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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Drone de Biden matou crianças? - Guga Chacra

O Globo

Saída do Afeganistão

Dez afegãos de uma mesma família, incluindo sete crianças, teriam sido mortos por um ataque de drone em Cabul ordenado por Joe Biden em 29 de agosto. 
É o que indicam investigações paralelas independentes do New York Times e do Washington Post
Naquele dia, o presidente dos EUA celebrou a ação militar porque, supostamente, havia impedido um novo atentado do Estado Islâmico
Era uma tentativa da Casa Branca de alterar a narrativa durante o fiasco na implementação da retirada das tropas do Afeganistão, dias depois de um outro ato terrorista matar 182 pessoas, incluindo 13 militares americanos, em meio ao caos no aeroporto da capital afegã.

Destroços de uma casa atingida por ataque de drone dos EUA em Cabul

Diante das evidências cada vez mais fortes de que a ordem de Biden para o ataque de drone resultou na morte de inocentes, o governo americano mudou mais uma vez sua versão. Em depoimento ao Senado, o acuado secretário de Estado, Antony Blinken, disse que o governo ainda “investiga” o que ocorreu. Como questionaram alguns senadores, se havia dúvida, por que o disparo foi ordenado? Por que Biden e sua equipe celebraram a ação como se tivessem eliminado uma célula do Estado Islâmico a caminho de realizar um atentado, quando, ao que tudo indica, tinham alvejado crianças? [Biden é o resultado, piorado, obtido com a soma da crueldade de Stalin, Mao e Kim Jong-un; já sua vice, Kamala Harris, é o mesmo material acrescido de Pol Pot
Biden, logo que assumiu, revelou sua capacidade assassina e imensa  crueldade, assinando ordens executivas favoráveis ao aborto.]

A resposta é simples. Muitos dos ataques de drones dos EUA matam civis, incluindo crianças e idosos sem nenhuma ligação com o terrorismo. Simplesmente, o governo dos EUA anuncia que “seis terroristas da Al-Qaeda foram mortos em um bem-sucedido ataque de drone no Iêmen”. Sem dúvida, em muitas ações, terroristas de fato foram mortos. Mas vários levantamentos de órgãos independentes indicam que alguns ataques acabam por matar civis, como no caso de Cabul.

Em junho, o Pentágono chegou a admitir algumas mortes no Iêmen, mas somente após enorme pressão de entidades independentes, como a Clínica de Direitos Humanos da Escola de Direito da Universidade Columbia. Segundo a diretora da entidade, Sarah Knuckey, "as Forças Armadas dos EUA continuam contabilizando um número bem inferior de vítimas civis em suas operações no Iêmen se levarmos em conta as ações documentadas por organismos independentes. Os EUA continuam se recusando a prover compensação ou pedido de desculpas para as famílias dos civis vítimas dos drones".

Alguns desses drones são pilotados a partir dos EUA pela CIA ou pelo Pentágono. Os "pilotos" acordam em algum subúrbio de Washington, tomam café da manhã, deixam os filhos na escola e se sentam para monitorar em uma tela os movimentos de supostos terroristas em lugares distantes como Afeganistão e Iêmen. Com base em informações de inteligência, fazem os disparos que, na maior parte das vezes, resultam na morte do que os EUA consideram terroristas. Em outras, civis são mortos, como agora no Afeganistão. Essa prática de matar com "aviões de controle remoto" começou com George W. Bush, intensificou-se com Barack Obama e foi mantida por Donald Trump.

No caso de Cabul, claro que Biden não sabia que havia crianças quando ordenou o bombardeio. A decisão foi tomada com base nas informações de inteligência. Mas, diante das evidências, o presidente dos EUA deveria pensar em ao menos pedir desculpas às famílias dos afegãos mortos, porque sua decisão provavelmente resultou na morte de inocentes. Além disso, já passou da hora de demitir o seu incompetente secretário de Estado, Antony Blinken.

Guga Chacra, colunista - O Globo

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

A praga e a peste - Nas entrelinhas


A pandemia da covid-19 atingiu 57 mortes por hora, quase uma por minuto. O relaxamento do isolamento social e a imunização de rebanho caminham de mãos dadas

[se decisão judicial não tivesse atribuído aos governadores e prefeitos o combate à covid-19, a imunidade de rebanho teria sido a política adotada.
A opção por isolamento e distanciamento sociais, via"quarentenas meia boca", não tem se mostrado eficiente  e retardou em muito o alcance da imunidade de rebanho.]

Uma nuvem de gafanhotos ronda a fronteira do Brasil com a Argentina, ameaçando as lavouras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, depois de atacar as do Paraguai, onde os insetos destruíram plantações de milho. As principais regiões atingidas na Argentina são as províncias de Santa Fé, Formosa e Chaco, onde existe produção de cana-de-açúcar e mandioca e a condição climática é favorável. Uma nuvem de gafanhotos, em um quilômetro quadrado, pode ter até 40 milhões de insetos, que consomem, em um dia, pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas consumiriam.

Na Bíblia, nuvens de gafanhotos são uma das 10 pragas do Egito (Êxodus), lançadas por Deus para obrigar o faraó a libertar os hebreus. Moisés foi o portador da mensagem divina: “Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: ‘Até quando você se recusará a humilhar-se perante mim? Deixe ir o meu povo, para que me preste culto. Se você não quiser deixá-lo ir, farei vir gafanhotos sobre o seu território amanhã. Eles cobrirão a face da terra até não se poder enxergar o solo. Devorarão o pouco que ainda lhes restou da tempestade de granizo e todas as árvores que estiverem brotando nos campos. Encherão os seus palácios e as casas de todos os seus conselheiros e de todos os egípcios: algo que os seus pais e os seus antepassados jamais viram (…)”.

Mas o Senhor disse a Moisés: “Estenda a mão sobre o Egito para que os gafanhotos venham sobre a terra e devorem toda a vegetação, tudo o que foi deixado pelo granizo”. Moisés estendeu a vara sobre o Egito, e o Senhor fez soprar sobre a terra um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela manhã, o vento havia trazido os gafanhotos, os quais invadiram todo o Egito e desceram em grande número sobre toda a sua extensão. Nunca antes houve tantos gafanhotos, nem jamais haverá. Eles cobriram toda a face da terra de tal forma que ela escureceu. Devoraram tudo o que o granizo tinha deixado: toda a vegetação e todos os frutos das árvores. Não restou nada verde nas árvores nem nas plantas do campo, em toda a terra do Egito.

Em julho do ano passado, uma nuvem de gafanhotos invadiu Las Vegas, nos Estados Unidos. Simultaneamente, no Iêmen, devastado pela fome e pela guerra civil, outra nuvem de gafanhotos destruiu as plantações. Os gafanhotos circularam por mais de 60 países, principalmente na África, no Oriente Médio e na Ásia Central. Os cientistas acreditam que as mudanças climáticas estão fazendo os insetos agirem de maneira mais destrutiva e imprevisível. Estudo publicado por cientistas americanos na revista Science mostrou que o clima mais quente torna os gafanhotos mais ativos e reprodutivos. Um gafanhoto adulto é capaz de comer o equivalente ao seu peso corporal por dia. Plantações de trigo, arroz e milho são um banquete para os insetos. Um ataque de gafanhotos à nossa agricultura em plena pandemia pode ser um desastre. O agronegócio é o setor mais dinâmico da nossa economia. Em 2004, na África, os insetos causaram danos no valor de US$ 2,5 bilhões para as lavouras. O historiador romano Plínio, o Velho, registrou a morte de 800 mil pessoas na região que atualmente engloba Líbia, Argélia e Tunísia por causa da devastação das lavouras por essa praga bíblica. A China acaba de anunciar a mobilização de 100 mil patos para combater uma nuvem de 400 bilhões de gafanhotos que se aproxima da fronteira com a Índia e o Paquistão.

A pandemia
Já nos basta a peste. Aqui no Brasil, a pandemia da covid-19, ontem, atingiu a marca de 57 mortes por hora, ou seja, quase uma por minuto. O relaxamento precoce do isolamento social e a política de imunização de rebanho não-declarada caminham de mãos dadas, estamos longe do pico. Ontem, em audiência no Congresso, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pozuello, garantiu que o governo dará “transparência infinita” às informações e anunciou que o Ministério da Saúde passará a considerar o diagnóstico dos médicos, e não apenas os testes, para contabilizar os casos confirmados. Ou seja, jogou a toalha em relação à política de testagem em massa para monitoramento dos infectados.


Os números oficiais de ontem são 52.645 mortes e 1.145.906 casos confirmados, sendo 1.374 mortes e 39.436 novos casos nas últimas 24 horas. Segundo o Ministério da Saúde, há 479.916 pacientes em acompanhamento, enquanto 613.345 foram recuperados, o que não deixa de ser uma boa notícia. A notícia pior é a queda de anticorpos em pacientes assintomáticos dois meses após a infecção por covid-19. Em artigo publicado pela Nature Medicine, o cientista Ai-Long Hua, da Universidade Médica de Chongqing, na China, constatou em 37 pacientes assintomáticos com o Sars CoV-2 que, oito semanas depois, os níveis de anticorpos neutralizantes diminuíram 81,1%. O estudo não é conclusivo, mas acendeu uma luz amarela para a possibilidade de as pessoas contraírem a doença mais de uma vez.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O arquiteto do imprevisível - Fernando Gabeira

Em Blog
 

Tantos votos no fim de 2019 de que o ano novo fosse leve, e ele praticamente começou com as bombas sobre o carro do general Suleimani, no Iraque. De novo a tensão, o medo da guerra e tonitruantes ameaças. Com a humildade de quem não conhece os meandros da política no Oriente Médio, meu primeiro impulso foi entender a estratégia de Trump. Recorri aos especialistas, mas não foram poucos os que admitiram incompreensão diante dos passos do presidente dos EUA. O que ele quer adiante, como vai desdobrar esta crise por ele agravada?

O próprio Trump afirmou que não estava começando uma guerra, e sim tentando acabar com um conflito. Dois tipos de debate surgiram: os que valorizam ou condenam a ação do Trump e os que, simplesmente, se limitam a perguntar se foi sábia a sua decisão.  Há uma longa história de atritos entre EUA e Irã, mortes, sequestros, derrubada de aviões. Por que agora Trump deu um passo que nem Bush nem Obama ousaram arriscar?  Havia uma tensão crescente, morte de um americano, bombardeio das guerrilhas xiitas no Iraque, invasão da embaixada americana. Era uma sucessão de escaramuças, mas não completamente estranha às relações dos dois países.

Assim como é difícil entender por que Trump decidiu isso agora, também é difícil prever todas as consequências. Não creio que o Irã, apesar da pressão popular, vá retaliar cegamente ou mesmo abrir várias frentes de luta contra os EUA. Seus líderes são experientes, embora alguma resposta tenham de dar imediatamente.
Suleimani era um dos artífices da repressão interna aos manifestantes contra o regime iraniano. Sua morte uniu o país e, certamente, esvaziou, no momento, os anseios democráticos de uma parte da população. Sua influência se estendia às milícias do Iêmen e do Iraque, aos governos na Faixa de Gaza, na Síria e no Líbano, onde o Hezbollah também é forte.

No entanto, até agora houve apenas duas reações políticas consideráveis. No Iraque, houve a decisão da retirada das tropas americanas, decisão cujo modo de realizar ainda é incógnito. Por seu lado, Teerã anunciou que deixaria o acordo nuclear costurado por Obama com a participação da Europa. Trump já se desligou dele em 2018, abrindo o caminho para seu fracasso.Não só pela clássica hostilidade entre EUA e Irã, a política norte-americana na região não é fácil de ser formulada. Obama tentou um caminho conciliatório, baseado em negociação. Mas dois importantes aliados, Israel e Arábia Saudita, não aprovavam esse enfoque. O próprio Obama ordenou a execução de muitos oponentes usando drones. No seu governo, Osama bin Laden foi despachado deste mundo. Mas os executados por Obama eram considerados terroristas e, sobretudo, não tinham cargos em governo, como Suleimani, nem eram tratados como heróis nacionais.

É essa linha que Trump ultrapassou, linha que, submetida ao Congresso, talvez tivesse enormes dificuldades de aprovação.  Ainda não conhecemos as consequências. Mas Trump arriscou um passo perigoso quando ameaçou destruir os bens culturais do Irã. Apesar da simpatia que desperta entre seus adeptos e admiradores, incluído o governo brasileiro, Trump isolaria dramaticamente os EUA se rebaixasse o país ao nível dos taleban ou do Isis, que destruíam, sorrindo, obras caríssimas à humanidade.

Em primeiro lugar, romperia com a própria posição americana, que respaldou em 2017 a condenação ao bombardeio do legado cultural dos países em guerra. Mesmo dentro dos EUA, não sei se seria respaldado nessa decisão. Vi uma entrevista de fonte do Pentágono dizendo que não tinham planos de atacar alvos culturais. Não deixa de ser um apelo do tipo: não nos meta nessa empreitada.
Se um simples articulista tem de estudar e tomar certas precauções diante de um quadro complexo e dinâmico, imaginem um país. Se me lembro bem dos tempos da política, a fórmula clássica é estimular a distensão e reforçar os votos pela paz e pela solução pacífica dos problemas. Mesmo sem entender bem o quadro, é uma declaração que não tem como comprometer o País.É compreensível que Bolsonaro e seu ministro tenham tomado uma posição de apoio a Trump, se levamos em conta suas ideias. Entra aí uma questão que cansei de criticar no PT: a política externa não é uma decorrência direta das ideias de um presidente ou de um partido. Ela se move de forma mais cautelosa, porque representa uma política nacional, certo tipo de consenso que tem um passado e, certamente, um futuro.


Na cabeça de Bolsonaro, as coisas funcionam assim: o PT apoiava Cuba e Venezuela, ganhamos as eleições, temos o direito de apoiar os EUA de forma irrestrita. Essa é a dificuldade, supor que uma vez ganha as eleições o vencedor impõe ilimitadamente sua vontade. A suposição de que a política externa seja apenas uma decorrência da visão partidária se estende a outras áreas, com o mesmo potencial corrosivo. A produção artística, por exemplo. A ideia é a mesma: se o PT apoiou um determinado tipo de produção cultural, a hora é de mudar radicalmente e apoiar um campo simetricamente oposto. Em ambos os casos – política externa e produção cultural – uma visão desse tipo é perigosa.[toda atividade cultural apoiada pelo =perda total = deve ser combatida.]
 
No campo internacional, desfigura uma construção simbólica que o País levou décadas para afirmar. No campo cultural, simplesmente anula o estatuto independente da arte e a considera apenas petista ou bolsonarista, na realidade, uma extensão do populismo de esquerda ou de direita. É esse tipo de equívoco que talvez leve Trump a afirmar tão naturalmente que pode bombardear os bens culturais do Irã. A mesma ilusão dos aiatolás, que tentaram remover as ruínas de Persépolis por acharem ser símbolo de uma cultura decadente. Não conseguiram, mas a ideia é sempre a mesma: ou a cultura é uma propaganda ou merece ser destruída.

Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira


Artigo publicado no Estadão em 10/01/2020 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

TERREMOTO NO IRÃ - Alexandre Garcia


Gazeta do Povo



No fim de semana, a terra tremeu no nordeste do Irã, na magnitude 5,8 da escala Richter. Mas a morte de Qassim Suleimani foi um sismo em grau máximo da escala.   O Chefe da Guarda Revolucionária da teocracia iraniana era também planejador estratégico e tático para controle do poder no Líbano, Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen, para cercar Israel e enfraquecer outros aliados dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita.

O Hezbollah no Líbano se tornou um estado dentro do estado. Os Xiitas na Síria, os Houthis no Iêmen, o Hamas, o movimento Jihad Islâmico, eram instrumentos para Suleimani, que usava árabes e afegãos para não constranger as forças regulares do Irã em missões alheias à defesa de seu país."Parecia um herdeiro de Xerxes, filho de Dario e neto de Ciro, a dinastia que fez da Pérsia, hoje Irã, a grande potência que dominou o oriente médio da antiguidade, até que o macedônio Alexandre, o Grande, destroçasse o império.

Não parece sonho imaginar que o objetivo de Suleimani fosse o reerguimento do Império Persa. Sua presença ia das praias do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico. Estava dentro do Iraque quando foi atingido, depois que os americanos, por falta de decisão, adiaram o momento de “puxar o gatilho”, embora tivessem tido outras oportunidades para lançar o ataque. A decisão de matar Suleimani não é um desafio dos Estados Unidos ao Irã; é um aviso e uma ameaça. O governo americano não está preocupado com a pesquisa nuclear iraniana; já sabia que acordos só seriam cumpridos no cerimonial. Israel vem monitorando o programa nuclear do Irã, pois disso depende a sobrevivência do país que se fundou com sangue e se mantém com sangue e vigilância.

Suleimani era a fonte de foguetes que sempre ameaçam Israel por todos os lados. Ele é dessas figuras de retaguarda e front, sempre presente a incentivar seus comandados. Por isso, sua morte é um desfalque maior que a de Bin Laden ou do líder do Estado Islâmico. No Irã, só estava abaixo do Aiatolá.  Seus seguidores atacaram petroleiros, cobriram de mísseis a maior refinaria da Arábia Saudita, mataram quase mil americanos no Iraque. E o governo americano esperou. Mas o recente ataque à embaixada em Iraque, onde estava Suleimani, fez Trump dar a ordem de fogo. "Até o momento em que escrevo, não vi manifestações fortes da China ou Rússia. Cada potência respeita os interesses da outra. Americanos não se meteram na Ucrânia ou em Hong Kong. O Irã não ganharia a guerra, mas pode fazer uma boa negociação. Só não pode controlar movimentos que ficaram órfãos de seu comandante e inspirador.

Pode haver vinganças de um lado, com punição imediata por parte dos americanos. Mas não haverá guerra mundial, como catastrofistas de plantão falam. Se houvesse, duraria apenas um dia e acabaria."

Alexandre Garcia, jornalista -  Coluna na Gazeta do Povo

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

UM PODER PARALELO QUE NÃO PERDE ELEIÇÃO: NOSSOS MUITOS SOVIETES - Percival Puggina

Durante décadas fui participante ativo de debates políticos nas emissoras de rádio e TV de Porto Alegre. Eram anos de ostracismo para o pensamento conservador e para as ideias liberais de que o país era tão carente. Contavam-se nos dedos os que se dispunham a enfrentar o esquerdismo que ia dominando a política nestas bandas. Na Rádio Guaíba, um estúdio instalado na esquina da Caldas Júnior com a Rua da Praia proporcionava som e ampla visibilidade ao público que se acotovelava para assistir as discussões do programa Espaço Aberto. Durante a Feira do Livro, o “Estúdio de cristal”, como era chamado, mudava-se para a Praça, e a multidão, literalmente, cercava aquele ringue retórico para ver quem iria às cordas.

À medida que nos aproximávamos do fim do milênio, os partidos de centro-direita e de direita foram virando apoiadores de quaisquer governos, espécie de contrapeso nas disputas eleitorais, deixando sem trincheira ou expressão o ideário conservador e liberal. Fechavam-se, no Rio Grande do Sul, as últimas portas ao debate político que fosse além do bate-boca pelo poder. Ou, com palavras melhores, em que essa disputa não fosse a única finalidade de todo argumento.  Lembro-me de ter ouvido do governador Alceu Collares, num desses debates, pela primeira vez, referindo-se ele aos partidos do espectro esquerdista: “Nós, do campo democrático e popular”. A expressão disseminou-se.

Socialistas, marxistas e a esquerda em geral agarraram-se com braços e pernas ao binômio democrático-popular. Posavam como donos desse “campo”. Nele jogavam futebol e golfe, criavam gado e faziam seus melhores discursos. E criavam conselhos populares... Então, como ainda hoje, eram avessos à propriedade privada, mas o tal “campo” foi cercado, escriturado em seu nome e passou a lhes pertencer o inço que ali crescia.

Não falo, apenas, de uma pretensão local, mas de uma obstinação mundial. É bom lembrar que Albânia, Bulgária, China, Cuba, Camboja, Coréia do Norte, Mongólia, Vietnã, Iêmen, e todas as demais republiquetas africanas, asiáticas e europeias, que em décadas anteriores adotaram o socialismo, se apresentavam ao mundo como “democracias populares”. Enchiam a boca e estatutos constitucionais com sua condição de people’s republic. E o leitor está perfeitamente informado sobre seus principais produtos: totalitarismo, supressão das liberdades, genocídio e miséria. Aqui no Brasil, o dito campo esquerdista encontrou na criação e povoamento de conselhos uma forma de se institucionalizar e atuar politicamente. Na administração pública estão em toda parte. Com exceções, formam pequenos sovietes, determinando e impondo políticas. São detentores de um poder paralelo que somente na órbita federal se manifesta através de 2.593 colegiados, segundo matéria de O Globo publicada em 29 de junho de 2019. Na véspera, Bolsonaro havia anunciado a intenção de reduzi-los a 32.

No entanto, esses aparelhos políticos resistem. Os 996 conselhos ligados a instituições federais de ensino operam em ambientes blindados pela autonomia universitária. Outros foram instituídos por lei e só poderão ser cancelados por outra lei. Assim, no curto prazo, apenas 734 criados por decretos federais ou por portarias dos próprios órgãos federais estão liberados para encerramento de atividades. [mesmo assim, se um magistrado federal entender conveniente, concede uma liminar e o presidente da República é desautorizado e impedido de cumprir uma atribuição constitucional.]
Note-se: a criação e operação de grande parte desses conselhos, muitos dos quais altamente onerosos ao pagador de impostos, é apenas uma das formas de aparelhamento da administração pública, que deveria ser apartidária, técnica e comprometida com a redução do peso do Estado sobre a sociedade.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor e titular do site , colunista de dezenas de jornais e sites no país. 



 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O novo B do Brics - O Estado de S.Paulo

Eliane Cantanhêde

Criado contra o ‘mundo unipolar’, o Brics passa a contar com um forte aliado dos EUA

A reaproximação do Brasil com a China e o entusiasmo do ministro Paulo Guedes com acordos bilaterais de livre-comércio são bons passos para corrigir dois erros da política externa, um bem recente, do início do governo Bolsonaro, e outro lá atrás, do início da era PT. Esses passos vêm em boa hora. A política externa e comercial do governo Lula, fortemente pautada pela ideologia, impediu a discussão séria e pragmática da Área de Livre Comércio das Américas, a natimorta Alca. Poderia ter sido bom ou ruim aos interesses brasileiros, mas nunca saberemos. O próprio debate foi bloqueado.

Além de inviabilizar a Alca, o Brasil foi decisivo para vetar acordos bilaterais dos parceiros do Mercosul, ficando subentendido que não fazia e não permitia que Uruguai, Paraguai e Argentina fizessem acordos de livre-comércio diretamente com os Estados Unidos. Sem Alca e sem bilaterais, a grande aposta foi na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que nunca saiu. Ou seja, não sobrou nada.

Agora, depois do anúncio (por enquanto, um mero anúncio) do acordo Mercosul-União Europeia, o governo Bolsonaro atira para todos os lados. Já acenou com livre-comércio com os EUA, com a China e, depois das duas maiores economias do planeta, sabe-se lá com quantos mais. A palavra de ordem de Guedes é abertura.

De outro lado, a obsessão em desvincular o Brasil do Tio Sam correspondeu a uma ilimitada aproximação com a China, que começava a desbravar todos os continentes e ultrapassou os EUA como nosso principal parceiro comercial. E com vantagem objetiva enorme: o Brasil é superavitário nas relações com os chineses, ou seja, vendeu mais do que comprou. Pois não é que Jair Bolsonaro, eleito, já passou a – também fortemente pautado pela ideologia como Lula, mas às avessas – cutucar e provocar a parceira e gigante China. Quanto mais se assumia pró-EUA, ou melhor, pró-Trump, mais Bolsonaro desdenhava a China, que “queria comprar o Brasil”.

Ao ser recebido com pompas em Pequim e agora no seu encontro com Xi Jinping em Brasília, o presidente corrige seu próprio erro, recoloca as relações nos eixos e, mesmo sendo a China uma ditadura de esquerda, passa a agir com pragmatismo. O regime da China é um problema dos chineses, as trombadas entre Washington e Pequim são problema dos dois e o que nos diz respeito são os interesses brasileiros nas relações. E isso parece estar, enfim, prevalecendo.

Quanto ao Brics, há uma mudança importante. Ao se unirem em 2006, Brasil, Rússia, Índia e China (África do Sul veio depois) tinham uma ambição econômica e uma estratégia política: se rebelar contra um “mundo unipolar”, ou seja, contra a hegemonia acachapante dos EUA. Hoje, porém, o B mudou de lado.

Quatro dos cinco países estão entre os dez maiores, mais ricos e populosos do planeta, logo, capazes de reequilibrar o jogo mundial. O Brasil, porém, abre uma fenda na unidade do grupo. Assim como rompeu sua histórica postura independente para seguir os EUA em votos sobre Cuba e sobre direitos humanos na ONU, o Brasil age para o Brics incomodar o mínimo possível os EUA.

Assim, o Brics continua sendo forte e importante na economia mundial, mas a unidade política e o futuro do grupo parecem incertos e não sabidos, com China e Rússia de um lado, o Brasil sonhando com um alinhamento automático com os EUA e a Índia e a África do Sul tentando se equilibrar entre os parceiros. Só isso explica que a declaração final da cúpula de Brasília tenha se ocupado de Síria, Coreia do Norte, Sudão e Iêmen, sem uma única linha sobre Venezuela e Bolívia. Os negócios vão muito bem, mas os EUA pairam sobre o Brics e as visões de mundo dos cinco são hoje claramente muito diferentes.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Bolsonaro diz que tem ‘certa afinidade’ com príncipe da Arábia Saudita e Desrespeito às instituições - Ricardo Noblat - VEJA e

Mohammed bin Salman é acusado internacionalmente de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi



Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 29, que possui “certa afinidade” com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Segundo o presidente brasileiro, “todo mundo” gostaria de passar uma tarde com um príncipe, “principalmente as mulheres”.  Bin Salman, de 34 anos, é filho de rei Salman e é acusado internacionalmente de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018.
“Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje. Nós dois temos certa afinidade”, disse Bolsonaro a jornalistas na saída do hotel onde está hospedado.

Embora o príncipe herdeiro tente mostrar ao exterior uma imagem de maior abertura nos costumes, as mulheres ainda enfrentam uma série de restrições no país, como a forma de se vestir.  No ano passado, a Arábia Saudita foi o último país a permitir que as mulheres possam dirigir automóveis. E foi somente em agosto deste ano que as sauditas passaram a ter a possibilidade legal de viajar sem a autorização de um homem, como era exigido até então.

Há cerca de um mês, o príncipe também assumiu “total responsabilidade” pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, mas negou ter dado a ordem para que ele fosse morto. “Este foi um crime hediondo. Assumo total responsabilidade como líder da Arábia Saudita”, afirmou durante uma entrevista exibida pela rede de TV americana CBS.
Porém, diversos países acusam Bin Salman pela morte e uma investigação da ONU concluiu que o príncipe herdeiro foi o mandante do assassinato. Crítico ao governo saudita, Khashoggi foi morto dentro do consulado de seu país em Istambul.

O regime da Arábia Saudita ainda é responsável por milhares de mortes no Iêmen, onde lidera uma coalizão regional de apoio às forças pró-governo contra os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã. O conflito já deixou dezenas de milhares de mortos, a maioria civis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 3,3 milhões de pessoas continuam refugiadas, e 24,1 milhões (mais de dois terços da população) necessitam de assistência, afirma a ONU, classificando esta crise humanitária como a pior do mundo.
  Viagem internacional
Nesta terça, Jair Bolsonaro cumpre agenda de reuniões em Riad e participa de um jantar oferecido por Mohammed bin Salman.De acordo com Bolsonaro, que está no país em busca de investimentos, a defesa é a área mais importante nas conversas com os sauditas. “Eles querem investir maciçamente no Brasil”, afirmou.

Outro ponto em discussão envolve o agronegócio. Bolsonaro disse que os sauditas buscam maior segurança alimentar. “O Brasil é um mar de oportunidades e eles descobriram isso. É um novo governo que está transmitindo confiança para eles e que os encoraja a investir no Brasil. Estamos muito bem com a Arábia Saudita.”
A Arábia Saudita é a última parada da viagem oficial do presidente brasileiro pela Ásia, que já teve passagens por Japão, China, Emirados Árabes Unidos e Catar.
 
Estadão Conteúdo

O velho truque de usar o filho como laranja nas redes sociais



O que lhe vem à cabeça quando ouve falar de hienas? O som que emitem e que parece uma risada tétrica? A feiura e o tamanho da cabeça desproporcional ao corpo? Os dentes sempre à mostra? A ferocidade e o costume de atacar em bandos quase sempre à noite? O caráter dissimulado, traiçoeiro? O apetite por comida podre, de preferência roubada a outros animais?

Como você reagiria se fosse comparado a uma hiena? Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro postou um vídeo que mostra um leão cercado por hienas. O leão é ele. Cada hiena carrega um selo na cabeça: Supremo Tribunal Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, PT, PSDB, PSL, TV Globo, Folha de S. Paulo, VEJA.

Atacado, exausto, o leão acaba salvo por outro que entra em cena com o nome de “Conservador e Patriota”. Os dois leões confraternizam. A imagem deles cede a vez à imagem da bandeira brasileira. E do centro da bandeira emerge uma foto do presidente Jair Bolsonaro. Diminui o fundo musical para que se ouça a voz de Bolsonaro dizendo: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.

Com menos de duas horas no ar, o vídeo foi acessado na conta de Bolsonaro pelo menos 1,2 milhão de vezes. Até que foi apagado. Fontes do governo informaram que Bolsonaro mandou apagar. E insinuaram que o vídeo havia sido postado por Carlos, o Zero Três, que tem acesso às senhas do pai. Bolsonaro não manda nos filhos. Mas quer que se acredite que sabe mandar no país. Pai e filho já se valeram do truque em outras ocasiões. Um finge que fez algo à revelia do outro. A depender da repercussão, o outro diz que mandou apagar. Por vezes, sob pressão dos ofendidos, é o pai que manda que o filho apague. Por vezes, é do filho a inciativa de apagar porque o objetivo foi alcançado. No caso do vídeo dos leões e das hienas, os objetivos foram pelo menos dois.

Primeiro, açular os bolsonaristas para que defendam um presidente cercado de inimigos e sob ataque. Segundo, distrair a atenção do país no momento em que são revelados áudios de Fabrício Queiroz, amigo há mais de 40 anos de Bolsonaro, sócio da família no esquema das rachadinhas. Mais um áudio foi conhecido ontem. Nele, Queiroz debocha do Ministério Público Federal
 
Para não dar gosto a Bolsonaro e ao filho vereador, as instituições identificadas como hienas preferiram calar-se. Mas o integrante de uma delas, o ministro Celso de Mello, não se conteve e reagiu à altura. Soltou uma nota onde disse que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções”.

A irritação do ministro com o presidente da República vem num crescendo. Antes da eleição de Bolsonaro, Celso de Mello cogitou aposentar-se este ano, embora só fosse obrigado a fazê-lo no próximo ao completar 75 anos. Depois que Bolsonaro tomou posse, Celso de Melo desistiu da ideia. Resistirá no cargo até o fim. E, quando necessário, atirando.