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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

A geração dos fones de ouvido - Percival Puggina

         Há poucos dias fiz aniversário. 
Embora costume brincar sobre o tema da minha idade dizendo que tenho 79 anos, mas "de banho tomado fico como novo", o fato é que algumas coisas mudaram na percepção que tenho da minha realidade existencial. Assim: quando eu era jovem, o futuro ficava num horizonte móvel. Ele se ampliava e se distanciava a cada passo dado. Agora, eu o percebo fixo. 
A distância entre mim e ele encurta a cada velinha soprada. 
 
Um dos fascínios da vida, aqui de onde eu a vejo, é a possibilidade de ouvir o que os jovens falam e o que alguns dizem aos jovens. 
Nessa tarefa instigante de ouvir, comparar e meditar, volta e meia me deparo com a afirmação de que os anos 60 e 70 produziram uma geração de jovens alienados. 
Milhões de brasileiros teriam sido ideologicamente castrados em virtude das restrições impostas pelos governos militares que regeram o Brasil naquele período. Opa, senhores! Estão falando da minha geração. Esse período eu vivi e as coisas não se passaram deste modo.
 
Bem ao contrário. Mesmo num contexto pouco propício, nós, os jovens daquelas duas décadas, éramos politizados dos sapatos às abundantes melenas
Ou se defendia o comunismo ou se era contra o comunismo. Os muitos centros de representação de alunos eram disputados palmo a palmo. Alienados, nós? A alienação sequer era tolerada na minha geração! 
Havia passeata por qualquer coisa, em protesto por tudo e por nada.
Certa ocasião participei de um protesto contra o preço de feijão e durante alguns dias usei um grão desse cereal preso à lapela.
 
Surgiu, inclusive, uma figura estapafúrdia - a greve de apoio, a greve a favor. É, sim senhor
Os estudantes brasileiros dos anos 70 entravam em greve por motivos que iam da Guerra do Vietnã à solidariedade às reivindicações de trabalhadores. 
Havia movimentos políticos organizados e eles polarizavam as disputas pelo comando da representação estudantil.
O Colégio Júlio de Castilhos foi uma usina onde se forjaram importantes lideranças do Rio Grande do Sul. 
As assembleias estudantis e os concursos de declamação e de retórica preparavam a moçada para as artes e manhas do debate político. 
Na universidade, posteriormente, ampliava-se o vigor das atuações. 
O que hoje seria impensável - uma corrida de jovens às bancas para comprar jornal -, era o que acontecia a cada edição semanal de O Pasquim, jornal de oposição ao regime, que passava de mão em mão até ficar imprestável.
 
Agora, vamos falar de alienação. Compare o que descrevi acima com o que observa na atenção dos jovens de hoje às muitas pautas da política, da economia e da sociedade. 
Hum?  E olhe que não estou falando de participação. Estou falando apenas de atenção, tentativa de compreensão. 
Nada! As disputas pelo comando dos diretórios e centros acadêmicos, numa demonstração de absoluto desinteresse, mobilizam parcela ínfima dos alunos. 
Claro que há exceções nesse cenário de robotização. Mas o contraste que proporcionam permite ver o quanto é extensa a alienação política da nossa juventude num período em que as franquias democráticas vão ficando indisponíveis à dimensão cívica dos indivíduos.
 
Em meio às intoleráveis dificuldades impostas à liberdade de expressão nos anos 60 e 70, a juventude daquela época viveu um engajamento que hoje não se observa em quaisquer faixas etárias. 
Nada representa melhor a apatia política da juventude brasileira na Era Lula do que os fones de ouvido.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

domingo, 27 de agosto de 2023

Descrentes do Estado

A grande surpresa de Milei na Argentina revela outros fenômenos

 Javier Milei

Javier Milei (Tomas Cuesta/Getty Images)
 
Os 7 milhões de votos para o candidato ultra libertário na Argentina continua a desafiar os especialistas em decifrar cabeça de eleitor, um enigma até na nossa era de hiperinflação. 
Vamos ter de esperar até 22 de outubro para saber se o fenômeno Milei se consolida ou se foi apenas um daqueles ataques de birra com que eleitores costumam deixar os institutos de pesquisa com a cara no chão. 
Mais do que analisar o perfil médio do eleitor que votou no excêntrico candidato — homem, jovem, descrente de todas as alternativas tradicionais —, é interessante ver os elementos sociais que podem fazer do caso argentino uma categoria e não uma exceção. 
 
As mudanças no estilo de vida são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados, com relações de trabalho tão fluidas quanto as pessoais, sem necessariamente esperar formar família ou mesmo casais fixos. Na Inglaterra, por exemplo, um dos assuntos do momento é o das mulheres com mais de 30 anos que nunca tiveram um namorado firme. Saem com alguém do aplicativo, rola o algo mais e a coisa não evolui. O jeito é fingir que se sente empoderada, assistir ao filme da Barbie e se afundar no vinho rosé com as amigas. 
 
Entre os homens, os casos mais extremos de isolamento produzem os incels, os celibatários involuntários, expressão sofisticada para o fenômeno muito triste de jovens que simplesmente não têm nenhum relacionamento com o sexo oposto. No limite, incels descontrolados são os jovens que cometem chacinas nas escolas onde se sentem excluídos.

“As mudanças são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados”

Ter uma saudável desconfiança em relação ao Estado não é a mesma coisa que rejeitar categoricamente todas as instituições públicas — abrindo-se, aqui, uma exceção para o caso argentino, diante do histórico de erros tectônicos da direita e da esquerda. 
No livro Bowling Alone, ou Jogando Boliche Sozinho, o cientista político Robert Putnam detectou na virada do século, entre os americanos, a perda do que chama capital social: o enfraquecimento da religião e do senso de pertencimento que ela proporcionava, o esgarçamento do casamento e das relações familiares e um sentimento muito presente entre americanos menos privilegiados, o de que as pessoas comuns têm sido traídas pelas elites. 
Atenção, Putnam não é de direita, bem ao contrário, embora as chagas apontadas possam fazer parte do manual do pensamento conservador. Olhando para os EUA com o foco mais aberto, diz ele: “Quando a economia vai bem, as pessoas confiam mais no governo. Quando a economia vai mal, a confiança afunda. Em três quartos de século, todos os índices máximos e mínimos de confiança no governo podem ser explicados por três fatores: a Guerra do Vietnã, Watergate e o desempenho da economia”.
 
“Tenho vendido minha alma / Fazendo hora extra todo dia por uma droga de salário / Para poder sentar aqui e desperdiçar minha vida / Voltar para casa e afogar as mágoas”, canta Oliver Anthony, numa espécie de hino do redneck que virou fenômeno viral. 
O americano-padrão Anthony não é muito diferente do argentino-padrão Milei. Preservadas, obviamente, as especificidades da Argentina, onde até o pensamento libertário gerou uma corrente populista. 
Seus seguidores , em muitas instâncias, estão sozinhos em casa, como versões adultas do personagem de Esqueceram de Mim. Com o celular na mão e muita bronca na alma.

Publicado em VEJA, edição nº 2856  de 25 de agosto de 2023, 

Vilma Gryzinski, Mundialista, Revista VEJA

 

domingo, 9 de julho de 2023

Nova resolução dos EUA coloca o mundo à beira da 3ª Guerra Mundial - Gazeta do Povo

Daniel Lopez - VOZES

Mesmo com a Ucrânia não integrando a OTAN, novo cenário poderia trazer toda a Europa para a guerra

Todos sabem hoje que o argumento principal apresentado pela Rússia para invadir a Ucrânia (ou “fazer uma operação militar especial”, como dizem os russos) foi impedir que o país passasse a integrar a OTAN. Putin sabia que estava diante de uma contagem regressiva. 
Ainda que Zelensky não tivesse entrado com um pedido oficial para integrar a aliança ocidental, o líder russo estava ciente que, caso isso acontecesse, uma investida contra Kiev faria com que fosse acionado o Artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte.  
Segundo o texto, os países membros do grupo “concordam que um ataque armado contra um ou mais deles na Europa ou na América do Norte deve ser considerado um ataque contra todos eles”. 
Dessa maneira, caso Kiev fosse admitida no grupo, uma investida russa contra ele acionaria todos os 32 países do tratado contra Moscou, o que muito provavelmente iniciaria uma 3ª Guerra Mundial.

O fato de a Ucrânia ainda não integrar a OTAN evita um cenário catastrófico como esse
. Mas, e se eu dissesse que uma resolução recente do Senado americano pode mudar isso tudo, fazendo com que, mesmo não integrando a aliança ocidental, os 31 países da OTAN estariam prestes a declarar uma guerra aberta contra a Rússia, colocando em perigo a segurança global?

    Poderia acontecer um desastre ou ataque contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, que completou 16 meses ocupada pelos russos.

Entenda o contexto do novo problema. No dia 16 de junho, Putin anunciou que armas nucleares táticas (menos destrutivas) estavam sendo transferidas para a Bielorrússia.  
Em resposta, o presidente americano afirmou que a atitude era completamente irresponsável. Isso levou os senadores Lindsey Graham (republicano) e Richard Blumenthal (democrata) a apresentarem uma resolução propondo que ações da Rússia que conduzam a uma contaminação radioativa no território dos aliados seja considerada um ataque direto à OTAN, ativando, dessa forma, ativando o Artigo 5 da aliança e abrindo caminho para uma 3ª Guerra Mundial.

O problema é que não é apenas o uso das armas nucleares táticas armazenadas na Bielorrússia que poderia levar a este cenário. 
A preocupação atual está no fato de que poderia acontecer um desastre ou ataque contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, que completou 16 meses ocupada pelos russos. 
Zelensky tem dito que Moscou poderia realizar um “ataque terrorista” contra a usina. Isso desencadearia um caos radioativo que traz à memória o desastre acontecido em Chernobyl em abril de 1986, que tinha o potencial para deixar a Europa completamente inabitável. 
Isso porque, alguns dias após a explosão, especialistas descobriram que o núcleo do reator ainda estava derretendo, o que poderia gerar uma nova explosão, com capacidade de destruir toda a usina, danificando os outros três reatores do local.

    Estaria o mundo prestes a presenciar um novo incidente do Golfo de Tonquim, em 1964, que deu aos EUA a justificativa para entrar na Guerra do Vietnã?

O físico nuclear Vassili Nesterenko afirmou que essa segunda explosão poderia atingir uma potência de até 5 megatons, deixando todo o continente europeu inabitável por centenas de milhares de anos. 
Veja o tamanho do pesadelo que retornou ao mundo agora. 
Quem poderia imaginar que, quase 40 anos depois, estaríamos vivendo o mesmo perigo?

O cenário ficou ainda mais tenso quando, no final do mês passado, Zelensky afirmou que seus serviços de inteligência identificaram que as tropas russas instalaram objetos semelhantes a explosivos no telhado de várias unidades de energia da usina nuclear de Zaporizhzhia. 
O problema é que isso abre margem para um ataque de bandeira falsa por parte de ambos os lados. 
Os russos poderiam destruir a usina como medida de retaliação, e culpar a Ucrânia. 
Os ucranianos, por sua vez, poderiam explodir a usina e colocar a culpa em Moscou.  
Ou até mesmo os Estados Unidos poderiam destruir as estruturas (talvez como fizeram com o gasoduto Nord Stream, segundo Putin tem defendido), culpar os russos e usar a situação para justificar a entrada da OTAN no conflito. Vejam que loucura.

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    As 24 horas mais tensas deste século

    90 segundos para o Apocalipse


Tudo fica ainda mais tenso quando lembramos que recentemente foi destruída a usina hidrelétrica de Kakhovka, gerando prejuízos enormes à Ucrânia. 
Na ocasião, houve uma troca mútua de acusações entre russos e ucranianos. 
Pode acontecer a mesma coisa com a usina nuclear de Zaporizhzhia. Seria algo de proporções apocalípticas.

Estaria o mundo prestes a presenciar um novo incidente do Golfo de Tonquim? Essa foi a operação de bandeira falsa, acontecida em 1964, que deu aos EUA a justificativa para entrar na Guerra do Vietnã
Será que a usina de Zaporizhzhia será o estopim para a OTAN a entrar diretamente no conflito? 
Será que isso conduziria o mundo à 3ª Guerra Mundial? Espero que não. Que Deus nos proteja.


Daniel Lopez, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Uma baixa sentida no TSE e a profissionalização do garimpo - VOZES

Alexandre Garcia

TSE
Muitos pais têm me mandado mensagem que não sabem o que fazer por causa do noticiário a respeito da vacinação infantil. Eu tenho respondido: leiam as bulas. Eu tenho uma mania de ler a bula. Embora a minha mulher médica diga que o paciente não deve ler a bula, eu leio.

É fácil de acessar na internet as bulas das vacinas e estão lá relatadas as reações adversas. Estou contando isso porque o próprio diretor-geral da Anvisa – que participou de audiência no Senado nesta quarta-feira (16) –, o contra-almirante Antonio Barra Torres, se queixou que está recebendo muita ameaça por causa da autorização da vacinação infantil.

Bolsonaro na Hungria
O presidente Jair Bolsonaro vai desembarcar nesta quinta-feira (17) na Hungria, país que apoia a nossa entrada na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clube dos países de elite da economia. A Hungria também comprou dois cargueiros da Embraer, o KC-390, e é um bom parceiro.

Como o mercado financeiro vê os principais candidatos a presidente
Rússia expulsa vice-embaixador dos EUA e diz que será obrigada a “reagir” se não houver negociação
Quem vai decidir o que viola a Lei Eleitoral?


No Kremlin, nesta quarta, a conversa entre Bolsonaro e o presidente russo Vladimir Putin durou duas horas. Eles se sentaram lado a lado, apertaram as mãos e tiveram uma conversa muito profícua, como disse o presidente, sobre indústria de defesa, de material bélico, extração de gás e petróleo, indústria de fertilizante e tecnologia de ponta. Houve também reuniões entre os ministros da Defesa e os ministros de Relações Exteriores. Foi muito bom!

Tragédia repetida
Todos os anos, nessa mesma época, a chuva cause mortes na região serrana fluminense. Desta vez são 80 mortos. Em 2011, foram 918 mortes e 99 desaparecidos até hoje.

É incompreensível que os governos locais – prefeituras e governo do estado não tenham prevenido essa tragédia, porque isso se previne, evitando a moradia em lugares perigosos, segurando as encostas, há tecnologia para isso. Mas se repete todos os anos porque não fazem. Agora, eles dizem o que devem fazer e depois não fazem. É uma coisa incrível.

General recua

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é fácil. O ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, Fernando Azevedo e Silva, que foi braço direito do general Villas Boas no comando do Exército e chefe de gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, desistiu de ocupar a direção-geral do tribunal. [decisão acertada a do general - iria ter muito aborrecimento indo para o TSE, já que lá a encrenca ronda por lá. Vejamos: 
- temos o ministro Barroso que não aceita críticas as suas.... ops, urnas eletrônicas - especialmente se os críticos cogitarem de invasão de hackers; 
- por sua vez, o ministro Fachin, declara em entrevista que a Justiça Eleitoral pode estar sob ataque de hackers.
Se algum apoiador do presidente Bolsonaro ao menos insinuar, de fininho, só imaginar que o sistema eleitoral do TSE pode ser invadido - aliás,  já ocorreu uma invasão,  tem um inquérito sobre o assunto (confira: hacker penetrou, mas não gozou?) - será no mínimo preso, encarcerado até o final do próximo mandato do presidente Bolsonaro.
FATO - ou o ministro Fachin  conspira contra a democracia (as urnas e a  TSE se confundem, um precisa do outro) = ao propagar que a Justiça Eleitoral pode estar sob ataque de hackers = ou o ministro Barroso exagera no excesso de otimismo.
Para completar o ministro Moraes está atento, pronto para prender qualquer um que em seu entendimento  conspire contra a democracia. Não podemos olvidar que o ministro Moraes é adepto de prender, até mesmo por supostas práticas que não são tipificadas como crimes - apoia suas determinações em interpretações criativas das leis e/ou crianção de figuras jurídicas inexistentes tais operações  = (com destaque para o delito continuado, o flagrante continuado. [ou flagrante perenemente possível, incompatível com mandato de prisão em flagrante.)  É muita encrenca para administrar, até para um general.]

O general Azevedo e Silva havia sido convidado e já tinha aceitado o posto em pleno ano eleitoral. Mas agora viu que não dá, que o coração dele não aguenta. Literalmente. Como certamente se espera um ano complicado no TSE, eles pediu desculpas e voltou atrás.

Profissionalização
De toda a Amazônia me mandam mensagens sobre esse decreto que criou o programa de apoio à "mineração artesanal e em pequena escala" dizendo que querem legalizar o garimpo. Não é legalizar, é para profissionalizar o garimpo mesmo.

Os garimpeiros hoje não vão mais minerar na unha como ocorria na Serra Pelada. Hoje eles têm retroescavadeiras, por exemplo. É uma microempresa a mineração em pequena escala, não é industrial. Por isso esse decreto é para organizar o setor. Agora, eu continuo sem entender porque daquele ataque, que parecia guerra do Vietnã contra os garimpeiros, no mesmo dia em que o Palácio do Planalto estava anunciando esse programa de apoio.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES



segunda-feira, 6 de abril de 2020

Pandemia - Ciência ainda não tem solução para o coronavírus - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo

Os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil tiveram uma conversa telefônica para trocar experiências de planejamento e posições a respeito do combate ao coronavírus e à recessão que se aproxima dos dois países.  Os estadunidenses preveem a morte de quase 100 mil pessoas. Isso é quase o dobro do número de militares do país mortos durante os dez anos da guerra do Vietnã. Aqui no Brasil a gente já está com mais de 200 mortos. [atualizando: Brasil já atingiu 400 mortos e, ultrapassando 11.000 casos confirmados.]

Falou como estadista
No pronunciamento no rádio e TV, o presidente Bolsonaro disse que os governos estaduais estão trabalhando com o Ministério da Saúde e vão receber todo apoio necessário para o SUS, como equipamentos. Por sua vez, o Ministério da Economia está trabalhando em conjunto com os estados para atender às demandas de todos os governadores e prefeitos sem exceções. Bolsonaro falou como um estadista.

Ninguém tem a ciência na mão
Nem Trump, nem Bolsonaro sabem como combater o coronavírus. Nem a OMS sabe. Ninguém sabe. A ciência ainda está pesquisando uma vacina para a doença. Ainda não se sabe se a hidroxicloroquina funciona mesmo. Não se sabe se há somente um tipo de vírus. Os chineses estão dizendo que são duas variações. Não se sabe também quantas pessoas foram contaminadas, porque só se sabe que estão com a doença quem faz o teste.

Também não se sabe quantas pessoas já pegaram a doença e se curaram, nem quanto tempo elas ficaram com o vírus no corpo e nem quais foram os sintomas. Não se sabe nada ainda sobre o coronavírus. [ao não se saber nada, ou quase, se abre a porta para palpites.
Só que no Brasil estão inovando:
- todos podem dar palpites sobre o coronavírus e seu combate - exceto o presidente da República.
Teve um ministro do Supremo que proibiu, em decisão liminar,  o presidente da República de fazer, ou mandar fazer, uma série de coisas referente ao coronavírus.
Se demora mais um pouco exarando a decisão,  proibiria o presidente de até pronunciar qualquer palvra sobre o assunto.] A ciência está pesquisando e testando. É o que o governo está fazendo. Não se sabe qual isolamento social é melhor, o horizontal ou o vertical. No Japão está dando certo o isolamento vertical. A Alemanha tem a sua solução.

A China teve a própria solução para minimizar os efeitos do coronavírus. Hoje a Bolsa do país é a que mais cresce. [já escrevemos algumas vezes que toda vez que surge uma peste na China, um H qualquer coisa, a economia daquele país, dá uma paradinha e depois cresce mais.] A indústria nacional deles também está em alta. Os Estados Unidos estão com mais mortos do que a China. Ninguém é dono da verdade, ninguém tem a ciência na mão, até porque a própria ciência não tem as suas conclusões. Parece que tem gente que tem a sua verdade disponível.

Esses estão correndo por fora do mundo real. Acho que é por fanatismo, ignorância ou oportunismo. As pessoas estão com tanto medo que nem enterram e nem velam seus mortos.  Tem gente metendo a cabeça no buraco escuro procurando a luz. Eu acho que a luz deve ser a diversidade de ideias, experiências e opiniões. O diretor-geral da OMS e o ministro da Saúde divergem.
A gente tem que tentar minimizar os efeitos tomando os cuidados necessários. A ciência ainda não tem uma solução para acabar com o coronavírus. Essa é a verdade.

O nosso agronegócio
Ainda que haja recessão como a de 1929, quando a gente queimava café por não ter para quem vender, ainda que caiam os preços, o mundo precisa comer e o nosso agronegócio é capaz de alimentar um bilhão de pessoas. [desde que haja máquinas agrícolas para tratar e colher a produção e veículos para transportar os produtos agrícolas e os da pecuária.]
Há a confiança e a esperança de que mais uma vez nós estamos nas boas mãos dos trabalhadores que tiram o alimento da terra. Eu digo isso mais uma vez porque foi o agro que nos tirou da recessão do governo Dilma.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo

sábado, 7 de março de 2020

ABIN paralela - "Isso aí acabou" - Merval Pereira

O Globo

É preciso investigar o suposto grampo bolsonarista

Foi assim que o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República, tranquilizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em relação ao temor de que alguns deputados estariam sendo monitorados pelo governo.  No início do governo Bolsonaro, quando a relação com o Congresso estava em momento crítico, deputados procuraram o presidente da Câmara com uma apreensão: acreditavam que estavam sendo gravadosOs relatos não foram conjuntos, mas individuais, em diversas circunstâncias, uns consideravam que seus telefonemas estavam sendo grampeados, outros “sentiam” que estavam sendo gravados em suas conversas no Palácio do Planalto.

Eram mais percepções e temores do que fatos concretos que motivassem uma reclamação formal do presidente da Câmara. Até que um deputado com patente militar, ligado à comunidade de tecnologia de segurança de informação, disse a Maia que tinha certeza de que fora grampeado, e deu detalhes técnicos sobre o que poderia ter acontecido ao seu celular Android.

Segundo relatos de deputados, o presidente da Câmara aproveitou uma conversa com o General Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para abordar o tema delicado. Revelou a preocupação de diversos deputados, e recebeu a resposta tranquilizadora, que foi repassada aos deputados queixosos. O assunto morreu. A revelação do ex-ministro Gustavo Bebianno de que o filho 02 Carlos Bolsonaro pensara em montar um esquema não oficial paralelo de monitoramento de políticos e jornalistas trouxe o assunto de volta ao noticiário e gerou desdobramentos. [convenhamos que a declaração de um ex-ministro, o Gustavo Bebbiano,  sobre Bolsonaro e familiares, merece tanta credibilidade quanto fosse Lula o autor.]

Ontem, a revista Crusoé publicou em sua capa um amplo material sobre o tema, detalhando como o esquema teria sido montado. Não há dúvida de que o atual diretor da Agência Brasileira de Informações (ABIN), delegado Alexandre Ramagem foi quem incialmente discutiu com Carlos e mais três agentes da Polícia Federal a estruturação de uma equipe que seria responsável por essa atividade. Mas não é possível afirmar, (apenas intuir), que ele sabia que o trabalho seria clandestino, embora patrocinado pelo novo grupo que ocupava o Palácio do Planalto. Há o antecedente histórico do ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, político paranóico que procurou se proteger gravando clandestinamente as conversas no Salão Oval e grampeando seus “inimigos”.

Também objetivava impedir que vazamentos de documentos oficiais voltassem a acontecer como no caso dos Pentagon Papers, que revelou atuação ilegal do Departamento de Estado na Guerra do Vietnã. Essa equipe clandestina era conhecida comoplumbers” (bombeiros), e foi descoberta a partir da prisão de um grupo que invadiu a sede do Partido Democrata no prédio Watergate em Washington. A descoberta dos esquemas clandestinos levou à renúncia de Nixon ante a possibilidade de sofrer um impeachment.

O que é certo é que o General Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, conversou com o General Heleno sobre o assunto, e também Gustavo Bebianno, o primeiro a revelar formalmente essa tentativa do filho do presidente de montar um serviço de segurança paralelo ao já disponível pela presidência da República. Houve o aconselhamento ao presidente da República, por parte dos dois ex-ministros, de que seria uma temeridade acobertar tal tipo de atividade, que poderia motivar um impeachment.

O ministro Augusto Heleno mais uma vez ontem negou a veracidade da tentativa de criar-se uma “ABIN paralela”. Mas não se referiu em nenhum momento ao filho do presidente, talvez indiretamente citado na definição de “devaneio de amadores”, como classificou a informação. De fato, é tecnicamente equivocado chamar-se de “ABIN paralela” uma equipe clandestina de rastreamento de pessoas em posições “sensíveis”, embora seja jornalisticamente oportuno. Mas as indicações são claras de que esse movimento foi feito. Se o esquema chegou a ser implementado a ponto de os deputados “sentirem” sua presença nas conversas políticas, é um tema para ser investigado mais a fundo.

Pode ser até mesmo que não tenha nem sido instalado, diante das advertências aos “amadores”. Ou, o que seria uma tragédia institucional, pode ser que tal esquema continue em plena vigência. Só uma investigação independente poderá esclarecer a situação.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Ninguém foi censurado - Carlos Alberto Sardenberg

Polícia Federal não indiciou Glenn. Mas o MP não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF

O que ameaça a liberdade de imprensa é a censura, sobretudo a censura prévia. Jornalistas apuram suas notícias de diversas formas – pesquisando, vendo os fatos (numa guerra, por exemplo, numa manifestação de rua) ou consultando fontes que consideram confiáveis. E devem ter a liberdade plena de publicar o que apuraram sem pedir autorização a qualquer autoridade. Tem mais. Nas democracias, a lei garante o sigilo da fonte da informação e não apenas para o jornalista. Médicos, advogados, psicanalistas têm o mesmo direito.
  Logo, o jornalista não pode ser punido quando se recusar a revelar sua fonte. Mas o que acontece se a informação publicada for um tremendo erro, uma mentira, uma ofensa aos direitos de terceiros?
Fica por isso mesmo?
É claro que não pode ficar. O jornalista é responsável pelo que publica e pode ser processado pela parte atingida. Isso não é incomum por aqui. Há inclusive vários casos de jornalistas que processaram jornalistas e obtiveram condenações exemplares.  O jornalista processado sempre diz que é vítima de um ataque à liberdade de imprensa. Errado. Ele teve a plena liberdade de publicar – e o que foi publicado lá permaneceu. Mas tem que ser responsável pelo que publicou. Um engenheiro é responsável se a barreira se desmancha e mata centenas de pessoas. Por que o jornalista não seria responsável por destruir a reputação de uma pessoa que seja?

Essa responsabilidade não desaparece quando o jornalista alega o sigilo da fonte. Um exemplo clássico: a jornalista Judith Miller, que já tinha um Pulitzer, publicou no N.Y.Times que Valerie Plame, esposa de um ex-embaixador, era agente secreta da CIA. Obviamente, colocou em risco a vida e  destruiu a carreira de Valerie. A jornalista foi processada, recusou-se a revelar a fonte, foi condenada e presa. Um outro caso clássico também vem dos Estados Unidos. O N.Y.Times publicou documentos do Pentágono (sobre a guerra do Vietnã) que haviam sido subtraídos por um funcionário do órgão. Atenção, o jornal não havia participado do roubo – e isso foi um ponto importante do processo. Apenas recebera os documentos de um funcionário que julgou necessário divulgar aqueles fatos.
O jornal pode seguir publicando os documentos. Ou seja, o jornalista precisa checar a informação recebida de sua fonte e, sobretudo, não pode participar de nenhum  modo na produção da notícia. E muito menos não pode participar do roubo de uma informação, quer a financiando, quer ajudando a fonte de algum modo. [os diálogos comprovam que o verdevaldo ajudou os criminosos a ocultr informações diversas, entre elas as que poderiam identificar o receptador;
a turma do verdevaldo é tão sem noção que usa o argumento que O MP não poderia investigar o jornalista, tendo em conta que a PF não o havia investigado - teoria tão estúpida, digna dos que a elaboraram e produziram o 'escândalo que encolheu';
A ser acatado tão estapafúrdia tese, a PF passou a ter poderes que são exclusivos do Poder Judiciário = julgar;
Se a PF não investigou é sinal que decidiu, julgou, ser o não investigado inocente = sentença transitada em julgado, que nem a lei pode mudar.]

Tudo considerado, o jornalista Glenn Greenwald não foi censurado. Publicou e continua publicando suas histórias. Não houve censura nem quando ficou claro que as informações, as conversas entre promotores e juízes da Lava Jato, haviam sido obtidas criminosamente por hackers.  A Polícia Federal encontrou e prendeu os suspeitos. Não investigou, nem indiciou o jornalista americano, que estava protegido por uma decisão do ministro Gilmar Mendes. Discutível. Jornalistas são imunes? Não devem ser.  Mas o Ministério Público resolveu denunciar Greenwald por entender que, investigando outras pessoas, os hackers, encontrara indícios de que o jornalista havia sido cúmplice ou tinha participado de algum modo da operação de roubo das informações.

A denúncia é o começo do processo. Pode ser desclassificada pelo juiz logo de cara.  Sim, é verdade que a Polícia Federal não indiciou o jornalista. Mas o Ministério Público não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF. Se não fosse assim, os casos já sairiam direto da PF para o juiz.  Muita gente diz que está claro que Greenwald não participou do processo. Pode ser, mas é o juiz que vai dizer isso. E pode ser assim porque o caso é grave. Se houve conluio entre jornalista e fontes, que cometeram crime, foi o jornalista que colocou em risco a liberdade e a independência da imprensa.
Enquanto isso, ninguém foi censurado. Glenn Greenwald continua publicando seu site e continua livremente se defendendo das acusações e, de sua parte, fazendo suas próprias acusações. E a imprensa continua contando e opinando de um lado e de outro.
A ver o que dizem os tribunais.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 



 Coluna publicada em O Globo - Economia 23 de janeiro de 2020



domingo, 5 de janeiro de 2020

Sonhos de King - Nas entrelinhas

”’O ethos do ‘destino manifesto’ justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cujo eixo era a ideia de que Deus os estaria ajudando a comandar o mundo”

Memphis é uma das três cidades mais importantes da música norte-americana, com Nova Orleans e Nashville, famosa por ser a casa de Elvis Presley entre 1948 e 1977. A mansão Graceland, patrimônio da família Presley, continua sendo um dos pontos mais visitados do estado, atraindo cerca de 600 mil pessoas por ano. Ofusca o fato de que, poucos sabem, foi em Memphis que o pastor batista Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da Paz, foi assassinado em março de 1968, aos 39 anos, durante uma visita em apoio aos trabalhadores em greve no serviço de saneamento da cidade.

Martin Luther King reivindicava salários dignos e mais postos de trabalho para a população negra. Além disso, defendia os direitos das mulheres e foi contra a Guerra do Vietnã, que considerava moralmente corrupta. Formado na Universidade de Boston, tornou-se pastor e membro da Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor. Destacou-se como líder dos direitos civis por organizar protestos por todo o sul dos Estados Unidos, inclusive o boicote ao sistema de ônibus de Montgomery. Em Birmingham, no Alabama, em 1963, foi preso por duas semanas ao participar de um protesto, o que só aumentou seu prestígio.

Quando foi solto, King liderou a Marcha sobre Washington, na qual proferiu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, que está entre os dez mais importantes do século XX, no qual afirma: “Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”. Seu êxito político se deve não somente à sua combatividade e resiliência e, enfim, ao seu martírio, mas à estratégia assentada em três eixos: a luta contra a ignorância, a não violência e o combate às desigualdades.

O pastor batista se inspirou num outro grande líder do século XX, Mahatma Gandhi, que derrotou o Império Britânico com métodos não violentos e muita perseverança na sua campanha pela independência da Índia. A crença de supremacia racial no Sul dos Estados Unidos era muito arraigada, mas não era um fenômeno isolado, mesmo depois da derrota dos nazistas na II Guerra Mundial. Ainda há muita gente que pensa assim. Na lógica da discriminação, crenças fervorosas estimulavam as pessoas a cometerem atos bárbaros, que exigiam uma mudança de atitude como resposta para detê-los. King dizia que “a ignorância sincera” era a ameaça mais perigosa que existe na face da Terra.

O sistema como um todo era racista no Sul dos Estados Unidos; King defendia a ação direta como forma de protesto para romper o bloqueio político-institucional existente, reformar a política e garantir a participação dos negros na democracia americana, o que se tornou, mais tarde, um objetivo alcançado plenamente, com a até então inimaginável eleição de Barack Obama à Presidência da mais poderosa nação do planeta. Na prática, o movimento pelos direitos civis teve que vencer as atitudes das maiorias em relação às minorias, para que essas pudessem usufruir de uma mudança duradoura.

Destino
Ao contrário de Malcolm X e Stokeley Camichael, líderes negros radicais, que defendiam a luta armada, King via a não violência nas ações diretas como uma demonstração de força moral, ainda que isso significasse apanhar da polícia durante os protestos. Foi agredido e ferido algumas vezes, mas nunca revidou fisicamente. Houve situações em que chegou a cancelar protestos e evitar discursos para não estimular mais violências. Entretanto, como até hoje está em nossas memórias, as cenas de ações brutais de policial contra os negros acabaram se transformando em poderoso instrumento de formação de uma opinião pública contrária à discriminação.


Decisiva para a ampliação da luta contra o racismo foi a agenda de King contra as desigualdades, lançada em 1963, com a “Marcha em Washington por Emprego e Liberdade”. Exigia que o governo investisse pesado contra a pobreza, com um programa de três pontos: renda mínima, moradia digna e acesso ao mercado de trabalho. Ele acreditava que a pobreza e a ignorância caminham de mãos dadas, o que é verdade.

King confrontou o ethos do “destino manifesto”, a doutrina do XIX que justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cuja ideia central era a de que Deus estaria ajudando os norte-americanos a comandarem o mundo. Expressão cunhada pelo jornalista John Louis O’Sullivan, no ano de 1845, coincidiu com a Marcha para o Oeste. Sustentava que a “providência divina” havia lhes dado o direito de conquista de todo o continente e também a missão de levar a liberdade a todos os povos. Muitos até hoje acreditam nisso, inclusive aqui no Brasil.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A moda pegou: o estilo performático de protestos ecológicos - Blog Mundialista

Milenaristas em suas crenças de que o mundo vai acabar e teatrais nas manifestações, adeptos do grupo Extinction Rebellion exportam modelo para mundo


Tem lá a sua graça as manifestações que militantes do Extinction Rebellion estão fazendo em Londres. Pelo menos enquanto os incautos não ficam presos no trânsito ou no metrô. Paralisar nós vitais da cidade é o objetivo tático. Sobre o estratégico falaremos mais adiante. O pendor britânico para a excentricidade e o histórico de militâncias exótica são expostos em todo seu esplendor. Ao contrário das manifestações habituais, mulheres e homens de cabelos brancos estão na linha de frente.

É uma forma de organização deliberadamente planejada pelos líderes do movimento.
Os “seniors” são convocados em todo o país como voluntários para se acorrentar, colar, amarrar ou simplesmente deitar no chão e exigir o esforço de quatro policiais, no mínimo, para serem removidos sem danos para as articulações ou outras partes mais sensíveis. A expressão de felicidade do pessoal da terceira idade parece ter saído diretamente dos tempos em que eram jovens e felizes, tipo anos setenta. O cheiro de maconha também. Mas nada tão radical quanto o pessoal que queria sentar, meditar e, movido a LSD, fazer o Pentágono levitar, como na grande marcha de 14 de abril de 1967 em Washington, contra a guerra do Vietnã.

Também não existem nomes como Allen Guinsberg, Timothy Leary ou Abbie Hoffman, poetas, intelectuais e ideólogos da era da chapação e da revolução dos costumes.
Tem umas estrelinhas e modelos, gente menos conhecida fora do mundo do showbusiness britânico.A mais famosa, Emma Thompson, uma espécie de Greta Thunberg da terceira idade, dessa vez não pegou um voo de primeira classe em Los Angeles para fazer proselitismo em Londres.
Essa história de simpatizantes milionários de causas ecológicas que cruzam o mundo em aviões particulares parece que finalmente está pegando mal.

(...)

O choro convulsivo também caracterizou manifestações recentes de Greta Thunberg. No caso dela, indicando que problemas de saúde mental já reconhecidos, inclusive depressão profunda, não estão recebendo tratamento adequado.
Uma menina de 16 anos no estado da jovem sueca deveria ter adultos responsáveis à sua volta.
Nem um Nobel da Paz daria jeito nessa realidade.

Charme anarquista
A preocupação legítima com a “crise ambiental”, o novo nome do aquecimento global, pode desencadear processos emocionais artificialmente estimulados.  Até o príncipe Harry já disse que tem dias em que acha difícil levantar de manhã da cama diante dos “problemas do mundo” – outro sinal clássico de depressão.
E também dos fenômenos milenaristas, a convicção de um apocalipse iminente, no passado movido por sentimentos religiosos; hoje insuflado por prognósticos climáticos catastróficos.  Crianças e adultos, na Inglaterra e outros países europeus, derramaram lágrimas sentidas ao verem que a “Amazônia está em chamas”.
Curiosamente, o assunto simplesmente desapareceu. Nem a grande queima de floresta virgem na Bolívia, um episódio de fato terrível, é discutida.


MATÉRIA COMPLETA Em Blog Mundialista - VEJA - Vilma Gryzinski

quinta-feira, 25 de julho de 2019

O povo e o direito de saber - Veja - Blog do Noblat


Apure-se tudo - Quem pagou os hackers?



Ou se prova a falsidade das mensagens trocadas pelo então juiz Sérgio Moro com procuradores da Lava Jato na condução do processo que condenou Lula, ou elas continuarão valendo, quer os hackers detidos pela Polícia Federal as tenham ou não repassado ao site The Intercept. O site reafirma a veracidade das mensagens. 
[o ônus da prova cabe a quem acusa;
Assim: 
quem está apresentando as 'provas' é o intercePTação, cabe a ele provar a autenticidade das provas;
provada a autenticidade -  situação 'sui generis' por estar provando a autenticidade do conteúdo de uma fraude - teria que se partir para a análise da existência de ilegalidade nas 'conversas';
comprovada a ilegalidade, ainda resta um obstáculo intransponível: o mandamento constitucional que determina que provas ilícitas não serão aceitas no processo (não estando nos autos, não existe no mundo) assim, ainda que autênticas, não valem nada.

Não adianta juristas interpretarem que uma norma constitucional (inclusive protegida por CLÁUSULA PÉTREA) pode ser ignorada.

Ou será que a Constituição Federal só tem valor para atrapalhar o presidente Bolsonaro? quando pode ser usada contra o Presidente da República?
pelo caráter até mesmo escatológico (não no sentido teológico) do assunto, optamos por usar o velho axioma: uma imagem vale por milhares de palavras.
Vejam abaixo:]  

O conteúdo do sanitário é o valor das provas divulgadas pelo intercePTação

A Folha de São Paulo e a VEJA que as examinaram e publicaram, também. Senadora citada em uma delas admite a autoria do que escreveu e endereçou a Moro. O ex-juiz já pediu desculpas por referência feita em uma das mensagens.  Não é crime publicar informações obtidas por meios controversos. Os famosos Documentos do Pentágono, que contavam a história da guerra do Vietnã nos anos 60, foram subtraídos por um professor e publicados pelos jornais The New York Times e Washington Post.

SPOOFING: 
O spoofing é um tipo de ataque no qual um hacker se passa por outro aparelho ou usuário de uma rede com o objetivo de roubar dados, disseminar malware ou contornar controles de acesso. Suas formas mais comuns são spoofing de IP, e-mail e DNS.

AVAST - acesse, saiba mais e como se proteger
O governo americano tentou embargar a publicação. Alegou que eram documentos secretos e que a segurança nacional estava em jogo. A Suprema Corte dos Estados Unidos deu razão aos jornais. Tudo que seja de interesse público pode ser revelado. Esse é também o entendimento por aqui do Supremo Tribunal Federal com base na Constituição. Liberdade de imprensa não é direito dos jornalistas e dos seus patrões. É direito de cada cidadão em uma democracia. Moro pensava assim ou ainda pensa. Foi com base nisso que ele vazou uma conversa entre a então presidente Dilma e Lula grampeada depois de esgotado o prazo fixado por ele para tal fim. Na ocasião, duramente censurado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo, Moro limitou-se a pedir desculpas.

Espera-se que a Polícia Federal vá fundo nas investigações sobre os hackers que copiaram o conteúdo dos celulares de cerca de mil pessoas, segundo Moro, que se apressou em sugerir que possam ter sido eles que forneceram ao Intercept o que vem sendo conhecido a conta gotas.  Temos o direito de saber tudo por que hackearam? Com qual objetivo? Espontaneamente ou a mando de quem? Ganharam alguma coisa com isso? Se ganharam quem pagou? Se foram pagos para isso como receberam? Aonde?  Temos também o direito de saber quem matou e quem mandou matar a vereadora Marielle Franco. E onde está Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. E  de por que cheques passados por ele foram parar na conta da mulher do presidente da República. [as investigações envolvendo Queiroz, por serem fundadas em compartilhamento ilegal de informações protegidas por sigilo bancário e fiscal, estão suspensas;

quanto ao assassinato da vereadora, saiu das manchetes; 
devendo ser registrado que os dois 'suspeitos' estão presos não pelo possível envolvimento no crime e sim por posse e comércio ilegal de armas.]

Blog do Noblat - Revista Veja



quinta-feira, 28 de março de 2019

A nau dos insensatos

“A escalada do confronto entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), evoca situações que vão da renúncia de Jânio Quadros ao Ato Institucional nº 5”


Vencedora de dois prêmios Pulitzer, a historiadora norte-americana Barbara Tuchman dedicou seu livro mais famoso à insistência dos governos em adotarem políticas contrárias aos próprios interesses. A Marcha da Insensatez é um estudo sobre quatro episódios da História que resultaram de decisões equivocadas das lideranças, com repetição de erros crassos: a Guerra de Troia, a Reforma Protestante, a Independência dos Estados Unidos e a Guerra do Vietnã. A escalada do confronto entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), evoca situações que vão da renúncia de Jânio Quadros, em 21 de agosto de 1961, ao Ato Institucional nº 5, do presidente Costa e Silva, em 13 dezembro de 1968.

Ontem, em entrevista à TV Bandeirantes, depois de um fim de semana com trocas de farpas, Bolsonaro disse não ter problema com o presidente da Câmara, mas afirmou que questões pessoais têm “abalado” Rodrigo Maia. Indagado sobre quais seriam esses problemas, Bolsonaro disse que eram pelo “pelo lado emocional” e que, por essa razão, não procuraria o deputado para conversar.  Era uma alusão à prisão do ex-ministro Moreira Franco, padrasto da mulher de Maia, que se abespinhou: “Abalados estão os brasileiros, que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, capacidade de investimento do Estado brasileiro diminuindo, 60 mil homicídios e o presidente brincando de presidir o Brasil”, disparou, em entrevista no Salão Verde da Câmara.

Maia ainda arrematou: “Então, vamos parar de brincadeira e vamos tratar de forma séria. O Brasil precisa de um governo funcionando, a gente precisa que o governo do Bolsonaro dê certo. A gente precisa que o governo do Bolsonaro gere emprego, reduza o desemprego. Se a gente continuar perdendo tempo com essas discussões secundárias, nós vamos continuar colocando o Brasil andando para trás. Está na hora de o Brasil andar para a frente”.

Bolsonaro, após encontro com o governador de São Paulo João Doria (PSDB) na União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social (Unibes), na capital paulista, manteve a polêmica: “Não é palavra de uma pessoa que conduz uma casa. Brincar? Se alguém quiser que eu faça o que os presidentes anteriores fizeram, eu não vou fazer. Já dei o recado aqui. A nossa forma de governar é respeitando todo mundo, e acima de tudo, além de respeitar os colegas políticos, respeitar o povo brasileiro que me colocou lá.”
O novo bate-boca ocorreu um dia após a Câmara aprovar uma emenda constitucional transformando em impositivas as emendas de bancada ao Orçamento da União, por maioria inacreditável (em primeiro turno; por 448 votos a 3; no segundo, por 453 votos a 6). Até o filho do presidente da República, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), votou a favor. A decisão foi uma retaliação ao não comparecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, à Comissão de Constituição e Justiça, responsável pela aprovação da admissibilidade da proposta de reforma da Previdência.

Por decisão do Palácio do Planalto, Guedes cancelou a agenda duas horas antes de a reunião começar, o que gerou grande mal-estar na Câmara. Foi um erro crasso de articulação política do governo, pois Guedes costuma se sair muito bem nas reuniões de que participa, como aconteceu ontem na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na qual foi sabatinado. Sua passagem pelo Senado impediu que a emenda constitucional aprovada pela Câmara fosse votada e aprovada, ontem mesmo, pelos senadores, engessando ainda mais o Orçamento.

Panos quentes
Mais uma vez, o vice-presidente Hamilton Mourão pôs panos quentes na polêmica: “Acho que houve algum ruído na comunicação entre os dois. Julgo que o deputado Rodrigo Maia é imprescindível no processo que estamos vivendo no Brasil, pelo papel que ele tem dentro da Câmara dos Deputados e pela importância desse papel dele. Ruídos ocorrem”. Nos bastidores do Congresso, porém, há muita irritação da própria base de Bolsonaro com o governo e grande perplexidade da oposição, cuja atuação vem sendo até cautelosa, porque o governo faz oposição a si mesmo. A reforma da Previdência depende do empenho do presidente da República, mas Bolsonaro está terceirizando sua aprovação, o que deixa todos em dúvida sobre suas verdadeiras intenções.

Ontem, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes militares divulgaram a ordem do dia a propósito do golpe militar de 1964, um texto que será lido nos quartéis, por recomendação do presidente Jair Bolsonaro. “Em 1979, um pacto de pacificação foi configurado na Lei da Anistia e viabilizou a transição para uma democracia que se estabeleceu definitiva e enriquecida com os aprendizados daqueles tempos difíceis. As lições aprendidas com a História foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações (…)”. Será?

Nas entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Donald Trump e os psiquiatras



Não se pode diagnosticar que ele seja doido, mas pode-se garantir que naquela cabeça mora o perigo 

Na hora em que um estudioso do comportamento humano ganhou o Prêmio Nobel de Economia, saiu nos Estados Unidos, e está na rede, o livro “The Dangerous Case of Donald Trump” (“O perigoso caso de Donald Trump”), com 27 artigos de psiquiatras, psicanalistas e terapeutas, mais dois escritores e um advogado. Eles ficam a um passo da declaração formal de que o presidente dos Estados Unidos é maluco.

Narcisista, paranoico, mentiroso e delirante, Trump é uma ameaça à segurança do mundo. Todos os políticos têm essas características (ou, pelo menos, são acusados de tê-las), mas com Trump elas compõem um caso clínico. É comum ouvir que alguém vive “no mundo da lua”. Ele vive no mundo do sol, e o sol é Donald Trump. Orgulha-se de não confiar em ninguém, elogia tiranos como o “amado líder” Kim Jong-un da Coreia do Norte ou o sírio Bashar al-Assad e inventa situações fantásticas (Barack Obama é muçulmano e nasceu no Quênia), não se retrata e se diz perseguido.

A coletânea é apresentada pelo professor Robert Jay Lifton, um dos mais respeitados psiquiatras do país. Num dos melhores artigos do livro, o psicólogo Michael Tansey disseca os cinco minutos finais de um discurso de Trump na sede da CIA, logo depois de sua posse. (A fala está na rede.) Depois de ter chamado a Agência de incompetente, disse que estava “100%” ao seu lado. Não terminou algumas frases e garantiu que na plateia de sua posse havia uma multidão jamais vista.  O livro compilou mentiras e delírios dos primeiros seis meses de Trump. Sabidamente, ele foi além. Todos os autores temem pela sua conduta numa crise semelhante à de 1962, quando o mundo esteve perto da guerra nuclear e foi salvo pelo sangue-frio do presidente John Kennedy.

Os psiquiatras e psicanalistas lutam contra Trump e contra uma norma da guilda dos doutores que os proíbe de diagnosticar maluquice em pessoas que não examinaram profissionalmente. Ela impede que algum deles use claramente a palavra “maluco”. Contudo, usam todos os sinônimos disponíveis. A norma da Associação Americana de Psiquiatria foi baixada no século passado, quando o republicano Barry Goldwater disputava a presidência com Lyndon Johnson e foi dado por paranoico numa pesquisa junto a psiquiatras, por ter sugerido a possibilidade de uso de armas nucleares.

Uma trapaça da história fez com que Goldwater, batido, seja visto como um dos fundadores do moderno conservadorismo americano. Johnson reelegeu-se e muitos dos psiquiatras que apontam para a maluquice de Trump concordam num ponto: o paranoico era Johnson. Tudo bem, mas se não fosse pela sua desastrosa política na Guerra do Vietnã, ele seria um dos melhores presidentes do século. Outro paranoico de papel passado foi Richard Nixon, mas deve-se a ele a reaproximação dos Estados Unidos com a China. Para ficar nos desafios da psiquiatria política, Abraham Lincoln era depressivo.

O livro dos doutores solidifica a noção de que Trump é um perigo para o mundo, porque o seu cotidiano, as suas piruetas e algumas de suas políticas relacionam-se diretamente com seu desequilíbrio mental. Nixon mentia, mas não mentia a cada hora. Lincoln era depressivo, mas doidos estavam os estados do Sul ao se rebelarem.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista