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sexta-feira, 12 de junho de 2020

E o ministro da Defesa brasileiro? Também vai pedir desculpas? - VEJA




Nos EUA, o general Mark Milley, chefe do Estado Maior, se desculpou após participar de ato político. O ministro da Defesa no Brasil deveria fazer o mesmo

Por Matheus Lara / Estadão Conteúdo
[General-de-exército Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa]

O chefe do Estado Maior dos Estados Unidos, general Mark Milley, pediu desculpas por participar de um ato político com o presidente Donald Trump. O militar disse que errou ao caminhar com o presidente norte-americano para tirar uma foto na Igreja Episcopal de São João, próxima à Casa Branca. A agenda política foi criticada porque um protesto pacífico em repúdio ao assassinato de George Floyd havia sido reprimido com bombas, pouco antes, pela Guarda Nacional apenas para que o presidente pudesse fazer a foto na igreja.

O general Mark Milley parecer ter entendido o nefasto significado da principal autoridade militar de um país se despir de sua missão constitucional e apoiar um projeto político-ideológico. Não é o caso do ministro da Defesa do Brasil, general Fernando Azevedo e Silva. A nossa maior autoridade armada sobrevoou no domingo, 31 de maio, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, uma manifestação pró-governo marcada por faixas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e a favor da intervenção militar.

A imagem dos dois no helicóptero remete a países que se afastaram do regime democrático, como a Venezuela, nação que Bolsonaro tanto critica. Tem ainda o agravante porque a aeronave usada naquele dia era toda camuflada, com as cores do Exército. Não era o helicóptero branco da presidência, que Bolsonaro usa normalmente. Basicamente, foi uma caroninha dada pelo ministro da Defesa no helicóptero do Exército para Bolsonaro saudar uma claque antidemocrática, municiada de cartazes inconstitucionais.
[nem sempre o que vale para o Estados Unidos vale para o Brasil;
pedido de desculpas é um ato unilateral - efetuado quando o autor do ato objeto do pedido entende que errou.
Falar em caroninha para o presidente da República é mais uma forma de tentar desmerecê-lo, já que dispor de transporte oficial é prerrogativa inerente ao cargo de presidente da República.]
No pedido de desculpas, o general Mark Milley explicou porque politizar as Forças Armadas é errado. “Não deveria estar lá [na igreja]. Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna. Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele. Nós que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas que têm raízes firmes nas fundações da nossa República”, afirmou, com sabedoria, o militar norte-americano.

O general Mark Milley pediu desculpas 10 dias após a caminhada com Trump até a igreja. O gesto certamente irritou a Casa Branca, mas pior mesmo seria ferir os valores da democracia e do estado de direito, que os americanos tanto exaltam. No Brasil, fazem 12 dias que Fernando Azevedo e Silva subiu no helicóptero e sobrevoou o ato antidemocrático, um tipo de manifestação que está sendo, inclusive, investigada por inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

O movimento do ministro da Defesa acabou criticado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Acho que o ministro da Defesa, com todo respeito e admiração, andar no helicóptero com o presidente da República, para olhar uma manifestação contra o Supremo Tribunal Federal, não é uma sinalização positiva. Isso vai gerando consequências”, disse o deputado. [o auto nomeado 'primeiro-ministro, deputado Maia andou uns tempos calados.
Agora sua tendencia a boquirroto volta a incomodar os brasileiros. Sempre se fazendo de amigo e arranhando quando pode arranhar e esconder as unhas.
O mal das autoridades brasileiras, infelizmente,  com destaque para as ligadas ao Poder Executivo, é dar explicação de tudo e para todos.
O próprio 'primeiro-ministro' Botafogo é campeão de uso de aeronaves oficiais, a imprensa publico e ele nunca deu explicações e ficou por isso mesmo.] Ao Estado de S.Paulo, o Ministério da Defesa justificou a participação de Fernando Azevedo e Silva para “checar as condições de segurança” na Praça dos Três Poderes. O governo Bolsonaro tem ainda dois generais da ativa que participaram de atos antidemocráticos: o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e o ministro Eduardo Pazuello, da Saúde.

A ligação do governo Bolsonaro com as Forças Armadas já é entrelaçada demais. Um ganho político para Bolsonaro por conta da aprovação na sociedade que os militares conquistaram seguindo à risca o seu papel constitucional após a redemocratização, mas um ônus aos militares, justamente por confusões entre o papel de uma instituição de estado e uma do governo. Para o general Fernando Azevedo e Silva, e especialmente para o Brasil, o melhor mesmo seria evitar arrumar uma motivação sem sentido, como as “condições de segurança”, e seguir o louvável exemplo do colega de farda norte-americano. Mas pedir desculpas não é o forte da caserna brasileira.

VEJA - Blog Matheus Leitão