Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Catalunha. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Catalunha. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Tanto pró e tanto contra

Dizem alguns analistas: a necessidade da reforma da Previdência é tão óbvia que, certamente, acabará sendo feita

Foram ruins os principais indicadores da economia real em agosto. A produção industrial caiu, o comércio vendeu menos e os serviços prestados às famílias e aos negócios perderam volume. Para fechar a sequencia negativa, ontem o Banco Central divulgou seu Índice de Atividade Econômica: queda de 0,38% no mesmo período, pior que o esperado.

Como explicar então a melhora nos índices de confiança e nas expectativas de crescimento para este ano e o próximo?  Não se trata de patriotada do governo. Aqui no Brasil, consultorias, departamentos econômicos de bancos e associações, todos se declaram mais animados em relação aos próximos meses. Mesma posição tomada por instituições internacionais, como o FMI e Banco Mundial, e companhias multinacionais.       
Há bases para esse moderado otimismo. Aqui: além da clara mudança de política econômica, para melhor, registra-se a inflação muito baixa e a consequente queda da taxa real de juros. Dá-se como certo um período longo de juros baixos - até 2019, pelo menos  – uma mudança e tanto na economia brasileira tão acostumada, e viciada, com juros na lua. Isso terá impacto positivo no consumo e no investimento. Lá fora, é muito bom o desempenho dos principais países e, especialmente, do comércio global, que apresenta um ritmo de crescimento  como há tempos não se via.
As altas frequentes das bolsas americanas, com sucessivas quebras de recorde, exprimem esse bom humor global. Mas por que mesmo o mercado americano vai tão bem? Se você não sabe, não se preocupe. O prêmio Nobel de economia, Richard Thaler, também não sabe. Disse ele (tradução livre): "quem poderia imaginar que o mercado continuaria em alta durante este que é o tempo de maior incerteza de minha vida? Não pode ser a certeza de que haverá um maciço corte de impostos (nos EUA), dada a inabilidade do Congresso republicano em agir de modo coordenado. De modo que não sei de onde vem isso."
Thaler ganhou o Nobel com a tese de que as pessoas (e, pois, as empresas, o governo, as instituições) tomam frequentemente decisões irracionais. Logo, para ele, não é surpreendente que o mercado possa estar equivocado nessa já longa alta nas bolsas americanas (oito anos!). Por outro lado, há analistas e operadores para os quais a economia mundial pode estar mais aquecida do que pensa o FMI - instituição que recentemente reviu para cima suas projeções de expansão para quase todos os países.
Argumentos: juros baixos ainda por algum tempo; inflação no chão; empregos e, pois, renda total em alta; famílias, empresas e governos com dívidas reduzidas e controladas; investimentos em novas tecnologias (carros elétricos e autônomos, internet das coisas); EUA, China, Europa e Japão entregando crescimento e, pois, demanda global. O que queriam mais? Pode-se devolver a questão com outras perguntas: e se Trump fizer alguma besteira das grandes? Ele tanto pode provocar um conflito com a Coréia do Norte quanto explodir o déficit público americano, gerando inflação e juros, problema que se espalharia mundo afora. Há pressões nacionalistas e/ou protecionistas por toda parte (Brexit, Catalunha, por exemplo)  que podem colocar areia na máquina da economia global. O próprio Trump pode derrubar acordos regionais e internacionais, reduzindo o comércio global.
 Também há incertezas por aqui, todas no campo da política. A sequência do ajuste da economia brasileira - que está atrasada em relação às demais - depende de um amplo conjunto de leis, ou seja, de entendimento entre o governo e o Congresso, de modo a se formar uma maioria pró-reformas. Quem pode garantir que isso vai acontecer? Dizem alguns analistas: a necessidade da reforma da previdência é tão óbvia que certamente acabará sendo feita. Um dia as pessoas hão de entender essa necessidade, agora, nesse resto de governo Temer, ou no próximo.
Aliás, já se ouve por aqui que não será problema se a reforma ficar para o próximo presidente. Mas vai daí que o tema deverá constar da próxima campanha presidencial - e o que temos visto para 2018? O eleitor brasileiro está mais para escolher um Macron ou um tipo Trump do sul?  Em resumo, há boas razões para a expansão da economia global e a recuperação da brasileira. As expectativas dominantes hoje estão nesse lado, o lado pró-racionalidade, tipo "no fim vai dar certo".
 Mas as incertezas também estão aí e Thaler pode ter razão ao desconfiar que as pessoas podem estar fazendo a coisa errada.  Vai depender do que? Do que as pessoas fizerem, aqui e lá fora. Isso te anima?

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

sábado, 14 de outubro de 2017

Chávez chega à Catalunha

A Catalunha pode se converter na Venezuela do Mediterrâneo.

É preciso assinalar que, historicamente, a esquerda anti-sistema espanhola utilizou em repetidas ocasiões o nacionalismo catalão como um aríete para tentar dinamitar a ordem constitucional. O fez em 1909, no curso da denominada “semana trágica”, quando as oligarquias catalãs se aliaram com a extrema esquerda em uma tentativa de conservar privilégios, o que concluiu com uma revolução de rua marcada pelo sangue.

Voltou a suceder em 1917 quando, seguindo o exemplo russo, a extrema esquerda voltou a se aliar com as oligarquias catalãs em uma tentativa infrutuosa de fazer voar pelos ares a monarquia constitucional. Finalmente, em 1931, a aliança conseguiu seus objetivos devido a que um setor importante da direita somou-se a ela e a que o próprio monarca Alfonso XIII rompeu, dando lugar à proclamação da Segunda República.  O regime republicano foi agredido pela quase totalidade da esquerda desde o princípio, uma vez que o considerava não como um regime que deveria perdurar como um passo no caminho para a implantação da ditadura do proletariado ou, em outras versões, do comunismo libertário.

Em 1934, de novo, a extrema esquerda – começando pelo PSOE – se aliou com o nacionalismo catalão e, em outubro, se alçou em armas contra o governo da república. Na Catalunha a revolução durou apenas algumas horas, porém nas Astúrias se prolongou algumas semanas causando centenas de mortos. Desde outubro de 1934 até fevereiro de 1936, o nacionalismo catalão continuou unido à extrema esquerda, o que derivou em uma vitória ilegal da Frente Popular e em um clima revolucionário que precipitou a sublevação de julho de 1936 com a qual deu início a guerra civil.

Pensou-se que tão sinistra aliança não ia se repetir mais, porém, de fato, é essencial seu conhecimento para compreender qual é a situação da Catalunha e o que pode ocorrer no futuro. Em princípio, na mesma região catalã, o atual governo nacionalista tem uma clara inclinação para a extrema esquerda. Seu vice-presidente, Junqueras, pertence à Esquerra Republicana de Catalunya (Esquerda Republicana Catalunha) – ERC -, um partido que participou do levante armado contra a República de 1934 e que, durante a guerra civil, torturou e assassinou milhares de pessoas na Catalunha.

Não deixa de ser significativo que Lluis Companys, presidente da Catalunha, tivesse em seu haver mais fuzilamentos durante o período de julho de 1936 a maio de 1937, do que todos os que se produziram na mesma região durante as quase quatro décadas da ditadura Franco. Atualmente a ERC se caracteriza por um aberto anti-semitismo, uma acentuada simpatia com o Islã, uma aliança expressa com a organização terrorista basca ETA e um apoio cerrado a ditaduras como a chavista na Venezuela. De fato, Junqueras foi objeto de um ato de repúdio dos exilados venezuelanos em Miami há poucos meses e é lógico que fosse assim, porque seu partido bloqueou no parlamento espanhol e no europeu todas as tentativas de sancionar, ou ao menos condenar, a ditadura chavista da Venezuela.
Marta Torrecillas, a farsante cuja imagem gritando que a polícia espanhola lhe havia quebrado os dedos um a um percorreu o mundo, também pertence à ERC. 

Apenas algumas horas depois ficava claro que ela só tinha uma ligeira inflamação em um dos dedos e, inclusive nesse caso, o dedo pertencia à mão oposta à que o agente da polícia lhe sujeitou. Torrecillas, à parte de ser uma flagrante embusteira, utilizou crianças e idosos como escudos humanos no local onde se celebrava o referendo ilegal. Ela também participou do ataque contra um aquartelamento da Guarda Civil que teve lugar poucos dias antes do referendo ilegal.



 

domingo, 29 de novembro de 2015

O faroeste é global

“A indústria militar privada tornou-se global, legitimada pelos Estados Unidos” e a "contratação de latino-americanos sinaliza para onde caminham as guerras”

Pouca atenção se prestou à notícia divulgada esta semana sobre mercenários latino-americanos atuando no Iêmen a serviço dos Emirados Árabes Unidos (EAU). 
 Blackwater, a maior empresa militar privada dos EUA, foi contratada por governos do Golfo Pérsico para apoiar a luta dos rebeldes contra Bashar Al-Assad (Foto: Portal Forum)

Compreende-se. São guerras em demasia para acompanhar.  E com protagonistas bélicos da musculatura e retórica de um Vadimir Putin, François Hollande, Barack Obama ou Recep Erdogan, a existência de uma brigada de 1.800 latino-americanos suando no deserto empalidece.

Contudo, a notícia é relevante para se entender o faroeste global em que vivemos. Guerreiros de aluguel existem desde a Idade Média, contratados por monarcas ou cidades-estado, poderosos e papas. Só foram perdendo utilidade com a formação das nações-estado e a criação dos exércitos a serviço da pátria. Ressurgiram com força em tempos recentes depois que muitos países aboliram o serviço militar obrigatório.

Os Estados Unidos, por exemplo, foram buscar no setor militar privado metade do pessoal deslocado para a zona de combate no Iraque. No Afeganistão, essa proporção já está mais próxima dos 70%. Também a Nigéria recorre a mercenários para enfrentar o grupo terrorista Boko Haram e a Arábia Saudita paga sudaneses para lutar no Iêmen.

Há quem garanta a presença de combatentes de aluguel atuando na Ucrânia, sob contrato da Rússia. Além disso, a indústria militar privada protege oficialmente empresas petrolíferas em zonas de conflito e faz as vezes de escudo bélico ou policialesco em países onde forças regulares são omissas, escassas ou sem apetite para morrer.

É o caso dos sete Emirados Árabes Unidos, cuja população é rarefeita e tem em Abu Dhabi e Dubai as vitrines mais ofuscantes de seus petrodólares. Segundo o “New York Times”, data de 2010 a fundação da primeira base a abrigar e treinar tropas estrangeiras de aluguel.  Essa legião estrangeira incluiria panamenhos, salvadorenhos e chilenos, mas, ao que se saiba, nenhum brasileiro por enquanto. Os mais eficazes seriam os colombianos, pela experiência de décadas de enfrentamento com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias (Farc) de seu país. Egressos do Exército colombiano regular, embolsam nos Emirados um salário de cinco a dez vezes maior do que o soldo que recebiam em casa. “A indústria militar privada tornou-se global, legitimada pelos Estados Unidos”, explica o americano Sean McFade, autor de “O mercenário moderno”, “e a contratação de latino-americanos sinaliza para onde caminham as guerras”. McFade serviu na 82ª Divisão Aerotransportada do Exército americano antes de migrar para a Dyn Corporation International, uma das maiores do setor privado.

Conhece bem os dois lados, portanto, e se insurge contra a péssima reputação do setor. Meio ano atrás, quatro seguranças da temida Blackwater, cuja extensa folha corrida de abusos obrigou-a a mudar de nome para Academi, foram condenados a 30 anos de prisão por terem assassinado 17 civis iraquianos em Bagdá, no ano de 2007. Estavam a serviço das tropas americanas, e sua condenação nos tribunais dos Estados Unidos foi recebida com alívio pelos liberais.

Dois anos antes, porém, ocorrera outro tenebroso massacre, também no Iraque, só que praticado por um esquadrão da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais dos EUA. Eles teriam surtado com a morte de um companheiro explodido por uma mina em Haditha, e se puseram a vingá-lo. Ali, na hora. Primeiro fuzilaram os cinco pedestres mais próximos. Em seguida, foram de casa em casa e assassinaram outros 19 civis, alguns com vários disparos à queima-roupa. Entre as vítimas, de 3 a 76 anos de idade, havia um cadeirante.

Julgados em tribunais do Pentágono, todos os envolvidos no massacre foram inocentados exceto um, penalizado com redução da patente e corte no soldo. Conclusão do ex-soldado, ex-mercenário e ex-aluno de Harvard Sean McFate: decorridas quase duas décadas de guerras coalhadas de abusos, nenhum oficial americano até hoje recebeu pena severa.

Há, porém, um aspecto mais sombrio do que a aplicação de códigos de honra, justiça e ética distintos para membros das Forças Armadas e “terceirizados”: o fato de práticas comumente atribuídas a mercenários terem contaminado as fileiras dos exércitos regulares. Nesta guerra global contra o terrorismo que a revista “Foreign Policy” define como “custosa, autoperpetuante, sem rumo e sem fim”, os desvios só tendem a se multiplicar.

Na França recém-saída dos múltiplos atentados terroristas de duas semanas atrás, registra-se um surto de fervor patriótico. As filas de jovens nos postos de recrutamento quintuplicaram: a média de 300 voluntários antes da sexta-feira 13 saltou para 1.500 por dia. Afirmam que o inimigo a abater é o Estado Islâmico, mas poucos saberiam definir o que é, onde fica, o que quer e como vencer esse inimigo. Pior: seus comandantes e o chefe da nação também tateiam.

Saudade dos tempos igualmente ferozes, porém mais simples, da Guerra Civil espanhola. Quisera o mundo de hoje ser tão compreensível como o descrito por George Orwell em “Homenagem a Catalunha”, no qual o escritor relata seu engajamento naquele conflito de ideais do final dos anos 1930. Para lá acorreu uma legião estrangeira desarmada com apenas uma certeza na cabeça: a de se juntar à “luta do povo contra a tirania”. “Era a única coisa concebível a fazer”, escreveu o autor.

Eles vieram de todos os cantos do mundo, trazendo seus nomes consagrados — além de Orwell, Arthur Koestler, André Malraux, John dos Passos, Ernest Hemingway, entre tantos outros. Chegaram e pegaram em armas por uma causa. Todos, em graus variados, emergirem da luta profundamente desiludidos com o que testemunharam nas próprias fileiras. Orwell nunca se arrependeu de ter combatido, apesar da desilusão com o comunismo e do tiro que lhe furou a nuca e por pouco atingiu a carótida.

No atual faroeste de alianças letais e interesses mercenários, é torcer para que esse estado de guerra permanente e sem fronteiras não engula uma geração a mais da que já engoliu.

Fonte: Dorrit Harazim, O Globo


sexta-feira, 27 de março de 2015

Ódio na Rede



O Twitter não pode se transformar em um reduto de impunidade para crimes contra os direitos fundamentais
Muito pouco depois de o avião da Germanwings que havia partido de Barcelona cair nos Alpes franceses com 150 passageiros a bordo, começaram a pingar no Twitter mensagens que mostravam um dos lados mais escuros da sociedade: o ódio. Enviadas de contas anônimas, tinham em comum a manifestação de alegria pelo fato de terem morrido catalães no acidente.  Depois das primeiras notícias, alguns não hesitavam em desejar que todas as vítimas fossem catalãs e outros minimizavam o ocorrido da maneira mais infame: “Não façamos drama, no avião viajavam catalães e não pessoas”.
As redes não funcionam só como um termômetro da temperatura emocional de uma comunidade em dado momento. Também são um espelho de seu nível educacional e de sua qualidade intelectual e humana. A partir desse ponto de vista, na terça-feira pudemos constatar com tristeza o muito que tem de melhorar a coletividade a que pertencemos. Deleitar-se com crueldade da desgraça alheia é ofensivo para as vítimas e para qualquer um que o leia.
Às deposições dos possuídos pelo ódio somaram-se, no fim do dia, comentários terríveis de telespectadores contrariados com o fato de a Telecinco ter suspendido o programa Mujeres y hombres y viceversa para transmitir um boletim especial sobre o acidente.
Se se tratasse de uma questão de sensibilidade, caberia apenas lamentar o grotesco e, talvez, exigir melhoras na educação. Mas, neste caso, pode-se fazer algo mais. Algumas das mensagens podem se encaixar no que o artigo 510 do Código Penal define como crimes de incitação ao ódio e à violência. São passíveis de processo e punição.
É algo a se comemorar que tanto o ministro do Interior como os Mossos d’Esquadra (a polícia da Catalunha) tenham ordenado identificar os autores das mensagens potencialmente delituosas. E os advogados agrupados na plataforma Drets.cat anunciaram que levarão à procuradoria 200 dessas mensagens. A investigação deve chegar até o final. A Rede não pode transformar-se em um reduto de impunidade para esses comportamentos, nem neste caso, nem em tantos outros que infelizmente aconteceram antes.

Fonte: El País