mesma operação que prendeu Sukumaran, outros oito australianos foram detidos, inclusive Andrew Chan, também condenado à morte. Em 2006, uma corte em Bali considerou-o chefe do cartel "Os Nove de Bali", grupo que contrabandeava droga para a Austrália. Na ocasião, foi condenado à morte. A defesa diz que Sukumaran se recuperou na prisão e virou um artista. Uma de suas últimas pinturas foi exibida para a mídia recentemente pelo seu advogado australiano Julian McMahon. O auto-retrato assombrado retrata um tiro ferindo o seu coração.

Andrew Chan, 31 anos
Andrew Chan, de 31 anos, é australiano e foi condenado na Indonésia por tráfico de drogas como um membro do cartel "Os nove de Bali". Filho de pais imigrantes chineses que trabalharam durante quatro décadas em restaurantes, começou a usar drogas aos 16 anos, quando abandonou a escola. Em 2005, Chan foi preso no Aeroporto Internacional de Ngurah Rai, em Denpasar, na ilha de Bali. Outras oito pessoas foram detidas na mesma operação, entra elas Myuran Sukumaran com mais de 8 quilos de heroína. Segundo a investigação, Chan e Sukumaran foram os líderes da operação de contrabando de heroína da Indonésia para a Austrália. Depois de um julgamento criminal em 14 de fevereiro de 2006, Chan foi condenado à execução por fuzilamento pelo Tribunal Distrital de Denpasar. Seu pedido de clemência foi negado pelo governo indonésio em janeiro deste ano. De acordo com o The Guardian, Sukumaran e Chan foram os dois únicos do grupo condenados à morte. Os sete restantes receberam sentenças de prisão perpétua. A defesa também argumentou que ele se recuperou na prisão e que dava aulas sobre a Bíblia e de culinária. O seu último pedido, conforme o Daily Mail, foi participar de um culto na igreja ao lado da família.

Zainal Abidin, 50 anos
Zainal Abidin, 50 anos, era o único cidadão indonésio entre os nove executados. De acordo com o New York Times, em dezembro de 2010 Abidin estava em sua casa em Palimbão, no sul da ilha de Sumatra, quando dois amigos bateram em sua porta pedindo para passar a noite. Eles carregavam sacos que, de acordo com a defesa do condenado, ele acreditava ser de arroz. Horas mais tarde, depois que a polícia invadiu a casa no meio da noite, descobriu que os sacos estavam recheados de maconha. Um dos visitantes foi preso. À polícia, ele falou que Abidin era o líder de um plano para vender a droga. Acabou preso. Em 2001, Abidin foi condenado a 15 anos de prisão. Mais tarde, no mesmo ano, a Corte de Sumatra revogou a sentença e o condenou à pena de morte. A defesa alegou que Abidin, funcionário de uma fábrica de móveis, não tinha como comprar tanta quantidade de maconha.
 
Raheem Agbaje Salami, 50 anos
Em 1998, as autoridades da Indonésia prenderam um homem com 5 quilos de heroína com o passaporte espanhol no nome de Raheem Agbaje Salami. O homem contou, no entanto, que o passaporte era falso. Seu nome verdadeiro era Jamiu Owolabi Abashin, ele era nigeriano e vivia como morador de rua em Bancoc quando recebeu US$ 400 para levar uma mala com roupas para Surabaya, a segunda maior cidade da Indonésia. Abashin foi condenado à morte em 1999. Ele recorreu e conseguiu reduzir a sentença para 20 anos de prisão, mas a promotoria recorreu ao Supremo e conseguiu a confirmação da pena de morte. O advogado do nigeriano alega que a condenação é irregular e inválida por um motivo simples: até hoje as autoridades da Indonésia continuam identificando-o como Raheem Agbaje Salami, o nome do passaporte falso.
 
Okwudili Oyatanze, 41 anos
O nigeriano Okwudili Oyatanze foi preso em 2001, com 2,5 quilos de heroína, em um aeroporto de Jacarta. Ele disse às autoridades que tinha uma empresa de vestuário na Nigéria. Essa empresa, no entanto, faliu.  Desesperado, acabou aceitando uma proposta para levantar dinheiro para pagar suas dívidas: engoliu cápsulas de heroína e tentou entrar na Indonésia, quando foi pego. Nas cadeias indonésias, Oyatanze se tornou religioso. Ele escreveu mais de 70 canções gospel, gravou álbuns e tem até músicas no Youtube, o que lhe rendeu o apelido de "o cantor evangélico do corredor da morte".
 
Sylvester Obiekwe Nwolise, 47 anos
O nigeriano Sylvester Obiekwe Nwolise, estava desempregado em Lagos, Nigéria, quando decidiu tentar a sorte no Paquistão. De lá, ele voou para a Indonésia, quando foi pego pelas autoridades com um quilo de heroína em cápsulas no seu estômago. Segundo Fatimah Farwin, sua mulher, em entrevista ao The New York Times, Nwolise foi condenado à morte após um julgamento em que ele não teve direito a um tradutor e seu "advogado indonésio" praticamente não tentou se comunicar com ele. Ela disse que um juiz tentou subornar Nwolise, pedindo que ele pagasse 200 milhões de rúpias (o equivalente a US$ 22 mil, na época) para mudar sua condenação para uma pena de prisão. Ano passado, as autoridades indonésias acusaram Nwolise de comandar o tráfico de drogas na prisão. Ele foi investigado e a polícia não encontrou provas ou evidências da procedência da acusação.
 
Martin Anderson, 50 anos
Martin Anderson, também conhecido como Belo, foi preso em 2003 pelo crime de possessão de 50 gramas de heroína em Jacarta. Ele foi identificado pelas autoridades indonésias como ganês, mas na verdade é um nigeriano - Anderson estava com passaporte falso, e a informação nunca foi corrigida no processo penal. Segundo seu advogado, ele foi baleado na perna pela polícia indonésia ao ser preso – o que seria uma "abordagem comum" por parte da polícia local. Seu pedido de clemência foi rejeitado em janeiro deste ano.

Fonte: Revista Época