Nos EUA, o general Mark Milley, chefe do Estado Maior, se desculpou após participar de ato político. O ministro da Defesa no Brasil deveria fazer o mesmo
Por Matheus Lara / Estadão Conteúdo
[General-de-exército Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa]
A imagem dos dois no helicóptero remete a países que se afastaram do regime democrático, como a Venezuela, nação que Bolsonaro tanto critica. Tem ainda o agravante porque a aeronave usada naquele dia era toda camuflada, com as cores do Exército. Não era o helicóptero branco da presidência, que Bolsonaro usa normalmente. Basicamente, foi uma caroninha dada pelo ministro da Defesa no helicóptero do Exército para Bolsonaro saudar uma claque antidemocrática, municiada de cartazes inconstitucionais.
No pedido de desculpas, o general Mark Milley explicou porque politizar as Forças Armadas é errado. “Não deveria estar lá [na igreja]. Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna. Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele. Nós que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas que têm raízes firmes nas fundações da nossa República”, afirmou, com sabedoria, o militar norte-americano.
O movimento do ministro da Defesa acabou criticado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Acho que o ministro da Defesa, com todo respeito e admiração, andar no helicóptero com o presidente da República, para olhar uma manifestação contra o Supremo Tribunal Federal, não é uma sinalização positiva. Isso vai gerando consequências”, disse o deputado. [o auto nomeado 'primeiro-ministro, deputado Maia andou uns tempos calados.
A ligação do governo Bolsonaro com as Forças Armadas já é entrelaçada demais. Um ganho político para Bolsonaro por conta da aprovação na sociedade que os militares conquistaram seguindo à risca o seu papel constitucional após a redemocratização, mas um ônus aos militares, justamente por confusões entre o papel de uma instituição de estado e uma do governo. Para o general Fernando Azevedo e Silva, e especialmente para o Brasil, o melhor mesmo seria evitar arrumar uma motivação sem sentido, como as “condições de segurança”, e seguir o louvável exemplo do colega de farda norte-americano. Mas pedir desculpas não é o forte da caserna brasileira.
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