O Globo
Preço impagável do erro econômico
A dinâmica criada pelas falas de Lula na economia ameaça seu próprio projeto, foi o que ouvi de pessoas de fora do Executivo
O presidente Lula, segundo pessoa que acompanha esse debate interno, tem ansiedade para cumprir as promessas que fez. Natural. E tem conseguido. A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, o aumento do salário mínimo, a nova formatação no Bolsa Família, o Desenrola que está para sair, são promessas que já estão sendo entregues. A faixa de isenção foi para dois salários mínimos, e Lula queria R$ 5 mil. Mas 61% do universo das pessoas que ganham até R$ 5 mil são atendidas pela decisão porque ganham até R$ 2.640. Estão, portanto, contempladas pelo primeiro passo dado pelo governo. Se tudo fosse atualizado imediatamente o custo fiscal seria de R$ 130 bilhões. Por isso a equipe econômica propôs ir gradualmente para a meta.
Lula falou com saudosismo do tempo em que os juros subiam meio ponto e a TJLP caía meio ponto para ajudar os empresários. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, havia dito que não ressuscitaria a TJLP. Tomara que ela não volte mesmo, porque foi um canal de doação de recursos públicos para os muito ricos. Aumentar o subsídio para o capital para compensar a alta de juros reinstalaria uma espiral nefasta, em que a política monetária ia para um lado, a política fiscal, para o outro. Isso aconteceu no governo Bolsonaro. O BC teve que subir mais os juros porque o Ministério da Economia deu estímulos fiscais para tentar ajudar a campanha do então presidente.
Os erros na economia se acumulam. Os acertos em outras áreas são
muitos. Quando o governo anuncia uma força tarefa para combater o crime
no Vale do Javari e nomeia a antropóloga Beatriz Matos, viúva de Bruno
Pereira, para o cargo de coordenadora-geral de povos indígenas isolados e
de recente contato não poderia estar acertando mais. Beatriz é da
Funai, é qualificada para o cargo e conhece bem o Vale do Javari, onde
há o maior número de povos isolados. No governo anterior, a vaga chegou a
ser ocupada por um missionário, não funcionário do órgão e ligado a uma
entidade com um longo histórico de violência cultural contra os
indígenas. A antropóloga disse, ao aceitar a indicação, que a fazia “com
esperança, alegria e saudade”.[também nomeou uma ministra por apresentar em currículo que é irmã de uma vereadora assassinada; outra, cujo cargo nos foge a memória, por ser neta de um terrorista; outra com pendência em prestação de contas de dinheiro público; mais uma com ligações com milícias e por aí vai.]
O governo conduz uma transição delicada. Está contrariando interesses, muitas vezes do crime, quando se trata das políticas ambiental e indígena. Nessa travessia todo o cuidado é pouco. Uma autoridade do Judiciário me disse que o governo Lula precisa se “consolidar” o mais rapidamente possível, porque “o dia 8 de janeiro ainda não acabou”. É nesse painel de crise, temores e tremores que o governo Lula vai trabalhando nesse pouco mais de um mês e meio. Errar na economia [errar? impossível!!! visto que o único erro da economia até agora é o da COMPLETA OMISSÃO. Não fazer nada quando há muito a ser feito é o pior dos erros.] colocará em risco o edifício democrático cujas bases o país só começou a fortalecer.
A dinâmica criada pelas falas de Lula na economia ameaça seu próprio projeto, foi o que ouvi de pessoas de fora do Executivo
Alvaro Gribel, Coluna Miriam Leitão - O Globo
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