Gabrielli nega bloqueio de bens, sai em defesa de
Lula e volta a apontar responsabilidade de Dilma
Ex-presidente
da Petrobras foi denunciado pelo Ministério Público por superfaturamento de
obras na estatal
Alvo de acusações
contra sua gestão de sete anos à frente da Petrobras, o economista baiano José Sérgio
Gabrielli, que até esta quinta-feira, comandava a secretaria de Planejamento do
governo da Bahia, quebrou o silêncio a que vinha se impondo. Em entrevista,
Gabrielli negou que esteja com os bens bloqueados como
determinou, em agosto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar
Mendes. Afirma também que nem ele
e nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm responsabilidade sobre
contratos ditos irregulares na estatal,
lembra que a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Fazenda, Guido
Mantega, presidiam
o conselho de administração da Petrobras à época dos fatos. Em abril
de 2014, Gabrielli já havia responsabilizado a presidente. Gabrielli afirmou
ainda que o ministro do TCU, José Jorge, "cometeu
errou fundamental" ao apontar prejuízo de US$ 792 milhões na compra da
refinaria Pasadena, nos Estados Unidos.
Vai estar mais livre para fazer a defesa? Qual vai
ser sua estratégia?
A
estratégia é fazer a verdade prevalecer. Estou tranquilo. Fazer a verdade
prevalecer significa esclarecer, tirar a exploração política que está existindo
sobre os assuntos, tornar os fatos explícitos e, consequentemente, fazer a
defesa jurídica.
O governo Dilma, ao defender a Petrobras, tem
deixado claro que os fatos ocorridos foram no governo Lula, no período da sua
gestão. Como o senhor vê isso?
Objetivamente
não tem nenhuma acusação contra mim. Qual a acusação contra a minha pessoa?
Existem vários fatos que estão em investigação, mas nenhum deles se referem à
minha pessoa.
Mas como o senhor vê a tentativa do governo, pelo
menos é o que parece, de jogar a responsabilidade para a gestão passada?
Não há
como haver essa tentativa nem essa realidade. Porque os fatos que acontecem,
hoje, na Petrobras, são resultado da história da empresa. Portanto, não tem
como atribuir a um ou outros (a responsabilidade). Há responsabilidades
individuais que têm que ser apuradas. E os procedimentos da companhia são
procedimentos regulares, normais.
Petrobras O fato de, na época, o senhor estar no
comando da estatal, não era para ter conhecimento, por exemplo, de desvios de
dinheiro para partidos?
Você tem
mais de 55 mil contratos por ano na Petrobras. O que a direção da empresa tem
que fazer é acompanhar a adequação com os procedimentos existentes. Consequentemente,
a existência desses procedimentos são auferidos, avaliados. A lei americana e a
lei brasileira exigem um conjunto de controles, esses controles foram todos
certificados pelas auditorias na época, em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e
2013. Portanto, a KPMG e a Pricewaterhouse atestaram, certificaram, que os
controles estavam corretos. Então, a diretoria tem que saber essencialmente
como é o controle. Se algum diretor é
ladrão, é bandido, tem que punir o ladrão e o bandido. Mas isso não pode
condenar a empresa.
E os superfaturamentos nos contratos apontados pela
CGU, pelo TCU e Ministério Público Federal?
Não há
superfaturamento. É importante ficar claro que não há superfaturamento na
maioria dos casos. A Petrobras tem, como eu disse, 55 mil contratos, está se
falando sobre alguns contratos em que há discussões técnicas sobre o que
significa em termos de preço. No que se refere, por exemplo, a Pasadena, a meu
ver, há um erro fundamental sobre o que significa prejuízo e o que significa
valor de refinaria. O ex-ministro do TCU, José Jorge, cometeu um erro, a meu
ver, fundamental.
Qual é o erro?
O erro é
a consultoria contratada para fazer uma avaliação de potenciais cenários de
refino, em 2005, pegar um dos 25 cenários levantados e comparar com o preço
pago e chamar isso de prejuízo. O correto seria transformar e comparar o valor
da refinaria com o valor das outras refinarias equivalentes na época. E quando
se faz essa comparação, Pasadena está mais do que no valor na média dos valores
da época.
O senhor está com os bens bloqueados e....
Não estou
com os bens bloqueados. Não houve bloqueio. Até agora, o bloqueio não se
efetivou.
E a quebra de sigilo?
Não houve
quebra de sigilo. Há pedidos, mas não efetivação.
Dizem que senhor está saindo do governo da Bahia
meio que de fininho. Isto está acontecendo?
De
fininho? Eu estou aqui, (na posse do governador Rui Costa) com a imprensa toda
na minha frente. Você sabe que tem muita nota plantada, há muitos interesses
por trás dessa história.
O senhor esperava um apoio maior do seu partido, o
PT?
O partido
está me apoiando inteiramente. Não tenho do que me queixar.
Vou insistir, incomoda a postura do governo da
presidente Dilma, que coloca a responsabilidade dos fatos para sua gestão e,
por tabela, do ex-presidente Lula?
Não tem como estar jogando sobre nós, porque não há
possibilidade.
O conselho de administração da companhia era presidido pela presidente Dilma e
foi presidido pelo ministro Guido (Mantega, ex-ministro da
Fazenda). Como podem querer jogar sobre a Petrobras as
responsabilidades? Não há possibilidade disso.