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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Fundação Palmares não dará suporte ao Dia da Consciência Negra

 Correio Braziliense

O presidente da fundação, Sérgio Camargo, afirmou que anunciou esta decisão quando foi nomeado para o cargo

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro -  (crédito: Facebook/Reprodução)
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro - (crédito: Facebook/Reprodução)

[Decisão acertadíssima; não tem o menor sentido, chegando a ser crime, o uso de recursos públicos para atos políticos em uma fundação destinada a promover cultura.
Prevalecesse o pretendido mau uso do dinheiro público, o erário teria obrigação de patrocinar o dia do médico, dia do técnico de enfermagem (profissões importantíssimas e que nesses tempos de pandemia começam a receber uma merecida valorização) dia do alfaiate, do evangélico, do avô, etc.
Só esperamos que um  desses partidecos, sem votos e sem programa, não judicializem o desperdício do dinheiro e que algum juiz determine o patrocínio corretamente negado.]
Fundação Cultural Palmares, responsável pelo fomento da cultura afro-brasileira no país, não dará suporte ao Dia da Consciência Negra em 2020. A informação foi dada pelo presidente da entidade, Sérgio Camargo, neste domingo (4/10). "O suporte da Fundação Cultural Palmares ao Dia da Consciência Negra será ZERO", postou Camargo em seu Twitter.

O presidente da fundação afirmou que anunciou esta decisão quando foi nomeado para o cargo. "Há um vídeo, de dezembro, onde afirmo que, sob a minha gestão, não haveria suporte algum à data - evento político, não cultural! Isso chama-se coerência e honestidade, algo que a mídia corrupta e a esquerda jamais entenderão", publicou na rede social.

Críticos do governo Jair Bolsonaro acusam o Executivo de promover o desmonte da Fundação Palmares. A sede do órgão está de mudança para um antigo prédio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que funciona como uma espécie de almoxarifado, com infiltrações e avarias. Camargo também comentou pelo Twitter a mudança. "A mudança da Fundação Palmares para prédio cedido pela EBC vai gerar economia de R$ 2,049 milhões", disse o presidente. Segundo ele, é a primeira vez em dez anos que os gastos da instituição registram queda.


Sérgio Camargo, que já chamou o movimento negro de "escória maldita", esteve ontem em um churrasco no Palácio da Alvorada com o presidente Jair Bolsonaro. O presidente da Fundação Palmares publicou foto com Bolsonaro e o deputado federal Helio Lopes (PSL-RJ).

Correio Braziliense - Com informações da Agência Estado

domingo, 7 de junho de 2020

Escória maldita - O Globo

Bernardo M. Franco

Sérgio Camargo se apresenta como jornalista e “inimigo do politicamente correto”. No ano passado, virou presidente da Fundação Palmares. O órgão federal foi criado para promover a contribuição dos negros à cultura brasileira. Agora está entregue a um provocador de extrema direita, que ofende a memória de Zumbi e diz ver uma herança “benéfica” da escravidão.

Reprodução

Em gravação que veio a público na terça-feira, Camargo xinga uma mãe de santo, insulta o movimento negro e impõe metas para um expurgo político. Exaltado, ele prega o combate a uma “escória maldita”. Refere-se a ativistas que lutam contra o racismo, não aos inquilinos do poder em Brasília. Ricardo Salles é advogado e criador do Endireita Brasil, grupo que dizia defender a “moralização da vida pública”. Em dezembro de 2018, foi condenado por improbidade administrativa. Treze dias depois, assumiu o Ministério do Meio Ambiente. Virou ídolo de grileiros, garimpeiros e madeireiros que lucram com a devastação da Amazônia.

Em reunião no Planalto, Salles sugeriu que o governo deveria aproveitar a pandemia para “ir passando a boiada”. O plano era usar a tragédia para acelerar o desmonte da legislação ambiental. Ele chegou a regularizar invasões ilegais na Mata Atlântica. Teve que recuar para não ser condenado pela segunda vez. Eduardo Pazuello é general paraquedista. Em maio, deu um salto mais ousado e pousou na cadeira de ministro da Saúde. Desde que assumiu a pasta, ele afastou mais de 20 técnicos para pendurar militares em cargos comissionados.

Sem formação em medicina, Pazuello executou um serviço que seus dois antecessores se recusaram a fazer. Assinou um protocolo para distribuir remédio de malária a pacientes infectados pela Covid-19. Nos últimos dias, o general cumpriu outra ordem insensata. Passou a atrasar a divulgação de informações oficiais para driblar os telejornais. Agora ele planeja recontar mortos para maquiar a extensão da tragédia. Arthur Lira é líder do PP, partido campeão de investigados na Lava-Jato. Em abril, articulou o acordo do bolsonarismo com o centrão. Em troca de cargos e vantagens, prometeu blindar o presidente num eventual processo de impeachment.

Ao abraçar o governo, o deputado já era réu por corrupção passiva no Supremo. Na sexta-feira, virou alvo de outra denúncia criminal. De acordo com a Procuradoria, ele embolsou R$ 1,6 milhão em propinas da Queiroz Galvão. A quantia é dinheiro de troco diante do orçamento bilionário que seu grupo passará a administrar.  Jair Bolsonaro é um capitão reformado que foi varrido do Exército por indisciplina. Depois de sete mandatos de deputado, elegeu-se presidente da República. Com a popularidade em queda e na mira de um inquérito no Supremo, passou a ameaçar um golpe de Estado. Seu filho Eduardo, o Bananinha, declarou que a ruptura institucional é questão de tempo.

Enquanto Bolsonaro conspira, a sociedade começa a voltar às ruas para protestar. Como todo autocrata, o capitão não aceita ser contestado. Na sexta-feira, chamou os manifestantes pró-democracia de “marginais, terroristas, maconheiros e desocupados”.

Bernardo M. Franco, colunista - O Globo