O Brasil não é uma piada pronta. É uma piada ainda em construção. Porque não tem graça
Ah, mas que graça! A Ajufe (Associação dos Juízes Federais) resolveu fazer uma “eleição” para a escolha do futuro ministro do Supremo.
Vai, depois, encaminhar uma lista tríplice ao presidente Michel Temer. É mesmo? E quem são os “eleitores”? Ora, os filiados à associação.
O Brasil é, com o perdão da expressão, a
cloaca do corporativismo. Uma associação de caráter SINDICAL — e a
Ajufe é isso — agora acha que pode se transformar em colégio eleitoral.
E, obviamente, ao arrepio da Constituição. Afinal, os constituintes
deixaram muito claro o que queriam no Artigo 101 da Constituição, a
saber:
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,
escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação
ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do
Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República,
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Ah, os senhores da Ajufe não gostam do
101? Ok. Então nada de 171 constitucional, não é? Seria um estelionato
jurídico. Ora, que os doutores patrocinem, com a força do seu lobby, uma
emenda constitucional para mudar o que está na Carta. Chega a ser espantoso que uma associação
de juízes federais, nada menos, acredite que pode se sobrepor à
legitimidade do presidente da República.
É evidente que o objetivo é criar constrangimento. Tanto é assim que, ao dar a notícia, o
site G1 escreve: “Apesar dessa iniciativa, Temer não tem obrigação de
escolher o nome de lista. A indicação é feita exclusivamente pelo
presidente da República e aprovada pelo Senado Federal”.
Afirmar que “não é obrigado” traz, ainda que involuntariamente, a sugestão de que seria o melhor…
Já basta o MPF
Bem, meus caros, essas coisas começam assim. Não sei se sabem, mas a “eleição” do
procurador-geral da República se faz ao arrepio da Constituição. Isto
mesmo: os que deveriam zelar pela Carta se organizaram, decidiram
promover uma eleição entre si e impor o resultado ao presidente. O procurador-geral da República é chefe
do Ministério Público da União. E quais órgãos compõem o MPU? Estes:
– Ministério Público Federal; – Ministério Público do Trabalho;
– Ministério Público Militar; – Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios.
E quem “elege” o chefe de toda essa gente? Só os procuradores do Ministério Público Federal!!! Sim, a “eleição” é promovida pela ANPR
(Associação Nacional dos Procuradores da República), que, a exemplo da
Ajufe, é uma entidade de caráter sindical. O Brasil não é uma piada pronta. É uma
piada ainda em construção. Porque não tem graça. Então os membros de um
único órgão do Ministério Público da União se reúnem, tomam ciência de
que integram a instância mais forte das quatro e dão um golpe nos
membros das outras três. Em seguida, ao arrepio da Constituição, fazem
uma eleição direta entre os seus — E SÓ UM MEMBRO DO MPF PODE SER
CANDIDATO, CLARO!, JÁ QUE TEM DE SER DA ASSOCIAÇÃO —, impõem a solução
ao presidente da República e convencem a imprensa de que, se não for
isso, então é a impunidade.
Mais um pouco da piada em construção: o
órgão que mesmerizou o país com suas 10 medidas contra a corrupção
(quatro eram fascistoides) desrespeita a Constituição com determinação,
com garra, com força, com coragem. Uma vez me perguntaram por que não sou
político… Bem, ao lado da falta de vocação, há uma outra coisa: qualquer
um que entrasse na minha sala com uma “solução” extraconstitucional
seria expulso com chutes no traseiro. Acho que isso não é bom para político.
A lista da Ajufe tem 30 nomes. A propósito: os outros sindicatos de
juízes não vão fazer o mesmo? Vamos fazer uma guerra de listas,
sapateando sobre a Constituição.
Vai ser um momento lindo.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo