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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Lula e seus amiguinhos - Percival Puggina

         Há alguns anos, num debate sobre o regime cubano, meu interlocutor saiu-se com esta:  
“O Puggina gostava, mesmo, era da ditadura de Batista”. 
Ele se referia a Fulgêncio Batista, ditador cubano durante sete anos, derrubado pela revolução de Fidel Castro. Como na ocasião do debate o totalitarismo comunista já se impunha havia 53 anos, eu respondi que comparando uma ditadura de 7 anos com uma de 53 ainda mais perversa, Batista poderia ser conhecido como “Batista, o breve”, ou como “Batista, o compassivo”.       

Lule gosta de posar nos círculos internacionais como “un homme du monde”, frequentador do circuito Roma-Paris-Londres, mas é junto à escumalha do Foro de São Paulo que ele se sente em casa. Especialmente com Daniel Ortega, Nicolás Maduro e Díaz-Canel, atual CEO de Castro & Castro Cia. Ltda.       

A velha imprensa raramente fala sobre estas coisas.  
Que o comunismo, regime pelo qual Lula manifestou sua orgulhosa admiração, promete o paraíso e entrega o inferno de camburão todo mundo reconhece. 
Quem conhece a Alemanha e o povo alemão sabe que deixar a Alemanha Oriental na miséria durante 44 anos em tempo de paz não é tarefa para qualquer regime. 
Por isto, a cortina de ferro e o muro de Berlim: para que o povo não fuja do regime, como ocorre hoje nos países tomados pelos amiguinhos de Lula.
 
Em Cuba, após o êxodo nos primeiros dois anos da Revolução, durante os quais cerca de 2 milhões de cubanos mudaram-se para a Flórida e fizeram Miami, a população cubana gradualmente estagnou e estacionou, desde 1997, em 11 milhões de habitantes. Desesperança e êxodo.  
No ano passado 270 mil cubanos deixaram a ilha. 
Acumulam-se aguardando deferimento cerca de 400 mil pedidos de visto.

Seis milhões de venezuelanos deixaram sua pátria imigrando para Colômbia e outros vizinhos, entre os quais o Brasil. Esse número equivale a toda população de Santa Catarina ou de Goiás, por exemplo...

Os números do êxodo da Nicarágua são menores
Estima-se que 600 mil nicaraguenses tenham deixado o país desde 2018. A pequena Nicarágua tem apenas 6,8 milhões de habitantes. 
Um em cada 10 nicaraguenses foi embora.

Nos três países, um ritual bem conhecido, que sofreria restrições se mencionado na campanha eleitoral de 2022: crescentes restrições às liberdades individuais e políticas, manipulações, narrativas, cerceamento da oposição, prisão de oposicionistas e agigantamento do Estado sobre e contra a sociedade. Sempre em nome dos mais nobres ideais humanistas.

Somos uma grande e numerosa nação cuja saída de uma situação ameaçadora é para o interior da realidade brasileira. 
Ela tem que ser traçada pelos próprios cidadãos, com a consciência de que – ouvidos os discursos, interpretados os sinais e mantido o rumo atual do país – o ponto de chegada é conhecido. 
Os amiguinhos de Lula já nos mostraram.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 14 de maio de 2023

O PT nutre a fantasia de ser absolvido pela história

Mario Sabino

A algazarra do PT contra o Google é ilustrativa de uma intenção muito maior. Para o petismo, não basta a extinção dos processos contra Lula

 

Foto: Shutterstock

Fidel Castro fez um discurso, em 1953, cujo título é “A história me absolverá”. 
O aranzel foi a sua defesa no julgamento em que foi réu pelo assalto frustrado ao Quartel de Moncada — do qual planejou roubar armas, para derrubar o ditador Fulgencio Batista, o que só viria a se concretizar seis anos depois. 
Basicamente, Fidel Castro disse que a posteridade reconheceria que os seus fins justificavam os seus meios.

A frase me veio à cabeça ao acompanhar a algazarra do PT contra o Google. 
O partido e os seus porta-vozes na imprensa e nas redes sociais ficaram furibundos porque, quando se pesquisava Lula e coroação, em busca de notícias sobre a ida do presidente petista à cerimônia de coroação de Charles III, a correção automática do Google sugeria Lula e corrupção.

O partido enviou uma notificação extrajudicial à big tech
, acusando-a de valer-se “do seu poder econômico e quase monopólio virtual para manipular a opinião pública em favor dos seus interesses privados”, violando a Constituição. Ou seja, o Google, que é contra o texto atual da PL das Fake News, tão caro à esquerda, teria usado o seu algoritmo para atacar o chefão do PT.

Pode ser até que um desmiolado ainda surja com a ideia de que se devem apagar completamente notícias a respeito da condenação, [já surgiu: teve um que queria prender quem ousasse chamar o apedeuta petista de ex-presidiário.] baseado na tese do direito ao esquecimento, já rejeitada pelo Supremo

É balela.
O Google, como eu já disse, não tem transparência nenhuma, o seu algoritmo obedece, sim, a lógicas empresariais, mas isso não tem nada a ver com correção automática.  
Tem a ver com o padrão de buscas e preferências da maioria que usa o Google. A coisa já foi resolvida, contrariando a lógica do padrão, porque o mar não está para peixe grande ou pequeno na democracia brasileira.

A algazarra do PT contra o Google é ilustrativa de uma intenção muito mais abrangente. Para o petismo, não bastam a extinção de processos e a confecção de fabulações universitárias e livrescas de que Lula foi vítima de um golpe político-judicial.  
É preciso também controlar os motores de busca e as redes sociais no que dizem sobre a condenação do petista por corrupção e lavagem de dinheiro — condenação que foi anulada pelo STF. Tivemos uma amostra disso durante a campanha eleitoral.

Afinal de contas, mudança de jurisprudência no Brasil não é como ver ararinha-azul na natureza, para continuar nas imagens do reino animal.

Num canto nem tão recôndito assim da sua alminha autoritária, o PT e o seu chefe nutrem a fantasia de absolvição histórica, reescrevendo e tentando cancelar o que lhes é desonroso
É uma estratégia comum da esquerda, mas não só dela, reescrever a história para absolver culpados e inculpar inocentes, ou para atribuir ainda mais culpas aos culpados de verdade. Não funcionou com Fidel Castro, não funcionará com ninguém.

Leia também “A história se repete”
 
 
 
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Fidel Castro e Che Guevara, detidos



O Arquivo Geral de México guarda o relatório secreto sobre a captura, em junho de 1956
Foi rápido. A Direção Federal de Segurança sabia o que estava fazendo. Dentro do Packard verde, modelo 1950, estavam cinco homens. Três deles desceram do carro no cruzamento das ruas Mariano Escobedo e Kepler. Um deles era alto e corpulento, de andar firme. À distância percebia-se que era o líder. Quando ele estava prestes a sumir nas sombras, os agentes que o seguiam o agarraram. Ao vê-los chegar, o homem alto agarrou sua arma automática. Mas, antes que pudesse sacá-la, já tinha uma pistola encostada na nuca. Se, naquele instante, o policial tivesse apertado o gatilho, a história da América teria sido outra. Naquela noite de 21 de junho de 1956, naquela esquina da Cidade do México, Fidel Alejandro Castro Ruz acabava de ser detido sem um disparo. Tinha 29 anos e uma revolução por fazer.

A célula cubana tinha caído. Em poucos dias foram presos 22 castristas. O núcleo do complô se localizava na casa de número 49 da rua de Emparán, onde vivia a opositora peruana Hilda Gadea. Seu marido foi quem mais desafiou a polícia e, diferentemente de seus companheiros, declarou-se marxista-leninista. Era asmático, argentino e pobre. Chamava-se Ernesto Guevara de la Serna.

Depois de três dias de interrogatórios, o cérebro da operação, o capitão Fernando Gutiérrez Barrios, redigiu seu relatório sobre o “complô contra o Governo da República de Cuba”. Desde que foi desclassificado, o texto, de cinco folhas datilografadas e guardado no Arquivo Geral do México, se converteu em um documento chave para a compreensão da gênese da revolução castrista, mas também sobre o papel ambivalente desempenhado pelo México na turbulência da época, papel esse que o próprio Gutiérrez Barrios encarnou como ninguém. Ao longo de seu reinado, o capitão, que se tornaria chefe dos serviços de inteligência, conjugou a repressão feroz contra a esquerda cubana com a acolhida de destacados exilados e fugitivos de ditaduras. Algo que, ao final, acabou fazendo com aquele cubano carismático que tinha caído em suas mãos.

Fidel Castro tinha chegado ao México em julho de 1955. Desde que desembarcou do DC-6 bimotor, seu objetivo tinha sido preparar seu regresso a Cuba. Para isso, tinha formado uma rede de 40 seguidores fiéis. Era o núcleo duro de uma revolução. Uma organização secreta que recrutava e treinava para o ataque final. “O objetivo [dos detidos] é capacitarem-se militarmente para integrar comandos que dirijam os insatisfeitos em seu país”, assinala o documento. Os instrutores eram o próprio Fidel Castro e o antigo coronel da República espanhola Alberto Bayo Giraud. As aulas eram dadas na fazenda Santa Rosa, em Chalco, e incluíam “treino de tiro, topografia, tática, guerrilha, explosivos, bombas incendiárias, explosões com dinamite...”.

O relatório, no qual se discerne certa admiração pelo “dirigente máximo” cubano, mostra que Castro era o eixo da máquina toda. Ele classificava os recrutas de acordo com seu rendimento, disciplina e qualidades de comando. E, deixando antever o controle absoluto que praticaria mais tarde em Cuba, Castro regulamentou detalhadamente a vida no interior da “casa residência”. “[Castro os] faz ver que, para estar preparado para uma ação armada, é preciso uma disciplina rígida”.

A advertência de pouco serviu. De um golpe só, Gutiérrez Barrios deixou tudo à descoberta: esconderijos, armamentos, correspondência, chaves, recursos financeiros, contatos, financiadores... —até os incômodos questionários que os revolucionários tinham que cumprir a respeito de seus companheiros. Com esse material em seu poder, o futuro de Fidel Castro e sua revolução dependia do maquiavélico capitão. E este jogou suas cartas. Em suas conclusões, descartou qualquer vínculo com o Partido Comunista, minimizou a importância das armas apreendidas (“poucas e fáceis de adquirir”) e enfatizou que tratava-se de um “grupo opositor independente” que buscava unicamente derrubar Fulgencio Batista: “Dizem que têm o apoio de 90% da população de seu país e que o povo cubano [...] recebeu grande quantidade de armamentos”.

Um mês depois, Fidel Castro e Che Guevara foram libertados. Mais tarde, Gutiérrez Barrios seria seu amigo. O México, também. Na madrugada de 25 de novembro de 1956, sob uma chuva fria, o Granma zarpou de Tuxpan rumo a Cuba. Foi o início da revolução.

Fonte: El País