Ascânio Seleme
Fato de o servidor ser militar não o inocenta prévia e automaticamente de qualquer denúnciaImagine se
a Associação dos Funcionários Públicos Federais emitisse uma nota oficial
protestando contra denúncias de corrupção de seus associados. Seria ridícula,
tão ridícula quanto a nota assinada pelo ministro da Defesa, Braga Netto, e os
comandantes militares contra o presidente da CPI, senador Omar Aziz, por ter
observado que o lado podre das Forças Armadas envergonha o lado bom. Qual é o
erro nesta afirmação? Nenhum, a menos que os militares honestos não se
envergonhem dos malfeitos dos bandidos fardados. [aproveitamos para perguntar: senador Aziz de qual lado o senhor coloca sua esposa e seus três irmãos presos por suspeita de corrupção - sua esposa por duas vezes - lado bom? lado podre?]
O fato de o servidor
ser militar não o inocenta prévia e automaticamente de qualquer denúncia. Para
ser honesto, tem que praticar a honestidade. Pode ser que no estrito
cumprimento de suas obrigações constitucionais, dentro dos quartéis, seja mais
difícil ao servidor fardado aliviar os cofres públicos, em razão da disciplina
rígida e do sistema punitivo próprio. Mas, ainda assim, rouba-se até mesmo na
caserna. Em 1991, O GLOBO revelou um mega esquema de desvios no Exército
através do superfaturamento de fardas e roupas de cama e banho para recrutas.
[qualquer categoria, instituição, sem exceção, tem integrantes que as conspurcam;
Um cardeal da Igreja Católica Apostólica Romana, o terceiro na hierarquia do Vaticano, está sendo processado por desvio de dinheiro da Santa Sé - acusação que não se estende à Igreja Católica como instituição. A denúncia é específica, nominal e fundamentada.] Em 2017, o Ministério Público Militar denunciou 11 pessoas, seis militares e
cinco civis, por desvios de R$ 150 milhões em contratos de obras entre 2005 e
2010.
[a Associação citada tem o dever inescusável de sendo algum, ou alguns, de seus associados acusados de corrupção, aceitar a acusação, desde que fundamentada; mas quando políticos sujos passarem a expelir acusações infundadas, citando nomes de membros daquela associação como corruptos - acusações levianas e sem o menor resquício de provas, o diretor da Associação tem o DIREITO e o DEVER de protestar com veemência.
DIREITO e DEVER, que se estende ao comandante de qualquer uma das forças singulares, que seja vitimada por aleivosias, calúnias e falácias - consistindo em acusações sem provas, sem argumentos que as sustentem - emitidas por parlamentares, membros da mídia militante e outros mais, de revidar de forma enérgica, expedindo alertas, não ameaças - homens armados não ameaçam - e, persistindo a conduta inadequada dos caluniadores, o comandante pode, usando dos meios legais necessários, aplicar severa reprimenda às vivandeiras - sendo conveniente que o alerta seja expedido em Nota conjunta dos três comandos e o respaldo do ministro da Defesa.
Que autoridade tem um senador da República e o relator de uma CPI - escolhidos para exercer tais cargos sabe-se lá por quais critérios - para assacar acusações infundadas, generalizando, contra as Forças Armadas e outras instituições da República?
O que justifica um jornalista desejar a morte do presidente da República?
E um outro sugerir o suicídio da mesma autoridade?
Nenhum dos dois foi chamado a dar explicações.
Dois pesos, duas medidas?
Os que desejam, ou sugerem, a morte da autoridade máxima do Brasil não sofrem nenhuma reprimenda.
Um ministro de Estado por desejar a prisão de ministros do STF sofre pressões no sentido de ser punido. Convenhamos que desejar a prisão de alguém, seja quem for, não é crime.
Quanto ao presidente não desejam sua prisão e sim sua morte, o que pode estimular algum 'adélio' a decidir matar o presidente; sugerir suicídio pode ser tipificado como indução ao suicídio.]
Há dois meses o Ministério
da Saúde exonerou seu superintendente no Rio, coronel George Divério, por
autorizar obras sem licitação em prédios oficiais. As obras foram encomendadas
a empresas altamente suspeitas e que já haviam se envolvido em outras mutretas
na Indústria de Material Bélico, do Exército, na época em que a Imbel era
dirigida Divério. O coronel exonerado foi substituído por outro coronel. Isso
garante lisura para o órgão? Claro que não. [flagrado cometendo o crime, com provas sustentando a acusação, a punição foi imediata.
Acusação séria, responsável.
Não tipo a de um deputado... sem comentários sobre sua lisura... que se junta a um irmão e acusam a muitos, e tais acusações passam a ter FÉ PÚBLICA. Indícios viram provas robustas - desde que as suspeitas, as ilações, possam trazer prejuízos ao governo do capitão. Contra Bolsonaro vale tudo.] Agora, no Ministério da Saúde,
indícios de malfeitos apontam para outros oficiais que comandaram unidades da
pasta durante a desastrosa, “imoral e antiética” gestão do general Pazuello.
Casos de corrupção ocorrem em
maior ou menor volume diante das chances que o desonesto tem de roubar. Nunca,
em tempo algum, militares ocuparam tantos cargos civis no governo federal. Nem
no período mais fechado e tenebroso da ditadura militar, [período em que os maus brasileiros foram contidos, neutralizados, sempre com o uso dos meios necessários - sem excessos, tendo em conta os superiores interesses do Brasil.] no governo do general
Garrastazu Médici, houve tantos coronéis e generais em postos de primeiro e
segundo escalões do Executivo federal. Considerando todas as patentes, mais de
6 mil postos civis foram entregues a militares no governo Bolsonaro. Claro que
haveria de aparecer casos de avanços sobre o dinheiro público feitos por homens
com estrelas nos ombros.
A nota irada e descabida da
Defesa foi de uma sandice sem tamanho. [considerar sandice algo que se revelará eficaz? - um alerta emitido há algum tempo, via Twitter, alcançou plenamente seus objetivos;
o importante é que o alerta foi emitido, chegou aos destinatários e o estopim do alerta, o senador que preside à Covidão, foi alertado de que não serão expedidos novas notas = novos alertas.] Foi um ato político que não guarda
nenhuma proximidade com o bom senso e a inteligência. Foi estúpida, por ser
intransigente. E burra, por ser ameaçadora. Desde quando militar desonesto não
pode ser citado por senador? Que conversa é essa de “as Forças Armadas não vão
aceitar ataques levianos”? Primeiro, a fala de Aziz não foi leviana. E, mesmo
que fosse, caberia tão somente ao Ministério da Defesa defender-se nos
tribunais. Que processasse o senador, o que não podia era ameaçar a CPI, nem o
Senado. Em última análise, a nota ameaça a democracia. [já era esperada a menção a que a nossa frágil democracia foi ameaçada;
tudo que contrarie os interesses não republicanos, por escusos, do establishment é considerado ameaça a democracia.
Virou regra invocar a defesa da democracia para justificar a prática de atos antidemocráticos contra apoiadores do governo Bolsonaro e até contra o próprio.]
A nota erra gravemente em
outro ponto. Diz que que Exército, Marinha e Aeronáutica “defendem a democracia
e a liberdade do povo brasileiro”. Engano. Essas não são atribuições das Forças
Armadas, que, de acordo com a Constituição, “destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos Poderes constitucionais e (eventualmente) da lei e da ordem”. Quem
defende a democracia e a liberdade do povo é a própria Constituição.[ótimo, magnifico, inteligente; As Forças Armadas, por disposição constitucional, tem entre suas atribuições à garantia dos Poderes constitucionais = garantir, defender tais poderes é defender a Constituição; ou tal entendimento está errado?] Obrigado,
generais, mas o povo e a democracia defendem-se com a Constituição. A mesma que
os senhores estão obrigados a obedecer. [estar obrigado a defender e ter atribuição de defender, não é seis por meia dúzia?]
Por fim, a nota mostra
o grau de alienação dos seus signatários. O país passa por uma crise sem
tamanho gerada por um presidente com cara, estilo e patente de militar. Sua
gestão da pandemia resultou em milhares de mortes que poderiam ter sido
evitadas se ele não desse tratamento político a uma crise sanitária e se o
general que mandou chefiar a Saúde não fosse absurdamente incompetente. Com
tanta coisa para se preocupar, inclusive recuperar a imagem para lá de manchada
das Forças Armadas, o ministro Braga Netto e os comandantes militares saíram em
defesa de oficiais corruptos e atacaram o presidente da CPI. [existem provas, a sustentar que os oficiais são corruptos?
no caso da Covaxin, certamente não existem = seria o caso de provas de um crime que não foi cometido.] Ou foi um exagero
mal calculado ou mais um ato de subserviência de generais ao capitão.
ABUSADO
Você ainda tem dúvida de que o presidente
do Brasil passou de todos os limites? Ameaçar as eleições do ano que vem é tão
grave que nenhuma nova chance pode ser dada a este homem. [felizmente, a maioria dos brasileiros não endossa o entendimento expresso na frase destacada. Não houve ameaça, apenas o entendimento de que a possibilidade, ainda que remota, da ocorrência de troca do destinatário do voto inserido pelo eleitor na urna, se tentada, será detectada pelo voto impresso.] Vai aparecer a turma
que adora passar pano para dizer que Bolsonaro falou da boca para fora, que não
foi um ataque, que denota uma preocupação com a lisura eleitoral. Balela. Foi
uma ameaça à democracia
categórica.
Quem vai dizer se a eleição será limpa ou não?
Será limpa apenas com voto impresso?
E quem assume o país no dia 1º de janeiro
de 2023 se não houver eleição?
O presidente da Câmara ou o capitão fica no
posto? [conforme dizia o sábio ministro Armando Falcão: o futuro pertence à DEUS.] Claro que foi uma ameaça de golpe, que num país graduado seria
devidamente punida.
E AGORA, GENERAL? Já que o general Braga Netto disse em sua nota contra Omar Aziz que as Forças Armadas defendem a democracia e a liberdade do povo, o que ele tem a dizer sobre a ameaça do golpista às eleições presidenciais do ano que vem? Rejeitado por 51% dos brasileiros, em queda livre entre os eleitores, Bolsonaro não para de falar idiotices e não se ouve um
“opa, espera aí” dos generais, que apenas se incomodam quando alguém identifica um ladrão entre eles.
POUCO INTELIGENTE A maioria dos brasileiros, segund
o o
Datafolha, acha o seu o presidente desonesto, falso, incompetente,
despreparado, autoritário e pouco inteligente. Alguma surpresa? [o curioso, constrangedor para o eleitorado brasileiro, até cômico, é que pesquisas como a citada e outras do tipo, quando envolvem o presidente Bolsonaro não precisam sequer ser abertas para leitura = o resultado é óbvio, Bolsonaro sempre perde. Às vésperas do segundo turno de 2018, Bolsonaro também perdia em tais pesquisas.] Nenhuma. Desde
o dia zero sabia-se que sua excelência tinha mesmo um déficit cognitivo importante. Incompetente
e despreparado deu para ver quando ele ignorou a reforma da Previdência, que só
andou por causa de Rodrigo Maia. Que era autoritário soube-se quando abriu pela
primeira vez a boca, há 30 anos. Desonesto e falso descobriu-se logo em
seguida. Surpreendente é que ainda existam uns 20% de cidadãos que chamam esse
conjunto todo de mito.Ascânio Seleme - Brasil - O Globo