O que há de evidente no pacote anunciado e causa perplexidade em toda a
população é a resistência da presidente Dilma em cortar gastos. Em
reduzir a máquina. Em sacrificar na própria pele. Como uma monarca que
distribui castigos a seus súditos, Dilma estabeleceu que a conta – que
ela mesma criou por abuso administrativo – deve ser coberta pela
sociedade. O chamado esforço fiscal sairá do seu, do meu, do nosso
bolso. Se aprovada no Congresso, a proposta representará acima de tudo
um brutal aumento da carga de impostos, seja através da famigerada CPMF –
o mais injusto e cumulativo dos tributos, já que incide repetidas vezes
na cadeia de despesas do contribuinte – seja com o aumento de alíquota
do IR, especialmente sobre o patrimônio.
Tomada, por exemplo, a nova
taxa média de 25% de carga fiscal na venda de imóveis, o Estado ficará
com 1/4 do valor do bem de cada cidadão. Praticamente um sócio da sua
casa, sem ter contribuído com nada na hora da aquisição. Quem aceita
isso? Trata-se, indiscutivelmente, de uma espoliação de capital sem
precedentes para cobrir um rombo que Dilma produziu com uma gestão tão
irresponsável como dispendiosa. Prevaleceu ali o desperdício, mascarado
pela mentira de que tudo ia “às mil maravilhas”. E esse engodo gerou o
estouro das finanças públicas que passou a ser bancado através de
aumentos sistemáticos na luz, nos combustíveis, nos juros abusivos do
crediário, na maioria dos preços administrados pela União. O repasse dos
abusos virou prática. E agora a monarca Dilma quer mais. Volta a
promover derramas para bancar uma custosa estrutura na qual fez mera
maquiagem, medidas que não passaram de perfumaria, para alegar que
também está participando da economia, quando de fato apenas transferiu
compromissos.
Caso, por exemplo, do programa “Minha Casa, Minha Vida”,
que passará a ser bancado pelo FGTS dos trabalhadores, e do PACo, que
sairá do dinheiro reservado a emendas parlamentares. Nesse pormenor, a
resistência de políticos é grande e a presidente já cogita até abandonar
a ideia. Bem como no caso do adiamento de reajuste do funcionalismo e
no capítulo cortes de recursos destinados ao Sistema “S”. Restará,
assim, apenas a tungada sobre os brasileiros para abastecer o butim
federal. Não existe na prática nenhum esforço do Governo. Dilma se
recusa a mexer internamente. Nos próximos dias vai fundir alguns
ministérios e eliminar outros, atendendo a pressões, no intuito de
sinalizar austeridade. Nada mais enganoso. Os milhares de cargos
comissionados, o séquito de assessores e apadrinhados, as encomendas de
talheres de prata e carros modelos do ano continuam por lá. Como deve se
sentir o cidadão - hoje um dos mais sobretaxados do mundo! - ao ser
convocado a participar com outra cota de seus rendimentos para essa
festança?
Quem está disposto a entregar um centavo sequer a um governo
perdulário, de decisões inconsequentes e que se recusa a diminuir suas
despesas correntes? Falta credibilidade e seriedade a presidente para
exigir tamanho engajamento. Dilma parece estar vivendo em outro mundo,
fora da realidade, sem a menor ideia do que fazer, persistindo na
gastança. Não entendeu nada sobre a gravidade da situação. Ou finge não
entender e parte com apetite redobrado para cima do contribuinte, com o
intuito de encher as burras e seguir na sua marcha de insensatez. A
sobretaxa fiscal nos ombros do povo é a mais cruel prática exercida por
governantes autoritários e impopulares. Dilma dá demonstrações de não se
preocupar com isso. Na decisão relativa à CPMF, primeiro disse que ela
serviria para cobrir o orçamento da saúde. Voltou atrás, cancelou o
projeto e dias depois reapresentou a medida sob a alegação de que
aplicaria a arrecadação para baixar o déficit da previdência. Pura
conversa! O buraco previdenciário cresce exponencialmente a cada ano e
só será contido com reformas estruturais do sistema. A CPMF, por não se
tratar de verba carimbada, pode, como ocorreu no passado, se transformar
num “grande engodo”. Essa, aliás, foi a definição dada pela própria
Dilma em relação a CPMF quando perguntada, ainda em campanha pela
reeleição, se planejava recriar o imposto. Ela lançou um sonoro “não”.
Mas, como todos hoje sabem, não dá para acreditar em nada do que a
mandatária disse, ou diz. Assombroso é ela não encontrar fórmulas
internas de sanar o estouro de R$ 30 bilhões apresentado na sua
contabilidade improvisada. Por essas e por outras, com a amplitude da
crise, que veio no bojo de pedaladas fiscais e de toda sorte de
malversação de recursos, é que aumentam as mobilizações pró-impeachment.
Não há golpe no movimento. Apenas o direito legítimo de se varrer do
horizonte práticas indecentes e danosas à coisa pública. Se os
parlamentares ainda guardam algum respeito pela sociedade, que busquem
encurtar a agonia do País. As forças vivas da Nação precisam encontrar
logo uma saída para não continuarmos nessa aventura sombria.
Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques, diretor editorial
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