O odor pútrido é insuportável, mas Fawaz Hamadeh resiste e, em meio a
sacos mortuários, busca os restos de seu irmão na maior vala comum descoberta
em Raqqa, ex-reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no norte da Síria. Os sacos
estão alinhados em um campo de futebol, não longe do hospital onde se
entrincheiraram os jihadistas nas últimas horas da ofensiva realizada pela
coalizão curdo-árabe para tirá-los de sua "capital" na Síria.
A vala comum foi descoberta há uma semana, sob esse campo, e Fawaz
Hamadeh ouviu dizer que seu irmão poderia estar enterrado lá. Um dos
resgatadores no local levanta uma extremidade do saco. O jovem tapa o nariz e
inclina sua silhueta frágil sobre o corpo em decomposição. Mas não detecta
nenhum traço familiar.
“Não
consigo encontrar o corpo de meu irmão nem o da minha mulher”
Corpos
encontrados em vala comum em Raqqa, cidade síria que foi dominada pelo Estado
Islâmico
Corpos encontrados em
vala comum em Raqqa, cidade síria que foi dominada pelo Estado
Islâmico... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2018/04/26/sirios-buscam-corpos-de-familiares-em-valas-comuns-deixadas-pelo-estado-islamico.htm?cmpid=copiaecola
Seu irmão morreu após ser ferido em um bombardeio, nos últimos dias da
batalha que tornou possível que as Forças Democráticas Sírias (FDS), coalizão
apoiada por Washington, reconquistassem Raqqa em outubro. "Meus pais
tiveram que partir. Ele também tinha de sair mas não encontrou nenhum veículo.
Era muito tarde", conta o jovem de 21 anos. "Respeitar os mortos é,
ao menos, poder enterrá-los em um lugar digno.
Ele observa as fileiras de sacos, os
restos de veículos oxidados e os edifícios atingidos. Suspira: "É
indescritível a magnitude do desastre que vivemos.
(...)
Por enquanto, só 10 cadáveres foram identificados. "Uma vez
retirado o corpo, um médico forense o examina. Se há familiares presentes e o
identificam, entregam o corpo a eles. Caso contrário, tiram fotos dos dentes,
ossos e detalhes anatómico e são enterrados com um número para poder
identificá-los depois", afirma Erian.
No total, 655
corpos foram descobertos nas ruínas de Raqqa desde a conquista da cidade.
"Ainda se está buscando. São encontrados graças a testemunhos dos habitantes,
ao odor, às moscas", acrescenta à AFP.
Busca sem
fim Há dias, Ali Hassan percorre também o campo de futebol em busca dos restos
de seu irmão.
“Quando
tiram um corpo, verificamos se se trata dele. Sabemos a roupa que estava
usando, os papéis que levava no bolso."
Ali
Hassan, 52
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