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terça-feira, 29 de setembro de 2015

A fúria dos movimentos sociais



Tradicionais apoiadoras do PT, entidades que representam servidores, trabalhadores sem terra e teto elevam o tom no combate à política econômica de Dilma e invadem ministérios e órgão federais. Relação nunca esteve tão estremecida 

Aliados históricos do PT, os movimentos sociais radicalizaram na luta contra o pacote fiscal da presidente Dilma Rousseff. Em uma série de invasões promovidas na última semana, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e o sindicato dos servidores públicos deram a dimensão de sua contrariedade com as últimas medidas de arrocho anunciadas pelo governo. Pelo modo como foram conduzidos – com quebra-quebras, pichações e gritos de palavras de ordem –os atos evidenciam o fim do alinhamento automático que esses grupos sempre tiveram com o Planalto, desde o início da era petista no poder em 2003, e reforçam o isolamento político da chefe do Executivo – agora sem sustentação em segmentos onde tradicionalmente angariou apoios.
FIM DA ALIANÇA
Na quarta-feira 23, os Sem-Terra ocuparam a sede do Ministério da Agricultura,
promoveram quebra-quebras e fizeram pichações com duras
críticas à ministra Kátia Abreu e ao ajuste fiscal de Dilma

Na última quarta-feira 23, os integrantes do MST ocuparam a sede do Ministério da Agricultura. Durante a manifestação, picharam o chão e as paredes do órgão com frases como “Kátia (ministra Kátia Abreu) assassina”, “agrotóxico mata” e “reforma agrária já” que criticavam o uso abusivo de agrotóxicos e o fechamento de escolas no campo. Havia cerca de mil pessoas no protesto. Os Sem-Terra só dispersaram após a chegada da PM, que fez uso de gás lacrimogêneo.

No mesmo dia, foram registrados protestos nos ministérios da Fazenda, Educação, do Planejamento e do Turismo. As sedes do Ministério da Fazenda em São Paulo foram invadidas pelos Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A intenção era protestar principalmente contra os cortes de gastos com o programa social Minha Casa, Minha Vida. Cerca de 8 mil pessoas participaram do ato. “Nós não vamos aceitar os cortes e que a crise interfira nos investimentos de moradia”, disse Guilherme Boulos, líder do MTST. “O Minha Casa Minha Vida 3 foi anunciado no dia 10 de setembro, mas parte do dinheiro foi cortado. Por isso estamos aqui hoje”, completou.

Guilherme Boulos, do MTST, diz que o movimento não
vai aceitar cortes nos investimentos em moradia

O Programa Minha Casa, Minha Vida, vai sofrer um corte de R$ 4,8 bilhões. Para compensar as perdas, o governo tenta fazer bondade com chapéu alheio. Segundo o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para que a eliminação das despesas não comprometa a execução do programa a proposta é que o FGTS direcione recursos para o programa. A solução não agrada os movimentos sociais. “A Fazenda administra muito mal o Orçamento Federal. Nós tínhamos dito, antes do dia 3 de setembro, que, se não resolvesse nossa situação, a gente ia pra rua”, bradou Boulos.

Os sem-teto iniciaram o protesto pela Praça da Luz com uma pequena caminhada pelas ruas do Centro até a sede do ministério em São Paulo, na Avenida Prestes Maia. A entrada foi pacífica. Membros do Andes (Sindicado dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) também participaram do protesto. Eles esperavam uma reunião com representantes do governo para apresentar a pauta. “Estávamos em um processo de negociação, que já estava difícil. A partir do anúncio do ajuste, houve retrocesso muito grande”, disse Paulo Rizzo, presidente do Andes. Os docentes estavam em greve havia 116 dias. A categoria diz que a negociação envolvia a realização de novos concursos, reconstrução de carreiras e reajuste salarial, o que não acontecerá tão cedo, no que depender da área econômica do governo.

Foto: JOEL RODRIGUES/FRAME/ESTADÃO CONTEÚDO 

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