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quarta-feira, 23 de maio de 2018

INsegurança Pública no DF - Maria Eduarda, 6 anos, é mais uma vítima da guerra de gangues

Morte de Maria Eduarda escancara problema da guerra de gangues em Ceilândia

Criança morreu quando ia buscar milho para pipoca. Tiros saídos de um carro preto também atingiram um dos irmãos dela, de 19 anos. Crime seria mais um entre tantos em decorrência da rivalidade entre jovens moradores de quadras vizinhas

 Maria Eduarda Rodrigues de Amorim morreu com um tiro na cabeça e outro no abdômen, no quintal de casa

Uma menina de 5 anos é uma das mais recentes vítima de uma guerra entre gangues em Ceilândia. Maria Eduarda Rodrigues de Amorim morreu em casa, com um tiro na cabeça e outro no abdômen, quando saía para buscar milho para fazer pipoca. Outra vítima é o irmão dela, Marcos André Rodrigues de Amorim, baleado na perna. Ele seria o alvo dos criminosos que mataram a criança, segundo investigadores. O rapaz de 19 anos sobreviveu. No domingo, outro, de 17, tombou, também com uma bala na cabeça, em uma parada de ônibus, ao lado da irmã de 12 anos, na QNO 17.

A polícia apura a relação desses crimes com muitos outros envolvendo jovens moradores da região. Enquanto no Rio de Janeiro, por exemplo, crianças morrem com balas perdidas nas batalhas entre quadrilhas rivais pelo controle do tráfico de drogas ou em operações das polícias contra esses bandos e as milícias, a guerra da Ceilândia não tem uma causa clara. Alguns jovens morreram só por morarem em 
território inimigo, em consequência da matança sem origem definida, em um efeito dominó.
Maria Eduarda era a caçula, de cinco irmãos, a única menina. Ela completaria 6 anos em agosto. Morava em um lote do Conjunto 36 da QNO 18, onde há duas casas. Na da frente moram a mãe e os quatro irmãos da menina. Nos fundos, moravam três tios. Ela sempre dormia no barraco dos fundos, na mesma cama da tia Cleide da Silva, 34 anos. Ambas conversavam antes do crime, por volta das 18h30 de segunda-feira. “Ela me pediu pipoca, e eu disse para ela pegar (o milho) na casa dela. Assim que saiu, ouvi os tiros e corri. Ela estava caída no corredor”, relatou Cleide, inconsolável, ao Correio. A tia e outros parentes levaram a menina e o irmão ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas ela não resistiu e morreu logo após dar entrada. Ele continua internado, até a noite de ontem, aguardando cirurgia.

As balas que atingiram Maria Eduarda e Marcos André saíram de um Voyage de cor preta, que passou devagar pela quadra, segundo testemunhas. Os tiros deixaram marcas nas grades e na janela da casa das vítimas. Até a noite de ontem, nenhum suspeito desse crime e do assassinato de domingo havia sido preso. No entanto, o delegado Ricardo Viana, chefe da 24ª Delegacia de Polícia (Setor O, Ceilândia), garantiu que agentes identificaram suspeitos e estavam à procura deles, na noite de ontem. Disse ainda que havia três pessoas no veículo de onde partiram os tiros. “O que pudemos avaliar é que os disparos teriam saído do banco traseiro”, explicou Viana.

Teriam sido disparados ao menos oito tiros. O carro usado no crime havia sido roubado cerca de 20 minutos antes do tiroteio na QNO 18. Policiais civis encontraram o  Voyage abandonado em frente a um supermercado da QNO 17.  O Correio localizou o dono do veículo, na delegacia. “Eu tinha acabado de descarregar compras do carro, quando dois menores, magros e armados, renderam eu e a minha sobrinha”, contou o homem, que pediu o anonimato. O roubo aconteceu na porta da casa da sobrinha dele, na QNP15.

Antecedentes
Tio de Maria Eduarda e Marcos André, Sérgio Rodrigues, 37 anos, reforça as suspeitas. “Tem uma guerra de gangues na região. Eu era criança e ela já existia. Nunca teve um motivo específico. A coisa foi crescendo. Agora, está mais frequente. O meu sobrinho não tinha a ver com essa guerra. Já tinham tentado pegar ele antes (dispararam tiros contra ele, que estava no quintal), porque ele mora aqui (na QNO 18). Minha sobrinha foi vítima de uma rixa em que os menores vão assumindo uma briga que ninguém sabe como começou”, contou. Outros parentes e vizinhos apontam outro possível alvo dos ocupantes do Voyage preto, outro irmão de Maria Eduarda, que tem 15 anos e saiu de casa há cerca de dois meses.

Marcos André estava em liberdade provisória desde 26 de março. Ele foi preso por receptação de produto roubado. Em outubro de 2016, quando o jovem tinha 18 anos, a polícia também o prendeu por roubo, associação criminosa, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menor de 18 anos. Nesse processo, ele conseguiu liberdade em 30 de maio de 2017. Pai de Marcos André e Maria Eduarda, Hilário Éric de Amorim morreu vítima de arma de fogo. O crime foi um acerto de contas em 26 de agosto de 2012. Os familiares não contaram o motivo.

Inocentes
A mãe das vítimas estava transtornada, ontem. Cláudia Rodrigues passou a madrugada arrumando as roupas de Maria Eduarda, depois pegava os brinquedos da filha e caía em prantos, segundo familiares. À tarde foi ao Instituto de Medicina Legal (IML), para liberar o corpo da filha. A menina estava aprendendo a ler e a escrever. Ela cursava o segundo período da educação infantil na Escola Classe 56 de Ceilândia, onde o muro está pichado com as ameaças entre as gangues. As aulas serão suspensas hoje para que a comunidade escolar possa participar do velório da menina. Ela será velada na Capela 3 do Cemitério de Taguatinga, entre 14h30 e 16h30, e o enterro será às 17h.

Outros moradores, além de policiais, confirmam que a matança entre grupos rivais da QNO 17 e da QNO 18 dura “há anos”, mas ninguém sabe precisar quando ela começou nem o número de mortes de cada lado. Mas é certo que houve outros inocentes. Um deles seria o rapaz executado no domingo. Sem passagem pela polícia, ele estudava e jogava futebol em um time amador de Ceilândia. Esperava um ônibus na parada, na companhia da irmã, quando dois homens de bicicleta os abordaram. Os suspeitos teriam perguntado à vítima se ela estava envolvida na guerra entre os moradores da QNO 17 e da QNO 18. Mesmo após negar, levou quatro tiros, um deles na cabeça. O garoto morava na QNO 16.

Amiga do jovem morto domingo, uma adolescente lamentou que a guerra de gangues “já não mata apenas os envolvidos”. “Meu amigo não tinha nada a ver com a rixa. O sonho dele era jogar futebol e ele era uma pessoa tranquila, que organizava festas na igreja. O povo se revoltou aqui (na QNO 17). Em junho, ele chegou a fazer uma viagem para jogar bola. Ele só estava indo buscar a irmã na parada. Não usava drogas e nem gostava de beber”, ressaltou, em lágrimas.

Acompanhada do pai, outra adolescente moradora da QNO 17 relatou o medo até de ir para a escola. “Está todo mundo com medo. Hoje, a minha mãe não queria nem deixar a gente ir ao colégio.” O pai emendou: “As mortes estão mais frequentes. Quem não tem relação com essa briga não pode nem sair mais. Eu me preocupo com a minha filha.”

A vítima
Maria Eduarda Rodrigues de Amorim, 5 anos
» Filha caçula, de cinco irmãos
» Estava aprendendo a ler e a escrever
» Cursava o segundo período da educação infantil na Escola Classe 56 de Ceilândia
» Morreu em casa, com um tiro na cabeça e outro no abdômen, quando saía para buscar milho para a tia fazer pipoca

Saiba mais, clicando aqui - Irmão de menina morta com tiro na cabeça estava em liberdade provisória - Marcos André Rodrigues de Amorim, 19 anos, tinha sido preso em março por receptação, mas estava livre


Correio Braziliense 
 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

O direito de atirar: quando policiais em ação podem abrir fogo

Balear criminosos rendidos, mas não necessariamente desativados, e comemorar sua morte não são provas, em si, de que houve crime ou abuso

A morte do policial desarmado: terrorista imobilizado depois de esfaquear vítima que fazia segurança, só com boa vontade, na entrada do Parlamento britânico (Stefan Rousseau/PA Images/Getty Images)
 
O caso da morte a bala de dois homens armados e “deitados” em Acari ainda terá muitos desdobramentos na Justiça. Vamos comentar episódios de tipo similar em outros países, começando com três pontos referentes à mortes no Rio de Janeiro:

1.Os tiros disparados por dois policiais militares não parecem ter sido à queima-roupa. Profissionais da informação podem ter chiliques à simples menção de uma arma de fogo, mas precisam fazer jus à descrição de suas habilidades.
Tiros à queima roupa são disparados a uma distância de 40 a 50 centímetros. No caso é importante usar a expressão no sentido estrito. Palavras, como tiros e ideias, têm consequências. Peritos em medicina legal determinarão esse e outros aspectos técnicos.

2-Comemorar a morte de sujeitos que pouco antes estavam tentando matá-los faz parte da rotina de policiais ou militares que atuam em campo.
Aliás, muitas pessoas que vão ser policiais ou militares gostam de “quebrar coisas e matar gente”, como dizem os marines americanos, e procuram uma profissão onde possam fazer isso legalmente. Se não o fizerem legalmente, estão lascados nos países onde vigora o estado de direito.

O general John Mattis, hoje um controlado, calado e muito ativo secretário da Defesa, ganhou o apelido de Cachorro Louco quando comandava os fuzileiros navais por declarações assim: “A primeira vez que você detona alguém não é um evento de pouca importância. Tendo disso isso, tem alguns desgraçados nesse mundo que simplesmente precisam levar bala. Existem caçadores e existem vítimas. Cada um aqui, através da própria disciplina, determina se e caçador ou se é vítima.”
Não usou exatamente a palavra “desgraçados”.

3-Vídeos que capturam o momento de uma cena de grande impacto causam exatamente isso: grande impacto. Mas não contam a história toda. Isso compete aos responsáveis pelos processos judiciais devidos. A imprensa pode e deve participar disso tudo, de preferência tendo alguma noção, ainda que vaga, dos principais elementos envolvidos.
Um dos vídeos mais impressionantes da complicada história envolvendo negros mortos por policiais nos Estados Unidos mostra os momentos que precedem a morte de Tamir Rice num parque de Cleveland, em novembro de 2014.

O policial que atirou nele não sabia os seguintes fatos: Tamir tinha 12 anos e a arma que ele usava em movimentos agressivos era uma réplica; portanto, não poderia causar mais uma das trágicas matanças em escolas e lugares públicos dos Estados Unidos.
Um júri formado por cidadãos comuns, geralmente escolhidos antes dos casos que vão analisar, concluiu que não havia motivos para enquadrar os dois policiais, o que atirou e o que conduzia o carro-patrulha, na categoria homicídio doloso por motivo fútil. Portanto, não foram levados a julgamento na esfera criminal.

Esses júris populares funcionam de uma maneira específica nos Estados Unidos. São 31 pessoas que ouvem os promotores, uma ou duas testemunhas (geralmente, o policial que fez o boletim de ocorrência e a vítima, se estiver viva) e os peritos responsáveis pelos aspectos técnicos.
Com base nisso, decidem se existem indícios suficientes, ou “causa provável”,  que justifiquem o indiciamento dos acusados. Se concluem que sim, começam os caros e demorados processos, evidentemente com todas as garantias devidas.
O indiciamento de policiais americanos tem um índice relativamente baixo por causa de uma antiga decisão da Suprema Corte justificando o uso letal da força quando um agente tem um medo razoável de sofrer danos físicos.

A ideia de que “júris brancos protegem policiais e demonstram preconceito contra negros” não é sustentada devido a dois elementos: como já dito, os jurados são escolhidos antecipadamente; em vários casos recentes ocorridos durante o governo Obama, o Departamento da Justiça, sob o comando do secretário Eric Holder, deslocou centenas de agentes do FBI para investigar se as mortes poderiam ser consideradas “crimes de ódio” e, portanto, julgadas pela justiça federal. Não ocorreu isso em nenhum caso.

4-É evidente que o tipo de sociedade onde acontecem episódios assim influencia a ação dos policiais. Parece quase impossível imaginar, por exemplo, que um policial americano – ou um brasileiro – fosse morto a facadas antes de que ele e seus colegas reagissem como aconteceu em Londres com Keith Palmer.

O assassino terrorista, Khalid Masood, nome que escolheu depois de abandonar a identidade      original, Adrian Russell Elms, e passar a praticar o islamismo radical, já havia atropelado dezenas de pessoas na ponte de Westminster e batido o carro na grade de uma das entradas do Parlamento britânico. Saiu correndo a pé, entrou no pátio e esfaqueou Palmer pelas costas, acertando na nuca e na cabeça. Não foi exatamente um ataque surpresa.

Palmer era um policial típico, desarmado, colocado na entrada de um dos prédios mais visados do universo terrorista. Masood foi morto por um agente do Serviço de Proteção a Autoridades que acompanhava o ministro da Defesa, Michael Fallon. O segurança passava por acaso no lugar do ataque.  Em questão de poucos minutos, policiais armados e espantosamente rápidos assumiram o controle. Também “brotaram” agentes à paisana que estão presentes, hoje, em todos os países europeus. Isso foi visto em atentados recentes em Paris, Bruxelas, Berlim, Estocolmo, Londres e Paris de novo.

Em todos os casos, os terroristas costumam ser neutralizados, como se diz na linguagem policial, de maneira rápida, eficaz e sem vítimas colaterais, um sinal do ótimo treinamento que os agentes recebem. O sistema reinante em Paris não é, obviamente, o mesmo de Acari.  O episódio mais grave de intervenção desastrosamente demorada, com trágico aumento de vítimas, aconteceu no ataque terrorista ao Bataclan, a casa de shows onde houve o maior número de mortos, 89. O motivo foi gravíssima falha no comando da operação.

Os responsáveis, estivessem ou não na cadeia de comando naquele dia trágico de novembro de 2015, deveriam ter sido demitidos. O governo de François Hollande, que tem reagido de maneira digna aos ataques quase mensais dos últimos anos, não é exatamente conhecido pelo destemor em enfrentar problemas graves. Mas o policiamento pesado, incluindo o uso de 8 000 militares, tem impedido ataques graves em Paris.

5-Cressida Dick, a nova chefe da Scotland Yard, é contra o método chamado de Policiamento Total, no qual a polícia mostra ostensivamente os músculos e a presença. Outra: “Espero realmente não viver para ver um grande aumento de policiais armados, embora estejamos em meio a um pico devido à ameaça terrorista.”

Vegetariana e oxfordiana que vive com outra policial do alto escalão, Cressida Dick, de 56 anos e sobrenome irreproduzível pelos jornais ingleses, foi protegida pela imprensa de esquerda porque foi nomeada para o cargo pelo prefeito Sadiq Khan, do Partido Trabalhista, uma espécie melhorada de Fernando Haddad.

O “pecado” de Cressida foi um caso trágico de equivoco no uso da força letal. Os brasileiros conhecem o episódio pois a vitima foi o eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, morto numa estação de metrô por policiais à paisana em 22 de julho de 2005.
A equipe anti-terrorista era comandada por Cressida Dick. Jean Charles foi confundido com um terrorista prestes a agir. Apenas duas semanas antes no qual quatro terroristas-suicidas  haviam matado 52 pessoas com bombas no metrô e em um ônibus.

A chefe da Scotland Yard disse recentemente que “a morte de Jean Charles foi uma coisa terrível, terrível”. A justiça decidiu, com razão, que os envolvidos não agiram de má fé. Ou seja, tinham a convicção – equivocada, mas não perversa – de que estava a ponto de deixar uma mochila com explosivos num trem do metrô. Nada pode recuperar a perda de sua vida, mas a decisão parece justa. Não aconteceu nada parecido desde então. O mais importante do caso de Acari é o que fazer para que não aconteçam mais mortes como a de Maria Eduarda, a linda adolescente mortalmente baleada no tiroteio.

Fonte: Revista VEJA


 

 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Dilema dos policiais militares quando saem de casa para o trabalho: Voltarão ao convívio dos seus ou não?

PM flagrado executando homem caído deu versões diferentes sobre crime

Delegacia de Homicídios também investiga origem dos tiros que mataram Maria Eduarda 

[todo policial militar, especialmente do Rio de Janeiro, quando sai de casa para o trabalho não sabe se volta ou não.
As chances de voltar são bem menores do que as de não voltar.
Conspira contra o seu regresso vários fatores, com destaque para dois:
- não voltar por ser assassinado por bandidos;
- não voltar por entrar em confronto com bandidos, conseguir não morrer e sim abater o bandido, e ser preso e tratado pior do que são tratados os bandidos quando são presos.
No Rio o procedimento padrão das autoridades é considerar o policial culpado até que prove o contrário.] 

O sargento David Gomes Centeno, um dos dois policiais militares flagrados executando dois suspeitos deitados, em Fazenda Botafogo, na Zona Norte do Rio, deu duas versões diferentes sobre o crime na Delegacia de Homicídios (DH). Na primeira delas, Centeno, no momento em que o registro de ocorrência do caso foi elaborado, omitiu ter atirado no homem já caído. O sargento se limitou a dizer que ele e seu colega de farda, o cabo Fábio de Barros Dias, foram alvo de disparos dos bandidos e que, após continuarem avançando pelo local, “observaram dois homens caídos ao solo”. Em seguida, ele afirmou que “enquanto preservavam o local do fato, souberam por moradores que uma menina havia sido alvejada dentro do pátio da Escola municipal Jornalista Daniel Piza”. A menina é Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, morta atingida por três tiros de fuzil durante uma aula de Educação Física.

Maria Eduarda Alves da Conceição, que morreu baleada dentro de escola - Reprodução do Facebook
 Lamentavelmente mais uma quase criança vítima de uma bala perdida em confronto entre a Polícia e bandidos (apesar do estúpido e inútil 'estatuto do desarmamento' ser elogiado por alguns 'sem noção', vítimas inocentes continuam tombando atingidas por balas perdidas quase sempre disparadas por fuzis portados por bandidos.
O mais triste é que a maior parte das vítimas são crianças ou recém entradas na adolescência.
O cidadão de BEM não tem direito de portar sequer uma garrucha;  já os bandidos portam armas de grande poder de fogo.



Num segundo relato a agentes da DH, Centeno admite que fez o disparo contra o suspeito, “acreditando que pudesse haver risco pessoal”, porque o homem portava uma pistola. Após o tiro, Centeno afirma que se protegeu atrás de um muro e, só após o fim dos disparos, recolheu as duas pistolas 9 mm que estavam com os suspeitos caídos ao chão. [o simples fato dos dois marginais, merecidamente abatidos, portarem pistolas 9 mm, já autoriza a autoridade policial usar da força necessária para preservar sua vida e a de terceiros.
É difícil de entender os motivos que levam a população a considerar dois bandidos mortos em confronto, heróis.
Causa espanto que até agora nenhuma autoridade teve o lampejo de inteligência de considerar a hipótese de que a Maria Eduarda tenha sido alvejada pelos dois bandidos. 
A preocupação é uma só: acusar os policiais.
Fica a pergunta: que ânimo tem um policial quando sai de sua casa, na maior parte das vezes tendo que esconder sua condição de policial militar, para o trabalho sabendo que corre grande risco de não voltar;
- seja por ser morto por bandidos;
- seja por entrar em confronto com bandidos, dar a sorte de não morrer e sim de abater o bandido, e ser preso por ter cumprido seu dever.]
Centeno e Dias foram presos em flagrante na madrugada da última quinta-feira. A prisão deles foi convertida em preventiva pela Justiça um dia depois. Dias, em seu depoimento na DH, também admitiu ter dado o disparo. Segundo a decisão da Justiça que decretou a prisão preventiva dos agentes, ele “declarou que visualizou arma de fogo com o agente caído ao chão que abordou e temendo por sua integridade física realizou tiro contra o mesmo com o fuzil”. Ele também disse não ter visto o momento em que Centeno disparou contra o outro homem.

Na delegacia, os dois policiais apresentaram duas pistolas e um fuzil, que disseram estar com os suspeitos. No vídeo que flagrou as execuções, é possível ver um dos fuzis sendo tirado de perto de um dos suspeitos por um dos policiais.

A DH investiga a origem dos disparos que acertaram Maria Eduarda. Segundo o laudo de necrópsia da menina, os três tiros que a acertaram vieram da mesma direção — da direita para a esquerda, de baixo para cima. [até agora a perícia não conseguiu identificar o tipo de projétil que atingiu a garota.]

Centeno e Dias se envolveram em 37 autos de resistência mortes de suspeitos durante operações policiais — desde 2011. Os dois, juntos, participaram de uma dessas ocorrências. Já as demais mortes ocorreram em ações com outros colegas de farda Centeno é envolvido em outros 10 autos de resistência e Dias, em 26 ocorrências. O Gaesp investiga 16 autos desses autos de resistência. [o policial é eficiente no seu trabalho, consegue sobreviver aos confrontos com bandidos, e passa a ser considerado suspeito cada vez que em vez de morrer consegue sobreviver e matar o bandido.]

A maioria das mortes aconteceu em favelas da Zona Norte. Na maior parte dos casos, os suspeitos foram levados a um hospital e não houve perícia no local. [o policial não é médico que tenha condições de atestar o óbito do suspeito no local do confronto; havendo indícios de que o suspeito está vivo, é DEVER do policial remover ou providenciar a remoção do ferido para um hospital com a maior brevidade possível.
Não o fazendo, ou demorando, será acusado de OMISSÃO DE SOCORRO.
Parece piada, mas o policial quando entra em confronto com bandidos a única maneira de não ter problemas é MORRER.
Se sobreviver terá problemas.]  Em todas as ocorrências, os policiais apresentaram armas na delegacia, que disseram estar com o suspeito.

Fonte: O Globo