A “defesa” das estatais sempre esteve no discurso petista. Era um ponto inegociável, isto é, sem
qualquer possibilidade de diálogo. Basta
recordar como o PT pôs sua tropa de choque na rua para tentar inviabilizar as
privatizações do governo FHC. Felizmente, a intolerância petista não foi capaz de impedir
as privatizações dos anos 90 e a população pôde ter acesso, por exemplo, a serviços de telecomunicações de melhor
qualidade - ao menos, já não é preciso pagar ágio para ter uma linha
telefônica.
Uma vez que, com as inegáveis melhorias nos serviços
privatizados, já não cabia mais na agenda pública discutir a reestatização
das empresas privatizadas, era de esperar que a
bandeira petista a favor das estatais significasse ao menos algum avanço para
as estatais remanescentes. No entanto, o que se vê depois de 13 anos do
partido no governo federal é o avanço do
retrocesso. E isso não ocorre apenas na Petrobrás, envolvida no maior
escândalo de corrupção da história nacional, como consequência direta do
aparelhamento promovido nos governos Lula e Dilma. Há uma generalizada
deterioração das estatais.
Reportagem do jornal O Globo a
respeito das empresas estatais dependentes do Tesouro Nacional - são 18 nesse grupo - revela que elas estão mais inchadas e mais deficitárias. Ao
analisar essas empresas ao longo dos anos do primeiro governo de Dilma, vê-se
uma trajetória assaz preocupante. Em 2009, o resultado
global dessas 18 empresas foi um
prejuízo de R$ 179 milhões. Em 2013,
o déficit foi simplesmente dez vezes maior, alcançando a cifra negativa de R$
1,8 bilhão. Era a consequência imediata do fato de que, das 18 estatais
dependentes do Tesouro Nacional, 12 haviam fechado o ano no vermelho.
Um
governo responsável utilizaria todos os meios para reverter essa situação. No entanto, os números da folha de
pagamento mostram que o governo Dilma não foi apenas omisso em reverter o
quadro, mas promoveu ativamente essa situação. Em
2009, as 18 estatais tinham 36.488 funcionários. Em 2013, já eram 47.433 pessoas. Mas o descaso administrativo do governo Dilma fica
ainda evidente quando se observa o
crescimento da folha de pagamento - é que o número de funcionários
cresceu 30%, mas a folha de pagamento cresceu 108%. Em 2009, foram
gastos R$ 3,5 bilhões com os salários dos funcionários.
Em 2014, foram R$ 7,3 bilhões.
A
situação de crescimento desenfreado da folha de pagamento não apenas afetou o resultado fiscal
do governo, mas a qualidade do uso dos recursos do Tesouro Nacional. No ano de
2014, o
contribuinte pôs R$ 15 bilhões nas 18 estatais, mas apenas 28% desse
dinheiro foi destinado a investimentos. Gastou-se muito e gastou-se mal.
Entre
as estatais dependentes do Tesouro -
estão na lista a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), por exemplo -, um caso retrata bem a “eficiência” petista. Trata-se
da Empresa de Planejamento Logístico,
fundada em 2002 para planejar a construção do trem-bala, projeto que até hoje não saiu do papel e não se sabe se algum
dia sairá. Na sua criação, tinha 65
funcionários. Hoje, conta com
161. E o atual número se deve ao período de vacas magras - antes do ajuste fiscal, a empresa chegou
a ter 185 funcionários.
Tal quadro desmerece a
capacidade administrativa de qualquer governo, ainda mais de um governo cujo
partido sempre afirmou estar a favor das estatais. Mostra
como o discurso pode estar distante da realidade. E esse mal é contagioso.
O órgão do Ministério do Planejamento que cuida das estatais - Departamento de Coordenação e Governança das
Empresas Estatais - afirma que sua missão é “aperfeiçoar a atuação do Estado enquanto acionista das empresas
estatais federais, com vistas a potencializar os investimentos da União em
benefício da sociedade”. A sociedade
está à espera desses benefícios.
Fonte:
Editorial – O
Estado de São Paulo
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