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sábado, 7 de maio de 2016

Sexta 13, dia sem bruxa

Como os homens de bem farão, a partir de agora, para defender Lula sem poder gritar que bandido é o Cunha?

Os democratas que defendem Dilma e a quadrilha do petrolão contra o golpe de Sérgio Moro estão discretamente eufóricos. Os tanques da direita, que vieram arrancar a presidenta mulher à força do palácio, resolverão todos os seus problemas. Estava desconfortável (e, o que é mais grave, trabalhoso) esse negócio de ser governo. 

Foram anos de sofrimento para continuar do contra, sendo a favor. Foi preciso instaurar o primeiro governo de oposição da história — e não pensem que isso é fácil. Aumentar os juros e gritar contra os juros altos, roubar o Estado e denunciar a corrupção, devastar a economia popular e defender o povo... Isso cansa uma pessoa.[mais ainda se essa pessoa é um petralha, geneticamente avesso ao trabalho e a favor da expropriação em benefício próprio e do sempre presente partido.]

Mas deu tudo certo: após 13 anos e meio de poupança ortodoxa, com propinas por fora e por dentro, valerioduto e pixulecos garantindo o formidável abastecimento do caixa partidário, chegou a hora de desfrutar. A elite vermelha volta para o presépio dos oprimidos, gorda e rica, só para jogar pedras — o que faz um bem danado à alma progressista e quase não suja as mãos. Mas eis que surge o revés inesperado.

Quando os professores de História já abrilhantavam suas aulas-comício, inserindo o golpe contra os imaculados parasitas para entregar o Brasil ao PMDB de Eduardo Cunha, viraram a mesa. Num ato sem precedentes, [também contra o Estado Democrático de Direito] o Supremo Tribunal Federal destituiu o presidente da Câmara dos Deputados. Cunha caiu. E agora?

Foi um golpe duro demais para os democratas. É verdade que eles ainda têm o Bolsonaro, a PM de São Paulo, o Trump e a Guerra do Vietnã, mas a perda de um Eduardo Cunha não se repõe facilmente. Quem o STF pensa que é para cometer uma arbitrariedade dessas? Como os homens de bem farão, a partir de agora, para defender Lula — e todos os seus crimes progressistas denunciados pelo procurador-geral — sem poder gritar que bandido é o Cunha? A Anistia Internacional não está vendo isso?

O Prêmio Nobel da Paz está. Pelo menos um dos seus detentores, o escritor argentino Adolfo Pérez Esquivel, parceiro de Cristina Kirchner, Nicolás Maduro e toda essa turma boa que ama a democracia (amor infelizmente não correspondido). Pérez Esquivel fez história no Senado brasileiro ao denunciar o golpe de Estado contra Dilma Rousseff. E atenção: o golpe foi executado por Eduardo Cunha, o mau. Quem sabe até o seu afastamento agora não foi uma espécie de queima de arquivo?

Aí vem o relator da comissão do impeachment, naquela mesma bancada onde um Nobel da Paz fez história, e expõe de forma monótona, sem um pingo de glamour, todos os crimes cometidos por Dilma Rousseff no exercício da Presidência da República. Esse aí nunca vai ganhar um Nobel. Além de tudo, é estraga-prazeres: mostrou de forma absolutamente desagradável que Eduardo Cunha não tem nada a ver com o impeachment — apenas o colocou em votação. A Anistia Internacional não está vendo isso? 

Nos dois anos de literatura da Lava-Jato, entende-se de onde vieram os bilhões de reais que bancam há anos os advogados mais caros do país para os guerreiros do povo brasileiro; que bancam há anos as campanhas eleitorais nababescas pelas quais o PT se tornou o feliz proprietário dos Três Poderes; que compraram movimentos sociais (sic), entidades de classe, jornalistas com indignação tabelada, espalhadores de boatos e manifestantes profissionais. Mas nada é tão poético quanto um pedido de propinas retroativas — atribuído ao companheiro Ricardo Berzoini pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez.

Segundo Otavio Azevedo, o então presidente do PT e atual ministro da golpeada e oprimida Dilma avisou, em 2008, que a empreiteira deveria pagar propinas sobre as obras feitas desde 2003 (ano em que o Brasil foi redescoberto). O apetite dos representantes desse governo progressista é conhecido, vide seus tesoureiros presos e o envolvimento de todos — todos — os seus principais líderes em negociatas democráticas e revolucionárias. A conta é a seguinte: quem foi mais importante na construção heroica da atual pindaíba nacional? A gangue do Lula ou a do Eduardo Cunha?

Quem acertar ganha um Nobel da Paz e meio quilo de mortadela.

Da última vez em que o Brasil viveu um impeachment, o governo passou às mãos de um presidente filiado ao PMDB. O que se impôs, então, não foi uma orgia fisiológica — foi o Plano Real. Itamar Franco foi obrigado pela ruína política e econômica a dar poder ao Brasil que trabalha. Michel Temer está na mesma situação. 

Os prognósticos apontam para a sexta-feira 13 o fim da agonia. Descerá a rampa, então, a criatura que Lula inventou para tomar conta da porta, enquanto eles limpavam a casa. Uma criatura que os brasileiros incrivelmente engoliram mesmo que, diante dela, um Tiririca seja praticamente um Churchill. Tchau, querida. 

A parada agora é entre o Brasil que trabalha e o Brasil que atrapalha.

Fonte: Guilherme Fiuza, jornalista - O Globo

sábado, 9 de abril de 2016

Governo oprimido, Constituição golpista

Confirmado: há um golpe de Estado em marcha no Brasil, para destituir o governo popular que pensa nos pobres e devolver o poder à direita que pensa nos ricos. Quase ninguém notou, mas Sérgio Moro é um codinome em homenagem ao general Mourão, que iniciou com suas tropas o golpe de 64. Moro é Mourão, Dilma é mulher, Lula é pobre. Combinado assim?

O Brasil tem o primeiro governo oprimido da história da Humanidade. O Palácio do Planalto virou uma trincheira, onde a presidenta mulher faz comícios quase diários em defesa dessa gente sofrida e milionária que o reacionário Moro Mourão quer pisotear.  Sabem o que Dilma Rousseff berra nesses comícios palacianos? Que há uma ameaça de golpe de Estado no país. Se esse não fosse um governo coitado e café-com-leite, isso seria crime.

Se a presidente não fundamentar sua grave acusação, ela está agindo em flagrante coação de outro poder da República — o Legislativo, que examina um pedido de impeachment contra ela. Claro que Dilma não fundamenta nada (seria pedir demais). A Constituição Federal diz que isso é crime. Ou seja: temos um governo oprimido e uma Constituição golpista.

Como o Brasil tem uma opinião pública flácida e uma oposição frouxa, tudo passa. A presidenta mulher carrega na bolsa uma coleção de indícios de crimes de responsabilidade. Mas essa bolsa está muito bem guarnecida pelo Supremo Tribunal Federal, onde o ministro relator Teori Zavascki não vê, nunca viu e nunca verá motivos para se determinar a investigação da dona da bolsa.

Deve ser uma questão de privacidade. Se ali dentro tem uma refinaria superfaturada, tentativas de obstrução da Justiça ou complacência com auxiliares criminosos, são questões de foro íntimo. Aí a presidenta mulher sai gritando que, sem crime de responsabilidade, tudo é golpe. E o país abobado engole a fraude (mais essa). Não há — nem pode haver — crime de responsabilidade provado, porque nem processo há (graças aos supremos companheiros federais).

Mas a floresta de evidências desses crimes está escancarada pela Operação Lava-Jato, tendo inclusive ensejado o pedido de impeachment da imaculada presidenta (anexando o crime de responsabilidade fiscal). E o impeachment é um processo político legal, que não depende de sentença judicial. Collor caiu sem ser condenado.

Os comícios no Palácio estão animados. O antropologicamente mais interessante foi uma claque de mulheres reunidas pela presidenta mulher para gritar “fora Bolsonaro”. Não é genial? O que seria desse governo oprimido sem a direita, a ditadura militar e o Bolsonaro?

Enquanto isso, o companheiro Dirceu — herói da esquerda contra a ditadura e chefe de Dilma Rousseff e do mensalão, não necessariamente nessa ordem — caminha para nova condenação, pelo petrolão. Está dando para acompanhar? A representante legal (sic) do bando que depenou o país está no Palácio gritando fora Bolsonaro.

Ficou com vergonha do lugar onde você vive? Pois saiba que a MPB, a esquerda festiva e boa parte da intelectualidade (pai do céu) brasileira não têm vergonha nenhuma. São os zeladores do conto de fadas revolucionário, os guardiães implacáveis dos pobres milionários.
Eles querem a cabeça de Moro Mourão, porque mostrar como a elite vermelha arrancou as calças da Petrobras é fascismo. Você achou que a desonestidade intelectual tinha limite? Sabe de nada, inocente.

Calma que tem mais. Sabe qual é o novo bordão dos denunciantes do golpe contra a clepto-democracia petista? Gritar que os vazamentos da Lava-Jato são seletivos.
Pensando bem, a Lava-Jato é toda seletiva: os golpistas de Moro Mourão escolheram seletivamente investigar o maior assalto aos cofres públicos de todos os tempos, decidiram cirurgicamente investigar os governos do PT que perpetraram esse assalto, resolveram arbitrariamente revelar que a cúpula do crime e o estado-maior de Lula são exatamente a mesma corja e, por fim, cismaram obsessivamente de mostrar que a corja regida por Dilma está usando as instituições públicas para sabotar as investigações e não ter que largar o osso. É muita seletividade mesmo.

Mas não pense o comandante Moro Mourão, esse fascista, que vai acabar assim facilmente com as trampolinagens do grande circo místico. Os ases da mistificação estão em posição de combate no STF. Dali já saíram petardos fulminantes contra o Congresso Nacional, mostrando que os brasileiros não precisam invejar os venezuelanos e sua democracia tarja preta. E vem mais, podem esperar. Não duvidem se surgir um Barroso descobrindo que, com base no rito do caso Collor, para o impeachment de Dilma está faltando um PC Farias.
Esqueça o Bessias, a propina da Andrade Gutierrez para o PT reeleger a presidenta mulher, o laranjal do Lula. Não seja seletivo. Concentre-se em combater as tropas fascistas de Moro Mourão. E diga não à guerra do Vietnã.

Fonte: Guilherme Fiuza - Época


sábado, 12 de março de 2016

O pedalinho é nosso

O filho do Brasil não pensa só em si. Seus filhos, netos do Brasil, enriqueceram também. E seu compadre, seu advogado, sua amante

O Brasil disse ao filho do Brasil: “Meu filho, um dia tudo isso será seu”. Até os pedalinhos de Atibaia já sabem que o herdeiro tomou posse de tudo.

Solidário, pegou a maior empresa de papai e despedaçou-a para enriquecer a família e os amigos. O filho do Brasil não pensa só em si. Seus filhos — os netos do Brasil — enriqueceram também. E seu compadre, seu advogado, sua amante, seu churrasqueiro, seus amigos de fé, seus correligionários, enfim, todo mundo se deu bem, porque o patrimônio de papai era colossal. Mas, e os brasileiros? Ora, esses são filhos da outra. Todo mundo sabe que o Brasil só teve um filho.

Agora uma elite branca egoísta está querendo perseguir o filho do Brasil. Inveja. Foram tantas as acusações ao legítimo herdeiro da nação, que esta semana ele se trancou sozinho no banheiro e perguntou: “Espelho, espelho meu: se o Brasil me ama, e eu sou o filho dele, então essa porra é toda minha mesmo, não é?” (o Brasil sempre se orgulhou do linguajar do filho: no que aparece alguém discordando, ele xinga e triunfa. O Brasil sabe que é na grossura que está a verdade)

O espelho nunca o deixou na mão, e deu-lhe a resposta definitiva: “Companheiro, manda eles enfiarem esses processos no custo da OAS”. O filho do Brasil obedeceu, dando só uma abreviada na sentença.

Mas a elite que não suporta ver o sucesso de um pobre o menino Jesus passou pelo mesmíssimo problema — continuou a persegui-lo furiosamente. O filho do Brasil voltou para diante do espelho e perguntou-lhe se poderia haver algum fundamento nas acusações de que ele tinha enriquecido ilicitamente. O espelho nem entrou nesse mérito de legalidade, que é muito relativo, e foi categórico: “Companheiro, pode ficar tranquilo: você é um miserável. Um sujeito que vive toda uma vida se fazendo de vítima para conquistar mesada de empreiteira e terminar com uns pedalinhos personalizados é o quê? Um miserável. Relaxa.”

Mesmo vivendo nessa flagrante e proverbial miséria, o filho do Brasil continuou sendo acossado pela implacável brigada neoliberal. Essa gente sem coração resolveu implicar com a escolha de uma mulher sapiens para gerir o patrimônio da família — e com as sutis manobras dela para melar a Lava-Jato (operação que não reconhece o filho do Brasil como legítimo dono da Petrobras, do BNDES, do suor do contribuinte, enfim, dessa fabulosa fortuna acumulada por papai).

O pobre homem voltou a consultar o espelho, que respondeu: “Companheiro, não enche o saco. Já te disse que você é o messias. Vai consultar o pessoal da MPB.”  Sempre obediente ao espelho, o filho do Brasil foi perguntar a um seleto grupo de cantores, atores, jornalistas e intelectuais do bem se tinha problema ele ter regido o mensalão e o petrolão; se tinha algo errado no fato de ele ter tomado posse do patrimônio do Brasil, na condição de único herdeiro, e distribuído generosamente essa riqueza entre seus familiares e amigos.

Foi o melhor conselho que o pobre homem poderia ter pedido. O tal grupo de intelectuais e artistas (uma panela, muito mais barulhenta do que essas que a elite branca bate na varanda) não só lhe disse que estava tudo cristalinamente certo, como chamou para briga os brasileiros esses filhos da outra que querem meter a mão no que não é deles. A panela já avisou: mexeu com o filho do Brasil, mexeu com o conto de fadas que nos sustenta.

Depois de desafiar as elites reacionárias e se pintar para guerra, a panela progressista se trancou sozinha no banheiro e perguntou aflita: “Espelho, espelho meu: se eu perder a moleza de bancar o herói social na garupa do filho do Brasil, que infelizmente foi descoberto pela polícia, o que será de mim?” O espelho respondeu sem rodeios: “Perdeu, playboy. Pega tudo que você investiu nessa demagogia vagabunda e enfia no custo da Odebrecht”.

O mais revoltante é que agora esse bando de filhos da outra está ameaçando sair às ruas. Quem os brasileiros pensam que são? Donos do país? No mínimo, vão querer estatizar o patrimônio do filho do Brasil, conquistado com tanto sacrifício — investimento suado em propaganda enganosa da melhor qualidade, manutenção impecável da rede de pixulecos (por dentro e por fora, em criteriosa alternância), reposição ágil do pessoal de tesouraria e marketing apanhado pela polícia, formação do maior caixa partidário do mundo.
Você não vai permitir que essa história bonita seja destruída por um bando de invejosos. 

Fique quieto em casa. Não fale a palavra impeachment nem ao seu cachorro. Deixe a companheira presidenta, enteada do Brasil, governar em paz o STF. Não atrapalhe essa rede democrática de destruição de provas, com o padrinho à solta oferecendo mesada a criminoso. E essa história de crise é balela — a renda nunca foi tão elevada para os trabalhadores que não trabalham: é tudo uma questão de escolher um bom partido, que indique com segurança onde tem truta.
Fique fora das ruas. A não ser que você tenha descoberto que o filho do Brasil é um filho da truta.

Fonte: Guilherme Fiuza,  jornalista

terça-feira, 8 de março de 2016

Caiu o único ministro de Dilma



O programa do PT foi saudado com um panelaço. Faltou João Santana com sua interpretação dos fatos
O primeiro problema causado pela prisão do marqueteiro João Santana se deu em menos de 24 horas. O programa do PT na TV foi saudado praticamente em todo o território nacional com um panelaço retumbante. O que significou esse panelaço? Aí é a falta que João Santana faz: normalmente, o Partido dos Trabalhadores surgiria prontamente com sua “interpretação” dos fatos – alguma coisa como “as pessoas estão protestando contra a perseguição ao presidente Lula” ou “a elite branca agora deu para frequentar a cozinha”.

Como todo mundo agora já sabe, pobre que é pobre não se mete em cozinha: manda a empreiteira. E pobre que tem sítio e tríplex não bate panela, porque está feliz da vida. O que será de toda essa narrativa coitada depois da prisão do mago João Santana? A queda do ministro mais importante de Dilma e de Lula ou talvez o único, apesar de não ter cargo no ministérioé a primeira ameaça real à governabilidade petista. O líder do governo no Senado foi preso e o Planalto nem notou. Delcídio do Amaral não fez a menor falta.

Tanto que, nesse caso, o PT soltou logo uma nota oficial (com a grife do ministro Santana) jogando o senador às feras, praticamente dizendo que a lambança era problema dele, ele que se virasse.

Aí a mulher do senador começou a reclamar, dando a entender que Delcídio não ia apodrecer sozinho. Viu-se então como o governo Santana trabalha bem: fica quietinha aí, companheira, que daqui a pouco a opinião pública esquece seu marido irrelevante e o companheiro Teori Zavascki solta ele. Não deu outra: passado o Carnaval – cálculo bem feito para não gritarem que Delcídio seria liberado para a folia –, o senador saiu do xadrez. 

É claro que o Brasil, coitado, curando a ressaca do porre carnavalesco, não se lembra mais por que o eminente parlamentar havia sido preso. Mas a mídia golpista está aqui para ficar martelando esses detalhes desagradáveis: Delcídio do Amaral foi preso pela Lava Jato por ter sido flagrado tentando obstruir a investigação dos crimes do petrolão.

Vamos recitar direito o samba-enredo, para facilitar a compreensão pelo país do Carnaval: o líder do governo no Senado, isto é, o representante do palácio de Dilma Rousseff no Congresso Nacional, foi surpreendido e gravado planejando a fuga para o exterior do excelentíssimo prisioneiro Nestor Cerveró, condenado no escândalo de corrupção da Petrobras – no qual o próprio Delcídio já era suspeito, assim como o governo por ele representado.

Fica assim, então, o refrão do samba: Delcídio do Amaral está livre para voltar a trabalhar (sic) no Senado Federal, e livre também, portanto, para dar prosseguimento ao seu patriótico esforço de melar a Operação Lava Jato. O companheiro Teori Zavascki, goleiro inexpugnável do STF que não deixa passar uma bola sequer contra a companheira presidenta em dupla afinada com o zagueirão Janot, que rebate tudo sem despentear a franja –achou que não havia mais razão para manter Delcídio preso. Qual terá sido a sua premissa? Provavelmente, apostou que as pilhas do gravador do filho de Cerveró acabaram.

Realmente, se o rapaz não gravar mais nada, a ameaça cessa: a quadrilha do petrolão poderá voltar a desfalcar o Brasil honestamente, como aconteceu por mais de dez anos sem ninguém se incomodar. Como disse João Santana ao receber a ordem de prisão, o país mergulhou num “clima de perseguição”. Lula teve de interromper sua lua de mel com a Odebrecht, Renato Duque foi caçado e encarcerado gritando “que país é este?”, Delcídio do Amaral foi capturado indagando aos policiais “como assim, um Senador da República?”. Como se vê, o país foi arrancado de seu clima de normalidade venal.

Nada disso seria problema sem a prisão do ministro João Santana. Antes, se o povo saía às ruas de verde e amarelo, lá vinha a genialidade canalha: “Essa gente está protestando contra a corrupção com a camisa da CBF?”. Agora a pergunta é outra: “Esses malandros estão parindo slogans de vítimas com dinheiro do petrolão?”.

Vamos ver se o novo samba cai na boca do povo: Dilma Rousseff foi eleita com dinheiro roubado da Petrobras – como sustentam os fundamentos da prisão de seu marqueteiro pago por fora (do país e da lei).
Chegou a hora de a mulher sapiens sambar.

Fonte: Guilherme Fiuza - Época

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Pedala, Lulinha



O impeachment é um mecanismo legal. A única vergonha nacional é a barreira venezuelana no STF
Enquanto essa imprensa golpista fica tramando o impeachment de Dilma Rousseff, Lula da Silva resolveu explicar o que aconteceu, para acabar com a conspiração: as pedaladas fiscais foram necessárias para que o governo pudesse honrar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. 

Ou seja: todo esse barulho em torno do TCU, toda essa grita por causa do rombo no Orçamento, toda essa crise político-administrativa não passam de espuma. O único fato real é que o governo popular, mais uma vez, arranjou uma maneira de ajudar os pobres. Aliás, já são quase 13 anos ajudando os pobres (a ficar mais pobres), por maneiras que até Deus duvida.

No dia em que os pobres entenderem quanto seu sofrimento foi usado por Lula para ficar no poder, o ex-presidente precisará se mudar para um triplex no Irã. O PT prostituiu o uso do dinheiro público no Brasil, arrombando as metas fiscais e de inflação, tudo embalado numa meticulosa maquiagem contábil, para poder financiar seu banquete fisiológico – do qual o mensalão e o petrolão são os pratos mais visíveis. Lula e os companheiros jogaram o Brasil numa recessão genuinamente nacional, genuinamente petista, empobrecendo democraticamente o país inteiro. Se a moda pega, assaltante apanhado com bolsa roubada vai dizer que é bolsa família.

O delator Fernando Baiano, operador do esquema do petrolão preso na Lava Jato, afirmou à Justiça que deu R$ 2 milhões a Fabio Luis da Silva, o Lulinha. As investigações esclarecerão os detalhes do maior caso de corrupção da República, mas já está evidente que seu dinheiro, caro leitor, foi usado sem parcimônia para irrigar o partido governante e os heróis do povo que o integram. Eles sabem disso e estão dobrando a aposta: Dilma acusou os “moralistas sem moral” de tramar sua queda. É preciso sangue-frio para falar em moral no centro de tamanha rapinagem. Ou melhor, sangue de barata – e isso não lhes falta. Depois de depenar um país com a ajuda de cúmplices que estão presos, causando à sua nação a perda do selo de confiança perante o mundo, você só consegue olhar nos olhos de um filho se tiver sangue de barata. E moral de barata.

Dilma Rousseff tem de sofrer o impeachment porque é a representante legal de um projeto de assalto ao Estado. Está mais do que evidente que o PT, partido que desmoralizou a bondade, instalou-se no poder para viver dele – rasgando o contrato da democracia e do princípio da representação política. Nada mais fará no Palácio diferente do que já fez, não há como. O que mais é preciso ser demonstrado? A maior empresa do país jogada na lona para, entre outras causas nobres, garantir a reeleição da presidente – como apontam todas as evidências da Lava Jato. O que mais precisa aparecer?
 
Como disse Fernando Gabeira, o Brasil parece ter desacreditado até a imagem popular do batom na cueca: a mancha sempre pode ter vindo da lavanderia. E eles têm diversos especialistas em lavagem para assumir a culpa. São os laranjas de batom. Na cueca, só dólar. Joaquim Barbosa deu seu pitaco. Disse que o impeachment “é um mecanismo brutal que não pode ser usado de qualquer maneira”. Prezado Barbosa: o impeachment não é um mecanismo brutal, é um mecanismo legal. E ninguém com juízo quer fazer nada de qualquer maneira, como juízes que atiram adjetivos ao vento. A única vergonha nacional até o momento é a barreira venezuelana no STF, seu velho conhecido, impedindo a investigação de uma presidente que em qualquer país 100% democrático já estaria sendo investigada.

E a barreira chavista conta com a operativa patrulha dos inocentes úteis (nem sempre inocentes, mas sempre úteis), que alugam suas santas reputações à mulher sapiens para renovar seus crachás de bondade progressista. Esse estranho oba-oba petista é cada vez mais envergonhado, naturalmente, e achou uma saída genial: eleger Eduardo Cunha o inimigo público número um. Cunha é hoje praticamente o único vilão nacional, porque quem rouba com estrelinha no peito é herói.

O pequeno detalhe dessa história é que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, tem a chave do impeachment nas mãos. E o PT desperta seus instintos mais primitivos. Enquanto o gigante dorme, alguém tem de trabalhar.

Fonte: Guilherme Fiuza – Revista Época