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sábado, 31 de dezembro de 2022

Papa emérito Bento XVI morre aos 95 anos

Joseph Ratzinger teve a trajetória marcada pela renúncia ao posto, atitude que fez dele o primeiro em 600 anos da Igreja Católica a abdicar do papado

Pope Bento XVI em Veneza, na Itália, em 2011 -

 Pope Bento XVI em Veneza, na Itália, em 2011 -  Barbara Zanon/Getty Images

Morreu neste sábado, 31, o papa Bento XVI, aos 95 anos. “É com pesar que informo que o papa emérito Bento XVI morreu hoje às 9h34 no mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano”, escreveu o perfil de notícias do Vaticano no Twitter. O corpo de Bento XVI será velado na Basílica de São Pedro a partir de segunda-feira, 2. O funeral está marcado para a manhã de quinta-feira, 5, na Praça São Pedro, presidido pelo papa Francisco

Lembrado por sua renúncia em 2013, Bento XVI, o alemão Joseph Ratzinger, vivia recluso nos últimos anos no mosteiro no interior dos Jardins do Vaticano. Reportagem de VEJA de junho de 2018 revelou que Bento sofria de Parkinson e já sentia os sinais da doença quando renunciou.

Renúncia
No dia 11 de fevereiro de 2013, o papa Bento XVI apresentou, durante uma reunião com as Cardeais da Cúria Romana, sua renúncia. O motivo alegado para deixar o Trono de Pedro era que, aos 85 anos, depois de quase oito de pontificado, ele já não tinha mais forças para levar adiante o governo da Igreja.

Eram principalmente três as razões da amargura de Bento XVI, segundo concordavam na época os mais argutos vaticanistas da Itália. Em primeiro lugar, casos de pedofilia afundavam a Igreja na época e colocavam o pontífice em posição cada vez mais difícil.

O segundo motivo que embaraça o papa tem a ver com um escândalo de corrupção envolvendo o Instituto de Obras Religiosas – o banco do Vaticano. A Justiça italiana abriu uma investigação sobre o IOR e bloqueou 23 milhões de euros de suas contas, por suspeita de violação das normas do sistema financeiro contra lavagem de dinheiro.

O terceiro motivo foi originado pelo roubo de documentos comprometedores da Santa Sé, no episódio batizado de Vatileaks que veio à tona no início do ano passado – Paolo Gabriele, que foi mordomo pessoal do papa desde 2006, é acusado de ter vazado as informações para um jornalista italiano. Os documentos eram, basicamente, cartas de um ex-administrador da sede da Igreja que informava o papa sobre corruptos que haviam assinado contratos superfaturados e, desse modo, causado um prejuízo de milhões de euros às finanças da Santa Sé. Gabriele, apelidado de “O Corvo”, foi condenado, preso e perdoado por Bento XVI.

O roubo dos documentos contribuiu para amargurar um papa já cansado de decepções e intrigas, mas os papéis em nada o maculavam do ponto de vista moral. O que, de fato, pesou em sua decisão de renunciar foi o derradeiro relatório da investigação sobre o roubo dos documentos, que revelou conexões de gente muito próxima a ele com o esquema de lavagem de dinheiro no IOR.

Papado
Nascido Joseph Ratzinger, sua trajetória pessoal de antes de chegar ao trono de São Pedro foi cheia de lances surpreendentes, desde sua participação na II Guerra Mundial (quando foi forçado a se juntar aos nazistas) até a batalha ideológica da Guerra Fria. Testemunha de alguns dos fatos mais marcantes do século XX, ele ajudou a moldar a Igreja Católica neste início de século XXI, ao
transformar-se no homem forte do pontificado de João Paulo II.

Seu poder dentro do Vaticano era tão avassalador que, na ausência de um papa tão carismático e marcante, foi escolhido para ocupar o posto, mesmo com a idade avançada. Sua escolha como sucessor de João Paulo II, em 2005, foi o auge de um longo caminho desde o seminário, a carreira acadêmica e a entrada na estrutura de poder da Santa Sé.

Quando Joseph Ratzinger foi escolhido no conclave que o tornou papa, suas primeiras palavras foram: “Depois do grande papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram-me, um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”.

Em pouco menos de oito anos de pontificado, Bento XVI protagonizou triunfos e fracassos, acumulou tropeços e façanhas, errou e acertou – como quase todos os outros ocupantes do trono de Pedro. Mesmo sem a perspectiva histórica necessária para dimensionar sua importância dentro da extensa lista de pontífices do Vaticano, já é possível dizer que o legado de Bento XVI deixou pelo menos uma pessoa decepcionada: o cardeal Joseph Ratzinger, que entrou no conclave de sucessão de João Paulo II como decano do colégio cardinalício e saiu dele, em 19 de abril de 2005, como novo chefe da Igreja Católica. Como papa, o alemão foi, em linhas gerais, o que a maioria já previa: um líder mais discreto e menos midiático que o antecessor, um defensor ferrenho da doutrina católica, um protetor da liturgia da Igreja.

Papa Francisco saúda o Papa emérito Bento XVI após 2 meses de sua renúncia, no mosteiro Mater Ecclesiae, no Castelo de Gandolfo, Vaticano
Papa Francisco saúda o Papa emérito Bento XVI após 2 meses de sua renúncia, no mosteiro Mater Ecclesiae, no Castelo de Gandolfo, Vaticano Osservatore Romano/AFP/VEJA/VEJA

Ratzinger não desejava ser papa. Uma vez escolhido, porém, queria mais do que apenas confirmar as impressões que todos tinham sobre ele. O alemão tinha alguns objetivos muito claros. Ao renunciar, em 2013, teve de sofrer não apenas com o peso dessa controversa decisão, mas também com a impressão de que não atingiu nenhuma de suas grandes metas – e com a conclusão inescapável de que deixa inacabado seu extenso trabalho a serviço da Igreja.

A própria escolha de seu nome papal, uma referência ao padroeiro da Europa, já indicava uma de suas intenções mais fortes: a de reforçar as estruturas da Igreja no continente onde o catolicismo foi construído. Isso não significava necessariamente arrebanhar novos fiéis e expandir a presença da Igreja nos países europeus, mas sim solidificar sua posição e se reaproximar dos seguidores que andavam se desgarrando.

Para Ratzinger, de nada adiantava sair à caça de novos simpatizantes mundo afora se a Igreja perdia espaço e relevância em seu próprio berço. As circunstâncias, no entanto, foram as piores possíveis para que Bento XVI levasse adiante essa reevangelização. Durante quase todo o papado, a revelação de mais escândalos de abusos sexuais cometidos por integrantes da Igreja – na maioria dos casos, em países europeus – foram uma barreira intransponível para seus planos. O número de fiéis nas paróquias europeias não aumentou – e a revolta dos seguidores que restaram, cada vez mais desiludidos por causa da longa lista de escândalos, só cresceu. Em países como Áustria, Holanda, Noruega, Bélgica e a própria Alemanha, a terra do papa, a imagem da Igreja continuou sendo manchada pela revelação dos abusos. A decepção do papa não se resumia aos escândalos em si, mas também ao fato de ele ter sido o principal responsável por conduzir a reação da Igreja aos abusos.

Em 2001, João Paulo II entregou à Congregação para a Doutrina da Fé, comandada por Ratzinger, a responsabilidade de lidar com o assunto. O cardeal, que sempre sofreu muito com os relatos e testemunhos que teve de ouvir, estava convicto de que era um imperativo moral agir contra os pedófilos – ainda que a estrutura da Igreja não facilitasse o processo de investigação e punição. O assunto marcou profundamente o futuro papa. “Quanta imundície há na Igreja”, disse, pouco antes do conclave. Ainda como cardeal, ele tomou medidas inequívocas no sentido de combater o problema. De acordo com os críticos, entretanto, faltou firmeza ao alemão, apesar de apelidos como “papa panzer” e “o rottweiler de Deus”.

A ausência de reformas específicas e eficazes para impedir que pedófilos entrassem no clero foi uma das principais queixas dos grupos que reúnem as vítimas de abusos. Esperava-se ainda que Bento XVI conduzisse uma reorganização da Cúria Romana, que administra a Igreja. Se João Paulo II não tinha o perfil ideal para reformar a estrutura administrativa do Vaticano, o alemão, metódico e profundo conhecedor dessa máquina, seria perfeito para a tarefa. Poucos lembraram, porém, que Bento XVI é essencialmente um acadêmico – e, portanto, não tem nas relações pessoais e no carisma seus pontos fortes. Fazer política não era com ele. Diante da resistência dos integrantes da Cúria, sempre avessos às tentativas de modernização das engrenagens do Vaticano, o papa foi ficando isolado e impotente. Ele fracassou em duas tentativas práticas de reduzir a burocracia interna através da fusão de diferentes departamentos. A criação de um novo Conselho Pontifício, dedicado à “nova evangelização”, fez com que a máquina administrativa do Vaticano ficasse ainda maior do que já era quando seu pontificado começou.

Ainda assim, Bento XVI deixa um legado admirável. Mais do que pelas três encíclicas, ele notabilizou-se, no que se refere à difusão da fé, pela trilogia magistral que escreveu sobre a vida de Jesus o terceiro tomo, a respeito da infância do Nazareno, ratifica a hipótese de que Ele nasceu antes do que veio a ser datado como o primeiro ano da era cristã – e pelas entrevistas que concedeu publicadas em forma de livro. Dono de uma cultura vasta, que vai muito além da teologia, ele era capaz de ser didático sobre temas espinhosos.

A rainha Elizabeth durante encontro com o Papa Bento XVI, no Reino Unido - 16/09/2010
A rainha Elizabeth durante encontro com o Papa Bento XVI, no Reino Unido – 16/09/2010 Dylan Martinez - WPA/Getty Images
Vida até o papado
Bento nasceu em 16 de abril de 1927 em Marktl am Inn, no estado da Baviera, Alemanha. Seu pai, Joseph Ratzinger, um comissário de polícia alemã, encontrou a sua esposa por meio de um anúncio no jornal. A mensagem dizia que policial procurava por uma moça virtuosa para se casar.

Ao anúncio, respondeu aquela que seria então, a mãe de Ratzinger, a senhora Maria Peintner. Desse casamento nasceram 3 filhos: Georg, Joseph e Maria. Joseph e Georg se encaminharam desde muito cedo à vocação sacerdotal. Maria não se casou e dedicou-se aos cuidados dos pais e, depois, mais tarde, dos dois irmãos.

Bento era apaixonado por música clássica. Seu gosto foi influenciado pelos seus pais que, ainda criança, lhe apresentaram a obra de Wolfgang Amadeus Mozart. Entre suas brincadeiras preferidas da infância estavam celebrar missas de faz de conta ao som de Mozart e tocar piano. O religioso também cultivou um amor especial pelos gatos ao longo de sua vida. Até seus últimos dias de vida, seus ajudantes e secretários contam que Bento alimentava e brincava com os felinos que passavam pelo Mosteiro Mater Ecclesiae.

Joseph Ratzinger prestou serviço obrigatório no Exército Alemão entre 1943 e 1945. Na época, ele havia acabado de entrar no seminário preparatório, mas não conseguiu evitar ser convocado pelo nazismo. Desde 1941, quando fazer parte da Juventude de Hitler se tornou obrigatório, o jovem já frequentava o grupo. Ele só foi convocado oficialmente, contudo, aos 16 anos, para realizar trabalhos auxiliares ao lado dos soldados. Em 1944, ele e seus companheiros de seminário foram transferidos para as unidades regulares do Exército.

Em entrevistas, Ratzinger contou que viu judeus húngaros sendo levados para campos de concentração quando sua base era próxima da Hungria. O papa chegou a ser dispensado, mas acabou convocado novamente e desertou em abril de 1945. Ele foi capturado por soldados americanos e mantido prisioneiro de guerra por alguns meses.

Bento voltou ao seminário na Universidade de Munique em 1945 e foi ordenado padre em 1951. Se tornou doutor pela mesma instituição e, em 1958, conquistou sua licenciatura e se tornou professor de dogma e teologia da Freising College.

Nos anos seguintes ensinou nas Universidades de Bonn, Muenster, Tübingen e Regensburg. Em março de 1977 se tornou arcebispo de Munique e Freising e, três meses depois, foi nomeado cardeal pelo papa Paulo VI.

Em 1981, o papa João Paulo II nomeou Ratzinger prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Em 1998, tornou-se vice-reitor do Colégio de Cardeais e foi eleito reitor em 2002. Ratzinger defendeu e reafirmou a doutrina católica, incluindo o ensino de temas como controle de natalidade, homossexualidade e diálogo inter-religioso. Foi eleito o 265º papa pelo conclave de 2005, com 78 anos de idade, após a morte de João Paulo II.

Religião - Revista VEJA

 


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Francisco beatifica João Paulo I, o efêmero 'papa do sorriso'

Milhares de fiéis, incluindo o presidente italiano Sergio Mattarella, assistiram à missa de beatificação na Praça de São Pedro sob chuva

O papa Francisco beatificou neste domingo (4) em Roma João Paulo I, conhecido como "o papa do sorriso", que em 1978 ocupou o trono de Pedro por 33 dias, em um dos pontificados mais curtos da história.

Milhares de fiéis, incluindo o presidente italiano Sergio Mattarella, assistiram à missa de beatificação na Praça de São Pedro sob chuva. A missa é a etapa anterior à canonização, que eleva um fiel católico falecido à dignidade de santo.

Durante a cerimônia, uma grande tapeçaria representando João Paulo I foi pendurada em uma das paredes da Basílica de São Pedro. "Com seu sorriso, o papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. Uma igreja de rosto alegre, sereno e sorridente é bela, que nunca fecha suas portas, que não endurece os corações, que não se queixa nem guarda ressentimentos, que não está zangado ou impaciente, que não se apresenta com dureza nem sofre de nostalgia do passado", disse o papa Francisco durante a homilia.

Albino Luciani, que assumiu o nome de João Paulo quando foi eleito papa em agosto de 1978, aos 65 anos, era uma figura popular e próxima dos paroquianos. Sucedeu Paulo VI e foi o último papa italiano até hoje. Ele morreu de ataque cardíaco apenas 33 dias e 6 horas depois.

Na madrugada de 29 de setembro de 1978, uma freira descobriu seu corpo sem vida, sentado na cama, com os óculos e algumas folhas nas mãos. Não houve autópsia para confirmar a causa da morte.

O anúncio de sua morte foi cercado de inconsistências e informações falsas e até alimentou a teoria de um assassinato por envenenamento para impedi-lo de colocar ordem nos negócios da Igreja e, em particular, no banco do Vaticano, onde havia sido detectado desvio de dinheiro. Mas esta "hipótese da conspiração" deveu-se sobretudo à "comunicação calamitosa" do Vaticano, segundo Christophe Henning, jornalista e autor do livro "Petite vie de Jean Paul Ier" (Vida curta de João Paulo I).

Assim como Henning, muitos especialistas rejeitam essa hipótese, considerando que ela se baseia mais em um conjunto de coincidências do que em elementos tangíveis.

A jornalista italiana Stefania Falasca - que apoia ativamente a canonização de João Paulo I - também negou esses rumores em um livro publicado em 2017 e prefaciado pelo arcebispo Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé (número dois do Vaticano).

Mundo - Correio Braziliense


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Vaticano coloca água no chope do “caminho sinodal” alemão- Gazeta do Povo

Marcio Antonio Campos

Duas semanas atrás, tratamos aqui do “caminho sinodal” alemão, que andava tão aloprado que conseguia preocupar até mesmo cardeais de posições bem controversas, como Walter Kasper e Christoph Schönborn. Em 2019, quando começou essa sandice, o papa Francisco já tinha enviado uma carta aos católicos alemães avisando que o caminho não era por ali. Como não adiantou muito, o Vaticano resolveu ser um pouco mais enfático.

 Em uma declaração datada de 21 de julho, a Santa Sé afirma com todas as letras que “é necessário esclarecer que o ‘caminho sinodal’ na Alemanha não pode obrigar os bispos e os fiéis a assumir novas formas de governo, nem novas regras de doutrina e moral”. Acrescenta que “não é lícito implantar nas dioceses, antes de uma concordância no nível da Igreja universal, novas estruturas ou doutrinas, que representariam uma ferida na comunhão eclesial e uma ameaça à unidade da Igreja”.

Alguns amigos ficaram alarmados com a menção a “novas doutrinas”, como se o Vaticano estivesse dizendo “calma, não façam besteira sozinhos, esperem por nós para fazermos besteira todos juntos”. Mas não é para tanto. A Santa Sé está apenas dizendo que não interessa o que os “sinodais” alemães decidam sobre ordenação de mulheres; celibato sacerdotal; comunhão para quem quiser independentemente de ser católico ou não, de ser pecador público ou não; contracepção artificial; o que for – nada disso tem a menor validade, porque o que vale é a doutrina imutável da Igreja, algo que não se decide “de baixo para cima”.

É inimaginável que um puxão de orelha desses não tenha tido o conhecimento e a aprovação do papa Francisco

No mesmo dia, a Assembleia Sinodal respondeu, de uma forma que beira a insolência. O comunicado é assinado pelo bispo Georg Bätzing, presidente da conferência episcopal alemã, e por Irme Stetter-Karp, presidente do Comitê Central de Católicos Alemães (que, dias atrás, defendeu o direito ao aborto na Alemanha)
Mas, ao contrário do dito popular, a dupla primeiro assopra para depois morder. Com um cinismo impressionante, Bätzing e Stetter-Karp dizem alegrar-se que “a Santa Sé volte a insistir naquilo com que já nos comprometemos (...): as decisões da Assembleia Sinodal não têm por si mesmas efeitos jurídicos. A autoridade da Conferência Episcopal e de cada bispo diocesano para promulgar normas jurídicas e exercer seu magistério no âmbito de suas respectivas competências não é afetada pelas resoluções”, como se Vaticano e Assembleia Sinodal estivessem apenas dizendo a mesma coisa com palavras diferentes. Cinismo, sim, porque a resposta ignora a pressão dentro do próprio “caminho sinodal” para obrigar todos os bispos alemães a seguir o que saísse da Assembleia.
 
Mais adiante, os “sinodais” partem para o ataque. “Lamentamos com irritação que esta comunicação direta não tenha ocorrido até agora”, afirmam, em relação à possibilidade de um diálogo com Roma (como se o próprio papa já não tivesse tratado do assunto na carta citada e em encontros com o bispo Bätzing), e concluem dizendo que “isso também se aplica à forma atual de comunicação, que nos assombra. Não há testemunho de um bom estilo de comunicação dentro da Igreja se as declarações não são assinadas”. 
Vá lá, a declaração de 21 julho realmente não traz o nome de ninguém, nem está vinculada a algum dicastério específico. 
Mas é inimaginável que um puxão de orelha desses não tenha tido o conhecimento e a aprovação do papa Francisco. 
Assim, quem exatamente redigiu o texto é o que menos importa neste contexto. 
O que importa é que, pela maneira como os “sinodais” reagiram, a possibilidade de a chamada de atenção produzir algum bom resultado é mínima.
 

Ponte aérea Frankfurt-Manaus

Um detalhe interessante disso tudo é que o Vaticano atirou no que viu e pode ter acertado também o que não viu. 
Na véspera da divulgação da declaração da Santa Sé, a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia (CEA), a Rede Eclesial Panamazônica (Repam-Brasil) e a Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB) lançaram um certo “Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia” (foi destaque até no Vatican News) em que também se pede a ordenação sacerdotal de homens casados e a ordenação diaconal de mulheres“até mesmo porque não encontramos teológica e pastoralmente impedimentos para isso”, afirmou, no evento de lançamento, Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Roraima, que participou como perita do Sínodo para a Amazônia.
 
Ela argumenta quenos apoiamos na orientação do Documento Final do Sínodo Especial para a Amazônia para fazer essas propostas, mas, ao menos em relação à ordenação de mulheres ao diaconato, o documento não chega a fazer essa solicitação; apenas menciona que, nas consultas prévias, esse pedido apareceu com frequência e, “por isso, o tema também esteve muito presente no Sínodo”
Quanto à ordenação sacerdotal de homens casados, sim, o documento final foi mais explícito ao afirmar que “propomos estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente, no âmbito da Lumen Gentium 26, para ordenar sacerdotes a homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterato, podendo ter uma família legitimamente constituída e estável”.

Mas o papa meio que já deu suas respostas na exortação pós-sinodal Querida Amazônia. Sobre as mulheres, escreveu que não se pode “reduzir a nossa compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra. Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspectivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e subtilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável”, e que “as mulheres, que de fato realizam um papel central nas comunidades amazónicas, deveriam poder ter acesso a funções e inclusive serviços eclesiais que não requeiram a Ordem sacra e permitam expressar melhor o seu lugar próprio” (o destaque é meu). Sobre a ordenação sacerdotal de homens casados, o papa não diz absolutamente nada. Então, se a Igreja na Amazônia estiver pensando em trilhar o caminho dos “sinodais” alemães, para ela também vale o aviso do Vaticano.

O pedido de perdão do papa Francisco no Canadá
O papa está no Canadá para uma “viagem penitencial”. Nesta segunda-feira, sua conta oficial no Twitter em português trouxe a seguinte mensagem:
Vamos, então, acalmar os perplexos. Sim, o Trudeauzinho é um protótipo de ditador que não tem nenhum apreço pela liberdade religiosa
Sim, a história das valas comuns com corpos de crianças mortas em escolas religiosas era uma farsa completa (e ainda estamos esperando os pedidos de desculpas pelo vandalismo cometido contra igrejas após o surgimento da história). Mas, apesar disso, temos de admitir que escolas católicas também (porque não foram as únicas) participaram do projeto do governo canadense de substituir forçadamente a cultura indígena local pela cultura europeia, em uma assimilação forçada que violou inúmeras liberdades, inclusive a religiosa. 
Não foi algo amplamente generalizado, muitas escolas proporcionavam um tratamento perfeitamente respeitoso às crianças indígenas, mas houve outras em que a coisa foi bem diferente. A esse respeito, colo aqui o que um amigo católico, que já viveu no Canadá e prefere não se identificar, escreveu no Facebook:

Sendo católico e tendo morado alguns anos no Canadá, creio que é importante comentar certos pontos da visita do Papa e seu pedido de perdão aos indígenas canadenses.

1. As escolas residenciais foram um genocídio cultural e a Igreja tem sim responsabilidade quanto a elas, assim como também têm certas denominações protestantes e o governo canadense. O exagero propagado por alguns grupos revanchistas quanto ao dano causado não exime esta culpa. O pedido de perdão do Papa é cabido e necessário para um vital processo de reparação.

2. O Canadá tem um “Centro de Verdade e Reconciliação” criado para a questão das escolas residenciais. Por meio dele, há várias exigências contra a Igreja – algumas plausíveis, outras descabidas. Uma delas é o pedido de perdão formal. A demonstração de boa vontade nos municia para abrir o diálogo da outra parte e para rechaçar as exigências descabidas.

3. O ódio anticlerical lá é forte e depois das recentes agressões anticatólicas, com incêndio criminoso de igrejas, este pedido de perdão é ainda mais relevante e evangélico. Deixa claro que os intolerantes e agressores, agora, são esses grupos que exploram a vulnerabilidade social dos indígenas para nos atacar; e não nós. No campo político, isto reequilibra a balança a favor da Igreja.

4. Indígenas no Canadá não são como no Brasil: organizam-se em federações e têm representação política formal, com assentos nos parlamentos. Um pedido de perdão em cerimônia oficial é importante também por isso.

5. Nota-se também que o Santo Padre citou nominalmente as reduções jesuíticas no Brasil e Paraguai como um bom exemplo de evangelização de povos indígenas que não usaram de agressão colonialista. Provou que é possível evangelizar sem destruir e derrubou mais uma mentira anticatólica.

6. Ah, o Papa usou um cocar? Ótimo, agora os indígenas o reconhecem como autoridade. Cocar não é fantasia de carnaval, é uma coroa – e os papas também usaram coroas romanas e germânicas pagãs. E como disse o Padre Antônio Vieira: “a coroa de penas é tão digna quanto a coroa de ouro”.

Julgar as pessoas de outrora a partir do que sabemos hoje é sempre algo complicado. Pode ser que elas estivessem realmente crentes de que faziam a coisa certa. Mas hoje sabemos que não era a coisa certa, e por isso é preciso retificar.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

O cardeal da floresta - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

De Roma, Francisco mandou um sinal

O Vaticano fala baixo. O Papa Francisco acaba de elevar ao cardinalato o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner. Um cardeal na Amazônia já seria muita coisa, mas não foi só. Há três semanas, Steiner havia sido nomeado presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Se isso não bastasse, ele nasceu na cidade de Forquilhinha (SC), assim como seus primos Paulo Evaristo (outro franciscano) e Zilda Arns. Esse pequeno burgo fundado por colonos alemães deu à Igreja dois cardeais e a médica que revitalizou a Pastoral da Criança. Seu processo de beatificação tramita na Santa Sé. (Ela morreu em 2010, durante o terremoto do Haiti.) Saíram de Forquilhinha três bispos, 58 padres e mais de cem irmãs de caridade. Em 2005 João Paulo II mandou Dom Leonardo Steiner para a prelazia de São Félix do Araguaia, antes ocupada por Dom Pedro Casaldáliga.

Falando baixo, em 1964 o Vaticano afastou da Arquidiocese de São Paulo o regalesco cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. Anos depois chamou para Roma seu sucessor, Dom Agnelo Rossi, que se aproximara demais da ditadura. Para o lugar, o Papa Paulo VI mandou um religioso pouco conhecido: Paulo Evaristo Arns. Ele viria a se tornar um campeão na defesa dos direitos humanos. Falando baixo, Roma também mudou o arcebispo do Rio de Janeiro, trocando o bisonho Dom Eusébio Scheid por Dom Orani Tempesta.

Durante os pontificados de João Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013), a Igreja Católica [Apostólica Romana] brasileira [sic] viveu um período de sedação política. [São João Paulo II era conservador, mesma opção do Papa Emérito Bento XVI.  Já as nomeações de 1964 e anos seguintes e coincidentes com o Governo Militar, há quase 60 anos. foram em sua maioria de padres subversivos e progressistas.] O Papa Francisco poderia ter nomeado cardeais para Porto Alegre ou Fortaleza, que já os tiveram. Em vez disso, nomeou o primeiro cardeal da Amazônia, região do Brasil cuja conquista muito deveu aos missionários jesuítas, carmelitas e franciscanos. Jesuíta era o padre Antônio Vieira, que chegou ao Maranhão em 1652.

Passaram-se 370 anos, o mundo é outro, mas na Amazônia reabriram-se as feridas da luta pelos direitos dos povos indígenas. Ao tempo de Vieira, eles eram escravizados (até pelos jesuítas) e hoje sofrem ataques de garimpeiros e agrotrogloditas que lhes invadem as terras. [sempre atual a pergunta: para que os índios querem tanta terra se lhes falta coragem para cultivar o básico e a maioria deles prefere o conforto das cidades do que viver em suas terras?
Leitores! (as terras indígenas aqui formam quase 15% do território do Brasil, coisa que nenhum outro país do mundo tem. [sendo que os índios
são menos do que 1% da população brasileira
.
Saiba mais sobre a riqueza dos indígenas brasileiros - dinheiro ganho na moleza: ("... Vejam só, por exemplo: nós, brasileiros, estamos pagando R$ 90 milhões para os indígenas por onde passará o linhão que vai levar energia elétrica para Boa Vista. 
No entanto, ali perto, tem o Rio Coutinho, que tem um desnível de 600 metros, pouca distância, e nunca viveu um índio por ali, mas está dentro da reserva Raposa Serra do Sol. Não pode mexer lá ..." ) CONFIRA AQUI.    Aqui você sabe mais, inclusive que a reserva Raposa Serra do Sol  é uma criação do Supremo Tribunal Federal no governo do Luladrão. Tem mais, clicando aqui.] Vieira perdeu a parada e acabou em Lisboa.

Quem olha o mapa do Brasil pode imaginar o que foi a conquista da Amazônia durante o período colonial. As terras a oeste de uma linha que ia da Ilha de Marajó a Santa Catarina eram da Espanha. Ao norte, Inglaterra, França e Holanda, as potências da época, se bicavam na expectativa de acesso à margem do Rio Amazonas. As tropas e, de certa forma, os padres garantiram a posse do vale. Hoje a opção pelo atraso acordou um pedaço da agenda do tempo de Vieira, e com ela veio a questão do meio ambiente.

No século XVII, tornou-se Papa Urbano VIII o cardeal Barberini. Ele tirou o bronze da cúpula do Pantheon romano para enfeitar a Basílica de São Pedro. Dizia-se na cidade que aquilo que os bárbaros não fizeram os Barberinis cometeram. Para os indígenas, Urbano foi um anjo e excomungou os predadores.

A nomeação de um cardeal para a floresta é um sinal para o garimpo ilegal e seu braço no crime organizado, bem como para os agrotrogloditas da região. Dom Leonardo receberá o barrete sendo pouco conhecido fora da região e da Igreja Católica. Em 1970, muita gente se perguntava quem era o bispo Paulo Evaristo Arns.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Um duelo perigoso - Revista Oeste

Jair Bolsonaro tem muita live, passeio de motocicleta etc. O STF tem o apoio cego de um Congresso morto de medo com o passivo penal de seus membros 

Morreu, foi enterrado em cova rasa e não será ressuscitado enquanto os ministros do Supremo Tribunal Federal não deixarem, o assunto político mais sensacional deste ano — a adoção, nas eleições de 2022, de modificações no sistema de votação, com o objetivo de torná-lo mais seguro e verificável. É onde anda a política brasileira de hoje. Quando uma questão dessas, que deveria ser absolutamente técnica, racional e neutra, se transforma, a exemplo dos antigos títulos de filme, num violento “duelo de paixões” entre as partes, fica-se com uma ideia sobre o baixo nível da vida pública praticada neste país. Fazer o quê? É assim que funciona. [há grande possibilidade dos ministros do STF se curvarem a "sua excelência, O FATO" = a invasão, nesse final de semana, do sistema do Tesouro Nacional. O acontecimento, reforça a posição dos que defendem que nenhum sistema de informática é totalmente invulnerável e torna recomendável a colocação de mais uma tranca = O VOTO AUDITÁVEL.]

A única vantagem, para o público pagante, é que a mídia finalmente vai parar de falar no assunto. Já deu, realmente, o que tinha de dar quem aguenta continuar ouvindo essa conversa? 
Por mais extravagante que pareça a ideia, chegaram a inventar, numa tentativa de manter as emoções em sua temperatura mais alta, que “os militares” tentaram intimidar a Câmara dos Deputados e o resto da politicalha nacional com um desfile de carros blindados no dia da votação do assunto
O desfile fez parte de uma operação que ocorre há 33 anos numa região de Goiás próxima a Brasília; 
já vinha rolando havia dias, mesmo porque é impossível montar um negócio desses de hoje para amanhã. Mas e daí? [a reforçar a  impossibilidade citada, tem, o fato que a coluna começou a se deslocar para Brasília no mês de julho e a votação alvo da mentirosa narrativa de intimidação dos deputados, foi marcada no inicio de agosto.]
Na guerra para manter o Brasil em atmosfera de catástrofe iminente e inevitável está valendo de tudo. 
O desfile virou ameaça à democracia no Brasil e no mundo.
Os blindados passaram por Brasília, foram embora e não aconteceu coisa nenhuma, é claro. Que raio poderia ter acontecido? Serviu, apenas, para encher página de jornal e permitir exibição de valentia por parte de político que se enche de coragem quando enfrenta general manso, mas que sai correndo apavorado assim que vê general bravo. “Ninguém vai nos intimidar”, etc. etc. etc. Querem enganar a quem? 
 
Em todo caso, é um fecho perfeitamente adequado para a coisa toda — farsa acaba em farsa. A questão nunca foi séria. De um lado, não se comprovou fraude na eleição de 2018 o sistema foi, sim, invadido por um marginal (chamam de hacker), mas até a Nasa, o Pentágono e a Santa Sé vivem sendo invadidos e não acontece nada. [aqui cabe apontar que não acontece nada pelo fato do hacker não desejar; se ele detém conhecimentos para invadir, pode promover alterações com dia e hora acerta para ativação. Antes que o otimismo do  ''se invadirem não vai acontecer nada" predomine, é bom registrar o recente sequestro do sistema que controla um dos maiores oleodutos dos Estados x Canadá.]  De outro lado, não se demonstrou com um mínimo de lógica por que um sistema físico não pode ser aperfeiçoado e muito menos por que a mudança proposta seria a destruição da democracia.
O que aconteceu, na verdade, não foi uma discussão honesta com o propósito de servir aos interesses do cidadão brasileiro. Houve, isso sim, mais um teste de força entre a Presidência da República e o STF e o STF ganhou mais uma vez, pela boa e simples razão de que é mais forte que o presidente. 
 
Jair Bolsonaro tem muita live, passeio de motocicleta etc. O STF tem o apoio cego de um Congresso morto de medo com o passivo penal de seus membros, o poder da caneta que coloca suas ordens em vigor e o aplauso incontrolável da mídia e da elite política, econômica, intelectual e de todos os outros tipos, num arco que vai do sistema OAB-CNBB-escritórios de advocacia para corruptos às empreiteiras de obras públicas que sobreviveram à Lava Jato. Os tanques de guerra do Exército, supostamente os tanques “de Bolsonaro”, passam por Brasília e vão embora. O ministro Luís Roberto Barroso fica, manda e todo mundo obedece general, marechal, almirante de esquadra, senador, deputado, presidente da República, Deus [retiramos DEUS dessa bagunça] e todo mundo. Isso é a vida como ela é. O resto é conversa fiada.
 
A Câmara, em seu conjunto, rejeitou a proposta de mudanças no voto para 2022 e se ajoelhou diante do STF em obediência ao instinto mais primitivo do político brasileiro ficar do lado que ganha.  
Os deputados já cheiraram há muito tempo que o Judiciário é mais forte que o Executivo, que um manda e que o outro obedece. 
Sabe que ele próprio, o Legislativo, fica de quatro diante do tribunal; 
num dos momentos mais baixos da sua história, aceitou há pouco que o STF enfiasse na cadeia, levado pela polícia, um deputado federal. 
Isso mesmoum deputado federal no exercício de mandato, que tem imunidade parlamentar por força da Constituição e cujos atos só podem ser apreciados pela própria Câmara. 
Imunidade parlamentar? Foro privilegiado? Qual? Por medo físico do Supremo, de quem dependem para sobreviver às suas tempestades diante da lei criminal, nada disso vale. 
O que vale é saber o que os ministros estão querendo e obedecer rapidinho.

Na votação final, o “voto impresso” teve até mais votos — 229 contra 218  [o que comprova que o presidente Bolsonaro está certíssimo quando diz que é inimpichável = para que um pedido de impeachment se transforme em processo,
são necessários 342 votos;
quanto aos demais atributos que ele disse possuir asseguramos que imorrível ele não é, imbrochável e incomível são temos fora da nossa jurisdição (a esquerda alegre costuma curtir tais temas)]

O próprio caso do “voto impresso” é um exemplo perfeito dessa subserviência que começa na presidência do Senado e da Câmara, passa pelas mesas e acaba no fundão do plenário. A Câmara havia aprovado, em ato legislativo impecável, uma lei estabelecendo a adoção de mudanças que permitiriam a impressão de comprovantes de votação que não seriam levados para casa com o eleitor, mas ficariam em cada urna, à espera de verificação posterior pelos partidos
 
O STF anulou a lei, pura e simplesmente. Segundo os ministros, ela seria “inconstitucional”, por dar chances de romper o sigilo do voto — um disparate que jamais conseguiram explicar até hoje de maneira minimamente compreensível. Se a Câmara pode ter uma decisão como essa jogada no lixo, qual a razão para alguém achar que a separação de Poderes está valendo no Brasil? Os deputados baixaram a cabeça, disseram “sim, senhor” e ficou por isso mesmo. Alguns parlamentares, tempos atrás, resolveram reabrir o assunto. Não era um grupo pequeno: na votação final, o “voto impresso” teve até mais votos — 229 contra 218. Mas não era grande o suficiente ficou abaixo dos 308 necessários para a aprovação do projeto. O caso, de qualquer forma, já estava resolvido. O STF, logo no começo da discussão, entrou em transe: nenhuma mudança seria permitida, informou o ministro Barroso. Ele chegou a ir à Câmara, pessoalmente, para convencer os deputados a rejeitar a proposta de mudanças. Convenceu.
 
Fica aberta, no atestado de óbito, uma questão até agora sem resposta: por que um problema essencialmente político como esse foi tratado como um teste de força entre Bolsonaro e Barroso, com xingamento de mãe e tudo o mais a que se tem direito? 
Na véspera da votação, Bolsonaro disse que, “sem negociação”, a proposta de modificações não iria passar. 
Por que, nesse caso, ele só foi lembrar de negociar quando Inês já estava morta? Por que, se estava mesmo disposto a ganhar a parada e acha que negociação é essencial, não começou a negociar em janeiro de 2019, logo que tomou posse? Não fica claro, do mesmo jeito, por que o presidente esperou tanto tempo para falar de fraude na apuração de 2018. Se está convicto de que roubaram voto, por que só veio tocar no assunto já na reta final?
 
A discussão enfim acabou, mas o saldo que fica disso tudo é um belo desastre. Com a não solução a que se chegou, fica criada, e não se sabe se irá embora mais tarde, a suspeita de que as eleições presidenciais de 2022 não serão limpas. Não adianta ficar falando que isso “é golpe”. Fama de eleição roubada é coisa difícil de ir embora com manchete no horário nobre e manifesto de artista. 
O fato é que continua sem resposta a pergunta-chave nessa coisa toda: por que não seria possível aperfeiçoar um sistema eletrônico de votação? O ministro Barroso insiste, e não muda nada em nenhum milímetro, que o TSE montou um aparato invulnerável e perfeito para as eleições brasileiras;  
não pode ser quebrado por ninguém e não há nenhum recurso na ciência digital capaz de tornar melhor um sistema eleitoral que só é adotado no Brasil, no Butão e em Bangladesh. 
Os bancos, sites de vendas on-line e cartões de crédito aperfeiçoam todos os dias seus sistemas de segurança; gastam bilhões nessa tarefa. 
Por que o TSE é melhor que eles? É uma estupidez.

O STF se apresenta como vítima e se coloca, ao mesmo tempo, nos papéis de acusador e de juiz

Sobra para o governo, agora, o dever que até o momento parece não ter sido examinado por ninguém — de fazer tudo o que a tecnologia permite para cobrir o máximo de vulnerabilidades do atual sistema
Agora não é mais discurso; é puro trabalho, silencioso e longe do picadeiro de circo armado em volta do assunto, coisa que exige cabeça e não dá cartaz para ninguém. O roteiro mostrando onde pode haver problemas existe. 
O que se pode fazer a respeito é colocar todo o potencial de conhecimento digital à disposição do governo, a começar pelo arsenal de recursos tecnológicos das Forças Armadas, no acompanhamento de cada passo do processo eleitoral de 2022 há mais de um ano para fazer isso, até o início da apuração. É um trabalho a ser feito em conjunto com os partidos — e quem mais estiver habilitado a auditar o sistema. Ou será feito ou não. Depende do governo.
É possível, também, que resulte alguma coisa de esforços que os políticos pretendem fazer para mudar alguma coisinha aqui e ali — nada que deixe nervosos os ministros e que carregue junto as odiosas palavras “voto” e “impresso”, mas que dê uma satisfação qualquer aos 229 deputados que votaram a favor das mudanças. 
 
É o que temos, além do descrédito quanto à honestidade dos resultados da eleição e do duelo pessoal cada vez mais perigoso entre o presidente Bolsonaro, de um lado, e o STF, do outro — no qual o STF se apresenta como vítima e se coloca, ao mesmo tempo, no papel de juiz. 
Abre os inquéritos e processos, aguarda uma denúncia do procurador-geral da República e, no fim, dá a sentença. 
É difícil uma coisa dessas acabar bem — a menos que se torne melhor, e não pior a cada dia que passa.
 
J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste 
 

sábado, 10 de julho de 2021

Claro que militar rouba - O Globo [havendo provas, acusem e o corrupto será punido]

Ascânio Seleme

Fato de o servidor ser militar não o inocenta prévia e automaticamente de qualquer denúncia

Imagine se a Associação dos Funcionários Públicos Federais emitisse uma nota oficial protestando contra denúncias de corrupção de seus associados. Seria ridícula, tão ridícula quanto a nota assinada pelo ministro da Defesa, Braga Netto, e os comandantes militares contra o presidente da CPI, senador Omar Aziz, por ter observado que o lado podre das Forças Armadas envergonha o lado bom. Qual é o erro nesta afirmação?  Nenhum, a menos que os militares honestos não se envergonhem dos malfeitos dos bandidos fardados. [aproveitamos para perguntar: senador Aziz de qual lado o senhor coloca sua esposa e seus três irmãos presos por suspeita de corrupção - sua esposa por duas vezes - lado bom? lado podre?]

O fato de o servidor ser militar não o inocenta prévia e automaticamente de qualquer denúncia. Para ser honesto, tem que praticar a honestidade. Pode ser que no estrito cumprimento de suas obrigações constitucionais, dentro dos quartéis, seja mais difícil ao servidor fardado aliviar os cofres públicos, em razão da disciplina rígida e do sistema punitivo próprio. Mas, ainda assim, rouba-se até mesmo na caserna. Em 1991, O GLOBO revelou um mega esquema de desvios no Exército através do superfaturamento de fardas e roupas de cama e banho para recrutas. [qualquer categoria, instituição, sem exceção, tem integrantes que as conspurcam; 
Um cardeal da Igreja Católica Apostólica Romana, o terceiro na hierarquia do Vaticano, está sendo processado por desvio de dinheiro da Santa Sé - acusação que não se estende à Igreja Católica como instituição. A denúncia é específica, nominal e fundamentada.] Em 2017, o Ministério Público Militar denunciou 11 pessoas, seis militares e cinco civis, por desvios de R$ 150 milhões em contratos de obras entre 2005 e 2010.

[a Associação citada tem o dever inescusável de sendo algum, ou alguns, de seus associados acusados de corrupção, aceitar a acusação, desde que fundamentada; mas quando políticos sujos passarem a expelir acusações infundadas, citando nomes de membros daquela associação como corruptos - acusações levianas e sem o menor resquício de provas, o diretor da Associação tem o DIREITO e o DEVER de protestar com veemência. 
DIREITO e DEVER,  que se estende ao comandante de qualquer uma das forças singulares, que seja vitimada por aleivosias, calúnias  e falácias - consistindo em acusações sem provas, sem argumentos que as sustentem - emitidas  por parlamentares, membros da mídia militante e outros mais, de revidar de forma enérgica, expedindo alertas, não ameaças - homens armados não ameaçam - e, persistindo a conduta inadequada dos caluniadores, o comandante pode,  usando dos meios legais necessários, aplicar severa reprimenda às vivandeiras - sendo conveniente que o alerta seja expedido em Nota conjunta dos três comandos e o respaldo do ministro da Defesa.
Que autoridade tem um senador da República e o relator de uma CPI - escolhidos para exercer tais cargos sabe-se lá por quais critérios - para assacar acusações infundadas, generalizando, contra as Forças Armadas e outras instituições da República?
O que justifica um jornalista desejar a morte do presidente da República? 
E um outro sugerir o suicídio da mesma autoridade? 
Nenhum dos dois foi chamado a dar explicações.  
Dois pesos, duas medidas? 
Os que desejam, ou sugerem, a morte da autoridade máxima do Brasil não sofrem nenhuma reprimenda. 
Um ministro de Estado por desejar a prisão de ministros do STF sofre pressões no sentido de ser punido. Convenhamos que desejar a prisão de alguém, seja quem for, não é crime. 
Quanto ao presidente não desejam sua prisão e sim sua morte, o que  pode estimular algum 'adélio' a decidir matar o presidente; sugerir suicídio pode ser tipificado como indução ao suicídio.]
Há dois meses o Ministério da Saúde exonerou seu superintendente no Rio, coronel George Divério, por autorizar obras sem licitação em prédios oficiais. As obras foram encomendadas a empresas altamente suspeitas e que já haviam se envolvido em outras mutretas na Indústria de Material Bélico, do Exército, na época em que a Imbel era dirigida Divério. O coronel exonerado foi substituído por outro coronel. Isso garante lisura para o órgão? Claro que não. [flagrado cometendo o crime, com provas sustentando a acusação, a punição foi imediata.  
Acusação séria, responsável. 
Não tipo a de um deputado... sem comentários sobre sua lisura... que se junta a um irmão e acusam a muitos, e tais acusações  passam a ter FÉ PÚBLICA. Indícios viram provas robustas - desde que as suspeitas, as ilações, possam trazer prejuízos ao governo do capitão. Contra Bolsonaro vale tudo.] Agora, no Ministério da Saúde, indícios de malfeitos apontam para outros oficiais que comandaram unidades da pasta durante a desastrosa, “imoral e antiética” gestão do general Pazuello.

Casos de corrupção ocorrem em maior ou menor volume diante das chances que o desonesto tem de roubar. Nunca, em tempo algum, militares ocuparam tantos cargos civis no governo federal. Nem no período mais fechado e tenebroso da ditadura militar, [período em que os maus brasileiros foram contidos, neutralizados, sempre com o uso dos meios necessários - sem excessos, tendo em conta os superiores interesses do Brasil.] no governo do general Garrastazu Médici, houve tantos coronéis e generais em postos de primeiro e segundo escalões do Executivo federal. Considerando todas as patentes, mais de 6 mil postos civis foram entregues a militares no governo Bolsonaro. Claro que haveria de aparecer casos de avanços sobre o dinheiro público feitos por homens com estrelas nos ombros.

A nota irada e descabida da Defesa foi de uma sandice sem tamanho. [considerar sandice algo que se revelará eficaz?  - um alerta emitido há algum tempo, via Twitter, alcançou plenamente seus objetivos
o importante é que o alerta foi emitido, chegou aos destinatários e o estopim do alerta, o senador que preside à Covidão, foi alertado de que não serão expedidos novas notas = novos alertas.]  Foi um ato político que não guarda nenhuma proximidade com o bom senso e a inteligência. Foi estúpida, por ser intransigente. E burra, por ser ameaçadora. Desde quando militar desonesto não pode ser citado por senador? Que conversa é essa de “as Forças Armadas não vão aceitar ataques levianos”? Primeiro, a fala de Aziz não foi leviana. E, mesmo que fosse, caberia tão somente ao Ministério da Defesa defender-se nos tribunais. Que processasse o senador, o que não podia era ameaçar a CPI, nem o Senado. Em última análise, a nota ameaça a democracia. [já era esperada a menção a que a nossa frágil democracia foi ameaçada
tudo que contrarie os interesses não republicanos, por escusos, do establishment é considerado ameaça a democracia. 
Virou regra invocar a defesa da democracia para justificar a prática de atos antidemocráticos contra apoiadores do governo Bolsonaro e até contra o próprio.]

A nota erra gravemente em outro ponto. Diz que que Exército, Marinha e Aeronáutica “defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. Engano. Essas não são atribuições das Forças Armadas, que, de acordo com a Constituição, “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e (eventualmente) da lei e da ordem”. Quem defende a democracia e a liberdade do povo é a própria Constituição.[ótimo, magnifico, inteligente; As Forças Armadas, por disposição constitucional, tem entre suas atribuições à garantia dos Poderes constitucionais = garantir, defender tais poderes é defender a Constituição; ou tal entendimento está errado?]   Obrigado, generais, mas o povo e a democracia defendem-se com a Constituição. A mesma que os senhores estão obrigados a obedecer. [estar obrigado a defender e ter atribuição de defender, não é seis por meia dúzia?]

Por fim, a nota mostra o grau de alienação dos seus signatários. O país passa por uma crise sem tamanho gerada por um presidente com cara, estilo e patente de militar. Sua gestão da pandemia resultou em milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas se ele não desse tratamento político a uma crise sanitária e se o general que mandou chefiar a Saúde não fosse absurdamente incompetente. Com tanta coisa para se preocupar, inclusive recuperar a imagem para lá de manchada das Forças Armadas, o ministro Braga Netto e os comandantes militares saíram em defesa de oficiais corruptos e atacaram o presidente da CPI. [existem provas, a sustentar que os oficiais são corruptos? 
no caso da Covaxin, certamente não existem = seria o caso de provas de um crime que não foi cometido.] Ou foi um exagero mal calculado ou mais um ato de subserviência de generais ao capitão.
 

ABUSADO

Você ainda tem dúvida de que o presidente do Brasil passou de todos os limites? Ameaçar as eleições do ano que vem é tão grave que nenhuma nova chance pode ser dada a este homem. [felizmente,  a maioria dos brasileiros não endossa o entendimento expresso na frase destacada. Não houve ameaça, apenas o entendimento de que a possibilidade, ainda que remota, da ocorrência de troca do destinatário do voto inserido pelo eleitor na urna, se tentada, será detectada pelo voto impresso.] Vai aparecer a turma que adora passar pano para dizer que Bolsonaro falou da boca para fora, que não foi um ataque, que denota uma preocupação com a lisura eleitoral. Balela. Foi uma ameaça à democracia categórica.  
Quem vai dizer se a eleição será limpa ou não? 
Será limpa apenas com voto impresso? 
E quem assume o país no dia 1º de janeiro de 2023 se não houver eleição? 
O presidente da Câmara ou o capitão fica no posto? [conforme  dizia o sábio ministro Armando Falcão: o futuro pertence à DEUS.] Claro que foi uma ameaça de golpe, que num país graduado seria devidamente punida.

E AGORA, GENERAL?
Já que o general Braga Netto disse em sua nota contra Omar Aziz que as Forças Armadas defendem a democracia e a liberdade do povo, o que ele tem a dizer sobre a ameaça do golpista às eleições presidenciais do ano que vem? Rejeitado por 51% dos brasileiros, em queda livre entre os eleitores, Bolsonaro não para de falar idiotices e não se ouve um “opa, espera aí” dos generais, que apenas se incomodam quando alguém identifica um ladrão entre eles.

POUCO INTELIGENTE

A maioria dos brasileiros, segundo o Datafolha, acha o seu o presidente desonesto, falso, incompetente, despreparado, autoritário e pouco inteligente. Alguma surpresa? [o curioso, constrangedor para o eleitorado brasileiro, até cômico, é que pesquisas como a citada  e outras do tipo, quando envolvem o presidente Bolsonaro não precisam sequer ser abertas para leitura = o resultado é óbvio, Bolsonaro sempre perde. Às vésperas do segundo turno de 2018, Bolsonaro também perdia em tais pesquisas.]  Nenhuma. Desde o dia zero sabia-se que sua excelência tinha mesmo um déficit cognitivo importante. Incompetente e despreparado deu para ver quando ele ignorou a reforma da Previdência, que só andou por causa de Rodrigo Maia. Que era autoritário soube-se quando abriu pela primeira vez a boca, há 30 anos. Desonesto e falso descobriu-se logo em seguida. Surpreendente é que ainda existam uns 20% de cidadãos que chamam esse conjunto todo de mito.

Ascânio Seleme - Brasil - O Globo


terça-feira, 22 de junho de 2021

Vaticano se opõe a projeto de lei anti-homofobia na Itália

Carta da Santa Sé argumenta que projeto questiona 'liberdade de organização' da Igreja e ameaça 'liberdade de pensamento' entre católicos

Em uma intervenção sem precedentes, o Vaticano instou o governo italiano a alterar uma proposta de lei que criminaliza a homofobia, alegando preocupações de que o texto infringiria “a liberdade de pensamento” da Igreja Católica. O projeto já foi aprovado pela Câmara dos Deputados no ano passado, mas agora enfrenta obstrução de partidos conservadores no Senado.

Em uma carta, o arcebispo britânico Paul Richard Gallagher, secretário de relações do Vaticano com outros países, afirma que partes da legislação violam um tratado feito entre a Itália e a Igreja Católica na década de 1920 que garantiu as liberdades e direitos da Igreja, segundo o jornal Corriere della Sera

Nesta terça-feira, 22, um porta-voz do Vaticano confirmou que “uma correspondência diplomática do secretário de Estado foi entregue informalmente à embaixada da Itália na Santa Sé em 17 de junho”. A intervenção alimentou ainda mais um debate acirrado em torno da lei, projetada para tornar crime a violência e o discurso de ódio contra pessoas LGBT e deficientes, assim como a misoginia.[as três áreas devem ser separadas, recebendo tratamento diferenciado.]

Embora a Itália tenha aprovado as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo em 2016 , o país ficou para trás em relação aos seus parceiros da União Europeia na criação de medidas anti-homofobia. Em 2015, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, descreveu o referendo da Irlanda sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo como “uma derrota para a humanidade”.

A carta do Vaticano argumenta que a lei anti-homofobia questiona a “liberdade de organização” da Igreja e ameaça a “liberdade de pensamento” entre os católicos, levantando também preocupações de que escolas particulares seriam forçadas a organizar eventos como parte da criação de um dia nacional contra a homofobia. “É a primeira vez que a Igreja faz algo assim”, diz Robert Mickens, editor da edição em inglês do jornal católico La Croix, em Roma. “Eles estão preocupados em serem multados por discurso de ódio”. 

O projeto de lei foi elaborado por Alessandro Zan, um político LGBT do Partido Democrata, de centro-esquerda, e foi aprovado em uma votação na Câmara dos Deputados. No entanto, após pressão da própria Igreja Católica na Itália e da oposição conservadora, foi introduzida uma emenda que isenta de punição afirmações e declarações que não representem instigações explícitas à violência. Nesse caso, por exemplo, a lei não puniria quem defendesse que pessoas LGBT não podem adotar uma criança, mas sim quem incentivasse ou praticasse atos de violência física contra pessoas LGBT.

A lei também foi contestada por partidos de direita e grupos católicos, bem como grupos feministas, que argumentam que a “identidade de gênero”, um termo usado no projeto de lei, foi “transformado em arma contra as mulheres”.

Mundo - Revista VEJA

 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Papa Francisco e Bento XVI são vacinados contra a Covid-19 - Revista VEJA

No domingo, Francisco afirmou que não tomar o imunizante é colocar "em risco a vida de outras pessoas"


     Papa Francisco e Papa Bento XVI Vatican Media/Divulgação

O papa Francisco, de 84 anos, e o papa emérito Bento XVI, 93, foram vacinados contra a Covid-19, informou nesta quinta-feira, 14, um porta-voz da Santa Sé em um comunicado.

O papa argentino recebeu a primeira dose da vacina ontem, enquanto o papa emérito alemão foi vacinado nesta manhã, como parte de uma campanha de vacinação que começou na quarta-feira para os funcionários do Vaticano.

A vacina administrada na cidade-Estado foi produzida pela Pfizer em parceira com o laboratório Biontech. Segundo a Santa Sé, os dois papas receberão a segunda dose do imunizante em cerca de três semanas. “Acredito que todos deveriam receber a vacina”, afirmou Francisco no último domingo. O papa afirmou que não tomar o imunizante é colocar “em risco a vida de outras pessoas”.

Saúde - Revista VEJA


sábado, 2 de janeiro de 2021

Papa Francisco diz que mundo precisa de vacina para o coração em 2021

Será um bom ano se cuidarmos dos outros, disse o pontífice, enfatizando a importância de "educar o coração para cuidar, para valorizar as pessoas"

O papa Francisco disse nesta sexta-feira, 1, que 2021 será “um bom ano” se as pessoas cuidarem umas das outras e salientou que, além de uma vacina contra o coronavírus, o mundo precisa de uma “vacina para o coração”.

“Não é bom conhecer muitas pessoas e muitas coisas se não tomarmos conta delas. Este ano, enquanto esperamos pela recuperação e novos tratamentos, não negligenciemos os cuidados. Porque, além da vacina para o corpo, precisamos da vacina para o coração, que é o cuidado. Será um bom ano se cuidarmos dos outros”, disse em uma homília lida pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, durante a Missa de Ano Novo, dedicada à “solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus”, celebrada no Vaticano, nesta sexta-feira, 1°.


O Papa Francisco não pôde presidir esta missa nem a realizada às vésperas de 31 de dezembro de 2020, por causa de uma dor ciática, segundo o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni. Filippo Monteforte/AFP

 O papa Francisco não pôde presidir esta missa nem a realizada às vésperas de 31 de dezembro de 2020, por causa de uma dor ciática, segundo o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni. No entanto, deixou a homilia escrita para que o Cardeal Parolin pudesse ler as suas palavras aos poucos participantes e meios de comunicação que presentes na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Devido às medidas preventivas para evitar a propagação do coronavírus, a missa foi celebrada sem os fiéis e numa basílica vazia

O Papa enfatizou três palavras – bênção, nascimento e encontro – , e salientou o papel da Virgem Maria, neste dia em que a Igreja Católica também celebra o 54.º Dia Mundial da Paz, este ano sob o lema “A cultura do cuidado como caminho para a paz”. “Não estamos no mundo para morrer, mas para gerar vida”, disse o Papa, acrescentando: “O primeiro passo para dar vida ao que nos rodeia é amá-la dentro de nós próprios.

Sublinhou a importância de “educar o coração para cuidar, para valorizar as pessoas e as coisas”, para que as sociedades cuidem dos outros e do mundo. Considerou que “o mundo está seriamente contaminado por dizer coisas más e por pensar mal dos outros, da sociedade, de si próprios”, e assegurou que “a maldição corrompe, faz tudo degenerar” e que “a bênção regenera, dá força para recomeçar”.

No final da homilia, Francisco perguntou-se a si próprio o que as pessoas deveriam encontrar no início de 2021 e respondeu: “Seria bonito encontrar tempo para alguém. O tempo é uma riqueza que todos temos, mas da qual temos inveja, pois queremos usá-lo apenas para nós próprios”. Assim, encorajou as pessoas a dedicarem momentos aos outros, especialmente aos “que estão sós, aos que sofrem, aos que precisam de ser ouvidos e cuidados”.

Papa aparece em público
O Papa Francisco fez sua primeira aparição pública do ano nesta sexta-feira, 1. Atrás de um púlpito na biblioteca do Palácio Apostólico, decorado com uma árvore de Natal e uma manjedoura, o papa fez a tradicional oração do Angelus. “Envio meus melhores votos de paz e serenidade para o novo ano. […] Os dolorosos acontecimentos que marcaram a vida da humanidade no ano passado, em particular a pandemia, nos ensinaram como é necessário nos interessar pelos problemas dos outros e compartilhar suas preocupações”, disse.

VEJA - Com Agência Brasil e AFP