Veja o que o ex-ministro dos governos Lula e Dilma pode revelar em sua delação premiada
Preso há
um ano e meio em Curitiba, o ex-ministro dos governos petistas Antonio
Palocci pode agora detalhar em seu acordo de delação premiada assinado com
a Polícia Federal o que prometeu ter como "bala na agulha" em seu
primeiro depoimento ao juiz Sergio Moro, em abril de 2017. Naquela ocasião, o
principal alvo da 35ª fase da Lava-Jato, afirmou que poderia entregar
"nomes e operações" que ajudariam os procuradores a avançar na
comprovação do esquema de corrupção investigado pela força-tarefa.
"Apresento todos os fatos com nomes, endereços e operações realizadas.
Posso lhe dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, que faz bem
ao Brasil", prometeu.
Entre as
acusações e suspeitas que pesam contra o ex-deputado e ex-prefeito de Ribeirão
Preto, estão desde o uso de caixa 2 em campanhas eleitorais até aprovação e
interferências em medidas provisórias que beneficiaram empreiteiras.
Confira
abaixo as revelações que Palocci pode fazer em seu acordo de colaboração com a
PF, um ano depois de prometer a Moro contar tudo o que sabia:
Um dos
casos associados ao ex-ministro é o de uma negociação com a Odebrecht sobre a
não aprovação da Medida Provisória 460/2009. A MP geraria uma série de
benefícios fiscais e tributários para a empreiteira, que teria fechado um
acordo de propina com Palocci para que ele usasse de sua influência para apoiar
a aprovação da medida. A mudança, porém, foi rejeitada em veto presidencial.
A partir
daí, Palocci teria tentado oferecer uma série de "compensações" em
troca dos valores já pagos pela sua colaboração. O petista teria falado com o
presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, para que ele sugerisse possíveis
maneiras alternativas de beneficiar a empresa após a derrota da MP 460/2009. O caso
foi revelado na delação do próprio Marcelo e corroborado com acesso da Polícia
Federal (PF) à mensagens trocadas por executivos da Odebrecht e da Braskem.
Nesses textos e em tabelas de distribuição de propina, Palocci era citado sob o
pseudônimo de "Italiano", fato que foi originalmente negado pelo
ex-ministro. Após um ano, porém, em declaração, confessou que era ele mesmo o
"Italiano".
Conexão Angola
Outro
tema que poderia ser abordado em delação é o de um suposto aumento de crédito
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para
investimentos em Angola. Também revelado na delação de Marcelo Odrebecht, o
esquema seria feito para que o BNDES investisse em países com atuação da empreteira,
que, por sua vez, conseguiria contratos naquela localidade.
No caso
da Angola, onde há presença da Odebrecht, o valor teria chegado a R$1 bilhão e
Palocci teria sido um dos interlocutores junto ao órgão, tentando aprovar as
negociações para beneficiar os negócios da empresa. Segundo Marcelo, o valor
pago ao ex-ministro pela colaboração teria sido de R$ 64 milhões.
Licitação de navios sonda
Um dos
motivos de sua prisão em 2016, Palocci foi acusado pela Lava-Jato de interferir
em uma licitação envolvendo a Petrobras. O ex-ministro teria tentado direcionar
a compra de 21 navios sonda.
Os navios
sonda são parte do projeto de exploração da reserva do pré-sal, uma das
principais do país.
Caixa 2
Para o
ex-ministro, a eleição de 2014 foi quando "o crime se sofisticou no campo
eleitoral". Em depoimento ao juiz Sergio Moro, ele falou sobre como as
empresas teriam percebido que o "problema era o Caixa 2" nas propinas
e teriam passado a realizar pagamentos de vantagens indevidas por meio de
doações oficiais. Segundo o petista, a origem dos valores era ilegal. Se
tratava um esquema onde "a ilicitude está fora do pagamento", que
segundo Palocci "a própria Lava-Jato já desvendou".
Ele ainda
destacou, na época, que teria diversas vezes pedido a empresas depósitos de
R$50 milhões para "a campanha de presidente tal, da presidente tal",
"sabendo que o tesoureiro depois ia lá e fazia os pagamentos".
Submarino Nuclear
Em outra
negociação entre a Odebrecht e o PT, intermediada pelo ex-ministro, o valor de
propina teria sido de R$ 40 milhões. Trata-se do caso da construção de um
submarino nuclear brasileiro em Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro.
Nas
delações de Marcelo Odebrecht e de Benedicto Junior, Palocci aparece como
intermediador, o ponto de referência dentro do partido com quem fechavam os
negócios. O ex-ministro chegou a negociar com João Vaccari, ex-tesoureiro do
PT, para fechar o acordo.
Versões
convergentes
O
depoimento de Antonio Palocci confirmou pontos que haviam sido revelados pelas
delações de Marcelo e Emílio Odebrecht
Palocci
estaria envolvido em dois esquemas de propina feitos entre o Instituto Lula e,
novamente, a Odebrecht.
O
primeiro caso envolve a negociação da compra de um prédio para se tornar sede do
Instituto, mas que acabou não se concretizando. Operada por Palocci,
a compra seria feita pela Odebrecht e envolveria o advogado do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, Roberto Teixeira, e o pecuarista José Carlos Bumlai.
A informação foi revelada após emails serem apresentados como provas por
Marcelo Odebrecht.
'Pacto de sangue'
Em
depoimento, Palocci também falou sobre como teriam funcionado esquemas
envolvendo o ex-presidente Lula e a empreiteira. Para ele, as denúncias sobre
sítio e apartamento seriam verdadeiras: "Eu
diria apenas que os fatos desta denúncia dizem respeito a um capítulo de um
livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do
ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante
intensa, bastante movida a vantagens".
No caso,
o sítio citado é o de Atibaia, associado ao ex-presidente, e que passou a ser
investigado por conta de uma reforma. As acusações contra Lula seriam de que os
gastos com essa reforma teriam sido pagos pela Odebrecht como um favor ao
petista. Já o apartamento é um imóvel vizinho à residência de Lula,
em São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo. A unidade teria sido dada
como presente pela empreiteira. A defesa de Lula, por sua vez,
argumenta que o ex-presidente pagava aluguel pelo uso do apartamento. No
entanto, o imóvel está no nome de Glaucos da Costamarques - primo do pecuarista
José Carlos Bumlai, amigos de Lula -, que já disse em depoimento que os recibos
de pagamento de aluguel foram forjados.
O Globo