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quarta-feira, 22 de março de 2023

A picanha não veio; como fica agora a grande ideia estratégica de Lula para governar o Brasil?

J. R Guzzo

Presidente, naturalmente, não disse uma sílaba sobre o dinheiro que o cidadão precisa para comprar carne ou qualquer outra coisa

O presidente Lula voltou a falar da picanha, sua grande ideia estratégica para governar o Brasil – mas agora, ao contrário das promessas vazias que fez quando pedia votos na campanha eleitoral, foi para tentar explicar por que a picanha não veio. 
Não veio porque não poderia mesmo ter vindo, pois se trata de uma óbvia questão de produção e de renda, e não de um desejo.
Mas Lula, como de costume, continua a mentir sobre este e quaisquer outros assuntos. Segundo ele, a picanha virá logo mais; esperem só um pouquinho, e ela estará aí. “O preço vai cair”, anunciou o presidente. “Tem de cair”. É mesmo? “Tem de cair”? 
E o que o seu governo está fazendo para que o preço caia? Nada.  
Na verdade, está fazendo exatamente o contrário, com a guerra ao produtor rural, a obsessão de “ajudar os pobres” através do aumento da inflação (segundo Lula e os economistas de esquerda, inflação é coisa muito boa para o pobre) e a inépcia cada vez mais agressiva do seu governo.

Lula, naturalmente, não disse uma sílaba sobre o dinheiro que o cidadão precisa para comprar carne ou qualquer outra coisa; não tem nenhuma preocupação com isso, dentro do seu projeto permanente de governar o país através de discursos que não guardam, nunca, o menor ponto de contato com a realidade. O preço atual da picanha no açougue, que “tem de cair”, está hoje por volta de R$ 70 o quilo; é metade, simplesmente, do que custa nos Estados Unidos, e menos ainda na Europa.  

Não é o preço que está alto. É que o consumo de carne depende de quanto as pessoas têm no bolso; no Brasil a maioria tem pouco, e por isso consome pouco. 
O presidente continua se exibindo como o campeão mundial da “picanha para o povo”, mas, na prática, as coisas correm na direção inversa – pois, entre outras coisas, a renda corre na direção inversa. 
O aumento do salário mínimo que ele assinou há pouco (e que nos discursos da campanha iria ser o maior da “história desse país” etc. etc. etc.) foi de R$ 18 por mês
Com a picanha a R$ 70 o quilo, dá para comprar 250 gramas a mais por mês, ou menos de 10 gramas por dia. Isso mesmo: 10 gramas. 
É um deboche. É, também, a quantas anda na vida real a grande promessa – segundo o próprio Lula, um golpe genial de esperteza política – que ele fez durante a campanha. [outra em que o Lula atrapalha a vida do pobre:  tem um aposentado que quando soube que Lula havia 'determinado' que os juros baixassem para aquela categoria, animou-se e declarou que iria pagar a última prestação do empréstimo no banco e contrataria outro para garantir a picanha do churrasco do final de semana; pegou dinheiro emprestado com um 'amigo', um agiota para pagar que faltava do empréstimo. 
Procurou o gerente e quando lhe foi apresentada a tabela de juros - sem o desconto prometido pelo mentiroso do Planalto - foi informado "que com os juros do Lula os empréstimos estavam cancelados para todos os aposentados"; correu na CEF, estava no BB e a mesma informação - ambos bancos do governo.
MORAL DA HISTÓRIA: ficou sem o churrasco apicanhado e correndo o risco de ser 'comido' pelo agiota.]

Em menos de 90 dias o governo Lula está oferecendo à população uma sequência de desastres que chega a ser incompreensível – como é possível alguém fazer um governo tão ruim, e em tão pouco tempo?  
O desemprego já voltou a subir, depois de cair durante quase um ano inteiro. O crescimento econômico, segundo as organizações internacionais, vai ser menor em 2023. 
Como, segundo Lula, o Brasil não “cresceu nada” em 2022, onde vamos estar no fim deste ano? 
 As montadoras voltam a dar férias coletivas, como fizeram no tempo da covid; tiveram, em fevereiro, o pior mês dos últimos 17 anos.  
O preço dos combustíveis subiu – o que, segundo o governo, é bom para “o meio ambiente” ou outro disparate do mesmo tipo. O imenso projeto de “âncora fiscal” do ministro da Economia não é nada; querem, exclusivamente, achar um jeito de gastar mais – esta sim, a única ideia econômica de Lula e do seu governo. 
 
O culpado de tudo o que está acontecendo de ruim, porém, não é ele. É o presidente do Banco Central, a única alta autoridade que Lula não nomeou, porque a lei não permite, e a única que entende alguma coisa de economia no governo.  
O PT está em campanha aberta para que ele tenha de deixar o cargo; é a sua explicação, no momento, para a calamidade que o governo contratou. O problema, é óbvio, só iria ficar dez vezes maior se ele saísse. Mas é o que interessa no momento para Lula: acusar alguém, pouco importando se a acusação faz qualquer sentido. E o futuro? Tanto se lhe dá, o futuro. Tem certeza de que não vai sofrer as consequências de nada do que está fazendo.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


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